Menu

Clinica Veterinária

Início Opinião MVColetivo Uma análise sobre as diferentes funções dos cães trabalhadores
MVColetivo

Uma análise sobre as diferentes funções dos cães trabalhadores

Os cães podem atuar auxiliando militares e policiais, na caça, no pastoreio, na guarda e na assistência a deficientes visuais, auditivos e motores, orgânicos e mentais. Créditos: Fernando Gonsales Os cães podem atuar auxiliando militares e policiais, na caça, no pastoreio, na guarda e na assistência a deficientes visuais, auditivos e motores, orgânicos e mentais. Créditos: Fernando Gonsales

Os cães podem desempenhar diferentes funções na sociedade humana, sendo que alguns grupos especiais são denominados cães trabalhadores, do inglês working dogs. O cão foi provavelmente o primeiro animail a ser domesticado, sendo inegável o estreitamento da sua afinidade com os seres humanos desde então 1. Dessa relação, passaram a ser treinados para desempenhar diferentes funções e têm sido categorizados conforme cada atividade, tais como os cães militares e policiais, cães de caça, cães de pastoreio, cães de guarda e cães de assistência, que abrangem os cães-guias (que acompanham deficientes visuais), cães-ouvintes (deficientes auditivos) e cães de serviço (deficientes motores, orgânicos e mentais). Funções ainda mais especificas, como a detecção de infestações de insetos, como cupins 2, a detecção de estro em vacas leiteiras 3 e até mesmo o auxílio ao diagnóstico de câncer 4,5, podem ser realizadas por esses animais.

 

Cães de assistência para portadores de necessidades especiais

O uso de cães no processo de socialização da pessoa com deficiência visual não é recente. Representações artísticas de um deficiente visual sendo conduzido por um pequeno cão em 79 d.C. foram encontradas em escavações realizadas em Pompeia, na parede de uma casa soterrada pela erupção do vulcão Vesúvio. Os cães de assistência estiveram presentes nos séculos XIV e XV, na Europa, e no século XIII, na China.

Os primeiros registros de treinamento de cães datam de 1819, em um livro didático escrito pelo sacerdote vienense e diretor do Instituto para Deficientes Visuais de Viena, o padre Johann Wilhelm Klein. Em 1916 foi inaugurada a primeira escola de treinamento para cães-guias do mundo pelo médico alemão dr. Gerhard Stalling, em Oldenburg, na Alemanha, denominada Associação de Cães Pastores-Alemães 6.

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mais de 25 mil cães pastores-alemães foram utilizados pelo exército alemão para desempenhar tarefas como mensageiros, treinados para auxiliar os milhares de soldados que voltavam do combate com deficiências visuais. Aproximadamente 4 mil alemães foram atendidos por cães trabalhadores em 1927 7.

Nos Estados Unidos, a primeira escola de treinamento de cães surgiu em 1929, conhecida como The Seeing Eye, devido principalmente aos esforços de Dorothy Harrison Eustis, ao escrever um artigo para o Saturday Evening Post sobre o trabalho dos cães pastores-alemães, treinados para auxiliar veteranos que haviam adquirido deficiências visuais na Alemanha durante o período de 1925 a 1926 7.

­

“As empresas aéreas permitem que os cães voem com os seus proprietários (tutores, responsáveis) na cabine superior de passageiros, quando devidamente documentada a necessidade especial da presença de um cão que tem por trabalho o suporte emocional”. Créditos: Wendy Caetano

­

A capacidade de interação cooperativa com o ser humano, aliada à capacidade de sincronismo entre suas ações, determinou o sucesso de algumas raças como cães de assistência 8. O treinamento de um cão-guia compreende três etapas: seleção, socialização e treinamento. Após selecionado, inicia-se o processo de “socialização”, no qual os cães são adotados por famílias voluntárias que garantem o convívio em ambiente social, passeiam por locais públicos e aprendem os primeiros comandos. O treinamento é dividido em duas fases: na primeira o cão aprende as condutas relativas ao enfrentamento de obstáculos e o comportamento perante distrações; e, no treinamento em conjunto, o usuário e o cão-guia consolidam o aprendizado 9.

