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Medicina de abrigos para coelhos domésticos

A importância de formar profissionais que dominem tanto a medicina de coelhos quanto a medicina de abrigos

Matéria escrita por:

Isabelle Tancioni

19 de abr de 2022

A formação de um profissional que resulte da convergência entre a medicina de coelhos e a medicina de abrigos é cada vez mais necessária. Créditos; Isabelle Tancioni A formação de um profissional que resulte da convergência entre a medicina de coelhos e a medicina de abrigos é cada vez mais necessária. Créditos; Isabelle Tancioni

A medicina de abrigos (shelter medicine, em inglês) é uma grande área que inclui diversas disciplinas como: cirurgia, clínica médica, comportamento, controle populacional, epidemiologia, controle de doenças infecciosas, saúde pública, perícia veterinária, anestesiologia, medicina preventiva, antrozoologia ou vínculo humano/animal, manejo de dor, projeto de instalações, implementação e desenvolvimento de políticas públicas, resgate e captura de animais 1-3. Essa área é muito difundida nos Estados Unidos, onde há médicos-veterinários que são empregados em abrigos locais e também em clínicas de vacinação e castração. Isso inclui trabalho em campo e também em clínicas móveis, que oferecem alguns procedimentos por preços mais acessíveis ou até gratuitos.

O médico-veterinário que atua em medicina de abrigos difere daquele que atua na clínica, uma vez que o veterinário de abrigo lida com um número maior de animais e com diferentes espécies 1,2. Além disso, muitos dos animais que entram nos abrigos são acompanhados de pouca informação e muitas vezes não têm nenhum histórico médico, além de haver maior risco de apresentarem doenças infecciosas e problemas comportamentais. Os médicos-veterinários de abrigos se dedicam a trabalhar com populações de animais e seres humanos em situação de vulnerabilidade, e isso inclui animais que sofreram maus-tratos e abandono, além daqueles não domiciliados, como animais comunitários e ferais 4.

No início, a medicina de abrigos foi direcionada aos cuidados de cães e de gatos, que são as espécies mais comumente neles encontradas. Infelizmente, a popularidade dos coelhos como animais de companhia está associada ao aumento do número de coelhos abandonados, muitas vezes deixados em áreas urbanas e de matas ou abandonados em parques, terrenos e em campi de universidades 5. Em vários países há grupos de resgate e abrigos que recebem coelhos e alguns que abrigam exclusivamente esses animais (Figura 1) 6,7. Como o abandono de coelhos é considerado uma crise emergente, é muito importante que os profissionais compreendam que a área da medicina de abrigos também engloba os coelhos domésticos 5,8. Além do mais, sabe-se que a maioria das pessoas não adquire seus coelhos em abrigos, o que sobrecarrega ainda mais as equipes que trabalham no resgate desses animais 5. Neste artigo aborda-se a necessidade da formação de um profissional que resulte da convergência entre a medicina de coelhos e a medicina de abrigos.

 

Figura 1 – Site de abrigo de coelhos: San Diego House Rabbit Society (SDHRS), https://www.sandiegorabbits.org/

 

Da popularidade ao abandono e à desistência e renúncia da guarda de coelhos domésticos

O coelho é o terceiro mamífero mais comum como animal de companhia nos Estados Unidos e no Reino Unido, com aproximadamente 6,2 milhões e 1 milhão de indivíduos, respectivamente 5,9. Apesar de os coelhos serem populares, eles são a terceira espécie de animais de companhia mais encontrada nos abrigos dos Estados Unidos, e estima-se que 67 mil são colocados em abrigos no Reino Unido por ano 5. Desconhece-se hoje o número de coelhos abandonados anualmente nos Estados Unidos, porém, relatos de abrigos indicam que o número de coelhos domésticos encontrados em regiões de mata aumentou 5. No Brasil, a Associação Científica Brasileira de Cunicultura (ACBC) estima que aproximadamente 468 mil coelhos convivem com seres humanos como animais de companhia 10.

Visto que eles são erroneamente considerados animais fáceis de manter e cuidar, há uma maior chance de frustração associada às expectativas de tutores desses animais quando comparada à de tutores de cães e gatos 11. As razões mais comuns pelas quais os tutores desistem da guarda de coelhos são: perda de interesse, falta de tempo, mudança de moradia e problemas comportamentais 5. A taxa de coelhos deixados por tutores em abrigos dos Estados Unidos é superior à taxa de gatos e cães 11. Muitos tutores de coelhos descrevem seus animais como monótonos, tímidos ou agressivos 5,12. Essas características são o resultado da falta de oportunidades para o coelho expressar seus comportamentos normais, da falha em prover um ambiente que supra suas necessidades e também da carência de conhecimento sobre as suas particularidades 13. Sendo assim, esses fatos mostram a necessidade de os profissionais que trabalham no mercado de animais de companhia informarem melhor os potenciais tutores de coelhos sobre as reais necessidades desses animais.

 

Principais marcos históricos para a medicina de abrigos para os coelhos

As grandes mudanças nas áreas destinadas ao resgate de coelhos e ao bem-estar desses animais ocorreram com a fundação de duas organizações internacionais 12. Tanto a House Rabbit Society (HRS – Sociedade do Coelho Domiciliado, em tradução livre) 14 quanto a Rabbit Welfare Association & Fund (RWAF – Associação e Fundo do Bem-Estar do Coelho, em tradução livre) são reconhecidas como pioneiras nos avanços na promoção de conhecimento e cuidados relativos aos coelhos domésticos 14,15.

