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Busca e salvamento de animais domésticos em incêndios urbanos com suporte básico de vida veterinário (SBV Vet)

Créditos: Bruno do Carmo Créditos: Bruno do Carmo

O conceito de família vem se consolidando com as transformações ao longo dos anos. Tempos atrás, era definida como aquela constituída pelos pais e seus filhos, e levava em conta somente a consanguinidade. Atualmente, porém, identificamos um pluralismo de entidades, com vários tipos de relações familiares baseadas na afetividade.  Os animais de estimação são todos aqueles criados para o convívio com os seres humanos por razões afetivas. Têm como destinações principais: companhia, lazer, terapia, auxílio aos portadores de necessidades especiais, esportes, ornamentação, participação em torneios e exposições, conservação, trabalhos especiais, dentre outras.

Atualmente, grande parte da população considera seu animal de estimação como membro da família com todos os direitos: alimentação, plano de saúde veterinário, creche, até perfis em rede social.

Em função dessa nova perspectiva, surge o conceito da família multiespécie, aquela em que o animal doméstico é considerado membro da família, na maioria das vezes até tratado como “filho” por seus responsáveis, podendo-se perceber a relação de afeto recíproca existente. 

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos Para Animais de Estimação (ABInPet), em 2022, o Brasil era o segundo país do mundo com maior população de animais domésticos 1. Eram 67,8 milhões de cães e 36,6 milhões de gatos nos lares brasileiros. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), estimava-se que 70,4 milhões de crianças e adolescentes entre zero e 19 anos de idade residiam no Brasil em 2021 2. Dessas informações pode-se concluir que a população de animais domésticos nas residências brasileiras supera o número de crianças no país. Considerando esses dados, a probabilidade das instituições de socorro e salvamento se depararem com vítimas não humanas em eventos de incêndio urbano é grande.

O ramo pet se transformou rapidamente no Brasil e no mundo. Mais produtos, novas demandas e uma conscientização cada vez maior de que animais de estimação estão, cada vez mais, dentro de casa, e não apenas em quintais.

A demanda por serviços veterinários de urgência e emergência surge em concomitância com o novo ordenamento jurídico na defesa dos direitos dos animais.

Nessa questão, a atuação das corporações de Corpos de Bombeiros Militares, nos eventos de resgate técnico e salvamento de animais domésticos e silvestres, vem adquirindo nova configuração, e a sociedade instintivamente questiona e imputa as elas a responsabilidade não apenas de conter e capturar animais, mas de atuar no suporte básico à vida (primeiros socorros) do animal vitimado.

As Instruções de Salvamento e Resgate Técnico de Animais no Curso de Salvamento Terrestre ministrado pelo Centro de Instrução Especializada de Bombeiros (CIEB/CBMERJ), em 2022, são uma das metodologias de ensino aplicadas para atendimento às vítimas não humanas (Figura 1).

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Figura 1 – Procedimentos ocorridos durante as Instruções de Salvamento e Resgate Técnico Animal do Curso de Salvamento Terrestre ministrado pelo Centro de Instrução Especializada de Bombeiros do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CIEB/CBMERJ), em 2022. A) Estabilização com aporte ventilatório. B) Avaliação pratica de Reanimação Cardiorrespiratória. C) Discentes do Curso de Salvamento Terrestre. D) Palestra de Bruno do Carmo durante o Curso de Salvamento Terrestre na Escola de Bombeiros do RJ. Créditos: Bruno do Carmo

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Nelas, podemos vislumbrar a atuação dos profissionais empenhados em treinamentos para o resgate técnico e a assistência a animais em situações de emergência. Com o compromisso de proteger e preservar a vida, não apenas humana, mas também a dos animais domésticos em cenários de incêndios urbanos, demonstrando a importância desse conhecimento em prol da segurança e bem-estar de todos os seres vivos.

