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O minipig ou “suíno em miniatura”

Do ensino à pesquisa, até a produção para a estimação

Créditos: Pixabay Créditos: Pixabay

Introdução

“Suínos em miniatura”, “micropigs”, “minipigs”, “pocket pigs” e “teacup pigs” são alguns dos termos utilizados para designar os representantes das mais de 45 raças de pequeno porte de suínos domésticos, desenvolvidas para o uso em ensino e pesquisa, mas que atualmente ganharam espaço como animais de companhia 1,2. Com até um quarto do tamanho de raças de suíno tradicionais como landrace e yucatan, e porte comparável ao de um cão da raça beagle, os suínos em miniatura são inteligentes, curiosos, afetuosos, adaptáveis em ambiente doméstico e já são considerados tendência como animais de companhia nos últimos dez anos em vários países da Europa, nos Estados Unidos e no Brasil 3-5.

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Apesar de os minipigs serem recentemente considerados animais de companhia, as legislações brasileiras ainda os consideram estritamente animais de produção. Créditos: Fernando Gonsales

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Suínos em miniatura como animais para ensino e pesquisa

Os suínos domésticos (Sus scrofa domesticus) possuem semelhanças fisiológicas e anatômicas com o ser humano reconhecidas desde a Grécia antiga, onde os primeiros estudos comparativos com suínos foram realizados 6. Mas somente após a segunda metade do século XX os suínos se tornaram o segundo modelo animal pré-clínico escolhido para uma série de pesquisas biomédicas e de laboratório mais usado no mundo, depois dos roedores 6,7. Nesse contexto, várias linhagens de suínos de tamanho reduzido foram desenvolvidas para simplificar o manejo, a reprodução e fixar características específicas necessárias às pesquisas 8. Essas linhagens, apesar de apresentarem menor tamanho e peso que as dos suínos convencionais, não são portadoras de nanismo, o que tem garantido a manutenção da anatomia e da fisiologia da espécie (Figura 1) 6,9.

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Nome da linhagem Cruzamento Local e ano Peso idade adulta Finalidade
Sinclair™ miniature swine ou minnesota 21 Cruzamento entre piney woods, rasnlansa, catalina e guam21 Universidade de Minnesota, EUA – 194921 16 a 22 kg21 Uso em pesquisas sobre melanoma e toxicológicas6,20
Hanford™ miniature swine 22 Pitman-moore, palouse, suíno-feral-do-pântano e yucatán miniatura22 Hanford Laboratories, EUA – 195822 25 a 40 kg22 Uso em pesquisas sobre sistema cadiovascular, dermatológicas e toxicológicas6,20
Yucatan™ miniature swine 23 A partir da raça yucatán, oriunda do México23 Universidade do Colorado, EUA – 197223 20 a 30 kg23 Uso em pesquisas sobre diabetes, metabolismo, sistema cardiovascular e oftalmológicas6,20
Göttingen minipig® 24 Minnesota minipig, vietnamese potbelly pig e german landrace24 Universidade de Göttingen, Alemanha – 196524 10 a 14 kg24 Uso em pesquisas sobre sistema cardiovascular e na indústria farmacêutica25
American minipig 1 Cruzamento de diferentes raças nos EUA1 Em processo de padronização da raça pela American Minipig Association1 36 a 130 kg; 40 a 80 cm de altura1

Animal de companhia1

Figura 1 – Principais raças de suínos em miniatura

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Além do menor peso e porte, convenientes para a realização de procedimentos cirúrgicos experimentais, os suínos em miniatura parecem apresentar desenvolvimento de doenças metabólicas (como obesidade, diabetes e problemas cardíacos associados ao colesterol) e infecciosas (resposta imune semelhante) similar ao de seres humanos, o que possibilita o estudo de novas abordagens preventivas e terapêuticas 9. Diferentemente de modelos que utilizam roedores, extensos estudos longitudinais vêm sendo feitos em um único animal, à medida que se realiza a biópsia de múltiplos tecidos sem a eutanásia imediata, respeitando os princípios éticos da experimentação animal (refine, reduce and replace) 10,11.