No Brasil, os cães são treinados principalmente para auxiliar portadores de deficiência de mobilidade, autistas, diabéticos, alérgicos e epiléticos, entre outros. Os cães especializados em mobilidade aprendem tarefas como trazer objetos, fechar portas, janelas, gavetas, ajudar na transferência para outros locais e até mesmo trazer medicamentos ou acionar um botão de emergência em casos de perigo, auxiliando o usuário a resolver as questões cotidianas.

Os cães de serviço são treinados de acordo com as necessidades da pessoa, podendo auxiliar autistas, principalmente para protegê-los, ou diabéticos, chamando a atenção quando existe uma variação no índice glicêmico, percebido pelo odor, assim como alérgicos e epiléticos, avisando pessoas próximas quando o usuário está apresentando uma crise 10.

 

Cães com funções médicas específicas 

Os cães têm a habilidade de detectar problemas de saúde em seres humanos, especificamente em casos de câncer, crises epilépticas e hipoglicemia 11. A capacidade de detectar quantidades pequenas de compostos orgânicos voláteis (COVs) permite que os cães domésticos analisem com maior eficiência as informações quimiossensoriais presentes no ambiente 12.

Em 1989, uma cadela mestiça de border collie e doberman farejava de maneira persistente uma lesão na perna de sua responsável, e certa vez tentou morder a lesão. Isso levou a proprietária de 44 anos a procurar aconselhamento médico, sendo diagnosticada com melanoma, uma neoplasia maligna 13. Apesar de ser um evento anedótico, muitos pesquisadores, a partir de relatos como esse, procuraram estudar com mais propriedade essa habilidade.

Em 2004, buscando responder à pergunta: “Os cães podem ser treinados para detectar câncer de bexiga com mais sucesso do que seria esperado apenas por acaso?”, pesquisadores de Londres utilizaram seis cães de raças distintas para detectar experimentalmente amostras de câncer. Para isso, seis amostras de controle e uma amostra de um paciente com câncer de bexiga foram disponibilizados aos cães para que alertassem ou indicassem qual das sete amostras era positiva; ao final do experimento, houve 41% (22/54) de acertos. O adestramento foi realizado pelo método clicker 14.

Os COVs são produzidos pelos tumores e liberados por meio da respiração 15,16 e da urina 17, por  exemplo. Em 2015, duas cadelas da raça pastor-alemão, de 3 anos de idade, foram adestradas para identificar COVs específicos do câncer de próstata em urina de pacientes. Foram utilizadas 362 amostras de pacientes positivos com baixo risco metastático e 540 controles saudáveis. Ambos os animais apresentaram estimativas de alta sensibilidade (entre 98,6% e 100%) e especificidade (entre 97,6% e 98,7%) na detecção 17.

A exploração desses compostos como método de diagnóstico está crescendo e adquirindo maior visibilidade científica, sugerindo que os cães têm potencial para contribuir de forma positiva na oncologia, principalmente quando são treinados de maneira correta e há respaldo científico 14. Entretanto, vale ressaltar que o diagnóstico não depende apenas dessa evidência, e portanto isso deve ser encarado como uma ferramenta auxiliar 11,17.

Além disso, tem-se sugerido que o cão possa atuar como sistema não invasivo de detecção da hipoglicemia em seres humanos 18. Os cães treinados exclusivamente para essa atividade têm sido designados como “cães de alerta para diabetes”(diabetes alert dogs). A hipoglicemia é uma consequência comum em pacientes com diabetes tipo 1 e 2 19, e aproximadamente 90% dos pacientes que utilizam insulina acabam experimentando episódios hipoglicemiantes durante o tratamento 20. Portanto, os pacientes que têm ao lado um companheiro com essa habilidade sentem-se mais confiantes para realizar a rotina diária, melhorar o bem-estar e diminuir a possibilidade de acidentes 21.

Em 2003, um labrador retriever chamado Armstrong, adestrado pelo treinador Mark Ruefenacht, foi reconhecido pelo Guinness World Records como o primeiro cão de alerta para diabéticos cientificamente treinado para essa atividade. O interesse pelo treinamento desses cães ocorreu em 1999, quando Mark foi avisado por seu labrador Benton, um filhote de cachorro em treinamento, sobre a iminência de um estado hipoglicêmico enquanto viajava a negócios. Como resultado, um projeto de cinco anos acabou se tornando a Dogs for Diabetics Inc., a primeira fornecedora de cães para essa atividade na Califórnia, credenciada na Assistance Dogs International 22.

