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Bem-estar animal

Atendimento livre de medo

Para coelhos, cães e gatos na dermatologia veterinária

Matéria escrita por:

Marcia Sonoda, Fábio Luís de Oliveira, Isabelle Tancioni

22 de dez de 2022


Introdução ao manejo amigável em animais de companhia

Os médicos-veterinários têm um papel crucial na promoção do bem-estar dos seus pacientes por meio dos cuidados amigáveis com os animais 1. Esses profissionais devem estar atentos para identificar os fatores que atuam como agentes estressores e que podem interferir negativamente na saúde física e emocional dos seus pacientes 1-3.

As abordagens amigáveis têm como objetivo diminuir o estresse durante os serviços prestados pelos médicos-veterinários, promovendo o bem-estar dos animais. Uma abordagem amigável resulta em menor probabilidade de injúrias tanto para o animal quanto para a equipe, aumenta a satisfação dos profissionais no ambiente de trabalho, previne o estresse e reduz o tempo de atendimento nas visitas subsequentes 1-5.

A iniciativa Cat Friendly Practice® (Práticas Amigáveis aos Gatos, em tradução livre) é uma das mais conhecidas entre os médicos-veterinários que atendem pacientes felinos 6,7. Com o intuito de disseminar esse tipo de abordagem para outras espécies, a plataforma Fear Free® (Livre de Medo, em tradução livre) foi criada em 2016. Essa iniciativa promove cursos e emite certificações para os médicos-veterinários que trabalham com cães, gatos, cavalos e aves 2. Em relação aos coelhos, um artigo dedicado à prática amigável, livre de medo e estresse foi publicado na edição 155 desta revista 4.

Atualmente, um número superior a 70 mil profissionais provenientes de mais 50 países já adquiriu essa certificação. Sete universidades que oferecem o curso de medicina veterinária nos Estados Unidos incluíram essa abordagem em seu currículo, e outras nove recomendaram a certificação para os seus estudantes 8. No entanto, a abordagem Fear Free® ainda é pouco conhecida entre os médicos-veterinários brasileiros. Até então, apenas os gatos se beneficiaram com a introdução das práticas amigáveis instituídas pelo programa Cat Friendly Practice®, plataforma mais popular entre os médicos-veterinários no Brasil.

Cães, gatos e coelhos são os mamíferos mais populares entre os animais de companhia, e é muito importante que os médicos-veterinários forneçam atendimento amigável a esses animais 2,4.

Neste artigo, os autores descrevem a aplicação da abordagem Fear Free® na dermatologia veterinária e expressam sua importância tanto para os médicos-veterinários quanto para os animais e os tutores. Os autores encorajam os médicos-veterinários a obterem uma ou mais certificações dos programas citados acima.

Dados provenientes de um questionário online distribuído para clínicas certificadas Fear Free® dos Estados Unidos mostraram que há um crescimento maior do número de pacientes nas clínicas que incorporaram a certificação, comparado com o das clínicas que não a possuem. Verificou-se também um aumento do número de gatos atendidos nessas clínicas, assim como um crescimento de consultas futuras. Além disso, mais de 90% dos profissionais que participaram desse questionário notaram melhoras em relação aos cuidados de seus pacientes, aumento do faturamento bruto da clínica, crescimento no número de consultas, melhoras associadas à segurança da equipe e à imagem da clínica 8.

 

A abordagem livre de medo (Fear Free®) durante as visitas de cuidado

A abordagem livre de medo começa antes do atendimento. Já no momento do agendamento, deve-se coletar informações sobre a experiência do animal e do tutor nas visitas prévias, as preferências por petiscos e brinquedos, e os tipos de interação com os quais o animal se sente confortável 4,9. Com essas informações, o profissional avalia a possibilidade do uso de protocolos farmacêuticos pré-visita recomendados para cães e gatos, como a administração de medicamentos orais, sendo a trazodona, a gabapentina e os benzodiazepínicos os mais comumente utilizados 2,10. Já para os coelhos, até o presente momento, não há evidências de que esses medicamentos consigam reduzir os níveis de estresse 11.

Os profissionais devem recomendar aos tutores como fazer o transporte dos animais de maneira segura e amigável. É importante que eles ensinem aos tutores como amenizar os fatores que aumentam os níveis de estresse nos animais. O uso de feromônios sintéticos específicos para a espécie (Adaptil® e Feliway®) (Figura 1A), de músicas calmantes e do controle da temperatura ambiente fazem parte de uma abordagem livre de medo e estresse 9. Para os coelhos, recomenda-se o uso do Pet Remedy® para aliviar o estresse. O produto contém extrato de raízes da planta valeriana (Valeriana officinalis), que pode ser borrifado em toalhas 4,12 (Figura 1B).