Esses treinamentos ganham importância também por garantir a segurança jurídica durante atendimentos envolvendo vítimas não humanas, por meio de atualizações em seus procedimentos operacionais, adotando uma nova metodologia baseada nas doutrinas da medicina veterinária com implantação de um resgate técnico e socorrismo animal. Trata-se de uma necessidade iminente em nossa sociedade moderna, que já dispõe de mecanismos jurídicos na defesa dos direitos dos animais por meio de uma nova especialidade, a advocacia animalista, que surgiu após discussões sobre a mudança na natureza jurídica dos animais por intermédio da Lei Sansão 3.

Além disso, ressalta-se a importância da padronização de equipamentos de proteção individual e de técnicas e táticas nas buscas e salvamentos de animais domésticos, que sirvam de ferramentas para que as equipes de combate a incêndio, de resgate e de salvamento das instituições envolvidas estejam capacitadas, estimulando assim a correção de atitudes, formando um senso crítico de suas obrigações em face das novas leis, e capacitando-as assim para:

2.1 Quebrar paradigmas em relação à nova legislação e ao papel dos animais domésticos na sociedade (família multiespécie);

2.2 Reconhecer as fases da busca e salvamento de animais domésticos em cenários de incêndios urbanos, e a preparação, as ferramentas e os acessórios para resgate técnico animal;

2.3 Saber avaliar o comportamento dos animais: contenção, captura técnica e transporte, promovendo, quando necessário, um suporte básico no atendimento pré-hospitalar veterinário.

2.4 A importância do conhecimento teórico e prático para intervenções pré-hospitalares veterinárias de cães e gatos em urgências e emergências.

Dados estatísticos consultados no Anuário do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, com base no Sistema de Gestão de Operações (SisGeO) da Diretoria Geral de Controle Operacional (DGCCO/CBMERJ), indicam o total de eventos de incêndios urbanos estruturais por ano de referência: 2019 – 10.647; 2020 – 7.518; 2021 – 7.594; e 2022 – 8.044; tendo de 2019 a 2022, um total de 33.803 eventos 4. Essa pesquisa demonstra que o número de ocorrências desse tipo, em todo o Estado, é crescente, apesar de oscilar anualmente. Porém, infelizmente, não há meios para determinar a existência de vítimas não humanas e a quantidade daquelas que receberam ou não um atendimento pré-hospitalar veterinário, levando à sugestão da inclusão de um subtipo para animais domésticos (cães e gatos).

Na mesma proporção, tendo como base dados publicados nos Anuários do CBMERJ, quanto ao total de eventos de captura/salvamento de animais, nos subtipos cães e gatos e ano de referência temos: 2019 – 3.390 cães e 3.976 gatos; 2020 – 3.253 cães e 3.723 gatos; 2021 – 3.317 cães e 4.700 gatos; 2022 – 4.506 cães e 5.082 gatos; tendo de 2019 a 2022, 14.466 cães e 17.481 gatos 4.

Esses números representam uma crescente demanda operacional para a instituição, com a perspectiva de não estar limitada apenas à captura ou ao salvamento de um animal em alguns desses eventos, e indicando a grande probabilidade de animais domésticos necessitarem de suporte básico de vida veterinário (SBV Vet).

Os dados atuais permitem a sugestão de protocolos, baseados no resgate técnico animal voltados para cada tipo ou espécie de vítima não humana: silvestres (vertebrados e invertebrados), animais de grande porte (bovinos, equinos e suínos) e animais domésticos e exóticos.

No âmbito das operações de busca e salvamento de animais domésticos, as ações desempenhadas durante os incêndios estruturais urbanos assumem uma relevância crítica. Essas operações têm como finalidade localizar vítimas, prioritariamente humanas, e também nesse contexto aquelas não humanas, e transferi-las para locais seguros. A busca por vítimas é classificada, conforme a doutrina das corporações, em: rápida, primária e secundária e por meio de técnicas como varredura visual. As diretrizes para o protocolo de busca e salvamento de animais são delineadas levando em consideração as diferentes fases do incêndio, a estrutura do local e a presença de vítimas humanas e animais.

A etapa de reconhecimento e preparação engloba a coleta de informações cruciais para determinar o tipo de procedimento a ser executado na busca e no salvamento das vítimas. Dentre as informações analisadas estão a presença de vítimas humanas – que têm prioridade – e de animais de estimação, os possíveis locais onde podem ser encontrados e as condições da estrutura e do incêndio. Essa fase é essencial para a tomada de decisões bem embasadas.

