A extensão universitária é um processo educativo, cultural e científico responsável por viabilizar uma relação entre a universidade e a comunidade na qual está inserida. A população ganha assistência/conhecimento, enquanto o meio acadêmico aprende com o saber dessa sociedade, além de conhecer suas reais necessidades e anseios 1.
O projeto de extensão Manejo Populacional de Cães e Gatos e Unidade Móvel de Esterilização e Educação em Saúde (UMEES) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) surgiu com o objetivo de desenvolver ações para o manejo populacional ético de cães e gatos, visando principalmente a educação para a guarda responsável, o controle reprodutivo, o registro e a identificação, e a participação social. Já o projeto de extensão Medicina Veterinária em Ação nas Comunidades da UFPR objetiva desenvolver ações para promover a saúde dos indivíduos e das comunidades e os cuidados ao meio ambiente, atendendo a demandas específicas de cidades da Grande Curitiba.
Em consequência da pandemia de Covid-19 no primeiro semestre de 2020, as atividades presenciais foram inviabilizadas, sendo necessárias novas abordagens, feitas de forma virtual. A nova proposta consistiu em levar à comunidade informações com base científica de forma clara e objetiva. Além dos temas que envolviam a pandemia de Covid-19 e sua relação com os animais, outros temas também foram incluídos, como a prevenção ao abandono de cães e gatos, a conexão existente entre a violência doméstica e os maus-tratos aos animais, a educação humanitária, a saúde mental em tempos de isolamento social e a prevenção ao suicídio (Setembro Amarelo).
A atuação virtual começou com o intuito de combater as fake news que desde o início da pandemia ocorrem de forma desenfreada 2. A promoção do conhecimento foi realizada por meio de redes de comunicação, como as rádios e as redes sociais, site, criação de uma biblioteca virtual, palestras virtuais (Setembro Amarelo e Simpósio de Manejo Populacional de Cães e Gatos) e cursos (Educação Humanitária e Violência Doméstica e os Maus-tratos aos Animais).
Cada projeto contou com aproximadamente 30 alunos voluntários e 3 bolsistas (Figuras 1 e 2) de diversas regiões do Brasil, sendo a grande maioria do curso de medicina veterinária, mas também com graduandos dos cursos de psicologia, assistência social e relações públicas. Cada bolsista ficou responsável por 2 a 3 grupos de 2 a 5 voluntários cada. Residentes de Medicina Veterinária do Coletivo e pós-graduandos de Saúde Única do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias da UFPR também participaram, auxiliando os graduandos na confecção e na correção dos materiais. Os cursos foram organizados pelos residentes, com o apoio dos alunos de extensão.
A publicação e a veiculação dos materiais elaborados foram realizadas pelas mídias sociais (Instagram, Youtube, Facebook, Portal MVC-UFPR), além de spots de rádio veiculados por cinco rádios paranaenses parceiras – Tamandaré, UNIFM, Web RCW, POP FM, Massa FM – e pelo Jornal Cidade Notícias.
No Instagram @mvcufpr foram veiculadas 32 postagens com alcance total aproximado de 18 mil pessoas, sendo o público principal discentes e profissionais das áreas da saúde.
Nas páginas do Facebook de ambos os projetos (https://m.facebook.com/UMEES2019 e https://m.facebook.com/131887637445649/ ) foram veiculadas cerca de 25 postagens que alcançaram em média um público de 500 visitantes semanalmente.
No canal do Youtube (https://youtube.com/@medicinaveterinariadocolet7913 ) foram promovidas palestras para a prevenção do suicídio e a promoção da qualidade de vida, além da realização do I Simpósio de Medicina Veterinária do Coletivo – UFPR de forma totalmente online e gratuita, ocorrido nos dias 27 e 28 de novembro de 2020, que contou com 9 palestrantes e 337 inscritos de diversas regiões do Brasil.
O curso sobre teoria do elo intitulado Enfrentamento da Violência Doméstica e Maus-tratos aos Animais em Tempos de Covid teve como público-alvo profissionais e alunos de medicina veterinária, psicologia, direito, assistência social e ciências sociais, e de saúde em geral. Os professores convidados eram de diferentes áreas. O curso estruturou-se em sete módulos, com aulas, textos de apoio, atividades e fóruns de discussão, totalizando 949 visualizações até a data final de oferta. Os módulos foram estruturados da seguinte maneira: Ambientação à plataforma UFPR Virtual; Perspectivas sociais da violência; Psicologia da violência; Aspectos legais dos maus-tratos aos animais e violência doméstica; Teoria do elo e maus-tratos; Combate à violência contra pessoas e animais; Encerramento e autoavaliação.