A HRS foi fundada em 1988 e tem sua sede na cidade de Richmond, CA, EUA. A missão dessa organização é educar as pessoas sobre as necessidades dos coelhos e também promover sua adoção 6,16. Sua origem está vinculada à publicação do livro de Marinell Harriman, House Rabbit Handbook: How to Live with an Urban Rabbit (Alameda: Drollery Press, 2005) – “Manual dos coelhos domiciliados: como viver com um coelho urbano”, em tradução livre 6. Esse livro, publicado em 1985, foi o primeiro manual destinado aos tutores de coelhos domiciliados 16. O seu lançamento foi o marco para o estabelecimento do conceito de que coelhos podem se adaptar à vida urbana e também de que esses animais podem estabelecer vínculos estreitos com seres humanos, assim como os cães e os gatos 6. Além disso, a HRS foi a primeira organização a construir um abrigo específico para coelhos, que serve de modelo para outras organizações ao redor do mundo 6,16. Atualmente, há 41 unidades da HRS distribuídas pelos Estados Unidos, e essa organização ainda está associada a outras entidades localizadas no Canadá, no México, em Hong Kong, na Suíça, na Grécia, em Cingapura, na Itália e na Austrália.

A história da RWAF se iniciou em 1996 no Reino Unido, com a inauguração da British House Rabbit Association (BHRA – Associação Britânica do Coelho Domiciliado, em tradução livre). A partir de 2000, essa organização criou um fundo para obter e destinar financiamentos a trabalhos educacionais e de pesquisa relacionados ao bem-estar dos coelhos 17. Além disso, para incluir os tutores que mantêm os coelhos fora de suas casas, como em quintais e jardins, o nome da organização BHRA foi modificado para o nome atual, Rabbit Welfare Association & Fund 17. Muitos dos avanços associados à promoção de vários aspectos sobre ética e bem-estar dos coelhos domésticos são resultado da atuação dessa associação 18. Como exemplo, a RWAF aborda frequentemente o impacto da seleção das características associadas ao conceito de fofura e à conformação extrema, como a braquicefalia 18,19.

A necessidade de incorporar a área de medicina de abrigos ao currículo da medicina veterinária ocorreu em 2001, quando foi criada a Association of Shelter Veterinarians (ASV – Associação de Veterinários de Abrigos, em tradução livre) 1. O primeiro programa de residência em medicina de abrigos dos Estados Unidos foi desenvolvido em 2001 pela Universidade da Califórnia – Davis. Já a primeira prova de certificação para título de especialista nessa área foi realizada nos Estados Unidos em 2015 20. O primeiro manual que contém as diretrizes sobre o manejo e o cuidado de animais de abrigos, Guidelines for Standards of Care in Animal Shelters, foi publicado em 2010, e seu conteúdo foi traduzido para o português e publicado com o título de “Diretrizes sobre os padrões de cuidados em abrigos de animais” (São Paulo: PremieRpet®, 2018) 21,22.

No Brasil, a medicina de abrigos foi incorporada a uma grande área denominada medicina veterinária do coletivo, que abrange assuntos interdisciplinares associados à saúde única, e é estruturada com base em outras grandes áreas, como medicina veterinária legal e medicina veterinária de desastres. A Universidade Federal do Paraná (UFPR) é uma das pioneiras no Brasil em oferecer esse programa de residência. O primeiro livro que abrange os temas abordados na medicina veterinária do coletivo foi publicado em 2019 23. Em 2021, a medicina veterinária do coletivo foi reconhecida como uma especialidade da medicina veterinária, sendo que o Instituto de Medicina Veterinária do Coletivo (IMVC), juntamente com o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), são as entidades responsáveis por conceder o título de especialista 24. Dessa forma, ainda é muito recente a formalização da existência desse profissional na medicina veterinária no Brasil.

No entanto, até o momento, o conteúdo da área de medicina de abrigos tem um enfoque direcionado aos cuidados de cães e gatos e quase não inclui coelhos e outras espécies 25. Atualmente, sabe-se que os coelhos estão entre os animais mais abandonados em abrigos, e os tópicos referentes às áreas de medicina, cirurgia, comportamento e bem-estar de coelhos estão sendo gradativamente abordados na medicina de abrigos (Figura 2) 7.

 

Figura 2 – Recintos feitos com cercados de cães, para que os coelhos tenham espaço adequado. Créditos: Isabelle Tancioni

 

Livros considerados como referência na medicina de abrigos, como o organizado por Lila Miller & Stephen Zawistowski, Shelter Medicine for Veterinarians and Staff (Oxford: Wiley-Blackwell, 2013) – “Medicina de abrigos para veterinários e funcionários”, em tradução livre – e o organizado por Sara White, High-quality, High-volume Spay and Neuter and Other Shelter Surgeries (Oxford: Wiley-Blackwell, 2020) – “Castração de alta qualidade e alta quantidade e outras cirurgias em abrigos”, em tradução livre, têm capítulos dedicados aos cuidados, manejo e procedimentos cirúrgicos em coelhos 8,26,27. É importante ainda destacar que o desenho de um coelho está incluído no símbolo da Association of Shelter Veterinarians, juntamente com o de um cão e um gato, indicando que os coelhos merecem os mesmos cuidados que os cães e os gatos (Figura 3).