 

Figura 1 – Para amenizar fatores que aumentam os níveis de estresse nos animais, recomenda-se o uso de produtos específicos para cada espécie. A) Feromônios sintéticos espécie-específicos para cães e gatos – Adaptil® e Feliway®, respectivamente. B) Pet Remedy®, produto à base de raízes da planta valeriana (Valeriana officinalis) borrifado em toalhas. Créditos: A) Márcia Sonoda; B) Isabelle Tancioni

 

Os tutores também devem ser aconselhados a planejar a ida à clínica com antecedência, evitando o estresse de uma viagem apressada e conturbada. As caixas de transporte devem ser deixadas abertas no ambiente dos animais, para que os gatos e os coelhos se familiarizem com esses itens. Elas ainda podem ser utilizadas como tocas, amenizando a associação com as idas ao consultório 4. Outros cuidados que podem minimizar o estresse durante a viagem incluem manter o animal ou a caixa de transporte de maneira fixa no interior do veículo, prevenindo deslizamentos e evitando movimentos bruscos durante a viagem de carro 4,11. Deve-se recomendar que o tutor leve os petiscos que são oferecidos em casa, principalmente se o animal apresenta quadros de reação adversa ao alimento 2.

Os profissionais que trabalham com cães, gatos e coelhos devem ter conhecimento sobre como cada espécie se comunica e percebe o ambiente. Eles também devem saber identificar quais os estímulos causadores de estresse nas diferentes espécies e indivíduos 4,5,9.

O primeiro contato do animal e do tutor com a clínica é na recepção. Dessa forma, é crucial identificar e aliviar o estresse do animal desde a entrada na clínica até o término da consulta e o retorno ao seu respectivo ambiente domiciliar 2,4,9. Idealmente, a equipe deve acomodar cães e gatos em locais diferentes. Caso a clínica também atenda coelhos, esses animais devem ficar separados dos cães e dos gatos 4,33.

Uma ferramenta importante para o reconhecimento e a quantificação dos níveis de medo, ansiedade e estresse é o sistema de pontuação dos animais fundamentado em parâmetros fisiológicos, na linguagem corporal e na vocalização. Para isso, as escalas de FAS para cães e gatos (do inglês: fear, anxiety and stress), com tradução livre para MAE (medo, ansiedade e estresse) podem ser acessadas na plataforma Fear Free® 2. Com base nesses conteúdos, as tabelas foram traduzidas para o português e estão disponíveis tanto para cães e gatos 9 como para coelhos 4.

Ademais, os profissionais devem estar atentos para detectar os sinais de dor e aplicar as medidas para aliviá-la 1,2,4. Para isso, os médicos-veterinários devem estar familiarizados com as escalas de dor validadas.

Para conduzir uma consulta dermatológica amigável e livre de medo e estresse, é importante conhecer detalhadamente os quatro elementos principais da plataforma Fear Free®: abordagem atenciosa, controle gentil, gradiente de toque e boa comunicação 2.

A abordagem atenciosa está associada à interação do paciente com a equipe veterinária e todo o ambiente ao seu redor. Deve respeitar a percepção e os sentidos dos animais, minimizando os estímulos que possam gerar uma resposta de estresse. É necessário permitir que o animal se aproxime por vontade própria. Uma aproximação entusiasmada por parte das pessoas pode aumentar o nível de medo, ansiedade e estresse do animal. Como parte de uma abordagem atenciosa, o profissional não deve olhar diretamente nos olhos do paciente e pode utilizar petiscos para ajudar na aproximação dos cães 2.

Quanto aos gatos, a abordagem atenciosa requer que os animais estejam em um ambiente confortável na recepção, preferencialmente em espaços separados dos destinados aos cães (Figura 2). O paciente felino deve permanecer dentro da caixa de transporte, em local elevado, com toalha ou cobertor sobre a caixa para diminuir o campo visual externo, reduzindo os estímulos visuais que podem aumentar os níveis de MAE.

 

Figura 2 – Sala de espera para os cães à frente e sala destinada aos gatos à esquerda. Créditos: Márcia Sonoda

 

Diferentemente dos cães, nem todos os felinos aceitam petiscos quando saem da residência. Ao entrar com o felino na sala de atendimento, recomenda-se abrir a caixa de transporte e deixá-lo à vontade para sair ou permanecer nela. Petiscos e/ou brinquedos podem ser usados para incentivá-lo a sair da caixa no momento do exame, ou ele pode ser examinado na parte inferior da caixa 2,6,7.

Os coelhos que têm um vínculo estreito com outro coelho devem ser colocados na mesma caixa de transporte para reduzir o estresse. A caixa deve ter espaço suficiente para acomodar os dois animais 3. Os coelhos se sentem mais confortáveis ao nível do chão, portanto, aconselha-se manter a caixa de transporte nesse local 4.

O controle gentil é o modo como a equipe estabiliza o animal de maneira confortável e segura para a realização dos procedimentos. Muitas vezes a contenção é o procedimento responsável pela elevação dos níveis de MAE nos animais 2 (Figura 3). O animal deve se sentir seguro e estável. Ferramentas auxiliares de controle gentil incluem focinheiras de grade ou de cesta para cães, toalhas com feromônios para enfaixar, envolver e bloquear estímulos visuais em cães e gatos e ainda distrações na forma de petiscos, carinho, escovação, conversas e brinquedos.

