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Bem-estar animal

O impacto da seleção artificial no bem-estar dos coelhos domésticos

Matéria escrita por:

Isabelle Tancioni, Renato Silvano Pulz

18 de jan de 2022

Créditos: Julija-Sapic Créditos: Julija-Sapic

A popularidade dos coelhos domésticos como animais de companhia está aumentando, e com isso mudanças gradativas que asseguram o status dos coelhos como animais de companhia vêm sendo implementadas nos últimos 25 anos 1-3. Muitas das conquistas associadas à promoção de vários aspectos relacionados com a ética e o bem-estar dos coelhos domésticos resultam da atuação da Rabbit Welfare Association & Fund (Associação e Fundo do Bem-Estar dos Coelhos – RWAF) no Reino Unido 4. A história da RWAF teve início em 1996, com a inauguração da British House Rabbit Association (Associação do Coelho Domiciliado Britânico – BHRA). A partir de 2000, essa organização criou um fundo para obter e destinar financiamentos a trabalhos educacionais e de pesquisa relacionados ao bem-estar dos coelhos 5.

O coelho é o terceiro mamífero mais comum como animal de companhia nos Estados Unidos e no Reino Unido 6,7. No Brasil, a Associação Científica Brasileira de Cunicultura (ACBC) estima que quase meio milhão de coelhos convivem com seres humanos como animais de companhia. Esses animais são erroneamente categorizados como fáceis de cuidar e manter, descartáveis, ideais para crianças e principiantes. Dessa forma, os tutores frequentemente se surpreendem ao conhecer as necessidades dos coelhos associadas aos pilares do bem-estar 4.

Muitos dos parâmetros do bem-estar dos coelhos são provenientes da sua produção comercial. Nessas condições, os coelhos adultos criados como matrizes são alojados isolados, mantidos em gaiolas suspensas de dimensões pequenas e com pisos engradados. Ainda recebem alimentos ricos em carboidratos, que têm como finalidade proporcionar o rápido ganho de peso 1,9. O manejo associado à criação comercial de coelhos é extremamente simplificado e não pode ser extrapolado quando se visa a longevidade do animal 9. Consequentemente, ter um coelho como animal de estimação demanda mais recursos do que inicialmente se imagina 9. Dessa forma, a utilização de parâmetros de bem-estar que analisam o ganho de peso, entre outras características importantes na cunicultura, é um grande obstáculo para a implementação dos pilares de bem-estar que promovem o conceito de que coelhos são membros da família.

Para a promoção do bem-estar dos coelhos, os profissionais da RWAF baseiam-se no Animal Welfare Act (Ato de Bem-Estar) de 2006 10. De acordo com ele, os cinco pilares essenciais para o bem-estar dos coelhos estão relacionados às necessidades deles:
1 – viverem em um ambiente apropriado;
2 – consumirem uma dieta adequada;
3 – poderem exibir padrões de comportamento normais;
4 – estarem alojados com animais da mesma espécie e protegidos de outras espécies de animais; e
5 – estarem protegidos de dor, sofrimento, lesões e doenças 11,12.

As informações com mais detalhes sobre os pilares do bem-estar dos coelhos estão disponíveis na terceira parte da série de artigos especiais publicados nas edições 153, 154 e 155 da revista Clínica Veterinária 13. Convém ressaltar que a ciência do bem-estar animal se ocupa em estudar a forma como os seres humanos se relacionam, tratam e criam os animais. Entre eles, os coelhos são diretamente afetados por essas ações, seja na criação intensiva ou como animais de companhia.

O coelho é tão senciente quanto qualquer outra espécie doméstica, logo, está protegido pelas normas que regulam as práticas de bem-estar animal, mas também pelo art. 32 da Lei no 9.605/1998, que trata do crime de maus-tratos aos animais.

Os médicos-veterinários que dão assistência aos coelhos devem estar familiarizados com as doenças mais comuns desses animais e com os tratamentos mais apropriados 13. Além disso, a identificação da dor é essencial tanto para sanar as questões éticas quanto para o auxílio no tratamento de enfermidades 13,14. Por serem presas, os coelhos não demostram dor e mascaram os seus sinais; assim sendo, os médicos-veterinários sem treinamento na espécie e muitos tutores têm mais dificuldades em reconhecer precocemente os sinais associados a doenças, tornando o tratamento ainda mais difícil 13,15.

