Médica-veterinária Paula Helena Santa Rita é coordenadora do Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal (Gretap-MS)
A professora da Universidade Católica Dom Bosco apresenta as ações do grupo, compartilha sua experiência e convida todos a unirem forças nessas ações tão fundamentais
A médica-veterinária e bióloga, mestre e doutora e professora Paula Helena Santa Rita, da Universidade Católica Dom Bosco e coordenadora do Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal (Gretap-MS), compartilha um pouco da experiência do grupo em desastres que têm assolado diferentes regiões do país nos últimos anos.
Clínica Veterinária (CV) – O que é o Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal, conhecido como Gretap-MS?
Paula Helena (PH) – O Gretap-MS ou Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal atua no resgate de animais silvestres e domésticos em situação de desastre, por meio de planejamento e técnicas específicas em áreas afetadas por qualquer tipo de desastre.
O Grupo é composto por 12 instituições do setor público, privado e do terceiro setor, sendo elas: a Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc); o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul); o Conselho Regional de Medicina Veterinária de Mato Grosso do Sul (CRMV-MS); a Universidade Católica Dom Bosco (UCDB); o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); o Instituto Tamanduá; o Instituto do Homem Pantaneiro (IHP); a Polícia Militar Ambiental (PMA); o Corpo de Bombeiros Militar (CBM); a Fundação de Meio Ambiente de Corumbá (Femap); o Conselho Regional de Biologia (CRBIO); e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
Essas instituições colaboram para a proteção da fauna silvestre e de animais domésticos em emergências ambientais ou em condições adversas.
CV – Como foi formado o Gretap-MS?
PH – O grupo foi formado em decorrência dos grandes incêndios florestais que atingiram o estado do Mato Grosso do Sul no ano de 2020, devastando e comprometendo parte significativa da fauna sul-mato-grossense.
Naquele momento foi aberta uma discussão dentro da Comissão de Animais Silvestres do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Mato Grosso do Sul (CRMV-MS), presidida por mim, para criar medidas e ações que atendessem às necessidades dos animais silvestres, frente aos incêndios florestais que ocorriam no Mato Grosso do Sul naquele ano. A partir da autorização da diretoria do CRMV-MS, solicitei uma reunião com os principais órgãos ambientais do estado, universidades e instituições do terceiro setor que trabalham com conservação das espécies sul-mato-grossenses. Dessa forma, houve o início da organização do que viria a ser o Gretap-MS.
CV – Qual é o objetivo do Gretap-MS?
PH – O Gretap-MS tem como finalidade coordenar e executar ações de resgate técnico animal como salvamento, tratamento, reabilitação e soltura de animais silvestres e atendimento emergencial de animais domésticos vítimas de incêndios florestais e outros desastres ambientais nos biomas Pantanal e Cerrado. O que há de mais relevante no fato de ser um consórcio de instituições são os fluxos de informações, processos e autorizações, que propiciam uma atuação legal em consonância com os órgãos ambientais – estadual e nacional – e o apoio de forças públicas.
CV – Quais os eventos mais significativos nos quais o Gretap-MS esteve presente?
PH – O grupo atuou em incêndios florestais de 2020, 2021 e 2022 no Pantanal, no resgate técnico, no monitoramento de fauna e no aporte nutricional em áreas fortemente afetadas pelo fogo.
Esteve presente também nas enchentes no Rio Grande do Sul em maio de 2024, dando assistência às pessoas afetadas pelo desastre oferecendo auxílio humanitário e realizando vacinação em massa nos locais de abrigos comunitários e em domicílios, atendimento clínico, resgate e aporte nutricional básico a animais ilhados, bem como distribuição de rações secas e úmidas, água mineral e materiais de higiene doméstica e pessoal nas cidades de Sapucaia do Sul, Caxias do Sul, Canoas, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo e São Leopoldo.
Nos incêndios florestais de 2024 no Pantanal, o Gretap-MS atuou no resgate técnico animal direto e, no pós-fogo, no monitoramento de fauna, no aporte nutricional básico e no resgate técnico na Estrada Parque, na Serra do Amolar, nas regiões de Corumbá, Miranda e Aquidauana.
CV – Quantas pessoas estão ou estiveram envolvidas em cada evento?
PH – Nos incêndios florestais de 2020 estiveram presentes 14 membros; nos incêndios florestais de 2021, 12 membros; nos incêndios florestais de 2022, 12 membros; nas enchentes no Rio Grande do Sul de 2024, 7 membros; e nos incêndios florestais de 2024, 22 membros.
CV – Quais desses eventos foram concluídos e em quais deles o Gretap-MS ainda está atuando?
PH – Entre os eventos já concluídos podemos citar as queimadas de 2020, 2021 e 2022 nas quais foi realizado o resgate técnico e o aporte nutricional básico; e na enchente no Rio Grande do Sul, na qual foi dado apoio emergencial e vacinação.
Em andamento ainda estamos trabalhando nas queimadas de 2024, atuando em resgate técnico, monitoramento e aporte nutricional básico aos animais.
