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Animais que atuam em intervenções assistidas

Matéria escrita por:

Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk

18 de maio de 2023

Interações assistidas por cães devidamente acompanhados por médicos-veterinário permitem que levem alegria e relaxamento a pessoas necessitadas e preservam a saúde desses animais. 
Créditos: Mauricio Schimmelpfeng Interações assistidas por cães devidamente acompanhados por médicos-veterinário permitem que levem alegria e relaxamento a pessoas necessitadas e preservam a saúde desses animais. Créditos: Mauricio Schimmelpfeng

A Pet Alliance Europe, constituída em 2021, é coordenada pela Animalhealth Europe e pela European Pet Food Industry Federation (Fediaf). A Animalhealth Europe representa empresas que pesquisam, desenvolvem e fabricam medicamentos veterinários na Europa. A Fediaf representa a indústria europeia de alimentos para animais de companhia. 

A Pet Alliance Europe defende que o convívio com animais de companhia tem o potencial de melhorar a vida de todos os europeus e traz muitos benefícios sociais. Esse potencial foi denominado #PetPower. Como defende o bem-estar dos animais de estimação, aliou-se a organizações que trabalham no mesmo sentido para compartilhar informações, principalmente sobre educação e posse responsável de animais.

#PetPower trata das interações entre homens e animais – especialmente dos animais de companhia – e os benefícios que decorrem dessas relações entre pessoas e animais. Envolve qualquer situação em que haja intercâmbio entre seres humanos e animais em nível individual, comunitário ou cultural.

Nesse contexto, atualmente, elegeu-se como foco prioritário discutir as intervenções assistidas por animais.

Na Europa e no resto do mundo, faltam diretrizes harmonizadas para as atividades assistidas por animais e para o cuidado de animais envolvidos nessas intervenções ou serviços. #PetPower defende a necessidade de mais pesquisas nesse tema.

A importância das intervenções assistidas por animais aumenta com a rápida urbanização e os desafios sociais associados a ela e com o crescente isolamento das pessoas, particularmente as mais velhas. Na Europa, os idosos correspondem a 20% da população.

Nos grandes centros urbanos brasileiros também vem ocorrendo uma rápida urbanização, principalmente mediante habitações verticais. Um levantamento realizado pela Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que pessoas com 60 anos ou mais representavam 14,7% da população residente no Brasil em 2021. Em números absolutos, eram 31,23 milhões de pessoas.

 

Projetos de intervenções assistidas

Um dos primeiros projetos de intervenções assistidas por animais no Brasil, o Projeto Amigo Bicho, vem sendo desenvolvido em Curitiba. Ele foi concebido em 2005 pela médica-veterinária Letícia Castanho (CRMV-PR: 4.159), que assim se expressa: “um sonho antigo de uma veterinária que queria unir o amor pelos animais e pelas pessoas e dessa forma levar os benefícios do amor por meio desses anjos”. O projeto foi reconhecido como de utilidade pública e premiado pela Câmara de Vereadores da cidade de Curitiba. Foi entrevistando a colega Letícia Castanho que obtivemos as informações que seguem.

 

 

As ações práticas do Projeto Amigo Bicho são realizadas segundo critérios científicos disponíveis, tendo os cães e os gatos como parte integrante do processo terapêutico. O suporte científico vem de alguns trabalhos publicados na Europa, no Canadá e nos Estados Unidos, evidenciando que alguns minutos de contato com animais fazem com que o corpo humano libere substâncias hormonais como endorfinas, prolactina e ocitocina, entre outras, reduzindo a ação de cortisol (hormônio do estresse) no organismo. Em consequência, o paciente tem um sentimento de bem-estar, substituindo o foco na dor e no sofrimento por sensações de relaxamento, alegria e felicidade, que afastam a solidão, as angústias e a insegurança – e assim ocorre uma potencialização da terapia convencional. A intervenção assistida por animais (IAA) é indicada para auxiliar em diversas condições clínicas, por proporcionar benefícios emocionais e espirituais aos pacientes.