Esse fato, aliado à presença de características selecionadas artificialmente, resultou, por exemplo, em animais com orelhas caídas e braquicefálicos – características essas que podem intensificar o seu sofrimento, que muitas vezes não é detectado 16.

Sabe-se que, por mais que os médicos-veterinários promovam fatores positivos e dimi-
nuam a presença dos fatores negativos na vida de um coelho, pouco se pode fazer em relação à presença de uma característica preexistente que foi selecionada e está conectada ao sofrimento dos animais 4. Debater esse assunto é uma das formas pelas quais os médicos-veterinários e os tutores podem avaliar os efeitos de uma característica fenotípica no bem-estar de um animal. Portanto, ter conhecimento sobre os impactos de uma determinada característica na vida de um coelho pode esclarecer a sociedade e ainda promover mudanças nos seus desejos a respeito da seleção dessas características. É importante a análise e a reflexão a respeito de qual é o limite da seleção de características associadas à conformação extrema nos coelhos domésticos 17.

 

A seleção das características e o seu efeito no destino dos coelhos

Os coelhos estão presentes em diversas áreas e setores, diferentemente dos cães e gatos, que já têm status de animais de companhia no Ocidente 18,19. A maioria dos coelhos criados no mundo são destinados ao mercado de carne e pele 19,20.

No Brasil, os coelhos são categorizados como animais de produção. Dados da Associação Científica Brasileira de Cunicultura (ACBC) mostram que aproximadamente 780.996 coelhos foram abatidos em 2019. Dessa forma, eles podem ter um valor intrínseco quando criados como animais de estimação e um valor instrumental quando destinados aos setores de alimentos, cosméticos e vestimentas 21.

Todas as raças de coelhos são originárias de um único ancestral: o coelho-europeu (Oryctolagus cuniculus), nativo da península Ibérica 22-24. Um estudo publicado em 2018 demostrou que a divisão entre coelhos selvagens e domésticos ocorreu entre o período de 12.200 e 17.700 anos atrás 25. É importante salientar que os coelhos foram selecionados artificialmente de acordo com certas características como peso e tipo de pelagem 14.

As diferenças fenotípicas entre os ancestrais de coelhos selvagens e domésticos surgiram a partir do século XVIII 26. Somente a partir de meados de 1800 surgiram coelhos de diferentes tamanhos e com variações no padrão de cores de pelagem, o que motivou a criação de raças em 1900 9. As raças de coelhos exibem uma variedade de tamanhos, conformações corporais, tipos e cores de pelames e comprimentos das orelhas, sendo que essa grande exuberância de variação morfológica é superior à diversidade fenotípica observada nos ancestrais selvagens 24. Além disso, o conceito de raça foi totalmente delineado pelos seres humanos, já que as raças de animais não existem de forma natural na vida selvagem 17. Via de regra, a seleção artificial na criação animal atende a critérios de utilidade para o ser humano, em detrimento do bem-estar da espécie, muitas vezes causando enfermidades físicas ou comportamentais que são transmitidas geneticamente.

Há aproximadamente 300 raças de coelhos no mundo 17. No entanto, 47 delas são reconhecidas pela American Rabbit Breeders Association (Associação Americana de Criadores de Coelhos – ARBA), enquanto 50 são reconhecidas no Reino Unido e 40 são encontradas no Brasil 9,27. As mais populares no Reino Unido e no Brasil são: lop, holândes, minilop, holandês-anão, rex e cabeça-de-leão (Figura 1) 28,29.

 

Figura 1 – Coelhos da raça minilop. Créditos: Isabelle Tancioni

 

Como se pode observar em tutores de cães e gatos, os tutores de coelhos também frequentemente têm preferências em relação a raças e as enaltecem 17. Um estudo que analisou mais de 20 mil respostas adquiridas a partir de um questionário online mostrou que a preferência por coelhos braquicefálicos era unânime em todos os continentes 30. Isso indica que as pessoas escolhem os coelhos pela aparência associada à fragilidade de um bebê (baby schema), que inclui olhos maiores, crânio protuberante e nariz mais curto (Figura 2) 30. Apesar de essas características motivarem as pessoas a cuidar desses animais, a braquicefalia em coelhos está associada a vários problemas de saúde 4,16. Além disso, os coelhos de orelhas caídas têm maiores riscos de apresentar enfermidades no sistema auditivo e problemas dentários 16.