Outras tarefas podem ser desempenhadas por esses animais, dentre elas a capacidade de desenvolver comportamento de alerta ou de resposta a crises. Mesmo nunca tendo sido treinados para essa tarefa, alguns cães foram capazes de demonstrar comportamento de resposta ou tentativa de alertar outras pessoas sobre o que estava ocorrendo com seu responsável 23. Esses comportamentos podem ser espontaneamente desenvolvidos pelos animais que convivem com pessoas com epilepsia 24.

Dependendo das necessidades do paciente, os cães podem levar de seis meses a dois anos para serem treinados; entretanto, inúmeros comportamentos podem ser desenvolvidos, como ativar um alarme, alertar um cuidador próximo e até mesmo levar  uma mochila contendo contatos de emergência e medicamentos anticonvulsivantes para seu responsável 24.

Comportamentos semelhantes são observados em cães treinados ou não durante ou antes de detectarem a crise epiléptica, como latir, lamber o rosto ou as mãos, ou simplesmente permanecer perto de seus companheiros humanos 24,25. Muitas vezes o cão se coloca propositalmente entre a cabeça da pessoa em crise convulsiva e o chão, evitando assim traumatismos. O alerta precoce do episódio convulsivo, de cerca de aproximadamente três minutos, foi relatado por três indivíduos durante um estudo com nove animais que respondiam às crises dos responsáveis. A precocidade da resposta propiciou tempo hábil para que o responsável assumisse uma posição segura e tomasse a medicação anticonvulsivante 24.

 

Cães de guarda e de pastoreio

Existem dois tipos de cães completamente diferentes que auxiliam produtores com seus animais ao redor do mundo: os cães de pastoreio são especialistas em movimentar os animais de um lugar a outro, e os cães de guarda os protegem contra predadores selvagens 12. Diferentemente dos cães de pastoreio, os cães de guarda atuam apenas na proteção contra ameaças externas, e geralmente são de raças grandes, como o komondor, utilizado pelos húngaros, o grande cão de montanha dos Pirineus, da França e da Espanha, e o kangal, da Turquia e do Irã 26.

A coloração dos cães era analisada com cautela. Os cães de coloração branca eram utilizados para proteger animais de pelagem clara, e os cães de coloração castanha ou cinzenta, para animais de pelagem escura. Isso ajudava a distinguir os cães dos predadores, aumentava a probabilidade de os animais aceitarem os cães e também lhes proporcionava uma certa camuflagem, tornando-os um elemento surpresa em caso de ataques de predadores 27.

 

Cães empregados para auxiliar na preservação da saúde ou na integridade de ecossistemas

Atualmente, apesar de polêmico, o emprego de cães com funções específicas de caça vem ganhando destaque no Brasil, desde a publicação da Instrução Normativa nº 3/2013, de 31 de janeiro de 2013, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) 28. O documento declarou a nocividade da espécie exótica javali (Sus scrofa) e regulamentou seu controle através da captura e do abate, sendo um dos métodos mais populares para rastreamento o uso de cães de caça 29. Vale lembrar que aqui são exploradas as habilidades predatórias naturais dos cães, herdadas dos lobos. Tais cães, consequentemente, têm acesso a áreas naturais e podem estar superexpostos a carrapatos e a diversos agentes infecciosos, sendo alvo de estudos recentes 30.

 

Cães militares e policiais

Muitos animais contribuíram nas batalhas históricas, principalmente nas duas grandes guerras mundiais, além de proporcionar conforto e companheirismo em momentos de grande aflição. O olfato aguçado, combinado com a audição excelente, permitiu que mais de 25 mil cães pastores-alemães fossem utilizados pelo exército alemão como mensageiros ou para encontrar soldados feridos na Primeira Guerra Mundial 7.