 

Animais precisam estar saudáveis física e emocionalmente para que interajam de modo positivo com pessoas acamadas em hospitais. Créditos: Letícia Castanho

 

As ações do Projeto Amigo Bicho também visam aportar durante as visitas uma descontração do clima tenso do ambiente hospitalar, melhorar as relações interpessoais e facilitar a comunicação entre os pacientes e a equipe de saúde. Parentes, acompanhantes, médicos, enfermeiros e outros colaboradores que vivenciam as difíceis rotinas em ambientes hospitalares também são beneficiados. 

Destacam-se ainda outros benefícios, como: 

• melhora das habilidades motoras finas; 

• promoção do equilíbrio de sustentar-se; 

• melhora da adesão ao tratamento convencional; 

• promoção da interação verbal entre os membros do grupo;

• melhora da atenção; 

• promoção de recreação e lazer; 

• aumento da autoestima; 

• redução da ansiedade; 

• combate da solidão; 

• promoção da interação com a equipe de saúde; e 

• motivação para o envolvimento em atividades em grupo.

Informa a dra. Letícia que nos hospitais atendidos pelo Projeto Amigo Bicho são realizadas em média 76 visitas por ano e assistidos em torno de 6 mil pacientes. 

 

A interação positiva entre animais e profissionais da saúde beneficia a todos, desde que esses animais sejam expostos a uma rotina harmoniosa e que respeite suas necessidades. Créditos: Letícia Castanho

 

A importância do médico-veterinário nas intervenções assistidas por animais

O médico-veterinário é responsável pela avaliação dos animais que serão parte integrante da terapia assistida por animais, sendo o único profissional capacitado para assegurar a saúde de um animal terapeuta. Esse acompanhamento deve garantir o bom estado de saúde do animal, minimizar o potencial zoonótico e tomar todos os cuidados para zelar pelo bem-estar do animal terapeuta.

O médico-veterinário, segundo Letícia Castanho, deve ficar atento durante todas as sessões para garantir que o animal utilizado na terapia esteja em um ambiente acolhedor, livre de estresse e ansiedade, de desconforto, de fome, de sede e de dor. O limite de cada animal terapeuta deve ser respeitado. Aos primeiros sinais de desconforto, cansaço ou dificuldade para realizar alguma tarefa, deve-se encerrar a sessão ou realizar um intervalo, caso o retorno seja possível.

Todos os animais que realizam terapia assistida por animais e atividades assistidas por animais devem passar por seleções rigorosas realizadas por médicos-veterinários e outros profissionais da saúde, para que não ofereçam riscos aos assistidos.

 

Atividades assistidas por animais devem necessáriamente ser acompanhadas por médico-veterinário que zele pela saúde e bem estar desses animais durante todo o tempo em que estiverem em ação. Créditos: Letícia Castanho

 

Ao introduzir esse tema emergente, objetiva-se coordenar um esforço a fim de harmonizar as diretrizes para as intervenções assistidas por animais no Brasil, assim como incentivar a realização de pesquisas sobre o tema. Seguindo o exemplo europeu, seria interessante criarmos o #PoderPetBrasil e albergá-lo em uma organização da classe médico-veterinária. 

Nesse espaço, deseja-se dar voz a outros atores que coordenam intervenções assistidas por animais no país. Após essa primeira fase, a intenção é promover um simpósio para a discussão e a produção de consensos sobre as Diretrizes Brasileiras para as Intervenções Assistidas por Animais.

Além do Portal Clínica Veterinária, apoiador da primeira hora, aguardam-se outros apoios institucionais.

 

Referências

1-RODRIGUES, L. Contingente de idosos residentes no Brasil aumenta 39,8% em 9 anos. Agência Brasil. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-07/contingente-de-idosos-residentes-no-brasil-aumenta-398-em-9-anos#:~:text=Um%20novo%20levantamento%20realizado%20pela,31%2C23%20milh%C3%B5es%20de%20pessoas>. Acesso em 14.03.2023.