A busca é conduzida de maneira sistemática e organizada, após a localização e retirada de vítimas humanas dentro de estruturas atingidas pelo fogo ou pela fumaça 5. Nas operações de busca de animais domésticos em incêndios estruturais, são realizados diferentes tipos de busca, como a rápida, em que a localização é precisa, com informação do tutor ou responsável pelo animal, e os agentes atuam prontamente no resgate 5. A busca primária é efetuada em locais onde supõe-se que as vítimas possam estar, e a busca secundária, mais minuciosa, é realizada após o controle do incêndio.

Nessas fases de busca há estratégias que contribuem para a eficácia das operações.

A técnica de varredura visual empregada para seres humanos, com adaptações para os animais, consiste em examinar visualmente os cômodos do local para encontrar animais domésticos. É uma abordagem especialmente útil em situações com boa visibilidade e conforto térmico, podendo ser complementada pela escuta atenta de sons característicos, como latidos e miados.

No que tange ao salvamento de animais domésticos, é essencial discernir entre evacuação e salvamento. A evacuação envolve retirar pessoas e animais de locais de risco, enquanto o salvamento implica transferir todos os seres vivos de uma área em risco iminente. Cabe lembrar que, apesar de priorizar vidas humanas, é crucial garantir que animais domésticos também sejam salvos de situações perigosas.

Ao planejar rotas de fuga que incluam animais, a adequação das saídas é primordial. Isso envolve considerações como a acessibilidade das saídas, a compatibilidade entre a evacuação de pessoas e animais, a ausência de bloqueios nas rotas e a ausência de perigos.

A Associação Nacional de Proteção contra Incêndios (NFPA 150) também enfatiza a importância desses sistemas de prevenção em edificações, e considera ainda não expor bombeiros a riscos excessivos ao resgatar animais em situações de alto risco 6.

A filosofia de risco versus benefício é destacada como princípio direcionador das operações de busca e salvamento de animais. É preciso equilibrar a urgência de salvar vidas com a segurança dos envolvidos, considerando o nível de risco associado à missão 5.

Métodos de contenção e captura de animais em cenários de incêndios estruturais envolvem estratégias específicas para lidar com cães e gatos, visando garantir a segurança dos animais e dos bombeiros envolvidos.

A contenção e a captura são procedimentos cruciais para o manejo eficaz e seguro dos animais em situações de emergência. Esses métodos são embasados em conhecimentos científicos e diretrizes normativas que visam minimizar o estresse e o risco para os animais durante o processo.

Cães e gatos podem ser controlados ou contidos com coleiras, peitorais, gaiolas ou guias comumente usadas pelos seus tutores 7.

No entanto, em situações de emergência, podem ser contidos com um laço de captura ou com um arnês improvisado (peitoral feito com cordas) ou cambão artesanal feito com conexões e tubos d’água PVC (montados em diferentes tamanhos, facilitando o trabalho em espaços confinados).

Ao realizar o manejo de um animal, o bombeiro deve se manter calmo, realizando movimentos lentos e planejados. É importante ressaltar que os animais não conhecem a roupa de aproximação (roupa de incêndio), nem os utensílios empregados como lanternas, capacetes e alarme sonoros dos equipamentos de respiração autônoma e rádios, e que estão estressados, por isso, é natural que tenham medo e tentem escapar. 

Havendo a possibilidade, com a verbalização pode-se buscar ajudar os animais a se acalmarem, conquistando assim sua confiança 8. Na figura 2, é possível verificar itens básicos para a manipulação e contenção de cães e gatos. 

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Figura 2 – Itens utilizados para manipulação e contenção de cães e gatos. A) cambão; B) puçá; C e D) focinheira; E) cordin e F) fita tubular. Créditos: Bruno do Carmo

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Ressalta-se a importância da marcação de portas/paredes na entrada de cômodos ou a instalação de dispositivos luminosos em coleiras para animais encontrados durante a busca de pessoas, e a instalação de máscaras focinheiras de respiração (proteção de vias aéreas) para que, posteriormente, sejam facilmente identificados no retorno das equipes (Figura 3).