 

Figura 3 – Petiscos que podem ser utilizados para criar associação positiva e auxiliar no controle gentil durante os procedimentos. Créditos: Márcia Sonoda

 

O gradiente de toque é o termo utilizado para descrever como tocar o animal no momento de um procedimento, e é feito de duas formas: a primeira é manter o contato físico com as mãos no animal durante todo o procedimento ou exame; a segunda consiste em aclimatar o animal a um nível de toque crescente, enquanto se avalia a aceitação do procedimento. Recomenda-se evitar iniciar o toque nas áreas mais sensíveis dos animais, tais como: cabeça (especialmente olhos, orelhas e lábios), dígitos (especialmente ao redor das unhas), áreas perianal e genital, região abdominal ventral e regiões axilares e inguinais. Petiscos e brinquedos podem ser oferecidos também nessa etapa. Os tutores podem oferecer essas recompensas enquanto o médico-veterinário aproxima a mão de forma suave ao longo do dorso do animal. Sempre que possível, as mãos devem estar em contato contínuo com o corpo do animal durante todo o exame físico 2.

As habilidades de comunicação também são muito importantes. A comunicação empática por parte dos profissionais fortalece a confiança dos animais e dos tutores 2. Uma comunicação amigável ressalta o valor das habilidades comunicativas dentro de um ambiente Fear Free® 9.

 

Principais problemas dermatológicos dos animais de companhia

A pele é o maior órgão do corpo, e sua origem provém tanto do ectoderma, que é responsável por formar a epiderme e o sistema nervoso, como também do mesoderma, que evolui para a porção de tecido conjuntivo conhecida como derme. Ainda na pele encontram-se várias estruturas anexas, que são os pelos, as unhas e as glândulas sudoríparas e sebáceas 13. Esse órgão é composto por uma diversidade de células, tecidos e estruturas que englobam inúmeras funções essenciais para a vida: promove tanto a interligação do corpo com o meio externo como a termorregulação e também provê defesa imunológica e barreira mecânica contra agressões exógenas 13.

Qualquer alteração ou desequilíbrio nessa barreira e na microbiota cutânea pode se refletir em muitos processos dermatológicos que são comuns na rotina clínica veterinária. Sabe-se que as doenças dermatológicas são um dos principais motivos de uma consulta veterinária 14. Dados da Universidade de Edimburgo sobre a prática de medicina de pequenos animais e de animais exóticos, majoritariamente coelhos, demonstraram que o motivo mais comum para as idas ao médico-veterinário são os problemas dermatológicos 14.

É de grande importância que os médicos-veterinários sejam capazes de identificar as peculiaridades de cada espécie, conheçam as enfermidades dermatológicas que afetam esses animais e também consigam desenvolver um plano de tratamento adequado para cada espécie. A extrapolação de manejo entre essas espécies, assim como a falta de conhecimento, podem trazer malefícios ao bem-estar desses animais 15.

Em cães, as principais doenças dermatológicas que são motivos de visitas aos consultórios veterinários são as dermatites alérgicas e as otites. Dentre as alérgicas, a dermatite atópica é a doença mais comum, que muitas vezes evolui para infecções de pele de repetição, tais como as causadas por bactérias (piodermites), e as causadas por leveduras, como a malasseziose. Os cães com dermatite atópica também podem ser acometidos por otites, que frequentemente são recorrentes. Os sintomas são diversos, e pode-se listar: prurido leve a moderado; crostas; feridas (ulcerações e erosões); descamação; queda de pelame; eritema localizado ou difuso; odor forte do pelame e das orelhas; sensibilidade cutânea e otológica; lambedura constante das patas, etc. Vale salientar que os pacientes acometidos pela dermatite atópica devem ser acompanhados durante toda a vida, e as visitas ao veterinário são frequentes 16.

As doenças mais comuns que acometem o tegumento dos gatos incluem as dermatites de origem alérgica, parasitária e fúngica, seguidas das autoimunes, neoplásicas e psicogênicas com menor frequência na rotina clínica 17. Dentre as dermatopatias de origem alérgica em gatos, a síndrome atópica felina (SAF) e a síndrome atópica cutânea felina (SACF) representam a grande maioria dos casos 18.

O termo SAF abrange uma variedade de doenças alérgicas dos gatos e os quadros dermatológicos incluem a dermatite alérgica à picada de pulgas, a reação adversa ao alimento e a síndrome atópica. A SACF é o termo que representa as alterações dermatológicas decorrentes da sensibilidade dos felinos aos alérgenos ambientais. Os padrões lesionais são diversos, entre os quais podemos destacar: a alopecia simétrica bilateral, o complexo granuloma eosinofílico, a dermatite miliar e o prurido de cabeça e pescoço com exulcerações 18.