Os cães de trabalho, de modo geral, desempenham atividades altamente precisas, servindo de extensão dos sentidos e das habilidades humanas 31. O olfato é um dos mais importantes sentidos explorados em cães pelos seres humanos. Seu processo inicia-se na cavidade nasal, onde estão presentes os receptores olfativos, responsáveis por captar as moléculas e transformar o sinal químico em sinal elétrico, enviando a informação até o cerebro para identificação do odor 32.

Em 2009, demostrou-se que existem diferenças no polimorfismo de genes olfativos, indicando a capacidade de modificar a ligação de receptores de maneira distinta em seis raças caninas estudadas: pastor-alemão, labrador retriever, pastor-belga malinois, pequinês, galgo e cocker spaniel. Os cientistas afirmam que o estudo pode ser um dos primeiros passos para a compreensão da exímia habilidade de farejar dos pastores-alemães e dos labradores 33.

Em 2016, alguns cientistas desenvolveram um nariz artificial em 3D a partir de uma fêmea de labrador retriever, cujas caracerísticas foram replicadas. O estudo revelou que, na expiração, um jato de ar turbulento sai das narinas em direção ventral e para baixo, e lateramente para fora. Essa turbulência carrega o vapor de ar que em seguida é puxado em direção às narinas; durante o processo, o ar é exalado e inspirado cinco vezes por segundo, aumentando o alcance areodinâmico do cão durante o farejamento de odores inacessíveis. Quando foi acoplado a um detector de explosivos comercialmente disponível, o nariz artificial proporcionou resultados 16 vezes melhores. Além disso, quando comparado a detectores de sucção continua, o nariz artificial foi 18 vezes mais eficiente a uma distância de 20 centímetros da fonte de odor 34.

Nos Estados Unidos, os cães foram oficialmente incorporados às forças armadas em janeiro de 1942, após a aprovação da criação do Corps K-9 pelo secretário de Guerra Robert P. Patterson. Antes disso, foram provavelmente adotados como mascotes. Um dos cães mais famosos da Primeira Guerra Mundial foi o bull terrier Stubby, incorporado ao serviço por meio do soldado Robert Conroy, em 1917, tornando-se o mascote da 102º Batalhão de Infantaria e parte da 26º Divisão do exército ianque. Após sua morte, em 1926, seu corpo foi taxidermizado e exposto em diversas galerias de arte, incluindo o National Museum of American History, em Washington, na exposição “The price of the freedom: Americans at war 35. Para os amantes do cinema, Sgt. Stubby: an American Hero, dirigido por Richard Lanni, é um filme de animação baseado na vida desse herói, lançado nos Estados Unidos em 13 de abril de 2018. Confira o trailer no site oficial: http://www.stubbymovie.com/.

­

Cão farejador da raça pastor-belga malinois, especialista em encontrar drogas, armas e dólares, durante busca em ônibus suspeito de turismo e compras. Pertencente ao canil da Força Nacional do Rio Grande do Sul, trabalha diuturnamente nesse posto permanente da Polícia Federal, na Ponte da Amizade, na fronteira entre Brasil e Paraguai, em Foz do Iguaçu, Paraná (2018). Créditos: Fabiano Montiani

­

No Brasil, por meio da Portaria nº 318-GB, de 12 de outubro de 1967, houve a normatização do emprego de cães pelo Exército brasileiro, que aprovou o Manual C 42-30, que trata do adestramento de cães de guerra. Depois, em 1970, o uso de cães de guerra nas organizações militares de polícia do Exército foi autorizado durante o curso de Operações na Selva e Ações de Comandos e na Brigada de Infantaria Paraquedista 36. Pastores-alemães e pastores-belgas-malinois são empregados preferencialmente pela força terrestre, sendo que todos devem estar habilitados por meio de treinamento específico e passar por testes de desempenho previstos no manual de treinamento de cães de guerra 15.

Os cães podem ser classificados como cães de guarda (CG), cães de polícia do Exército I (CPE I), cães de polícia do Exército II (CPE II), cães de detecção de explosivos (CDE), cães de localização de evidências (CLE) e cães de detecção de narcóticos (CDN), conforme o caderno de instruções do comando de operações terrestres do Exército, que regulamenta o emprego dos animais, principalmente para atender às unidades de polícia do Exército. A participação em combates em ambientes inóspitos e a atuação em grandes distâncias, até mesmo sem a vigia do condutor, são características do alto grau de desempenho dos cães de guerra. Ademais, eles não podem exercer concomitantemente as atividades de localização de explosivos e detecção de narcóticos, pois são funções incompatíveis 37.