 

Figura 3 – Símbolo da Association of Shelter Veterinarians (ASV) no qual estão desenhados um cão, um gato e um coelho

 

A ideia de criar uma área dedicada à medicina de coelhos também é recente, com a publicação do livro Textbook of Rabbit Medicine (Oxford: Butterworth-Heinemann, 2001) – “O livro de medicina de coelhos”, em tradução livre, de autoria da médica-veterinária Frances Harcourt-Brown. Essa profissional foi a primeira a ser reconhecida com o título de especialista em medicina e cirurgia de coelhos pelo Royal College of Veterinary Surgeons 28,29. A organização HRS foi a promotora da primeira conferência sobre medicina de coelhos em 1997 6,16. Essa conferência reuniu mais de 200 médicos-veterinários que abordaram os aspectos relacionados aos coelhos domésticos como membros da família e não animais de produção 6. Desde então, outras conferências sobre medicina de coelhos foram realizadas 30-32.

 

A importância dos abrigos específicos para os coelhos e seus desafios

Os médicos-veterinários que trabalham nos abrigos devem estar familiarizados com as enfermidades mais comuns dos coelhos domésticos e com os tratamentos mais apropriados 33. Muitos dos parâmetros de bem-estar para coelhos são provenientes da produção comercial desses animais. Para essa finalidade, os coelhos adultos criados como matrizes são alojados isolados, mantidos em gaiolas suspensas de dimensões pequenas e com pisos engradados. Além disso, recebem alimentos ricos em carboidratos, que têm como propósito o rápido ganho de peso 12,13.

De modo geral, o manejo associado à criação comercial de coelhos é extremamente simplificado e não pode ser extrapolado quando os coelhos são animais de companhia, uma vez que não visam a longevidade dos animais 12. As necessidades associadas ao bem-estar dos coelhos foram publicadas em edições anteriores desta mesma revista 34-37. Há uma compilação sobre manejo sem estresse de coelhos em abrigos em outros materiais escritos por esta autora 7,38.

Em coelhos, as doenças dermatológicas são as mais frequentemente diagnosticadas, sendo que pododermatites, abcessos, alopecia, otite externa, dermatite úmida, infestação de ácaros na orelha, presença de pulgas e miíase são as mais comuns 39,40. No Reino Unido, as mais frequentes enfermidades encontradas são unhas longas, problemas dentários associados ao crescimento excessivo dos incisivos e/ou molares e ao acúmulo de sujeira, material fecal e urina na região perineal e estase do sistema gastrintestinal. A miíase foi relatada como a causa mais comum associada à mortalidade dos coelhos 41. Em um cenário de abrigos, os coelhos admitidos também podem apresentar ectoparasitas como ácaros, pulgas e carrapatos, e ainda traumas como ossos fraturados e outras injúrias decorrentes de acidentes e encontros com predadores 5.

Muitos abrigos considerados multiespécies não recebem coelhos. Naqueles que os recebem é difícil garantir um tratamento especializado para eles, uma vez que a maior parte da verba é destinada para os cães e gatos, que apresentam uma taxa de adoção superior. Outro fator importante consiste em ter espaço suficiente para alojar os animais predadores e aqueles que são presas em ambientes diferentes. Os coelhos são presas e se estressam quando estão em cenários não familiares e na presença de predadores como cães, gatos e furões 33. É importante para os coelhos que se minimizem os estímulos visuais, auditivos e olfativos provenientes de predadores 33. Enquanto presas, os odores, os ruídos e a presença de predadores podem ser estressantes 7,33,37. Portanto, é imprescindível que eles sejam alojados em áreas separadas das de animais predadores.

Além disso, é importante ressaltar que os coelhos e os porquinhos-da-índia devem ser alojados em recintos separados, e em diferentes áreas do abrigo, uma vez que os porquinhos-da-índia podem adoecer severamente devido a infecção respiratória por patógenos que podem ser transmitidos pelos coelhos 36. Em abrigos multiespéscies, muitas vezes os coelhos são alojados com outros pequenos mamíferos e não têm muito contato com os funcionários, pois são poucos aqueles que conhecem as suas necessidades. Além disso, os coelhos podem ser reconhecidos pela equipe como agressivos. Esse fato normalmente está associado à presença de animais não castrados em uma mesma área, o que dificulta a socialização desses animais com os funcionários 26.

Um abrigo especializado em coelhos está isento do problema associado ao alojamento deles fora do alcance de outras espécies de animais, uma vez que somente abriga coelhos. No entanto, a equipe deve considerar os tópicos acima ao selecionar espaços destinados a lares temporários. Além disso, deve estar focada em ações de castração de todos os animais abrigados, que é crucial para o controle populacional e para a socialização dos coelhos 42,43.

O fato de os coelhos permanecerem em abrigos por mais tempo resulta no aumento de custo para a manutenção desses animais. O encarecimento do custo também está associado aos serviços veterinários, que geralmente têm custos elevados 5. Com os avanços nas áreas associadas à medicina de coelhos e no conhecimento sobre o bem-estar desses animais, houve um encarecimento dos custos associados à manutenção dos coelhos resgatados. Algumas equipes de abrigos do Reino Unido relataram um aumento de 25% nos custos nos últimos 24 anos. Essa elevação dos custos está associada às despesas com serviços veterinários, medicamentos e produtos específicos para os coelhos 43.