Em relação às infecções zoonóticas que acometem os felinos, vale ressaltar a importância das dermatofitoses, que se apresentam sob a forma de lesões alopécicas ou rarefeitas, por vezes circulares e eritematosas; da sarna notoédrica, em que o animal apresenta meneios cefálicos leves a moderados e cerúmen de melicérico a enegrecido; e da esporotricose, muito presente no Brasil e de grande importância para a saúde pública, com comprometimento tegumentar e por vezes sistêmico 19,20. Ainda na rotina dermatológica felina, são frequentes as neoformações cutâneas, principalmente os carcinomas e as otites, sejam elas ceruminosas, fúngicas, parasitárias e bacterianas ou mistas, além das otites associadas à presença de pólipos 21.

Tanto cães como gatos podem apresentar acometimento das unhas, do leito ungueal ou de todo o dígito, envolvendo inflamação periungueal e presença de material exsudativo e sebáceo, constituído por microrganismos e células inflamatórias e/ou neoplásicas 21. As unhas longas são problemas comuns observados pelos médicos-veterinários que atendem coelhos 22.

As alterações tegumentares em coelhos geralmente estão associadas a problemas de manejo, a doenças infectocontagiosas, ao efeito da seleção artificial e a enfermidades primárias que acometem outros órgãos e sistemas 23,24.

As doenças dermatológicas mais frequentemente diagnosticadas em coelhos incluem: pododermatites, abscessos, alopecia, otite externa, dermatite úmida, otoacaríases, presença de pulgas e miíases, entre outras 25. Além dessas condições, as informações de manejo dos coelhos no mercado de animais de companhia têm como base a criação de animais mantidos para o abate; sendo assim, a falta de atividade pode resultar em frustração e comportamentos estereotipados, que incluem automutilação e lambedura excessiva da pelagem 26,27.

A braquicefalia em coelhos pode provocar desalinhamento dos dentes e o seu crescimento excessivo, condição comumente associada a úlceras na cavidade oral, sialorreia e dermatites com lesões úmidas, erosivas e ulcerativas 24. A dermatite úmida também pode ser observada na região do pescoço dos indivíduos que apresentam barbela exuberante (Figura 4) 23,28. A poliúria, sintoma presente em diversas doenças do sistema urinário, também é uma causa frequente de dermatite úmida 28,29. Além disso, os coelhos de pelo longo têm maiores chances de desenvolver enfermidades cutâneas por acúmulo de fezes e urina na região inguinal e perineal 30. Isso também pode ocorrer em coelhos que apresentam condições relacionadas aos sistemas musculoesquelético, gastrintestinal, nervoso e respiratório, que os impedem de realizar a cecotrofia 29,31.

 

Figura 4 – Coelho com barbela exuberante. Créditos: Isabelle Tancioni

 

A pododermatite em coelhos é uma doença que pode ocorrer devido à presença de assoalhos abrasivos ou fenestrados, sendo que algumas raças apresentam maior predisposição 23,27,32.

Os coelhos de orelhas caídas (lop) são mais comumente diagnosticados com otite, por apresentarem canais estenosados que comprometem a eliminação do excesso de cerúmen 23,33,34. De modo similar, os cães braquicefálicos também apresentam canais estenosados, que dificultam a realização da otoscopia 35.

No contexto da família multiespécie, as ectoparasitoses de animais podem transitar entre as espécies. Um exemplo são as pulgas, que são muito comuns em coelhos que vivem em casas com cães e gatos. Dessa forma, todos os indivíduos devem ser abordados 28,36.

Devido à origem embrionária comum entre a pele e o sistema nervoso central, adicionalmente, as doenças dermatológicas podem apresentar um componente comportamental ou emocional importante. Existe um grande número de hormônios, neuropeptídeos e receptores comuns ao sistema nervoso e ao tegumento, sendo que alterações fisiológicas da pele, como prurido e eritema, podem ser mediadas por essas substâncias, merecendo uma abordagem comportamental dos animais aliada à consulta dermatológica em diversas situações 37.

São exemplos de condições dermatológicas primárias que podem ser afetadas por estresse emocional: síndrome atópica, dermatoses inflamatórias crônicas e dermatite por lambedura acral. Alguns quadros dermatológicos também podem ser provocados por distúrbios comportamentais primários, como a dermatite por lambedura acral, comportamentos compulsivos, comportamentos de higiene excessivos e distúrbios psicogênicos. Além disso, distúrbios sensoriais cutâneos, como a síndrome de hiperestesia felina, podem se apresentar sob a forma de sinais dermatológicos nos animais 37.

 

Efeito das enfermidades dermatológicas no vínculo entre ser humano e animal

As enfermidades dermatológicas que comumente acometem os coelhos, os cães e os gatos impactam o bem-estar do animal e devem ser prontamente tratadas. Algumas doenças fazem com que o animal precise ir ao médico-veterinário com frequência, e, dependendo do diagnóstico, ele será submetido a tratamentos contínuos 2.