 

Cão de guarda Cão de polícia do exército I (CPE I) Cão de polícia do exército II (CPE II) Cão de detecção de narcóticos (CDN) Cão de localização de evidências (CLE) Cão de detecção de
explosivos (CDE)
Selecionado e treinado para o serviço de guarda de instalações, paióis, depósitos, reservas e demais áreas de segurança Apto a trabalhar em patrulhamento policial, abordagens, defesa do condutor, escolta de presos, segurança de autoridades, isolamento de áreas e controle de distúrbios Apto a trabalhar nas atividades de busca e captura de fugitivos em áreas abertas, matas e edificações, varreduras de ambientes diversos e invasão a localidades Apto a trabalhar na detecção de drogas Apto a trabalhar nas cenas dos crimes e buscar evidências que possam ajudar nas investigações, tais como estojos deflagrados, armas abandonadas, aparelhos telefônicos, documentos, peças de vestuário, entre outros Apto a trabalhar na detecção de bases explosivas, tais como pólvora C4, TNT e outras, além de ser capaz de localizar munições, artefatos e armamentos com odor de base
Habilitações dos cães de guerra do Exército. Adaptado de “Exército Brasileiro e Comando de Operações Terrestres” 37

­

Os cães foram utilizados em grandes catástrofes mundiais, como no atentado ao World Trade Center, em Nova York, em 11 de setembro de 2001. Mais de 100 cães de resgate foram utilizados para a tarefa árdua de escalar enormes montanhas de detritos e vigas de aço torcidas, e rastejar em locais confinados e escuros, à procura de sobreviventes e muitas vezes de cadáveres. Em 2016, a última heroína canina do World Trade Center, a golden retriever Bretagne, sofreu eutanásia devido à idade avançada, e seu corpo foi envolto em uma bandeira dos Estados Unidos durante o sepultamento – a mesma cerimônia realizada para soldados que morrem lutando em defesa de seu país.

Outra heroína canina, Frida, da raça labrador retriever, de nove anos de idade, treinada pelas forças armadas do México para salvamento de vítimas de desastres naturais, atuou no resgate de crianças soterradas nos escombros do Colegio Enrique Rébsamen, quando um terremoto de magnitude 7,1 atingiu o México, em 19 de setembro de 2017 38. Antes disso, também no México, em Juchitán de Zaragoza, no estado de Oaxaca, ajudou a resgatar 12 pessoas após um terremoto de magnitude 8,2 na escala Richter, em 7 de setembro do mesmo ano 39. Em entrevista ao ABC News, Israel Arauz Salinas, treinador de Frida, afirma que “ela dá esperança à vida através de seus latidos” e transmite muita calma e paz, além de ser “confiável na hora de trabalhar” 38.

­

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) regulamentou em 26 novembro de 2018 o emprego de cães de detecção de odores (farejadores) – que distinguem cerca de 80 tipos de odores diferentes – nos procedimentos de fiscalização agropecuária, bem como em correspondências, cargas, drogas e explosivos.

A Portaria n° 74/2018 estabeleceu também o Centro Nacional de Cães de Detecção (CNCD), que será construído junto ao Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), com a responsabilidade de treinar os cães de detecção para atuarem nos aeroportos de todo o país, reforçando os mecanismos de controle e fiscalização agropecuária.