Os temas das aulas do curso Enfrentamento da Violência Doméstica e Maus-tratos aos Animais em Tempos de Covid incluíram: perspectivas sociais da violência; psicologia da violência; direito animal, maus-tratos e violência; teoria do elo e maus-tratos (introdução, conceitos, epidemiologia e perícia); política de assistência social; maus-tratos aos animais; e violência contra os idosos. Ao todo foram ofertadas 9 aulas gravadas, que somaram 949 visualizações. O curso contou com estudantes e profissionais das cinco regiões do país, sendo eles oriundos de instituições de ensino superior públicas e privadas, e órgãos públicos. Os participantes responderam a um questionário de avaliação previamente e posteriormente ao início dos estudos, a fim de se analisar o impacto do curso no seu conhecimento. O curso também permitiu a integração entre os estudantes por meio de discussões de situações-problema apresentadas. Os participantes compartilharam opiniões e experiências baseadas em suas atuações profissionais diárias, possibilitando a troca de conhecimento para o enfrentamento de situações reais. Ao fim da oferta do conteúdo, os participantes contaram com espaço para sugestões visando ao aperfeiçoamento do curso para futuras edições.
O curso Educação Humanitária em Valores teve como principal objetivo empoderar os professores da rede pública do município de Campo Magro, PR, para atuarem como facilitadores da promoção da cultura da paz por meio da educação. O curso foi estruturado em sete módulos, sendo eles: Introdução ao curso de educação humanitária; Respeito aos animais; Respeito pelas pessoas que conheço; Respeito por todas as pessoas; Respeito pela minha cidade; Respeito por meu estado e meu país; e Respeito por outros países e culturas. O grande trunfo do curso foi a parceria firmada com o Centro Internacional de Formação de Autoridades e Líderes (Cifal), que contribuiu com excelentes palestrantes. Cada módulo teve a duração de duas semanas, ao final das quais os professores apresentaram propostas de melhoras para as comunidades às quais pertencem. Aproximadamente 130 pessoas participaram diretamente: 97 participantes inscritos, 21 ministrantes/palestrantes convidados, 8 coordenadores articuladores, 2 membros da Secretaria Municipal de Saúde e 2 membros da Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura de Campo Magro. A última atividade do curso foi uma roda de conversa inspiradora sobre boas práticas para uma vida melhor (https://www.youtube.com/live/lOBog9gUyzo?feature=share).
Considerações finais
A condução dos projetos de extensão durante o período de pandemia apresentou resultados positivos nas plataformas operadas como veículo para informações. As redes sociais utilizadas apresentaram aumento no número de pessoas que tiveram proximidade com os materiais produzidos e disponibilizados. Ademais, os e-books publicados na biblioteca virtual e os spots em rádios parceiras são estratégias promissoras para entrar em contato com a comunidade.
Os voluntários que participaram do projeto relataram majoritariamente satisfação ao desenvolverem as atividades propostas. Essa satisfação também foi compartilhada pelos membros envolvidos na organização. As atividades contribuíram para o desenvolvimento acadêmico dos alunos na obtenção de conhecimento sobre a área da medicina veterinária do coletivo e nas habilidades de comunicação escrita, ilustrada ou falada. Apesar dos esforços, a situação-problema que o projeto enfrenta exige o embate contínuo da comunidade científica por meio da produção de pesquisa e informação responsável, pois sabe-se que é complexo cessar a disseminação de fake news.
Agradecimentos
À Prefeitura de Campo Magro, em especial à Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer (Semec), presidida por Giovana Mion Casagrande; à Cifal Curitiba; a todos os professores participantes do curso de Educação Humanitária; aos professores Antônio Waldir da Silva Cunha e Roberta Carareto, pela atuação incansável na coordenação dos projetos; aos bolsistas, por toda a dedicação e o afinco; aos residentes e pós-graduandos, pelas muitas horas dedicadas a correções e revisões; e, principalmente, a todos os voluntários responsáveis por levar adiante os projetos, mesmo em tempos tão difíceis.
Referências
01-NUNES, A. L. P. F. ; SILVA, M. B. C. A extensão universitária no ensino superior e a sociedade. Mal-Estar e Sociedade, v. 4, n. 7, p. 119-133, 2011. ISSN: 2238-2801. Disponível em: <https://revista.uemg.br/index.php/gtic-malestar/article/view/60>. Acesso em 12 de novembro de 2020.
02-APUKE, O. D. ; OMAR, B. Fake news and COVID-19: modelling the predictors of fake news sharing among social media users. Telematics and Informatics, v. 56, p. 101475, 2021. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0736585320301349>. Acesso em 12 de novembro de 2020.