Com todos esses obstáculos, os abrigos que recebem coelhos ou aqueles especializados em coelhos geralmente trabalham com sua capacidade máxima e muitas vezes estão sobrecarregados, razão pela qual não conseguem atender a todos os pedidos de resgate. A equipe deve estar atenta ao ciclo vicioso da superlotação que pode culminar em condições inadequadas para os animais, além de esgotamento dos funcionários e voluntários 5.

Um fator importante a destacar e divulgar para reverter esse processo é que, por mais que existam barreiras, a adoção de um coelho resgatado de uma situação de negligência ou de maus-tratos pode ser uma experiência altamente recompensadora, uma vez que os adotantes estejam comprometidos a fornecer uma vida próspera para o animal 5.

 

Gerenciamento do abrigo: admissão, histórico, exame, documentação e manejo

É essencial a participação de médicos-veterinários e a colaboração de assistentes e de outros profissionais de diversas áreas como comportamento, antrozoologia e direito na coordenação dos grupos de resgate. Os médicos-veterinários são responsáveis por produzir protocolos padronizados e ainda por revisar informações relacionadas aos cuidados, bem-estar, saúde e comportamento dos coelhos que devem ser utilizados por toda a equipe. Descrevem-se neste texto, de forma breve, as importantes etapas associadas ao gerenciamento. Essas informações se encontram com mais detalhes em outros materiais escritos por esta autora 7,38.

Já no início da admissão, os coelhos devem ser separados dos animais predadores 21. Assim que são recebidos, devem ser examinados, e aqueles que necessitam de atendimento de emergência devem ser transferidos para uma clínica veterinária especializada, para receberem o tratamento adequado. A maioria das organizações que resgatam os coelhos fazem parcerias com clínicas, já que é muito custoso ter uma clínica própria. A sede da HRS construiu um abrigo de coelhos onde há um espaço destinado aos médicos-veterinários que trabalham nesse local 6.

Os dados coletados obtidos pela equipe de resgate referentes às informações dos animais resgatados são muito importantes. A coleta de informações pode ter como base elementos associados à observação da equipe de resgate, como número de animais, dieta, idade, estado geral e situação (negligência, abandono, acumulação, maus-tratos). Todos esses dados devem ser incorporados à ficha do histórico do animal. Em casos de desistência ou renúncia da guarda, a obtenção dessas informações dos tutores é crucial para entender as causas que os levam a procurar abrigos. Com o conhecimento do motivo, a equipe pode aconselhar o tutor, auxiliá-lo e até convencê-lo a não desistir da guarda do animal. Dependendo das possibilidades do tutor e da situação envolvendo a intenção da renúncia da guarda, a equipe pode salientar que o ambiente de um abrigo não é aconselhado para os animais e que, dentro do possível, seria muito melhor que o animal convivesse com o tutor.

As informações coletadas por meio do histórico e do exame clínico devem ser anotadas, e sugere-se que esses documentos sejam digitalizados. Outro ponto importante é a implementação de sistema de informação centralizado que deve ser acessível à equipe, facilitando assim a atualização dos dados e o acompanhamento dos animais pela equipe. O uso de um sistema centralizado de informações é crucial para que a equipe tenha conhecimento sobre os coelhos que estão localizados nos lares temporários, como também pode ser extremamente valioso para os futuros adotantes. A coleta de informação do histórico do animal e o uso de uma comunicação amigável, empática e positiva com os tutores, de escuta reflexiva e sem julgamento por parte da equipe de resgate, fazem parte dos protocolos do manejo livre de medo e estresse e estão detalhados em um outro material escrito pela autora 38.

Os animais devem ser avaliados por médicos-veterinários atentos ao estado geral de saúde e também aos procedimentos associados ao manejo e ao manuseio dos animais. Os médicos-veterinários e os profissionais que trabalham com animais devem prestar cuidados em relação à saúde, mas também ao bem-estar dos animais. A autora recomenda que os profissionais adotem abordagens que são consideradas livres de medo (fear free, em inglês) ou ainda conhecidas como amigáveis (friendly, em inglês). Essas abordagens têm como objetivo diminuir o estresse dos animais e promover o seu bem-estar. Assim sendo, é importante manter a equipe atualizada sobre manuseio e cuidados que podem ser realizados de forma segura e amigável 33. A autora recomenda que os profissionais de abrigos façam os cursos do programa Fear Free Shelters®, destinado a todos os profissionais que atuam com animais em condições de vulnerabilidade (Figura 4) 44. Muitos dos protocolos e procedimentos demonstrados nessa plataforma podem ser usados com os coelhos. Além disso, a equipe pode complementar seu conhecimento com as técnicas descritas no material publicado pela autora na edição n. 155 desta revista, que aborda o atendimento e o manejo amigável aos coelhos domésticos 37.

 

Figura 4 – O manejo Fear Free® nos abrigos promove o bem-estar dos coelhos e dos seres humanos, e também o vínculo entre ser humano e animal. Créditos: Isabelle Tancioni

 

A inclusão de prontuários médicos com registros de emoções dos animais em seus sistemas de cadastro é crucial para os abrigos que seguem os protocolos livres de medo ou Fear free® 44,45. Para avaliar a evolução do animal, a equipe deve consultar a escala de medo, ansiedade, estresse e frustração e também o prontuário médico emocional. Essa escala pode ser encontrada em um outro material da autora. As informações associadas à saúde emocional devem ser disponibilizadas na porta do recinto (Figura 5), e estão detalhadas em outras publicações 38.