 

Figura 2 – Coelho anão (dwarf) com braquicefalia. Créditos: Isabelle Tancioni

 

Os grupos de resgate de coelhos observam que os animais de porte maior, de orelhas eretas e com pelagem negra ou branca são mais frequentemente deixados nos abrigos que os de tamanho pequeno e de orelhas caídas (lop) 6. Se, por um lado, os coelhos de porte maior, que foram selecionados para a indústria destinada à carne e não são considerados “fofos”, têm maiores chances de entrar no sistema de abrigos, os coelhos de pequeno porte também podem ser entregues aos abrigos por problemas recorrentes de saúde 17.

De modo geral, as características fenotípicas de um coelho podem determinar seu destino. Um animal com características associadas ao padrão de “fofura” é geralmente classificado como animal de estimação, enquanto o que tem características mais robustas é destinado à indústria da carne. E aquele que tem pelagem de aspecto aveludado pode ser destinado à indústria da pele.

Esse paradoxo que culmina no abate ou em ser um membro da família não se dá com um cachorro ou um gato. Há uma hierarquia entre os animais de estimação, e, devido à ligação dos coelhos com a produção animal, esses animais estão em um patamar de bem-estar bem abaixo do de cães e gatos 6,31.

 

O impacto na seleção da conformação extrema no bem-estar dos coelhos

Charles Darwin afirmou que os coelhos domésticos compartilham com outras espécies de animais domesticados uma variedade de características comportamentais, fisiológicas e morfológicas que estão associadas ao aumento da docilidade e às alterações tanto na cor da pelagem como na morfologia da região craniofacial e das orelhas 32,33.

Caso se estabeleçam cruzamentos entre animais dos quais resultem características associadas à promoção da saúde e do bem-estar dos animais, a seleção per se não é um problema 17. Porém, as características desejadas tanto para a produção de carne como para incentivar o desejo de ter aquele animal como membro da família podem afetar consideravelmente o bem-estar desses animais.

 

Pelagem

A cor da pelagem não impacta o bem-estar dos coelhos domésticos, uma vez que eles não necessitam de camuflagem para se esconder de predadores, como seus ancestrais selvagens. Porém, ela pode estar associada ao aumento de riscos conectados ao desenvolvimento de certas enfermidades. Em coelhos das raças borboleta (Figura 3) e borboleta-gigante, sabe-se que há uma associação entre as pelagens mais claras e a prevalência de megacólon (Figura 4). O alelo En associado às pintas presentes na pelagem dessas raças está conectado a uma diminuição na expressão do gene Kit em células intersticiais de Cajal no trato gastrintestinal dos coelhos afetados, alterando a motilidade 34.

 

Figura 3 – Coelho da raça borboleta. Créditos: Isabelle Tancioni

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Figura 4 – Coelho de pelagem clara diagnosticado com megacólon. Créditos: Isabelle Tancioni

 

Os coelhos selvagens exibem uma pelagem curta, e a troca de pelos pode ser auxiliada pelo fato de o animal viver em túneis subterrâneos e também pelo processo de autolimpeza ou catação, que também pode ser realizada socialmente por outros coelhos 14. Em relação ao comprimento do pelo, sabe-se que os coelhos de pelo longo necessitam de cuidados diários, uma vez que não são capazes de fazer a catação com eficiência, como os animais das raças angorá e cabeça-de-leão (Figura 5), entre outras 17.

 

Figura 5 – Coelhos da raça cabeça-de-leão. Créditos: Isabelle Tancioni

 

Algumas raças têm pelos longos em todo o corpo, enquanto algumas só os apresentam em algumas partes. Os pelos longos podem limitar o campo visual, desencadeando estresse nesses animais, já que os coelhos, por serem presas, necessitam da visão para escapar dos predadores (Figura 6) 4,35.