Quando um diagnóstico é feito, um plano de tratamento individual, sustentável e de longo prazo deve ser elaborado em conjunto com o tutor, aumentando a adesão. Ao comunicar claramente as expectativas realistas sobre uma doença crônica, por exemplo, o médico-veterinário consegue instruir de maneira mais adequada os tutores sobre a importância de um acompanhamento contínuo, diminuindo o número de visitas emergenciais e os quadros de grave descompensação das doenças de pele 2.

Além disso, o comprometimento da saúde tegumentar afeta o vínculo entre o tutor e o paciente. A sensação fisiológica do prurido, presente em uma série de doenças do tegumento, é uma grande indutora de estresse e ansiedade para os animais 2.

Cães com prurido muitas vezes ficam acordados à noite, coçando-se ou lambendo-se. Isso prejudica a rotina de sono dos tutores e os animais podem ser afastados para cômodos separados dentro da casa. O aspecto visual e os odores relacionados aos quadros de doenças do tegumento também afetam a relação entre os animais e seus tutores, que podem evitar o contato próximo com o animal e ter receio de levá-lo aos passeios por conta da sua aparência. Mesmo não apresentando doenças com potencial zoonótico, muitas vezes os animais são colocados para fora de seus ambientes, o que pode amplificar a resposta de estresse 2.

Uma vez que as etapas diagnósticas iniciais sejam cumpridas, o médico-veterinário deve fornecer opções de medicamentos para alívio rápido do prurido para reduzir o nível de estresse, ansiedade e sofrimentos dos animais. Os anti-histamínicos não são eficazes para a maioria dos cães com crises agudas de prurido, segundo revisão do Comitê Internacional de Doenças Alérgicas de Animais (ICADA), sendo utilizados os esteroides orais 38.

A dor deve ser considerada e tratada nos quadros dermatológicos. O principal exemplo são as otites. Infecções de pele ou doenças que causam escoriações, erosões e ulcerações também podem causar dor. Outras causas potenciais de dor incluem as neoplasias de pele, os abscessos e as picadas de insetos ou artrópodes. Assim como o prurido, a dor é capaz de comprometer o vínculo humano-animal. Os animais podem ficar isolados, deixar de manifestar seus comportamentos normais e apresentar agressividade 2.

A preocupação com as zoonoses pode afastar os tutores dos seus animais. É importante que os médicos-veterinários obtenham o conhecimento adequado das principais zoonoses de comprometimento cutâneo, algumas delas citadas anteriormente, fornecendo informações corretas aos tutores. Isso pode evitar pesquisas inadequadas na internet e a coleta de opiniões de leigos, com risco de realização de tratamentos potencialmente perigosos sem orientação veterinária e até mesmo de abandono de animais por desconhecimento a respeito da doença. São algumas medidas simples para prevenção de zoonoses de importância dermatológica: a desparasitação estratégica, os cuidados básicos de higiene do ambiente, o uso dos preventivos de ectoparasitas nos animais, conforme a espécie e a dose recomendada, evitar o estilo de vida livre e evitar o contato de animais com infecções de pele com indivíduos imunossuprimidos, pelo risco de transmissão de bactérias multirresistentes e transmissão direta de doenças como a esporotricose 39.

Cabe ao médico veterinário investigar e diagnosticar corretamente as doenças que estão provocando sofrimento, desconforto e estresse, aliviando os sintomas relacionados.

 

Aplicação da abordagem livre de medo (Fear Free®) na consulta dermatológica

Para as consultas dermatológicas, é imprescindível que a equipe aconselhe os tutores a não dar banho ao animal, por no mínimo 5 a 7 dias antes das consultas e/ou retornos, para não prejudicar a avaliação diagnóstica ou impedir a colheita de exames importantes, como um cultivo micológico, ou a interpretação de uma biópsia cutânea 40. Também é recomendado não limpar as orelhas.

A consulta inclui uma anamnese minuciosa, avaliação clínica e dermatológica detalhada e exames complementares, que muitas vezes podem ser realizados no mesmo dia. Nesse sentido, é preciso avaliar com cautela os procedimentos realmente necessários no momento, conforme o estado do animal. Por exemplo, uma otite aguda purulenta pode ser tratada inicialmente, com base apenas na visualização da abertura do canal auditivo e da porção inicial do canal vertical. Uma otoscopia terá valor limitado, já que a orelha estará repleta de exsudato e a manipulação vai aumentar os níveis de MAE do paciente. Se houver grande preocupação com a presença de um corpo estranho ou um nódulo, é melhor partir para a sedação e a anestesia e incluir uma lavagem ótica 2.

