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Ambiente hospitalar veterinário

Unidades ou centros de exames laboratoriais

Layout adequado para agilidade na operação

Matéria escrita por:

Renato Couto Moraes

12 de jan de 2022

Sala de operação de um laboratório convencional de um hospital veterinário. Notar, o castelo – móvel típico de laboratório técnico (seta roxa), bancada própria para microscópio (seta laranja) – e bancada para aparelhos de bioquímica e hematologia (seta verde). Créditos: Renato Couto Moraes Sala de operação de um laboratório convencional de um hospital veterinário. Notar, o castelo – móvel típico de laboratório técnico (seta roxa), bancada própria para microscópio (seta laranja) – e bancada para aparelhos de bioquímica e hematologia (seta verde). Créditos: Renato Couto Moraes

Os exames complementares constituem importante ferramenta de auxílio diagnóstico, podendo estar dentro ou fora da estrutura de uma clínica ou de um hospital veterinário. É crescente a diferenciação no segmento veterinário, que conta com centros de diagnóstico especializados. Alguns são tão verticalizados em seus serviços que executam apenas exames laboratoriais ou apenas exames de imagem. Com menor investimento e taxas de lucratividade bem atrativas, o laboratório clínico se destaca nesse cenário.

Vale salientar que não existe resolução do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) ou qualquer resolução dos conselhos regionais (estaduais) especificamente para os laboratórios. Assim, mediante o conselho de classe, eles são classificados como clínicas veterinárias. Isso se estende aos pedidos de licença feitos às vigilâncias sanitárias municipais, que, na maioria das vezes, têm dificuldade em entender a ausência de certos serviços e ambientes nesse tipo de estabelecimento. Com isso, não há uma nomenclatura padronizada nem um rol de exigências para cada um dos vários tipos possíveis de serviços oferecidos. Em função dessa situação, convecionamos chamar de unidade de diagnóstico o local interno de uma clínica ou de um hospital veterinário, e, por outro lado, de centro de diagnóstico uma unidade totalmente segregada, um negócio separado.

Outra questão é a obrigação da existência do laboratório clínico em hospitais veterinários, dotado dos equipamentos mínimos apresentados na Resolução CFMV nº 1.275 de 2019: centrífuga de micro-hematócrito, refratômetro, glicosímetro, lactímetro, microscópio e fitas de urinálise. É consenso que essa exigência está longe de ser suficiente para um atendimento de qualidade ao paciente animal, sendo que, muitas vezes, mantém-se a estrutura mínima e solicitam-se exames laboratoriais externamente ao hospital veterinário.

 

Sala de operação de biologia molecular de um centro de exames laboratoriais. Em A, notar os armários para guarda de material (setas verdes), o castelo – móvel típico de laboratório técnico (seta roxa) – e a estação de água (seta laranja). Em B, notar o castelo (seta roxa) e a capela para manipulação protegida (seta vermelha). Créditos: Renato Couto Moraes

 

A primeira consideração quando se monta um laboratório clínico é escolher os serviços a serem prestados, a saber: hematologia, exames de urina, fezes, bioquímica, citologia, dermatologia, biologia molecular, sorologia, líquidos cavitários (pleural, pericárdico, abdominal e sinovial), patologia e microbiologia. A partir dessa escolha dos serviços, inicia-se a configuração do local, que deverá ter espaço particular e equipamentos especializados para cada finalidade.

Seja em uma unidade laboratorial ou em um centro de diagnóstico, vê-se uma oportunidade de mostrar os serviços de “bastidores” ao cliente, pois permitir que o tutor veja uma estrutura física com equipamentos especializados dará mais credibilidade ao empreendimento. Assim, não se recomenda esconder a sala de realização das atividades no fundo da edificação, sem que o tutor possa vê-la. Naturalmente, que outros ambientes são mais importantes e precisam ter uma localização privilegiada, ou seja, mais próxima da entrada. Contudo, adotar uma posição estratégica quase sempre é possível, e também a apresentação do espaço com comunicação visual que leve o tutor até o local e a instalação de visores para permitir ampla visualização. Devemos lembrar que visitar um laboratório não é comum para a maioria dos tutores; mas a observação de um ambiente parecido com os vistos em filmes e minisséries dá uma noção do valor do trabalho técnico ali realizado.