 

Figura 6 – Coelho de pelo longo que lhe encobre a face, minimizando seu campo visual. Créditos: Isabelle Tancioni

 

A raça angorá é uma das mais antigas, e os coelhos dessa raça ou decorrentes de cruzamentos relacionados a ela são considerados “fofos” devido ao seu pelo longo. Esses animais necessitam de uma constante manutenção devido a essa característica. Geralmente, a pelagem de animais de pelo longo se torna embolada, com a presença de nós, o que propicia o desenvolvimento de enfermidades cutâneas e pode resultar em acúmulo de conteúdos fecais e urina. Isso pode ainda culminar em miíase – a causa mais comum associada à mortalidade dos coelhos no Reino Unido 29. Além disso, a ingestão de excesso de pelo pode levar a obstrução gástrica; esse quadro também pode acometer coelhos de outras raças que convivem com coelhos de pelo longo, uma vez que esses animais praticam a catação social 36.

Como a pelagem de coelhos de pelo longo necessita desse cuidado adicional, o excesso de manuseio impõe sérios riscos ao bem-estar desses animais. Os tutores devem se comprometer a escová-los diariamente e fazer uma sessão completa de escovação três vezes por semana. Além disso, é aconselhável cortar o excesso de pelos a cada três meses. Se não for cuidadoso, o manuseio, que pode durar mais de 1 hora, pode resultar em estresse térmico e estase gastrintestinal. Os profissionais devem estar atentos para reconhecer quando o estresse resultar em alterações em vários sistemas, podendo até causar a morte do animal 37,38. Além disso, quando a pelagem desses coelhos é molhada, ela se torna uma camada que só pode ser removida com o auxílio de um tosador 36. Para agravar ainda mais esse cenário, muitos guias encontrados na internet sobre a tosa e a escovação desses animais aconselham o método conhecido como trancing, que desencadeia a imobilidade tônica 36,37. Nesse método, o coelho é posicionado em decúbito dorsal, induzindo uma resposta ao medo que é extremamente estressante 37,39. Aconselha-se que a pelagem do coelho seja tosada por uma equipe com o auxílio de um médico-veterinário, já que é recomendada a sedação do animal 36. Claramente, o uso de sedativos e agentes anestésicos deve ser avaliado pelo médico-veterinário, e o protocolo deve ser individualizado para diminuir os riscos ao paciente.

O fenótipo rex está associado a uma mutação natural de um gene e é uma herança hereditária recessiva 40. A presença desse gene faz com que os pelos de guarda tenham o mesmo comprimento que o do subpelo, resultando em um aspecto aveludado. Esses animais apresentam pelos ondulados em algumas partes do corpo, e suas vibrissas têm aspecto encaracolado e um comprimento menor que as de outros coelhos que não apresentam esse fenótipo. Dessa maneira, o crescimento das vibrissas deve ser avaliado regularmente para assegurar que elas não ocasionem ferimentos aos olhos desses animais (Figura 7). Por apresentarem uma camada menor de proteção nas patas, esses coelhos ainda têm mais predisposição a apresentar pododermatites tanto nas patas anteriores quanto nas posteriores 41. Além disso, a pelagem desses coelhos se umedece mais facilmente 17,40. Os animais com essa característica devem ser colocados em pisos macios para evitar o aparecimento dessa enfermidade. De maneira geral, os coelhos não devem ser mantidos em pisos aramados ou fenestrados, mas os que exibem o fenótipo rex não devem em hipótese alguma ser mantidos em pisos desse tipo 40.

 

Figura 7 – Coelho da raça rex com vibrissas mais curtas e onduladas. Créditos: Isabelle Tancioni

 

Tamanho

Um estudo que comparou a eficiência de energia com o tamanho de vários coelhos selvagens com a de animais ungulados, usando fósseis distribuídos em diversas partes do mundo, concluiu que durante o processo evolutivo, os coelhos apresentaram desvantagens em relação aos ungulados e dessa forma, os coelhos não conseguiram atingir estaturas variadas 42. Os coelhos selvagens evoluíram, chegando a apresentar peso corpóreo entre 1,2 e 2kg e comprimento entre 30 e 40cm 17. O sistema musculoesquelético se adaptou para que eles se tornassem leves e ágeis. O esqueleto dos coelhos compõe de 7 a 8% do total do peso corporal, enquanto o dos outros mamíferos equivale a 12 a 14% 43. Já os músculos correspondem a cerca de 50% do peso corpóreo, sendo que os das patas traseiras são poderosos, para que eles possam escapar rapidamente dos predadores, e correspondem a 13% do total da sua massa muscular 43,44.