Uma boa anamnese se inicia com perguntas abertas sobre qual é a preocupação principal do cliente, permitindo que ele fale livremente sobre o que acontece com o animal e sobre como ele acha que o animal está se sentindo. Quando o médico-veterinário demonstra empatia e preocupação, os clientes ficam mais propensos a se abrir e contar a história completa. Formulários com escalas de níveis de prurido podem ajudar os tutores a dar uma nota para o prurido do animal, que será acompanhada ao longo do tempo 2.

É importante ser eficiente e ter todos os equipamentos e acessórios disponíveis para o exame físico no consultório, evitando a entrada e a saída de pessoas durante a consulta 2 (Figura 5):

• toalhas, mantas, fleece, tapete emborrachado;

• focinheiras de cesto para os cães (Figura 6);

• otoscópio com cones apropriados para exame otológico e para exame oral em coelhos;

• tubos com meio especial para colheita de material para cultura e antibiograma;

• lâminas;

• lamínulas;

• óleo mineral;

• corantes para citologia; 

• microscópio;

• pinça hemostática mosquito;

• haste flexível com ponta de algodão estéril;

• fita adesiva transparente;

• lâminas de bisturi;

• estetoscópio;

• balança;

• tesoura para corte de unhas;

• termômetro de ponta flexível e leitura rápida;

• petiscos trazidos pelo tutor ou petiscos como pasta de amendoim, pasta de queijo, alimentos úmidos e outros petiscos palatáveis para cães e gatos. Para os coelhos: ervas, verduras, flores, pedaços pequenos de frutas e petiscos feitos com feno e ervas.

 

Figura 5 – Kit para o exame dermatológico. Créditos: Márcia Sonoda

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Figura 6 – Focinheiras de cesto para os cães são mais confortáveis e ainda permitem que o animal coma o petisco. Créditos: Marcia Sonoda

 

Toda a equipe deve ser treinada e atualizada sobre o manuseio e os cuidados seguros e amigáveis apropriados para cada espécie 2,9.

Existem várias maneiras de controlar os níveis de MAE. Tapetes antiderrapantes ou emborrachados são úteis para evitar que os pacientes escorreguem durante as avaliações e protegem os animais das superfícies frias e reflexivas das mesas de atendimento (Figura 7). Os tapetes devem estar presentes nas balanças e nas mesas de atendimento e também podem ser usados no piso escorregadio e para acomodar o paciente que precisar 2.

 

Figura 7 – Tapete emborrachado colocado sobre a mesa. Créditos: Figura 7 – Tapete emborrachado colocado sobre a mesa

 

O uso de feromônios sintéticos, sob a forma de sprays e difusores, pode auxiliar no controle dos níveis de MAE em toda a clínica. Os feromônios sintéticos sob a forma de spray podem ser borrifados em toalhas usadas no manuseio dos animais, na mesa de atendimento e nos tapetes antiderrapantes 2.

Durante todo o exame dermatológico, o animal deve ser constantemente avaliado. Quando os níveis de MAE aumentarem, é necessário pausar ou ir devagar. A equipe e o profissional não devem continuar o exame quando o animal resistir ao manuseio por mais de 2 segundos no caso dos gatos ou mais de 3 segundos para os cães, em duas ou três tentativas, respectivamente. Dessa forma evita-se uma resposta emocional condicionada negativa, que dificultaria ainda mais o manuseio subsequente do animal 2.

Alguns animais precisam de sedação para se poder realizar o manuseio ou os procedimentos. As informações – incluindo os tipos de procedimentos responsáveis pela elevação dos níveis de MAE, os petiscos ou brinquedos usados como reforço positivo, o tipo de manuseio que foi mais bem tolerado pelo paciente e qual o modo de contenção que funcionou melhor, entre outros detalhes – devem ser incorporadas ao prontuário médico emocional, que é um registro importante que será adicionado às fichas de histórico dos pacientes 2,9.

Para facilitar o exame, os petiscos podem ser colocados nos bolsos da roupa do profissional, ficando disponíveis quando necessários. Podem ser oferecidos antes, durante e depois do atendimento. Alimentos úmidos, como pasta de amendoim, podem ser colocados em lickimats e até nas paredes para estimular a ingestão pelos pacientes durante o atendimento 2 (Figuras 8 e 9).

 

Figura 8 – Lickimat com comida úmida sobre a mesa durante o atendimento. Créditos: Márcia Sonoda­

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Figura 9 – Lickimat colocado na parede e utilizado durante o exame físico. Créditos: Márcia Sonoda

 

Para examinar áreas mais sensíveis, como a região do abdômen, alguns pacientes se sentem mais confortáveis se erguidos, deixando os membros posteriores em contato com o chão, enquanto outros se sentem mais confortáveis em posição lateral 2. Caso um coelho seja suspenso do chão, a parte traseira deve ser devidamente apoiada para evitar traumas na coluna e em outros ossos 4,41. Além do abdome, o toque de áreas mais sensíveis ao exame dermatológico, como as orelhas e os dígitos, devem ser realizados por último 2.