 

Figura 5 – Um sumário contendo informações sobre o coelho deve estar acessível na porta do recinto. Créditos: Isabelle Tancioni

 

Os coelhos admitidos nos abrigos devem receber medicamentos antipulgas e antiparasitários. Nos Estados Unidos, os coelhos abrigados são vacinados contra a doença hemorrágica viral. Os protocolos vacinais recomendados para os coelhos domésticos dependem da existência do agente causador da doença no território e também da disponibilidade de vacinas. Nos Estados Unidos, recomenda-se a vacinação contra a doença hemorrágica viral, ao passo que no Reino Unido aconselha-se vacinar os coelhos contra essa doença e também contra a mixomatose 46. No Brasil, até o presente momento, a doença hemorrágica viral não foi identificada, e não há vacinas comercialmente disponíveis para a mixomatose 47.

Os coelhos devem permanecer por 14 dias em uma área destinada a quarentena, para depois serem transferidos para lares temporários ou para outras áreas do abrigo. Para evitar a disseminação de doenças infectocontagiosas, é crucial o uso de equipamento de proteção individual. Esses equipamentos devem permanecer acessíveis na entrada do local de quarentena dos coelhos, e essa área também deve ter recipientes destinados a vestimentas sujas e a materiais descartados.

De modo geral, a ideia de gerenciar um grupo de resgate é romantizada e idealizada por muitos dos que almejam ajudar os animais desamparados. Escolher a quem salvar, bem como acompanhar a vida dos coelhos que nunca foram adotados e morreram no abrigo, pode resultar em uma grande tempestade de sentimentos 48. Esse trabalho pode ser extremamente desgastante, e é necessário que a equipe tenha uma comunicação assertiva e empática. O grupo deve se empenhar em estabelecer uma estratégia de manejo populacional para não sobrecarregar as pessoas e também não reduzir a qualidade do bem-estar dos animais abrigados.

Um fator crucial para o gerenciamento de um abrigo é evitar a superpopulação. Esse cenário culmina na deterioração do bem-estar dos animais, e sabe-se que o efeito da superpopulação pode resultar em cardiomiopatia em coelhos 46. A superpopulação sobrecarrega também as pessoas que trabalham com os animais 3. Dessa forma, é necessário que a equipe do abrigo saiba trabalhar com o manejo da população. A equipe deve analisar os dados associados ao número de animais que são admitidos e ao período em que eles permanecem sob a responsabilidade do abrigo 38.

 

Lares temporários e captura, esterilização de devolução (CED)

Os grupos de resgate de coelhos também trabalham com uma equipe destinada a oferecer lares temporários, que são cruciais para o acolhimento dos animais. Além disso, o trabalho fora das instalações dos abrigos, com serviços voltados à comunidade, como as clínicas itinerantes e as clínicas de castração de alta qualidade e alta quantidade, são essenciais para o controle populacional e para reduzir o número de animais admitidos nos abrigos 3. Dessa forma, é importante salientar que lares temporários e trabalhos em campo também fazem parte da área de medicina de abrigos. É fundamental que a equipe desenvolva uma relação estreita com outros grupos e/ou tenha grupos de voluntários responsáveis para coordenar essas atividades.

Além disso, a equipe deve decidir se os coelhos que demandam muitos cuidados, como os idosos ou aqueles que necessitam de cuidados especiais, serão disponibilizados para adoção. Muitos animais nessas condições são deixados em lares temporários de forma permanente; na San Diego HRS, esses animais recebem o status de coelho santuário e não são colocados para adoção. Alguns são adotados por pessoas do grupo de resgate ou podem ser enviados a lugares que recebam e cuidem de animais nessas condições, como os santuários de coelhos. Nessas situações, os coelhos precisam de cuidados especiais e de ambientes adaptados às suas necessidades 49.

Os pedidos de resgate de um número grande de coelhos são frequentes e podem ser bem desafiadores para o grupo. Casos de acumulação de coelhos também acontecem e geralmente envolvem centenas de animais. Nessas circunstâncias, a superpopulação acomete o bem-estar desses animais, e muitos deles podem estar em situações deploráveis 5.

A pandemia intensificou os chamados de resgate no Reino Unido por várias razões, como desemprego, arrependimento de aquisição e até criadores que não conseguiram vender seus coelhos 50.

A maioria dos coelhos abandonados em áreas livres não sobrevive, devido aos fatores associados à seleção artificial, que os torna mais vulneráveis a predadores 19. No entanto, alguns podem formar agrupamentos com centenas de indivíduos. Esses grupos de coelhos são descritos em várias partes do mundo e podem receber vários nomes como colônias, coelhos comunitários e ainda coelhos ferais. Podem ser compostos por coelhos domésticos que nasceram nesses ambientes (coelhos ferais) e também por animais que foram recentemente abandonados. Para facilitar a localização de coelhos abandonados e ferais existe uma plataforma mundial online, na qual pessoas podem registrar as informações sobre o local e os animais observados; essas informações ficam disponíveis em um mapa, como guia para os grupos de resgate 51.