A seleção de coelhos com tamanho correspondente ao de um cachorro de médio porte aumenta os riscos de desenvolvimento de rotações dos ossos longos, de osteoartrite e de pododermatite (Figura 8) 17,42,45. Recomenda-se que o profissional avalie cuidadosamente a ingestão de cálcio e de vitamina D3 ou a exposição a raios ultravioleta para garantir o desenvolvimento adequado do sistema musculoesquelético desses coelhos, uma vez que esses animais foram selecionados para crescer rapidamente e assim satisfazer as exigências da indústria de carne 45. Além disso, os coelhos de raças gigantes têm riscos mais elevados de sofrer lesões na coluna vertebral, em decorrência de um manuseio que pode ser mais desafiador. Muitas vezes, na manipulação, verifica-se a falta de suporte adequado das patas traseiras. Para evitar tais problemas, o médico-veterinário deve instruir a socialização dos coelhos quando filhotes e assim diminuir o estresse durante seu manuseio; educar as pessoas sobre como manuseá-los apropriadamente; orientar a utilização de pisos antiderrapantes para prevenir escorregões; promover exercícios para fortalecer os músculos lombares; e controlar o ganho de peso para não sobrecarregar a coluna desses animais 45. Além disso, os coelhos gigantes são mais predispostos a apresentar pododermatites 44.

 

Figura 8 – Coelho de porte gigante (castanho-claro) de mais de 5 quilos, junto de um coelho de porte pequeno de 2 quilos (preto). Créditos: Isabelle Tancioni

 

Em contrapartida, o cruzamento entre os menores coelhos da ninhada pode produzir indivíduos que potencialmente têm mais problemas de saúde, já que na natureza esses animais seriam incapazes de se reproduzir e passar seus genes aos seus descendentes. Os coelhos miniaturas são mais frágeis e podem facilmente sofrer lesões 17. O coelho da raça polonês, considerada a menor de todas, foi criado pelo cruzamento de coelhos de tamanhos pequenos, portadores do gene Dwarf (dw, anão). Esse gene inibe a função da parte da pituitária anterior; assim, coelhos heterozigotos podem apresentar peso de até 1kg, um corpo compacto e também alterações craniofaciais, como tamanho da cabeça desproporcional ao corpo, resultando em cabeças maiores, braquicefalia e orelhas mais curtas 46,47. Além disso, o gene Dwarf é letal em homozigose, e os animais que têm dois alelos desse gene são conhecidos como peanuts (amendoins) e morrem alguns dias após o nascimento 46. Já se sugeriu que os coelhos anões são mais suscetíveis a estase gatrintestinal 17.

 

Orelhas

Os coelhos de orelhas caídas ou lop foram introduzidos na década de 1970 nos Estados Unidos 9. Os da raça minilop são os mais comuns no Reino Unido, seguidos das raças holandês-anão e cabeça-de-leão 48. A forma pedunculosa das orelhas dos coelhos lop é uma característica hereditária, provocada pela falta de estruturas cartilaginosas responsáveis por mantê-las eretas 45,49. As orelhas caídas dificultam a percepção de estímulos sonoros, e o fato de serem longas, como se observa em coelhos da raça lop-inglês, aumenta a probabilidade de eles terem enfermidades crônicas em decorrência de trauma nas pontas (Figura 9) 14.

 

Figura 9 – Coelho da raça lop-inglês de orelhas longas e caídas que alcançam o solo. Créditos: Isabelle Tancioni

 

Um estudo mostrou que os coelhos lop têm 43 vezes mais chances de apresentar canais estenóticos da orelha quando comparados com os coelhos de orelhas eretas. Isso compromete o fluxo do ar e dificulta a eliminação do excesso de cerume. A maioria dos coelhos lop que participaram desse estudo apresentavam excesso de cerume. Em relação à dor, os coelhos lop apresentavam 15 vezes mais chances de exibir sinais de dor durante a inspeção das orelhas 50.

Os coelhos se comunicam por meio da posição das orelhas, que podem se mover independentemente uma da outra 35. Isso se perde quando o animal tem orelhas caídas 14, dificultando a comunicação entre eles, como também a identificação do seu estado emocional e a presença de dor pelos médicos-veterinários. Alguns profissionais preconizam a ablação do conduto auditivo como forma de prevenção de problemas em coelhos lop. No entanto, isso é um procedimento cirúrgico radical, já que nem todos os coelhos lop apresentarão problemas 45.