 

Notícia oficial

http://www.agricultura.gov.br/noticias/portaria-regulamenta-fiscalizacao-com-caes-e-cria-centro-de-treinamento

 

Portaria na íntegra

http://portal.imprensanacional.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/52004053/do1-2018-11-27-instrucao-normativa-n-74-de-26-de-novembro-de-2018-52003813

­

Considerações finais 

O estreitamento das relações entre cães e seres humanos ao longo da história estimulou o aproveitamento das características inerentes à espécie canina, como capacidade olfativa, auditiva, visual, física e de comportamento. Dessa forma, os cães são treinados para desempenhar diferentes funções e categorizados conforme cada atividade, tais como: 
1. cães de assistência, cães-guias, cães-ouvintes e cães de serviço; 
2. cães com funções médicas específicas, que são utilizados como sentinelas em crises epilépticas, doenças oncológicas e hipoglicemia; 
3. cães militares e policiais, que no Brasil podem ser de guarda, cães de polícia do Exército, utilizados para detecção de explosivos, localização de evidências e detecção de narcóticos. 

Os cães podem ainda assumir outras funções no nosso dia a dia, como na caça, no pastoreio de animais de produção e na proteção dos rebanhos. Assim, para nossos melhores amigos nunca faltará uma função bem próxima de nós.

 

Referências

01-AXELSSON, E. ; RATNAKUMAR, A. ; ARENDT, M. L. ; MAQBOOL, K. ; WEBSTER, M. T. ; PERLOSKI, M. ; LIBERG, O. ; ARNEMO, J. M. ; HEDHAMMAR, A. ; LINDBLAD-TOH, K. The genomic signature of dog domestication reveals adaptation to a starch-rich diet. Nature, v. 495, n. 2418, p. 360-364, 2013.

02-BROOKS, S. E. ; OI, F. M. ; KOEHLER, P. G. Ability of canine termite detectors to locate live termites and discriminate them from non-termite material. Journal of Economic Entomology, v. 96, n. 4, p. 1259-1266, 2003.

03-FISCHER-TENHAGEN, C. ; WETTERHOLM, L. ; TENHAGEN, B. A. ; HEUWIESER, W. Training dogs on a scent platform for oestrus detection in cows. Applied Animal Behaviour Science, v. 131, n. 1-2, p. 63-70, 2011. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/j.applanim.2011.01.006>. Acesso em 10 de dezembro 2018.

04-PICKEL, D. ; MANUCY, G. P. ; WALKER, D. B. ; HALL, S. B. ; WALKER, J. C. Evidence for canine olfactory detection of melanoma. Applied Animal Behaviour Science, v. 89, n. 1-2, p. 107-116, 2004. doi: 10.1016/j.applanim.2004.04.008.

05-BUSZEWSKI, B. ; RUDNICKA, J. ; LIGOR, T. ; WALCZAK, M. ; JEZIERSKI, T. ; AMANN, A. Analytical and unconventional methods of cancer detection using odor. TrAC – Trends in Analytical Chemistry, v. 38, p. 1-12, 2012. doi: 10.1016/j.trac.2012.03.019.

06-FISHMAN, G. A. When your eyes have a wet nose: The evolution of the use of guide dogs and establishing the seeing eye. Survey of Ophthalmology, v. 48, n. 4, p. 452-458, 2003. doi: 10.1016/S0039-6257(03)00052-3.

07-OSTERMEIER, M. History of guide dog use by veterans. Military Medicine, v. 175, n. 8, p. 587-593, 2010. doi: 10.7205/MILMED-D-10-00082.

08-NADERI, S. ; MIKLÓSI, Á. ; DÓKA, A. ; CSÁNYI, V. Co-operative interactions between blind persons and their dogs. Applied Animal Behaviour Science, v. 74, n. 1, p. 59-80, 2001. doi: 10.1016/S0168-1591(01)00152-6.

09-IRIS. IRIS – cão.guia. Instituto IRIS. Disponível em: <http://www.iris.org.br/faq>. Acesso em 10 de julho de 2018.

10-FROLING, J. Assistance dog tasks. Disponível em: <http://www.iaadp.org/tasks.html>. Acesso em: 10 de julho de 2018.

11-WELLS, D. L. Dogs as a diagnostic tool for 111 health in humans. Alternative Therapies in Health Medicine, v. 18, n. 2, p. 12-178, 2012.

12-GRANDIN, T. Livestock handling and transport. 4. ed. Colorado: Cabi, 2014. 494 p. ISBN: 978-1780643212.

13-WILLIAMS, H. ; PEMBROKE, A. Sniffer dogs in the melanoma clinic? The Lancet, v. 333, n. 8640, p. 734, 1989. doi: 10.1016/S0140-6736(89)92257-5.