Como se observa no manejo populacional de cães e gatos, não é possível garantir abrigo, tutores e lares temporários para todos os coelhos, portanto, é necessário repensar essa questão e encontrar outras possibilidades 5. Os procedimentos envolvidos na captura, esterilização e devolução (CED) também são praticados por alguns grupos que resgatam coelhos de colônias. Essa abordagem, inicialmente utilizada somente para o controle populacional de gatos comunitários e/ou ferais, foi adaptada para coelhos. Ainda há muita discussão sobre a utilização de CED para a manutenção e o controle de colônias de coelhos 5.

 

A promoção do bem-estar dos coelhos e da guarda responsável pelos abrigos

O estreitamento do vínculo entre os seres humanos e os animais e a diminuição da probabilidade de desistência da guarda e do abandono desses animais estão associados à implementação de manejo e cuidados que satisfaçam os pilares do bem-estar dos coelhos. Quando criados de forma adequada, eles são amigáveis, sociáveis e brincalhões 36,52,53.

 

Eventos para estimular o conhecimento da comunidade

A RWAF tem promovido conferências abordando vários aspectos de ética e bem-estar dos coelhos domésticos 18. Além disso, grupos de resgate dos Estados Unidos também organizam webinários e eventos em que vários profissionais discutem os principais problemas de saúde dos coelhos. O evento Bunnyfest, promovido anualmente pela San Diego House Rabbit Society (SDHRS), agrega várias atividades nas quais a comunidade tem a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos sobre os coelhos. Antes da pandemia, outros tipos de eventos que promovem adoção e interação da comunidade também eram organizados, e todos os fundos eram revertidos para o abrigo. Aulas como bunny yoga, que promovem o contato da comunidade com os coelhos resgatados, também aumentam o engajamento da comunidade com a equipe do abrigo. Em atividades como Hoppy hour, os coelhos do abrigo têm a oportunidade de interagir com outros trazidos por tutores e também com seres humanos. Esses eventos podem ser ótimas estratégias para engajar a comunidade (Figura 6). Atualmente, com a pandemia e a disseminação do agente da doença hemorrágica viral do coelho, somente atividades virtuais estão ocorrendo.

 

Figura 6 – Evento Hoppy hour com os coelhos do abrigo e com os trazidos pelos tutores. Créditos: Isabelle Tancioni

 

Serviços de cuidados gerais e bonding

Alguns abrigos e grupos de resgates disponibilizam serviços de cuidados gerais, e o dinheiro cobrado é revertido para as mesmas instituições. Em relação aos cuidados gerais, as unhas dos coelhos podem crescer e se quebrar facilmente, e por isso é necessário cortá-las mensalmente 12,54. Além disso, os coelhos precisam de auxílio para a remoção dos pelos, que pode ser realizada por escovação 12. A pelagem deve ser regularmente escovada com uma escova de cerdas macias, e os coelhos de pelos longos devem receber atenção especial e ser escovados com maior frequência 12,16, pois a pelagem pode se tornar facilmente embolada, o que propicia o desenvolvimento de enfermidades cutâneas e ainda pode resultar em acúmulo de conteúdos fecais e urina 19. Caso os tutores não se sintam confiantes para realizar esses tipos de cuidados, é importante levá-los a estabelecimentos especializados nesses serviços. Além disso, alguns abrigos disponibilizam loja de produtos para atender à comunidade de tutores de coelhos (Figura 7). Também são oferecidos serviços como hotelzinho, no qual os tutores podem deixar seus coelhos enquanto viajam.

 

Figura 7 – Loja com produtos para a comunidade de tutores de coelhos. Créditos: Isabelle Tancioni

 

Além disso, algumas organizações oferecem serviços de bonding, termo em inglês usado quando se põe um coelho em contato com outro para o estabelecimento de um vínculo estreito e estável entre os animais. Organizações do Reino Unido como a Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA – Sociedade Real para a Prevenção da Crueldade contra Animais, em tradução livre), RWAF e British Small Animal Veterinary Association (BSAVA – Associação Britânica Veterinária de Pequenos animais, em tradução livre) recomendam que um coelho deve ser alojado na companhia de outro para garantir que todos os fatores associados ao bem-estar desses animais sejam alcançados 55,56. A presença de outro animal da mesma espécie resulta em constante estímulo visual relacionado à comunicação que se dá pela postura corporal, pelo estímulo de odores e por aqueles associados ao enriquecimento social, que permite aos coelhos exibir seus comportamentos normais, podendo, por exemplo, comer em companhia um do outro 13. Para isso, é essencial encontrar coelhos compatíveis, uma vez que a companhia de coelhos incompatíveis proporciona altos níveis de estresse entre os animais e afeta negativamente o seu bem-estar 18.

Os coelhos provenientes de abrigos dos Estados Unidos e do Reino Unido são geralmente castrados, microchipados, vacinados e passam por uma avaliação comportamental. Adotar um coelho de um abrigo que já fez todo esse trabalho prévio é mais conveniente para os futuros tutores. Alguns abrigos oferecem o serviço de bonding, o que evita que os tutores se estressem durante o processo. Muitos tutores evitam colocar um novo coelho para conviver com o já existente, pois não têm conhecimento sobre o processo ou o receiam, por já terem tido experiências negativas, como brigas entre os animais.