As orelhas dos coelhos são importantes também para regular a temperatura corpórea; dessa forma, o comprometimento dessa área, seja por trauma ou pela seleção de animais com orelhas pequenas, prejudica a termorregulação 9,19. Como os coelhos são sensíveis ao estresse térmico, a seleção dos tamanhos e formas das orelhas pode também resultar em animais ainda mais suscetíveis 37,38.

As orelhas caídas são acompanhadas por alterações craniofaciais 32. Com isso, esse fenótipo pode afetar não apenas a função auditiva, como também outros aspectos associados ao crânio, como a cavidade oral 16. Essa alteração na morfologia craniana é acompanhada pela alteração no formato das orelhas e no comprimento da mandíbula, que pode resultar em um desalinhamento dos dentes 43,51. Pesquisadores observaram que os coelhos lop apresentavam maior número de problemas associados aos dentes pré-molares e molares, que levavam a lesões na cavidade oral 16,50.

 

Braquicefalia

Os animais braquicefálicos são conhecidos por parecerem ter a cara amassada (flat face, em inglês) e são mais atrativos aos seres humanos, pois sua aparência se assemelha à de um bebê humano 52. Há uma tendência de os seres humanos protegerem e cuidarem de animais e de bebês 17,52. Esses animais são considerados mais atraentes, uma vez que se parecem com os seres humanos (Figuras 10 e 11) 45,53. Porém essas caraterísticas estão conectadas à falta de bem-estar, uma vez que promovem o sofrimento desses animais 4,17,45.

 

Figura 10 – Coelho com conformação craniofacial normal: focinho alongado e orelhas eretas. Créditos: Isabelle Tancioni
Figura 11 – Coelho com braquicefalia e orelhas caídas. Créditos: Isabelle Tancioni

 

A conscientização a respeito dos problemas relacionados à braquicefalia em cães está crescendo entre as pessoas que trabalham com animais, e essas discussões também vêm englobando outras espécies, como os coelhos 48,53,54. A conformação craniofacial extrema pode resultar em vários problemas, e observa-se que as raças de coelhos como holandês-anão, cabeça-de-leão e várias raças lop estão se tornando mais braquicefálicas (Figura 12) 4,17,53.

 

Figura 12 – Coelho anão com braquicefalia e orelhas de tamanho reduzido. Créditos: Isabelle Tancioni

 

Os coelhos têm uma dentição especializada, pois seus dentes crescem continuamente 3. Porém, o encurtamento da face faz com que esses dentes não fiquem alinhados apropriadamente, uma vez que o espaço diminui, ao passo que o número de dentes não se altera 4. Os coelhos evoluíram para se alimentar de plantas com pouco valor nutritivo, geralmente abrasivas 55. Os dentes dos coelhos se adaptaram para crescer continuamente por toda a vida 53. A braquicefalia em coelhos geralmente está associada a prognatismo 43,56.

O alinhamento impróprio leva a uma má oclusão desses dentes e, consequentemente, ao crescimento excessivo. Essa síndrome causa vários sintomas associados a úlceras na boca, abscessos na região da face, presença de ducto lacrimal tortuoso ou obstruído, enfermidades relacionadas à mandíbula e à maxila, piodermatite úmida, excesso de salivação, anorexia, dor e morte do animal 17,45. O encurtamento do focinho pode ocasionar compressão da cavidade nasal e dos sinos, o que impacta a remoção das secreções 45. Podem ocorrer obstruções com um impacto grave, uma vez que os coelhos respiram somente pelas narinas 9.

Pouco se pode fazer em relação à correção de uma alteração da morfologia craniofacial em coelhos. No entanto, a prevenção de problemas dentários é crucial, e recomenda-se oferecer a esses animais dietas ricas em fibras, manter um ambiente livre de poeira e outras substâncias irritantes e prover uma boa ventilação do ambiente 45.

 

O preço da fofura

A RWAF e médicos-veterinários do Reino Unido abordam frequentemente o impacto da seleção das características associadas ao conceito de fofura e à conformação extrema 4. Algumas raças de coelhos, como a cabeçade-leão, têm uma conjunção de características que comprometem o bem-estar desses animais, como braquicefalia, pelagem longa e nanismo 17. É fundamental discutir no meio profissional como a seleção dessas características afeta negativamente o bem-estar dos coelhos.