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Figura 3 – Utilização de equipamentos de proteção respiratória (A) e sinalizador visual para salvamento (B). C) Resgate de animal identificado. Créditos: Bruno do Carmo

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O transporte adequado dos animais em situações de incêndio requer a consideração de sua anatomia e conforto, evitando compressões no tórax e abdômen, garantindo a integridade física e evitando estresse, luta e fuga. O entendimento do comportamento animal, a utilização de técnicas apropriadas e o respeito pelo bem-estar dos animais são princípios fundamentais nesse processo 9.

O suporte básico de vida compreende uma série de procedimentos e técnicas imediatas aplicadas a vítimas de acidentes ou doenças súbitas. Essas intervenções são realizadas no local do incidente ou onde a vítima manifesta sintomas repentinos, constituindo a gestão pré-hospitalar. É importante destacar que os primeiros socorros não substituem ações médico-veterinárias, mas sim oferecem um SBV Vet para reduzir impactos de lesões e estabilizar a condição de saúde do animal. A atuação dos bombeiros nesse contexto depende da condição geral e da evolução subsequente do animal ferido, sendo crucial conhecer exatamente as ações necessárias 10.

O atendimento de primeiros socorros visa preservar a vida do animal, minimizar a dor, promover recuperação, evitar futuras lesões e controlar potenciais danos 11. O conjunto de técnicas inclui a realização de uma anamnese objetiva, exame físico rápido e direcionado, e abordagem imediata dos aspectos que possam representar risco de morte, conforme o protocolo ABC Veterinário (Avaliação das vias aéreas, boa respiração e circulação). Em casos específicos como afogamentos ou inalação de fumaça, é essencial proteger a coluna cervical, garantir a via aérea e, no caso da fumaça, prevenir o fechamento das vias respiratórias 11. O exame físico engloba avaliação da frequência cardíaca e pulso, tempo de enchimento capilar, temperatura corporal e outras medições relevantes 9.

No contexto de incêndios, a inalação de fumaça é uma das maiores ameaças à vida dos animais domésticos. O processo inflamatório nas vias aéreas pode levar à obstrução por partículas em suspensão na fumaça. A avaliação primária se concentra em garantir via aérea, respiração adequada e circulação, protegendo os animais de possíveis danos. A triagem de trauma animal segue o sistema XABCDE, similar à abordagem utilizada em seres humanos, priorizando exsanguinação (controle de hemorragias), vias aéreas e proteção da coluna vertebral, ventilação e respiração adequada, circulação com controle de hemorragias, disfunção neurológica e exposição total do paciente 12.

Em emergências, a avaliação rápida e eficaz é fundamental, visando identificar lesões óbvias e sinais de trauma 13,14. Procedimentos iniciais para estabilização da vítima envolvem a avaliação de queimaduras, feridas, edemas, sangramentos e outras alterações, com imobilização de membros em caso de fraturas, curativos compressivos ou até mesmo o uso de torniquetes (Figuras 4 e 5). Na reanimação cardiopulmonar veterinária (RCP Vet), o suporte básico de vida (SBV) inclui o reconhecimento da parada cardiorrespiratória (PCR), a administração de compressões torácicas e o manejo das vias aéreas e da ventilação. É imprescindível que o SBV seja implementado de forma imediata após o diagnóstico ou suspeita de PCR e que a maioria desses pontos possa ser realizada tanto por reanimadores profissionais quanto por não profissionais. A aplicação da RCP Vet envolve a realização de ventilação assistida em conjunto com compressões torácicas, sendo um procedimento essencial para manter a circulação sanguínea e a oxigenação em casos de parada cardiorrespiratória 15.