14-WILLIS, C. M. ; CHURCH, S. M. ; GUEST, C. M. ; COOK, W. A. ; McCARTHY, N. ; BRANSBURRY, A. J. ; CHURCH, M. R. T. ; CHURCH, J. C. T. Olfactory detection of human bladder cancer by dogs: proof of principle study. BMJ, v. 329, n. 7477, p. 712-715, 2004. doi: 10.1136/bmj.329.7468.712.

15-KRILAVICIUTE, A. ; HEISS, J. A. ; LEJA, M. ; KUPCINSKAS, J. ; HAICK, H. ; BRENNER, H. Detection of cancer through exhaled breath : a systematic review. Oncotarget, v. 6, n. 36, p. 38643-38657, 2015. doi: 10.18632/oncotarget.5938.

16-PHILLIPS, M. ; CATANEO, R. N. ; DITKOFF, B. A. ; FISHER, P. ; GREENBERG, J. ; GUNAWARDENA, R. ; KWON, C. S. ; RAHBARI-OSKOUI, F. ; WONG, C. Volatile markers of breast cancer in the breath. The Breast Journal, v. 9, n. 3, p. 184-191, 2003. doi: 10.1046/j.1524-4741.2003.09309.x.

17-TAVERNA, G. ; TIDU, L. ; GRIZZI, F. ; TORRI, V. ; MANDRESSI, A. ; SARDELLA, P. ; LA TORRE, G. ; COCCIOLONE, G. ; SEVESO, M. ; GIUSTI, G. ; HURLE, R. ; SANTORO, A. ; GRAZIOTTI, P. Olfactory system of highly trained dogs detects prostate cancer in urine samples. The Journal of Urology, v. 193, n. 4, p. 1382-1387, 2015. doi: 10.1016/j.juro.2014.09.099.

18-CHEN, M. ; DALY, M. ; WILLIAMS, N. ; WILLIAMS, S. ; WILLIAMS, C. ; WILLIAMS, G. Non-invasive detection of hypoglycaemia using a novel, fully biocompatible and patient friendly alarm system. BMJ, v. 321, n. 7276, p. 1565-1566, 2000. doi: 10.1136/bmj.321.7276.1565.

19-BRISCOE, V. J. ; DAVIS, S. N. Hypoglycemia in type 1 and type 2 diabetes: physiology, pathophysiology, and management. Clinical Diabetes, v. 24, n. 3, p. 115-121, 2006. doi: 10.2337/diaclin.24.3.115.

20-HERBEL, G. ; BOYLE, P. J. Hypoglycemia. Pathophysiology and treatment. Endocrinology and Metabolism Clinics of North America, v. 29, n. 4, p. 725-743, 2000. doi: 10.1016/S0889-8529(05)70161-4.

21-ROONEY, N. J. ; MORANT, S. ; GUEST, C. Investigation into the value of trained glycaemia alert dogs to clients with type I diabetes. PloS One, v. 8, n. 8, p. 1-12, 2013. doi: 10.1371/journal.pone.0069921.

22-DOGS4DIABETCS. Our dogs save lives. Disponível em: <https://dogs4diabetics.com/about-us/contact-us/>. Acesso em 22 de novembro de 2018.

23-DI VITO, L. ; NALDI, I. ; MOSTACCI, B. ; LICCHETTA, L. ; BISULLI, F. ; TINUPER, P. A seizure response dog : video recording of reacting behaviour during repetitive prolonged seizures. Epileptic Disorders, v. 12, n. 2, p. 142-145, 2010. doi: 10.1684/epd.2010.0313.

24-DALZIEL, D. J. ; UTHMAN, B. M. ; McGORRAY, S. P. ; REEP, R. L. Seizure-alert dogs : a review and preliminary study. Seizure, v. 12, n. 2, p. 115-120, 2003. doi: 10.1016/S105913110200225X.

25-KIRTON, A. ; WINTER, A. ; WIRRELL, E. ; SNEAD, O. C. Seizure response dogs : evaluation of a formal training program. Epilepsy & Behavior Journal, v. 13, n. 3, p. 499-504, 2008. doi: 10.1016/j.yebeh.2008.05.011.