De modo geral, as mudanças de escore da condição corporal e de peso podem ser notadas somente em casos mais severos em coelhos com pelagem longa que não são manuseados frequentemente 53. As consequências das conformações extremas provocam deformidades e, consequentemente, muitos problemas de saúde que afetam os animais por toda a vida 53.

Essas características não trazem nenhum benefício para o animal e estão associadas a enfermidades e à dor, resultando em constantes visitas ao médico-veterinário. Pelo fato de esses animais apresentarem muitos problemas associados a custos adicionais, aumentam as chances de serem colocados em abrigos ou mesmo abandonados. Há vários casos de animais com os problemas citados cujos tutores desistem da guarda, por não terem tempo nem dinheiro para lidar com todas as necessidades e atenção que eles requerem. Infelizmente, esses coelhos chegam aos abrigos com estágios muito avançados dos quadros citados acima 36.

 

Os bastidores da criação de coelhos como animais de estimação

O Reino Unido é um dos países em que há varias campanhas para promover o bem-
estar dos coelhos. A maioria dos tutores de coelhos compram esses animais diretamente de criadores ou de estabelecimentos como pet shops, ou ainda pela internet. Apesar de os criadores precisarem de uma licença associada a uma loja, o critério para obtenção dessa licença não condiz com as diretrizes e os requisitos específicos do bem-estar de co
elhos 48.

Um estudo que avaliou mais de 3.400 anúncios online mostrou que a maioria dos criadores fornecia um espaço bem menor para os coelhos que o preconizado pela RWAF. Os machos tinham o bem-estar mais comprometido, uma vez que eram comumente alojados sozinhos, em espaços menores que os de outros coelhos. Essa pesquisa mostrou ainda que somente 1% dos anúncios tinham licença, indicando a falta de monitoramento pelas entidades responsáveis do Reino Unido 48.

Esse estudo inédito mostrou superficialmente um setor ainda muito pouco conhecido, em um país onde há muitas campanhas para melhorar o bem-estar dos coelhos. Além disso, no Reino Unido não há uma lista de criadores aprovados ou registrados, e mesmo organizações como The British Rabbit Council (Conselho Britânico dos Coelhos – BRC) não fazem inspeções nesses locais, cujas diretrizes muitas vezes não são baseadas em fatos científicos 9.

No Brasil o cenário não parece diferente. Estima-se que no país haja mais de 200 criadores de coelhos de estimação 28. Infelizmente, não há estudos similares sobre as condições dos coelhos destinados ao mercado brasileiro de animais de estimação. No entanto, essa realidade não deve ser muito diferente da do Reino Unido, uma vez que ainda há muita extrapolação de parâmetros de bem-estar usados na produção animal para a produção comercial de animais de estimação no Brasil.

Também se pode compará-la com a forma como são criados comercialmente outros animais de companhia, como cães e gatos. Apesar do papel que ocupam nos lares, a criação comercial dessas espécies ainda apresenta muitos problemas de ordem ética e sanitária, além da mínima fiscalização e falta de registro de suas atividades nos órgãos competentes, sendo a maioria dos criatórios irregulares e sem médicos-veterinários responsáveis.

 

Como promover mudanças para prover o bem-estar dos animais

O papel do médico-veterinário na promoção do bem-estar dos animais vai além da saúde física de seus pacientes 54. O profissional deve conhecer a espécie, suas particularidades e enfermidades, ou seja, precisa ter conhecimentos específicos. Um médico-veterinário generalista poderá incorrer no risco de ser negligente ou imperito no atendimento de coelhos. É crucial que os médicos-veterinários orientem os tutores sobre o impacto das alterações provocadas pela seleção artificial no bem-estar dos coelhos 48. O médico-veterinário é um formador de opinião que ocupa um lugar de fala privilegiado na relação triangular entre tutor, paciente e médico. Logo, não pode furtar-se ao papel de educador e defensor da qualidade de vida de seus pacientes. Existe uma questão ética importante na criação de animais que deve ser analisada pela classe profissional.