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Figura 4 – Contenção, imobilização, reposição de volume e estabilização de paciente 11. Créditos: Aldair W. J. Pinto

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Figura 5 – Animais resgatados em emergências. A) Vítima estabilizada pela guarnição de Bombeiros de Bragança Paulista. B) Vítima estabilizada pelo serviço móvel de urgência e emergência (Samuvet) de Bragança Paulista. Créditos: Claudio Zago Junior

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Diversas situações, como asfixia por afogamento, inalação de fumaça, eletrocussão, trauma, envenenamento, hemorragia ou desmaio, podem levar à inconsciência e, consequentemente, à parada cardíaca. Quando a vítima apresenta um pulso adequado, a ênfase é na ventilação assistida, que é administrada a uma frequência de 10 a 20 vezes por minuto, com monitoramento contínuo do pulso 15.

A ventilação assistida é conduzida utilizando uma máscara apropriada ao tamanho do paciente, cobrindo-se as aberturas laterais com os dedos. A máscara é conectada a um equipamento de oxigenoterapia, com o fluxo de oxigênio ajustado entre 2 a 5 L/minuto, e normalmente iniciado em 50-100 mL/kg 15.

No procedimento de RCP Vet, as compressões torácicas são aplicadas em ciclos ininterruptos de 2 minutos, com a grande maioria dos pacientes posicionados em decúbito lateral, com frequência de compressões de 100-120/min. Devem também ser aplicadas de forma a alcançar-se 1/3 a 1/2 da profundidade do tórax do paciente, permitindo que o tórax tenha completa recuperação de seu diâmetro, entre cada compressão. A ventilação precoce – a ventilação boca-focinho – não é mais considerada uma alternativa aceitável, sendo substituida pelo procedimento não invasivo com o uso de dispositivo supraglótico para vias aéreas (DSGVA) ou máscara facial veterinária de oxigênio. Durante a RCP veterinária, esses equipamentos são benéficos  aplicando uma taxa ventilatória de aproximadamente 10 incursões respiratórias/min, com volume final de 10 mL/kg e tempo inspiratório de 1 segundo. As ventilações deverão ser aplicadas simultaneamente com as compressões. Considera-se os locais da compressão de acordo com o porte e o formato da caixa torácica dos cães e gatos 13,14. A avaliação do pulso é feita após quatro ciclos de reanimação, e, se ausente, a RCP (Figura 6) é mantida até o retorno do pulso, momento em que a atenção é centrada na ventilação assistida 16.

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Figura 6 – Reanimação cardiopulmonar (A) e ventilação artificial com dispositivo BVM (B). Créditos: Bruno do Carmo

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No contexto de emergências, a aplicação adequada da RCP pode fazer a diferença entre a vida e a morte dos animais afetados 3,14. A ventilação assistida combinada com as compressões torácicas constitui um conjunto de procedimentos críticos para manter a oxigenação e a circulação sanguínea, sendo de especial importância em situações de parada cardiorrespiratória pela inalação e asfixia por fumaça.

Ao realizar a RCP, é crucial que os profissionais estejam treinados e capacitados para seguir as diretrizes estabelecidas. A avaliação constante do pulso e da condição do animal durante o procedimento, a correta administração das ventilações assistidas e a manutenção da frequência adequada de compressões torácicas são elementos-chave para aumentar as chances de sucesso na reanimação e na recuperação dos pacientes. Portanto, o conhecimento das técnicas de RCP Vet é essencial para garantir a eficácia das ações de primeiros socorros em emergências envolvendo animais domésticos.

A atuação de profissionais de resgate, como os bombeiros e os voluntários em situações de desastre ou emergência envolvendo animais domésticos, é de extrema importância para garantir a segurança e o bem-estar não apenas das vidas humanas. As técnicas e os protocolos refletem a dedicação em assegurar uma abordagem cuidadosa e eficaz durante essas situações críticas.

A implementação de diretrizes específicas, como a Resolução CFMV nº 1.511/2023 17, que orienta a atuação de médicos-veterinários e zootecnistas em desastres em massa envolvendo animais, evidencia o avanço de nossa legislação e o comprometimento em estabelecer procedimentos padronizados e direcionados para garantir a resposta apropriada e coordenada nessas circunstâncias.

Isso ressalta a necessidade de treinamento contínuo e atualização por parte das corporações, a fim de estarem preparadas para enfrentar cenários atuais envolvendo vidas animais.