Esse tipo de serviço aumenta as chances de o coelho encontrar um companheiro compatível, já que ele conviverá com vários possíveis candidatos em um ambiente neutro, e assim será possível avaliar o pareamento mais adequado. A equipe monitora as interações entre os coelhos até ter certeza de que eles estabeleceram um vínculo estável e estreito (Figura 8). As chances de esse pareamento ser estável e compatível aumentam quando o coelho e a família escolhem o futuro coelho. A avaliação sobre as reações dos coelhos candidatos diante da família humana também deve ser levada em consideração. Um outro ponto consiste em expor as demandas de cada candidato para que a família reflita sobre a compatibilidade e seu estilo de vida. A aplicação desse protocolo reduz as chances de desistência da guarda e o abandono por causa de futuras brigas entre os coelhos, proporcionando melhor oportunidade de um coelho resgatado ser adotado 57.

 

Figura 8 – Realização do serviço de bonding pela equipe do abrigo da San Diego House Rabbit Society (SDHRS). O coelho de um tutor é apresentado a outro coelho. A formação de um vínculo estreito e estável é monitorada e avaliada pela equipe. Créditos: Isabelle Tancioni

 

O processo de bonding pode durar de 5 a 14 dias ou até ser mais longo, dependendo dos animais envolvidos. Muitas dessas organizações oferecem orientações e suporte sobre adaptação dos coelhos após esse processo. Algumas fazem esse serviço gratuitamente, o que é importante, porque muitas das pessoas que usam esse serviço acabam por doar dinheiro à organização como uma forma de agradecimento pelo trabalho 57.

 

Educação dos futuros tutores

A San Diego House Rabbit Society organiza aulas para os futuros tutores que recebem instruções sobre os cuidados gerais com os coelhos por uma 1 hora e meia. Após a aula, os candidatos respondem a um pequeno questionário que tem como objetivo avaliar o conhecimento da pessoa sobre a espécie e o que ela aprendeu durante a aula. Essa etapa informa as responsabilidades associadas à guarda responsável de um coelho e expõe as necessidades desses animais, que muitas vezes são subestimadas pelo mercado de animais de companhia. Além disso, os candidatos são entrevistados pela equipe de adoção, que avalia os motivos associados à adoção de um animal a partir do preenchimento de uma ficha.

Depois da aprovação, os candidatos são apresentados aos coelhos selecionados por eles. Nessa etapa, eles interagem com cada animal dentro de um cercado no chão, enquanto a equipe de adoção monitora cada interação. Devido à pandemia de Covid-19 e à disseminação da doença hemorrágica viral dos coelhos, muitos abrigos reformularam o sistema de adoção e migraram para ferramentas online.

 

Controle de doenças

O trabalho conjunto com médicos-veterinários treinados em medicina de coelhos e medicina veterinária preventiva é essencial para delinear estratégias de prevenção de doenças infecciosas. Um grande exemplo é a atuação dos grupos de resgate com médicos-veterinários para a importação imediata de vacinas e a realização de campanhas de vacinação para a doença hemorrágica viral do coelho. Essa enfermidade está sendo disseminada entre as populações de coelhos silvestres e domésticos nos Estados Unidos, Canadá e México 58.

 

Controle populacional dos coelhos

As campanhas de castração de alta qualidade e alta quantidade também são cruciais para a promoção da guarda responsável. Apesar de essas campanhas serem direcionadas para cães e gatos, há organizações que também trabalham com profissionais treinados em cirurgias minimamente invasivas para castrar coelhos 59. Algumas clínicas que atendem cães e gatos castram esporadicamente coelhos. Esse procedimento ainda não é bem disseminado entre as equipes dos abrigos, e muitas não se sentem habilitadas para fazê-lo. Porém, esse contexto está se modificando. Um dos grandes exemplos é a organização Spay Neuter Action Project – SNAP (Figura 9), que tem duas unidades móveis e trabalha nos arredores da cidade de San Diego, CA, EUA.

 

Figura 9 – Unidade móvel da Spay Neuter Action Project (Snap). Créditos: Isabelle Tancioni

 

Essa organização está comprometida com o controle populacional de cães, gatos e coelhos e dedica um dia do mês exclusivamente à castração de coelhos. Nesse dia, de 22 a 25 coelhos em média são castrados em 4 a 5 horas (Figura 10) 59. O preço da castração é bem mais acessível, e muitos tutores que não podem pagar procuram por esses serviços.

 

Figura 10 – Coelhos em recintos no interior da unidade móvel durante a campanha de castração de alta qualidade e alta quantidade realizada pela Snap. Créditos: Isabelle Tancioni

 

A castração provê uma variedade de benefícios para o animal e para os futuros tutores, pois é essencial para promover um vínculo estreito entre os coelhos, reduzindo também a possibilidade de gravidez psicológica, ninhadas indesejáveis, transmissão de doenças venéreas, tumores uterinos (frequentes em coelhas) e comportamentos associados aos hormônios sexuais, como agressividade e demarcação com urina, entre outros 12,33,60. Recomenda-se castrar os machos a partir da idade de 10 a 12 semanas, período associado à presença dos testículos na bolsa escrotal. As fêmeas podem ser castradas a partir de 15 a 16 semanas de idade 12. Porém, ainda há um enorme desconhecimento da população a respeito da importância da castração para o controle populacional, o aumento da qualidade do bem-estar e a prevenção de doenças associadas ao sistema reprodutivo dos coelhos 61.