Pensando nas principais necessidades de um clínico veterinário, a atividade inicial de um laboratório clínico deve ser a realização de exames de hematologia, bioquímica e de urina, e esse pode ser chamado de laboratório convencional. Nele serão realizados os exames de hematologia: hemograma, mielograma, velocidade de hemossedimentação e provas de coagulação, entre outros. Na área de bioquímica, os exames consistem fundamentalmente em: glicose, colesterol, triglicerídeos, função hepática, função renal, função cardíaca, eletrólitos, etc. Já para o exame de urina, mensura-se o pH e a densidade, além das características (presença de leucócitos, de hemácias, de sedimentos, etc.). Para esse trio de serviços (hematologia/bioquímica/urina), o espaço pode ser único, com bancadas separadas, sendo uma para equipamentos, outra para tarefas manuais e outra para análise ao microscópio. Uma questão muito importante é que a bancada do microscópio seja de fato separada das demais operações do laboratório, pois a mínima trepidação já prejudica muito a visualização da lâmina. Dependendo do tipo de equipamento de bioquímica, poderá ser necessária uma estação de água para produzir água ultrafiltrada.

Outra escolha de laboratório clínico seria para o exame parasitológico de fezes e urina. Esse tipo de exame deve ser realizado em um ambiente totalmente segregado, mesmo que faça parte de um laboratório clínico, pois a contaminação do ambiente é certa durante o manuseio das fezes, além do cheiro desagradável. Um cuidado necessário consiste em ter uma exaustão forte no ambiente, estabelecendo assim uma pressão negativa (interna menor do que externa) que lance o ar retirado para longe de outras janelas, sempre que possível acima da edificação.

As técnicas e os equipamentos para detecção de doenças infecciosoas e não infecciosas têm-se aprimorado bastante nos últimos anos, razão pela qual o número de laboratórios de sorologia e biologia molecular tem crescido. Os materiais empregados nesse tipo de laboratório devem ser tratados com extremo cuidado, porque tanto a sensibilidade quanto a especificidade de detecção são altamente afetadas por um ambiente contaminado com material particulado, orgânico ou não, podendo acarretar em falsos positivos ou negativos. Dessa forma, a análise de controles negativos e positivos de cada reação é fundamental para um processo de qualidade.

Em geral, o laboratório de patologia está separado da estrutura de uma clínica ou de um hospital veterinário. Nesse caso, a estrutura física não demanda sala de coleta de material nem recepção para tutores. É comum haver uma bancada para necropsia com torneira e ponto de esgoto, bem como um laboratório de processamento histopatológico.

É mais comum o laboratório de microbiologia estar incluído dentro de uma unidade ou de um centro de diagnóstico do que ser uma estrutura totalmente à parte, pois muitas amostras biológicas são passíveis de cultura para detecção de doenças, tais como hemocultura e urocultura. Mas é obrigatório que ele fique num ambiente separado das demais atividades do laboratório, e também tenha obrigatoriamente:

a) capela (ou cabine de segurança biológica ou fluxo laminar) para as tarefas de manuseio da amostra;
b) autoclave para esterilização do material (não se pode terceirizar, como é feito com o instrumental cirúrgico em clínicas veterinárias); e
c) estufa para manuteção dos exemplares-padrão (“bacterioteca”).

O laboratório de dosagens hormonais é o menos comum na maioria dos estabelecimentos, por necessitar de aparelho de radioimunoensaio na maior parte das mensurações e de kits importados com data de validade restrita, que necessitam de armazenamento frio e uso em tempo hábil. Além disso, uma especialidade de espaço para esse tipo de laboratório é o abrigo de resíduos, que deve contar com uma parte de descarte de resíduos radiativos, que só serão levados pelo coletor após a curva de decaimento radiativo. Dessa forma, na grande maioria das vezes ele é um setor de um centro de exames laboratoriais maior.