Às vezes, apenas coçar o local a ser examinado pode ajudar o paciente a relaxar durante o exame. Em casos de necessidade de tricotomia, considera-se o uso de tesoura ou máquina silenciosa de cortar pelos, para evitar os sons comumente assustadores dos tosquiadores. A pele é um órgão sensível e o mínimo toque pode causar prurido ou desconforto 2.

 

Principais procedimentos dermatológicos utilizando a metodologia Fear Free®

As técnicas associadas ao diagnóstico e à terapia dermatológica mais comumente realizadas são a otoscopia, o raspado cutâneo e a citologia de material da pele e das orelhas, que podem ser repetidas com frequência em diversos pacientes, principalmente naqueles acometidos pelas dermatites alérgicas, que são condições crônicas e recorrentes. Uma abordagem adequada (livre de medo), além de auxiliar na rotina e modular as respostas associadas precocemente à aversão, resulta em benefícios a longo prazo para os pacientes, em especial para aqueles que visitam frequentemente os consultórios e estão sujeitos a cuidados contínuos 2.

De modo geral, recomenda-se começar com as técnicas menos invasivas (por exemplo, esfregaços por imprint), deixando as técnicas mais invasivas por último (por exemplo, exame parasitológico de raspado de pele com lâmina de bisturi). Enquanto o esfregaço ou a raspagem são realizados, o animal recebe recompensas na forma de petiscos 2.

Antes de proceder o exame otológico, recomenda-se iniciar um gradiente de toque na região dos ombros, movendo a mão para o pescoço e depois para a base da orelha. Em seguida, o pavilhão é levantado, enquanto se toca a abertura do canal. É importante avaliar constantemente a resposta, oferecendo pausas e petiscos. Caso o animal não permita o toque, considera-se a sedação com medicamentos reversíveis e/ou analgesia. Para introduzir o otoscópio, o cone avança no canal vertical com a orelha em posição de repouso. Depois, estende-se suavemente o pavilhão auricular, enquanto o cone é introduzido em direção ao canal horizontal, em um único movimento de forma suave no centro do conduto auditivo sem tocar nas paredes (Figura 10). Os cones de diâmetros menores devem ser escolhidos para otoscopia com o animal acordado para não traumatizar o canal 2.

 

Figura 10 – Exame com otoscópio em coelho realizado com técnicas recomendadas pela plataforma Fear Free®. Créditos: Isabelle Tancioni

 

Durante a obtenção de material para citologia de cerúmen, a orelha do animal deve permanecer na posição relaxada, enquanto a haste flexível ou swab é introduzido no centro do canal vertical e girado de forma suave para não lesionar as paredes dos condutos 2. Material para exame parasitológico do cerúmen pode ser colhido do cone do otoscópio.

Para pesquisa de ectoparasitas como o Demodex spp, aconselha-se primeiro utilizar as técnicas menos invasivas e dolorosas como a impressão com fita adesiva ou a depilação de pelos antes de um exame de raspado cutâneo com lâmina de bisturi 42,43. Utiliza-se uma pinça hemostática mosquito para avulsionar de maneira rápida e suave alguns pelos da lesão, avaliando na lâmina com óleo mineral, ao microscópio, em seguida. Para a técnica da fita adesiva, pressiona-se a fita transparente por 2 a 3 segundos contra a pele por 2 a 4 vezes, depois remove-se a fita que é colocada em uma lâmina de vidro para análise microscópica. Se o resultado for negativo, deve-se avaliar e decidir se é necessário realizar a raspagem profunda ou não 2.

A pele é um órgão facilmente acessível para a realização de biópsias e, embora seja possível realizar a colheita de material com anestesia local, a plataforma Fear Free® recomenda que seja realizada a sedação em todos os pacientes, mesmo que leve e facilmente revertida, além da anestesia local, do alívio de dor pós-operatória e de outros cuidados apropriados 2.

Todos os procedimentos podem ser pausados ou pode ser utilizada sedação e controle de dor, caso ocorra aumento dos níveis de MAE, para o conforto e a segurança de todos 2.

Técnicas de dessensibilização e contracondicionamento podem ser utilizadas em sessões de treinamento feitas pelo veterinário ou profissional capacitado 2.

Os animais podem ser acostumados desde muito cedo, no período de socialização das espécies, a receberem manipulações e tratamentos, usando técnicas de dessensibilização e condicionamento clássico, pareando procedimentos, como o corte de unhas e a manipulação e limpeza de orelhas com estímulos agradáveis. Isso previne uma resposta emocional condicionada negativa aos procedimentos veterinários, como é o caso dos animais que apresentam uma escalada dos níveis de MAE assim que adentram os consultórios 2.

Entre outros procedimentos e tratamentos a serem realizados, cabe ao médico-veterinário também orientar os tutores sobre os cuidados com o corte de unhas (Figura 11) e oferecer dicas sobre como realizar o banho dos animais, de modo a minimizar os níveis de MAE 2.