Apesar de não haver até o momento legislação específica no Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) para suínos convencionais e miniatura utilizados em atividades de ensino e pesquisa, por se tratar de espécie reconhecida como de produção, recomenda-se a sua vacinação sistemática para leptospirose, erisipela suína, parvovirose, rinite atrófica e pneumonia enzoótica e a profilaxia para ectoparasitas e endoparasitas, bem como alimentação com ração balanceada e com procedimentos-padrão de limpeza e higiene 11,12.

 

Suínos em miniatura como animais de estimação

Como todo animal de estimação, os minipigs requerem cuidados especiais no manejo nutricional, ambiental, reprodutivo e sanitário (Figura 2). A alimentação desses animais de hábito onívoro deve ser equilibrada e contemplar vitaminas, minerais, proteínas, fibras e carboidratos, encontrados somente em rações especiais para essas raças 13. Importante mencionar que a alimentação caseira e as rações de cão e gato não são uma alternativa 13.

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1. Quantos anos vivem? De 20 a 30 anos 13
2. Quanto medem? 35 a 50 cm 13
3. Quantos quilos pesam? Variável conforme a raça e alimentação, desde 10 kg até mais de 50 kg 20
4. Como deve ser a alimentação? Ração para leitões. Outra opção são as rações especiais para minipigs 13,14
5. Podem ser criados em ambientes fechados? Assim como os cães e gatos, esses animais podem ser criados em apartamentos e dentro das residências, desde que haja enriquecimento ambiental. Brinquedos de cães não são recomendados, pelo risco de ingestão. Uma alternativa é a oferta de frutas e hortaliças 13,14
6. Assim como os suínos de produção, os minipigs também devem ser castrados? Sim. Há indicação de castração, especialmente para machos, antes de atingirem a maturidade reprodutiva 13,14
7. Podem tomar sol? Sim, mas a pele dos suínos é sensível e requer cuidados. Deve-se evitar horários de sol forte e protegê-los com filtro solar. É indicado que esses animais pratiquem exercícios regularmente, inclusive ao ar livre, para evitar o sobrepeso 24
8. Convivem bem com cães e gatos? Como toda relação interespecífica, o convívio deve ser monitorado. Em geral, há maior facilidade no convívio entre suínos e gatos que entre suínos e cães 1
9. Esses animais devem ser vacinados? Sim, e respeitando as instruções oficiais (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para doenças específicas e de importância para a suinocultura, que somente poderão ser utilizadas com autorização do órgão oficial de defesa sanitária 12
Figura 2 – Perguntas e respostas sobre suínos em miniatura

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Os suínos em miniatura de estimação possuem hábitos semelhantes aos dos suínos de produção, como, por exemplo, o de farejar e escavar 14. Materiais que agucem a sua curiosidade e possam ser ingeridos, como frutas e hortaliças, podem ser usados para o enriquecimento ambiental 13,14. Além disso, os ambientes externos são mais indicados para a manutenção de suínos em miniatura, desde que haja um abrigo para sol e o frio, com cama adequada 13,14. Sobre o seu manejo reprodutivo, se o animal for macho, é indicada a castração anterior ao início de sua maturidade reprodutiva, da mesma forma como é realizada em suínos de produção 13,14. Além desses cuidados, visto que são animais ungulados, o casqueamento pode ser necessário, caso não seja suficiente o desgaste natural do casco 13,14.

Embora a criação de suínos em miniatura seja realidade no Brasil 15 e os animais sejam comercializados como animais de companhia, eles ainda são classificados como animais de produção e de interesse econômico 16,17. Sendo assim, é proibido manter e criar suínos no perímetro urbano em municípios brasileiros 16,17. Um exemplo dessa proibição que acabou ganhando repercussão nacional ocorreu no município de Ponta Grossa, Paraná, no caso do minipig criado como animal de estimação que foi apreendido pela vigilância sanitária após denúncia enquadrada na lei municipal que impede a manutenção de suínos na zona urbana 18. Como tentativa de reverter a situação, um projeto de lei ordinária (PL 454/2017) foi proposto para permitir a criação de suínos domésticos no município, desde que os animais fossem vacinados, desverminados e tivessem assistência médico-veterinária periódica 18,19. Apesar da tentativa de alterar a legislação vigente, o projeto foi votado e negado pela maioria na Câmara de Vereadores 18,19.