O uso de tatuagens com tinta da cor verde apropriada para animais é uma maneira visualmente fácil de identificar um animal castrado (Figura 11). A ASV recomenda o uso de tatuagens como marcas de identificação permanentes de cães e gatos castrados 62. Esse procedimento também é realizado tanto nos machos quanto nas fêmeas em várias clínicas que estão comprometidas com castração de alta qualidade e alta quantidade de coelhos.

 

Figura 11 – Tatuagem para identificação de animais castrados. A tatuagem (seta) é feita perto da incisão (círculo), e está posicionada cranialmente a ela. Fêmea castrada pela médica-veterinária Laura Paris, da Snap. Créditos: Isabelle Tancioni

 

Considerações finais

Os coelhos domésticos estão se tornando mais populares como animais de companhia; o lado negativo do aumento dessa popularidade está associado ao abandono e à desistência de guarda 5. A taxa de coelhos deixados por tutores em abrigos dos Estados Unidos é superior à de gatos e cães, indicando a necessidade de os profissionais que trabalham com animais informarem melhor os tutores de coelhos sobre as reais necessidades desses animais 11. Promover a adoção e a guarda responsável é fundamental, uma vez que os coelhos também podem formar vínculos estreitos com os seres humanos e ser parte da família multiespécie, assim como acontece com cães e gatos 63.

No Reino Unido, as grandes mudanças associadas ao bem-estar dos coelhos aconteceram a partir de campanhas realizadas por entidades de grande porte, como a RSPCA. No entanto, as grandes organizações brasileiras associadas ao resgate de animais têm foco em cães e gatos, e suas campanhas ainda não incorporam as melhoras no bem-estar dos coelhos. Assim como aconteceu no Reino Unido, é essencial o envolvimento de grandes organizações que atuam no Brasil na promoção de conhecimento sobre as necessidades dos coelhos. As campanhas realizadas pelas grandes entidades no Brasil são muito pequenas e pontuais, ocorrendo somente na época de Páscoa.

No Brasil, o envolvimento da causa animal no resgate de coelhos é muito mais recente e teve início há aproximadamente 10 anos. Na América Latina, a fundação Bunny Lovers 64 teve início em 2017. Ela tem sede no Chile (Bunny Lovers Chile), e tem membros atuantes em outros países, inclusive no Brasil, na Bunny Lovers Brasil 65 (https://www.bunnyloversbrasil.com/). Ainda no Brasil há o Grupo de Apoio aos Coelhos (GAC) 66 (https://www.grupodeapoioaoscoelhos.org.br/), que oficialmente se tornou uma organização em 2020. Outros grupos de resgate importantes no território brasileiro são Adote um Orelhudo 67 (https://www.adoteumorelhudo.com/) e o Orfanato dos Orelhudos. Esses grupos trabalham com educação, campanhas e resgates, e ainda abrigam os coelhos em lares temporários.

A medicina de abrigos dedicada aos coelhos está estreitamente associada à medicina de coelhos. Os médicos-veterinários entram em contato durante a faculdade com os coelhos em estudos de produção animal, mais especificamente, na disciplina de cunicultura 68. Uma outra forma de adquirir experiência e treinamento em coelhos é estagiar ou trabalhar em clínicas de animais exóticos 29. Assim como se observa nos Estados Unidos 69, os médicos-veterinários brasileiros que trabalham com animais resgatados não foram treinados em medicina de coelhos. É importante incluir a medicina de coelhos no currículo básico das faculdades de medicina veterinária e assim aumentar as chances de esses animais serem tratados de modo similar ao dos cães e gatos 69,70. Essa falta de treinamento e experiência resulta em um grande obstáculo para o resgate e os cuidados desses animais.

Procedimentos como a castração são extremamente caros e muitas vezes inviáveis para a maioria das pessoas que resgatam coelhos. Outro ponto importante é que muitos médicos-veterinários no Brasil não castram coelhos antes da maturidade sexual. Esse procedimento evita ninhadas indesejadas e facilita o processo de bonding de coelhos jovens e também de coelhos da mesma ninhada. Como os coelhos são altamente prolíferos, é essencial doá-los castrados. Assim, a castração é muito importante para promover a saúde e o bem-estar desses animais.

É importante que os médicos-veterinários tenham conhecimento sobre as peculiaridades referentes à anatomia e à fisiologia dos coelhos. Assim, esses profissionais podem refletir e desenvolver materiais educacionais para campanhas de promoção do bem-estar desses animais e protocolos associados a procedimentos médicos e cirúrgicos. Para isso, é necessário promover cursos de treinamento e capacitação de médicos-veterinários que trabalham com animais resgatados nas áreas de medicina de coelhos e medicina de abrigos. Enfim, a aproximação entre a medicina de abrigos e a medicina de coelhos está resultando na formação de um novo profissional de medicina veterinária.

 

Agradecimentos

A autora agradece à equipe da SDHRS – Karen Gurneck, Jennifer Lee, Laura Chaing, Erica Nambo, Amy Spintman e Kristin Mettler Woodbury – pela oportunidade de treinamento que tem feito nesse abrigo especializado em coelhos, localizado na cidade de San Diego, Califórnia, Estados Unidos, desde 2018. Agradece também à dra. Laura Paris e a Dorell Sackett pelo treinamento na unidade móvel da Snap.

 

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