A aplicação de técnicas como a RCP Vet desempenha um papel fundamental na preservação da vida dos animais em situações de emergência.

A combinação de ventilação assistida e compressões torácicas, conforme diretrizes estabelecidas, demonstra a relevância de garantir a oxigenação e a circulação sanguínea durante episódios de parada cardiorrespiratória provocada por inalação de fumaça em incêndios urbanos e florestais.

A introdução dessas técnicas nos cursos de formação dos Corpos de Bombeiros Militares (Figura 7) demonstra que a medicina veterinária está ligada à natureza dos serviços prestados aos animais. A interação das instituições com profissionais médicos-veterinários civis e ou militares, em determinados eventos complexos, bem como a disseminação de conhecimento acerca das técnicas de busca, salvamento e suporte básico de vida para animais domésticos, tornaram-se essenciais para alcançar resultados bem-sucedidos na sociedade em que vivemos, onde o animal doméstico se apresenta como um dos protagonistas quando considerarmos o contexto político, cultural e econômico.

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Figura 7 – Instrução de resgate técnico animal na Escola Superior de Bombeiros ESB, no estágio de RTA-2023. Créditos: Claudio Zago Junior

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A capacidade de avaliar rapidamente uma situação, aplicar as intervenções apropriadas (e não simplesmente adaptadas ou improvisadas), com uma abordagem técnica de acordo com as necessidades individuais dos animais demonstra o compromisso com esses profissionais defendem como a “Missão de proteger a vida, o meio ambiente e o patrimônio” (Corpo de Bombeiros da Policia Militar do Estado de São Paulo-CBPMESP) e “Vidas alheias e riquezas salvar” (Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro-CBMRJ), ainda que, em circunstâncias desafiadoras, às quais todos são vocacionados institucionalmente.

 

Referências

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02-IBGE. Perfil das Crianças Brasileiras. Disponível em: <https://educa.ibge.gov.br/criancas/brasil/2697-ie-ibge-educa/jovens/materias-especiais/20786-perfil-das-criancas-brasileiras.html>. Acesso em: 30 de agosto de 2023.

03-Lei Federal nº. 14.064/2020 sancionada e publicada no Diário Oficial da União modificando o art. 32, da Lei nº 9.605/1998 (Lei do Meio Ambiente), em referência ao caso envolvendo a tortura de um cão da raça pitbull que teve as patas traseiras decepadas em Minas Gerais, gerando clamor público e comoção em todo o Brasil.

04-ANUÁRIOS DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, CBMERJ, Rio de Janeiro: 2019, 2020, 2021 e 2022. Disponível em: <https://www.cbmerj.rj.gov.br/para-o-cidadao/anuarios/>. Acesso em 28 de agosto de 2024.

05-Manual de combate a incêndio urbano do CBMERJ. Rio de Janeiro: CBMERJ, 2019. 

06-NFPA 150, Instalaciones de Vivenda Animal. Disponível em: <https://www.nfpajla.org/pt/archivos/exclusivos-online/otros/934-nfpa-150-instalaciones-de-vivienda-animal>. Acesso em 29 de agosto de 2023.

07-Cat Friendly Homes. Disponível em: <https://catfriendly.com/keep-your-cat-healthy/home-modifications/>. Acesso em 30 de agosto de 2023.

08-DAHÁS, L. ; NEVES FILHO, H. ; CUNHA, T. ; RESENDE, B. Aprendizagem social em cães domésticos: Uma revisão dos estudos tendo humanos como liberadores de dicas. Acta Comportamentalia, v. 21, n. 3, p. 329-337, 2013.

09-AMERICAN VETERINARY MEDICAL ASSOCIATION. U.S. Pet Ownership and Demographics Sourcebook. Schaumburg, IL: American Veterinary Medical Association, 2007.

10-AMERICAN ASSOCIATION OF FELINE PRACTITIONERS. Disponível em: <http://www.catvets.com/cfp/cfp>. Acesso em 30 de agosto de 2023.

11-PINTO, A. J. W. Manual técnico de socorrismo e resgate animal. São Paulo: Pimenta Cultural, 2021. 

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