 

Suínos em miniatura de estimação e sua repercussão na suinocultura

A carne suína é a mais consumida no mundo, e o Brasil é o quarto maior produtor e exportador mundial, com aproximadamente um quinto da sua produção exportada, principalmente para Argentina, Uruguai e Chile 26,27. A suinocultura tem papel socioeconômico relevante na realidade nacional, sendo responsável por garantir a rentabilidade de milhares de famílias no campo e nas cidades, por gerar divisas para a nação, contribuir consideravelmente para o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio e fixar o homem do campo na zona rural 28. Nesse cenário econômico internacional, a suinocultura brasileira deve ser continuamente uma cadeia organizada, com arcabouço legal nas áreas ambiental, trabalhista e sanitária 27. Para manter o rebanho brasileiro livre de enfermidades que causem impacto no mercado exportador e prejuízos na produção animal, a vigilância sanitária e a biosseguridade foram priorizadas para possíveis veiculadores de agentes patogênicos, como circulação e contato entre animais vivos, de sêmen, embriões e óvulos, entre outros 29.

Como os suínos em miniatura são suscetíveis às mesmas enfermidades dos suínos de produção, mesmo sendo utilizados como animais de companhia, não deveriam entrar em contato com outros suínos de produção comercial, quer seja para produção industrial ou para criação de subsistência ou fundo de quintal 12,30. Esses animais, por não serem submetidos às mesmas normas de biosseguridade que os da cadeia produtiva, podem ser potenciais transmissores de doenças de controle oficial da Defesa Sanitária Animal, como a peste suína clássica e a africana, a febre aftosa e a doença de Aujeszky (pseudoraiva). Além dessas doenças, há outras que causam redução da produtividade e perdas econômicas, como as enteropatias e disenterias, rinite atrófica, pneumonia enzoótica suína, tuberculose, brucelose, sarna sarcóptica, linfadenite granulomatosa causada por micobactérias e colibacilose. Assim como para os suínos em miniatura utilizados em ensino e pesquisa, como já mencionado, tem sido recomendada a vacinação para leptospirose, erisipela suína, parvovirose, rinite atrófica e pneumonia enzoótica dos suínos, bem como a profilaxia para ectoparasitas e endoparasitas 12,30.

 

Considerações finais

Os suínos já estiveram presentes nos fundos de quintal, como criação para subsistência. Atualmente correspondem à proteína de origem animal mais consumida no mundo, aliada à modernização de sua cadeia produtiva. São usados também para atividades de ensino e pesquisa, devido às semelhanças com os seres humanos. Finalmente, são agora também animais de companhia e convívio, participando da família humana, assim como os cães e gatos.

Nesse contexto, a posição ocupada pelos médicos-veterinários clínicos que atendem os suínos em miniatura é de suma importância, pois são esses profissionais o elo entre a saúde desses animais de companhia, dos suínos de produção e dos seres humanos, devido à possibilidade de transmissão de doenças, incluindo zoonoses como brucelose, tuberculose, salmonelose, leptospirose, raiva e influenza.

Além da capacitação desses profissionais dentro das peculiaridades clínicas de suínos de companhia, é necessária a recomendação da vacinação desses animais e a notificação em casos de suspeita de doenças de interesse dos Serviços Veterinários Oficiais e para a Vigilância Epidemiológica. Vale ressaltar ainda a responsabilidade do médico-veterinário na orientação dos tutores de suínos em miniatura, para que sejam garantidos o bem-estar da espécie e sua sustentabilidade como animal de companhia, lembrando que historicamente são animais de produção. Dessa forma, o médico-veterinário clínico atua também como uma extensão dos órgãos de vigilância, visto seu papel como agente sentinela da saúde pública.

 

Referências

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