 

Figura 11 – Corte de unhas de coelho realizado com técnicas recomendadas pela plataforma Fear Free®. Créditos: Isabelle Tancioni

 

O banho se tornou um componente crítico para o manejo da piodermite em cães, devido ao aumento da ocorrência de Staphylococcus pseudintermedius resistente à meticilina. O banho é uma alternativa aceitável ao uso de antibióticos sistêmicos em diversos casos. Além disso, o banho contínuo pode auxiliar na prevenção da recidiva de infecções bacterianas e fúngicas em animais com dermatopatias alérgicas, além de fortalecer a barreira cutânea, quando se acrescenta princípios ativos hidratantes. O tempo de contato da pele com o xampu é importante para eficácia do tratamento. Um tapete antiderrapante na banheira e dispositivos de alimentação lenta à prova d’água instalados na parede tornarão o  banho menos estressante para os animais e para as pessoas 2.

É importante salientar que o banho em coelhos não é recomendado, e somente deve ser feito como último recurso de tratamento 15,44.

 

Considerações finais

A pele é a principal barreira de proteção do organismo do meio externo, e qualquer alteração desse órgão tão visível aos olhos pode impactar drasticamente o vínculo entre o ser humano e o animal. Além disso, muitos tutores que têm animais com problemas dermatológicos já os submeteram a inúmeros tratamentos, com pouco ou nenhum resultado. Por isso, é muito importante que os médicos-veterinários saibam lidar com os clientes e os animais de forma amigável, utilizando abordagens sabidamente conhecidas por reduzir os níveis de estresse dos animais e melhorar o seu bem-estar. Além disso, grande parte das dermatopatias são crônicas, necessitando de triagens e tratamentos prolongados, que podem durar cerca de dois meses ou exigir cuidado por toda a vida do animal, como ocorre nos pacientes caninos e felinos acometidos por síndromes atópicas.

Numa consulta amigável, o médico-veterinário age com empatia e sem julgamentos, explicando detalhadamente cada passo do exame clínico e da colheita de exames laboratoriais, os possíveis diagnósticos e tratamentos, e conta com a participação ativa do tutor na melhor escolha para aquele animal. As instruções devem ser fornecidas por escrito, certificando-se de que o tutor tenha compreendido toda a consulta, incluindo o diagnóstico, o prognóstico, as opções de tratamento, as medicações prescritas (doses, via e frequência) e seus possíveis efeitos colaterais.

Alguns tratamentos dermatológicos, como os banhos e os tratamentos tópicos (uso de pomadas, cremes, sprays), podem ser estressantes e impossíveis de realizar em algumas espécies, como em gatos e coelhos, para os quais devem ser indicados apenas em situações de extrema necessidade. O médico-veterinário é o responsável por incentivar que os serviços de banho e tosa de animais utilizem os protocolos Fear Free® para cães, gatos e coelhos, por meio de uma boa divulgação sobre cuidados amigáveis e a promoção de atividades educativas, como palestras e workshops em parceria com empresas. Ainda sobre os cuidados de higiene, é importante que os profissionais eduquem os tutores sobre como realizar o corte de unhas com menos reações de medo e estresse (Figura 12).

 

Figura 12 – Corte de unhas de cão realizado com técnicas recomendadas pela plataforma Fear Free®. Créditos: Márcia Sonoda

 

O controle de ectoparasitas é frequentemente negligenciado no Brasil, o que pode trazer risco de sofrimento e morte para os animais, como ocorre nos coelhos acometidos por mixomatose e nos cães e gatos acometidos por hemoparasitose. Além disso, o desconhecimento e o controle ineficaz de zoonoses, como a leishmaniose e a esporotricose, podem afetar drasticamente o elo entre o animal e o tutor. Nesse contexto, vale ressaltar a importância da participação ativa do médico-veterinário no que concerne ao conceito de saúde única. Sendo assim, o uso de uma comunicação empática e efetiva, provendo conhecimentos atualizados aos tutores, é essencial para transmitir confiança e conforto diante de um quadro dermatológico potencialmente desafiador.

A abordagem Fear Free® aplicada à dermatologia veterinária é uma grande aliada para aumentar a confiança dos tutores, a adesão aos tratamentos crônicos e a concordância com a realização de inúmeros procedimentos diagnósticos e terapêuticos por vezes necessários nessa área de atuação tão importante para a medicina veterinária. Utilizar uma abordagem amigável e livre de medo tanto para os animais como para seus tutores proporciona maiores chances de que os animais exibam comportamentos associados ao bem-estar, fazendo com que os médicos-veterinários sejam reconhecidos como profissionais decisivos para o estabelecimento da saúde da família multiespécie.

 

Agradecimentos

Isabelle agradece aos funcionários e voluntários da SDHRS pela oportunidade de treinamento que tem realizado nesse abrigo especializado em coelhos, localizado na cidade de San Diego, Estados Unidos, desde 2018.

 

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