26-LINHART, S. B. ; STERNER, R. T. ; CARRIGAN, T. C. ; HENNE, D. R. Komondor guard dogs reduce sheep losses to coyotes: a preliminary evaluation. Journal of Range Management, v. 32, n. 3, p. 238-241, 1979. doi: 10.2307/3897131.

27-RIGG, R. Livestock guarding dogs: their current use world wide. The Canid Specialist Group, Aberdeen: University of Aberdeen, 2001. 133 p.

28-IBAMA. Instrução  Normativa nº 03/2013, de  31  de  janeiro  de  2013. Decreta a novicidade do Javali e dispõe sobre o seu manejo e controle. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, p. 6-9, 2013.

29-ROSA, C. A. ; WALLAU, M. O. ; PEDROSA, F. Hunting as the main technique used to control wild pigs in Brazil. Wildlife Society Bulletin, v. 42, n. 1, p. 111-118, 2018.

30-PIRANDA, E. M. ; FACCINI, J. L. H. ; PINTER, A. ; SAITO, T. B. ; PACHECO, R. C. ; HAGIWARA, M. K. ; LABRUNA, M. B. Experimental infection of dogs with a Brazilian strain of Rickettsia rickettsii: clinical and laboratory findings. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 103, n. 7, p. 696-701, 2008.

31-HELTON, W. S. Canine ergonomics: the science of working dogs. 1. ed. Boca Raton: CRC Press, 2009. 366 p. ISBN: 978-1420079913.

32-QUIGNON, P. ; RIMBAULT, M. ; ROBIN, S. ; GALIBERT, F. Genetics of canine olfaction and receptor diversity. Mammalian Genome, v. 23, n. 1-2, p. 132-143, 2012. doi: 10.1007/s00335-011-9371-1.

33-ROBIN, S. ; TACHER, S. ; RIMBAULT, M. ; VAYSSE, A. ; DRÉANO, S. ; ANDRÉ, C. ; HITTE, C. ; GALIBERT, F. Genetic diversity of canine olfactory receptors. BMC Genomics, v. 10, pn. 21, p. 1-16, 2009. doi: 10.1186/1471-2164-10-21.

34-STAYMATES, M. E. ; MACCREHAN, W. A. ; STAYMATES, J. L. ; KUNZ, R. R. ; MENDUM, T. ; ONG, T. H. ; GEURTSEN, G. ; GILLEN, G. J. ; CRAVEN, B. A. Biomimetic sniffing improves the detection performance of a 3D printed nose of a dog and a commercial trace vapor detector. Scientific Reports, v. 6, n. 36876, p. 1-10, 2016. doi: 10.1038/srep36876. 

35-GOLDEN, K. Stubby: dog, hoya mascot, and war hero. The National Museum of American History, 2011. Disponível em: <http://americanhistory.si.edu/blog/2011/05/stubby-dog-hoya-mascot-and-war-hero.html>. Acesso em 10 de julho de 2018.

36-BOTTINO, A. A. O emprego de cães militares na Operação Arcanjo. Defesanet: Brasília, 2012. Disponível em: <http://www.defesanet.com.br/mout/noticia/9014/O-emprego-de-caes-militares-na-Operacao-Arcanjo/>. Acesso em 18 de julho de 2018.

37-EXÉRCITO BRASILEIRO. ; COMANDO DE OPERAÇÕES TERRESTRES. Caderno de Instrução de Emprego de Cão de Guerra, 2013. Disponível em: <http://www.bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/118/1/EB70-CI-11.002.pdf>. 

38-RIVERA, A. ; MILLER, A. Rescue dog in Mexico has become a symbol of “hope”. ABC News, 2018. Disponível em: <https://abcnews.go.com/US/rescue-dog-mexico-symbol-hope/story?id=54446232>. Acesso em 21 de julho de 2018.

39-CRUZ, M. Terremoto no México: Frida, a cadela da Marinha mexicana que ajudou no resgate de 56 pessoas. EL PAÍS Brasil, 2017. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/21/internacional/1506029792_235141.html>. Acesso em 21 de julho de 2018.