Além disso, realizamos de modo permanente eventos de treinamento para grupos militares e civis.
CV – O que gostaria de ressaltar em relação aos resultados alcançados pelo Gretap-MS nesses eventos?
As ações são muitas, mas podemos ressaltar que nas queimadas no Cerrado e no Pantanal de 2020 foram fundamentais o resgate técnico, o tratamento, a reabilitação e a reintrodução de animais silvestres, bem como o tratamento de animais domésticos. Para todas essas ações, foi fundamental o desenvolvimento de protocolos para resgate técnico animal em áreas de desastres.
Nas enchentes no Rio Grande do Sul, além dessas ações, a vacinação de mais de 5.000 animais domésticos em abrigos comunitários e em domicílios e o atendimento e o resgate técnico de animais ilhados em casas inundadas foram também muito marcantes.
Já nas queimadas no Cerrado e no Pantanal em 2024, destaco o monitoramento de áreas atingidas e a distribuição de alimentos para o aporte nutricional de animais silvestres, bem como o resgate técnico de animais afetados pelo fogo.
CV – Quem são os beneficiados com as ações do Gretap-MS?
PH – Antes de mais nada, a fauna silvestre, a partir do seu resgate, reabilitação e reintrodução na natureza. Também as comunidades locais, que recebem suporte direto das equipes que participam da ajuda humanitária (entrega de cestas básicas, água, insumos e transporte) e seus animais domésticos, de forma indireta. Ao garantirmos a preservação ambiental e o equilíbrio ecológico, propiciamos uma melhor qualidade de vida aos que sofrem com a calamidade. Os animais domésticos e os de produção são beneficiados também por meio de ações como vacinação e suporte nutricional nessas áreas afetadas.
CV – Como você vê a importância da atuação do Gretap-MS?
PH – A atuação do Gretap-MS é essencial para a conservação da biodiversidade, para a educação ambiental e para a mitigação de impactos em desastres ambientais. Suas ações não apenas salvam vidas, mas também conscientizam a sociedade sobre a importância da preservação e a necessidade de respostas rápidas e coordenadas frente a emergências ambientais.
CV – Como e quais pessoas podem participar do Gretap-MS?
PH – Entre os profissionais, são fundamentais os médicos-veterinários, os biólogos, os zootecnistas e os técnicos em áreas relacionadas, que podem se inscrever em ações específicas. Entre os voluntários, os interessados podem contribuir com logística, resgate e suporte, entrando em contato pelo site ou redes sociais do grupo. Os estudantes de diversas áreas podem participar como estagiários em projetos de monitoramento e manejo. Para quaisquer membros, os primeiros passos são realizar o curso de Sistema de Comando de Incidentes, ministrado periodicamente pelo Corpo de Bombeiros e a Capacitação Técnica em Desastres que fica disponível gratuitamente na página do CRMV-MS. Após as duas primeiras capacitações, os candidatos já podem se inscrever nas capacitações práticas que são oferecidas no primeiro semestre do ano.
CV – De onde vem a verba que viabiliza as ações?
PH – O Gretap-MS recebe recursos do governo estadual, via parcerias com Imasul, Ibama e Semadesc. Além disso, recebe apoio de ONGs, universidades e iniciativas privadas.
CV – Como as empresas privadas podem participar e auxiliar?
PH – O auxílio pode ser oferecido a partir de doações financeiras para a compra de insumos, equipamentos e transporte; doação de materiais e insumos, como alimentos, medicamentos veterinários e equipamentos de resgate; e parcerias para campanhas de conscientização e capacitação.
CV – Como funciona o recebimento de doações?
PH – O Gretap-MS aceita doações financeiras e materiais, como ração, medicamentos, equipamentos veterinários e itens logísticos. As doações podem ser feitas por empresas ou pessoas físicas diretamente nas campanhas divulgadas pelo grupo.
CV – Quais são os planos do Gretap-MS para 2025?
PH – Entre os planos, pretendemos ampliar as ações de monitoramento preventivo em áreas de risco; realizar mais treinamentos técnicos para capacitação de novos membros e voluntários; fortalecer parcerias com universidades e centros de pesquisa para melhorar os protocolos de manejo e resgate; e criar um banco de dados unificado sobre desastres e fauna para uso nacional.
CV – O que mais você gostaria de mencionar nesta entrevista?
PH – Gostaríamos de destacar a importância da colaboração entre instituições públicas, privadas e voluntários para o sucesso das ações do Gretap-MS. Além disso, reforçamos o chamado para que mais pessoas se envolvam, seja em campanhas educativas, ações de resgate ou apoio logístico. O futuro da fauna e da conservação depende de esforços conjuntos.
Informações
Instagram:
https://www.instagram.com/gretap_ms/
Semadesc:
https://www.semadesc.ms.gov.br/Geral/gretap/
Imasul:
https://www.imasul.ms.gov.br/Geral/gretap/
CRMV-MS:
https://crmvms.org.br/categoria/gretap-ms/
Paula Helena Santa Rita