É aconselhável que os tutores de coelhos lop marquem consultas veterinárias com mais frequência, como duas vezes ao ano, para melhor monitorar a saúde desses animais 50. Além de um número maior de visitas ao médico-veterinário, esses animais enfrentarão mais intervenções médicas e cirúrgicas, produzindo um encarecimento dos custos para sua manutenção. É preciso ponderar se o padrão fofura é superior ao sofrimento e à dor do animal, aliados às despesas com tratamentos veterinários. Muitas vezes, os tutores não estão conscientes dos custos extras associados aos coelhos com essas características. As alterações comportamentais associadas ao desconforto são frequentes, e havendo qualquer modificação no comportamento, a saúde desses animais deve ser avaliada 50.

A braquicefalia é uma das características que mais preocupa os médicos-veterinários comprometidos com o bem-estar dos coelhos domésticos, razão pela qual esses especialistas aconselham não perpetuar mais essa característica 4,17,45. Os problemas relacionados às enfermidades resultantes da alteração na conformação craniofacial desencadeiam uma síndrome que envolve vários sistemas. Os sinais clínicos resultantes da braquicefalia são indicadores de sofrimento físico – condição diretamente ligada a um baixo grau de bem-estar que por vezes pode ser causa de óbitos.

Há vários grupos de médicos-veterinários dispostos a discutir esse assunto presentes nas redes sociais para conscientizar a população a adquirir animais de focinho mais longo 57. Apesar de os seres humanos preferirem animais de focinho curto, o conhecimento sobre o impacto negativo dessa escolha no bem-estar dos animais pode promover reflexões e culminar em mudanças 30.

A influência da cultura estimula a aquisição de certas raças, uma vez que a mídia as torna populares. Devemos levantar a questão da necessidade de existirem animais com características de desenhos animados. Atualmente, a realidade virtual vem se inserindo progressivamente no dia a dia. Há muitos jogos em que aparecem criaturas com conformações exageradas, por isso, espera-se que aos poucos sua presença supra essas expectativas do imaginário popular e elas não precisem mais ser impostas a um animal senciente.

É necessário difundir a noção de “descoisificação” dos animais, pois somente quando as pessoas enxergarem neles um “outro”, que tem vida própria, que existe por si mesmo, e respeitarem as características naturais de cada espécie, se estabelecerá uma relação saudável, desinteressada e de afeto.

 

Considerações finais

Apesar de os coelhos serem animais populares, estima-se que 67 mil são colocados em abrigos no Reino Unido por ano 6. As campanhas realizadas por profissionais que promovem o bem-estar dos coelhos no Reino Unido estão gradualmente resultando em melhoras. Apesar desses avanços, os coelhos ainda são considerados os animais de estimação mais negligenciados do Reino Unido 4.

É importante evitar as conformações extremas e somente adquirir os coelhos com essas características de grupos de resgate, já que esses animais necessitam de famílias comprometidas em cuidar deles 45. Os profissionais da RWAF destacam que não se pode deixar os coelhos seguirem o mesmo destino dos cães. Deve-se discutir como essas características impactam negativamente esses animais e aprender como a seleção natural produziu o modelo de tamanho, pelagem e conformação que melhor funciona na fisiologia deles 4,17,45. Enfim, devemos questionar a necessidade de mudar a conformação de um coelho. É importante saber apreciar a beleza do animal sem desejar manipular sua conformação para refletir os desejos do ser humano.

Assim como os profissionais da RWAF, os autores deste artigo aconselham que os médicos-veterinários atuem na promoção do bem-estar dos coelhos em geral e não somente do seus pacientes, e discutam com seus clientes o impacto das conformações extremas, incentivando a adoção desses animais. As escolhas dos tutores de coelhos podem ter grande impacto na conformação desses animais, e trazer essa discussão para os médicos-veterinários brasileiros resultará em grandes melhoras para o bem-estar da família multiespécie.

O paradigma de se ocupar somente com a doença é coisa do passado, pois há a complexidade do todo, e o papel do médico-veterinário vem ganhando uma nova perspectiva. A medicina veterinária caminha questionando seu passado e com isso dá um passo à frente, com o médico-veterinário ocupando-se do bem-estar dos animais acima de outros interesses.

 

Agradecimentos

Os autores agradecem à equipe da San Diego House Rabbit Society (SDHRS) – abrigo especializado em coelhos, localizado na cidade de San Diego, Califórnia, Estados Unidos. Todos os coelhos mostrados nas fotos foram resgatados pela SDHRS.

 

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