Vale salientar que o oferecimento dos serviços de exames laboratoriais deve ser coerente com o espaço, os equipamentos existentes e os profissionais envolvidos. Não se pode ter os melhores equipamentos sem ter um médico-veterinário competente para as tarefas a realizar. Também não se pode acreditar em certas simplicidades quando se inicia um projeto de um laboratório, e crer que se consiga um exame confiável, como por exemplo, uma análise de um exame de urina, que não se restringe somente ao uso de uma fita, ou um hemograma, que não é um resultado impresso da máquina.

 

Sala de operação de laboratório convencional de um centro de exames laboratoriais. Notar bancada própria para microscópios (seta roxa), evaporadoras de ar condicionado (setas azuis), prateleiras para guarda de insumos (setas verdes), estação de água (seta amarela) e, pias para lavagem de mãos e de amostras materiais (setas laranjas). Créditos: Renato Couto Moraes

 

Os requisitos mínimos para um laboratório clínico convencional incluem:

a) recepção (se possível separada para cães e para gatos);
b) sala de coleta de amostra com mesa impermeável, pia de higienização de mãos e gabinete para guarda de material;
c) sala com prateleiras ou armário para guarda de insumos;
d) depósito de material de limpeza;
e) central de material e esterilização quando se oferece serviço de microbiologia;
f) sala de operação; e, por fim,
g) abrigo de resíduos.

Quanto à última exigência, cumpre lembrar que esse abrigo deve levar em consideração a presença ou não de resíduos químicos e radiativos. A sala de operação se refere propriamente ao local da realização dos exames, sejam eles: hematologia, exame de urina, de fezes, bioquímica, citologia, dermatologia, biologia molecular, sorologia, de líquidos cavitários (pleural, pericárdico, abdominal e sinovial), patologia e microbiologia.

Um grande diferencial de ambiente, porém não obrigatório, é a existência da janela de transferência (do inglês pass-through) para a sala de operação. Essas janelas podem ser instaladas em pontos estratégicos do laboratório para recepção de:

a) material proveniente dos entregadores (“bioentregadores”);
b) material do próprio estabelecimento;
c) comunicação entre ambientes como setor de parasitologia e laboratório principal;
d) comunicação entre microbiologia e laboratório principal; entre outras possibilidades.

Do ponto de vista de biossegurança, as janelas de transferência permitem melhor limpeza e controle de contaminação, seja de entrada ou saída, isto é, de origem externa ou interna do laboratório. Deve-se lembrar que as roupas dos bioentregadores, na maior parte motociclistas, podem ser contaminadas tanto pelo contato direto com o ambiente comum como com ambientes de saúde animal (pontos de coleta).

Aconselha-se que se projetem bancadas próprias para computadores para digitação dos parâmetros, dos resultados ou mesmo do laudo, e que esses equipamentos não sejam utilizados nas bancadas de equipamentos e de tarefas de processamento de amostras. Alguns tipos de laboratórios, como microbiologia e parasitologia, devem ter um ambiente somente para laudos e comunicação com outros médicos-veterinários (solicitantes dos exames).

De maneira indistinta, é aconselhável ter:
a) uma rede elétrica estabilizada (funcionamento dos equipamentos com exatidão);
b) iluminação difusa compatível com o mobiliário e os equipamentos;
c) duas áreas de lavagem para materiais e amostras (lâminas em coloração rápida, por exemplo) e outra para a lavagem de mãos da equipe.

Alguns cuidados adicionais incluem:
a) uso de ar-condicionado para manutenção de temperatura controlada de forma a ter a menor oscilação possível para a operação técnica dos equipamentos;
b) uso de exaustor para renovação do ar dentro de cada setor, promovendo ambiente com pressão negativa no setores contaminados e pressão positiva nos demais;
c) luminosidade de média intensidade e branco-neutra ou fria para o setor de operação;
d) tela milimétrica nas janelas; e
e) molas aéreas nas portas, para garantir seu fechamento.

O setor de operação de um laboratório clínico é classificado como área crítica, independentemente do tipo. Sendo assim, a restrição de decoração é superior à dos ambientes semicríticos abordados em edições anteriores. Alguns aspectos gerais são os mesmos do bloco cirúrgico: paredes e pisos de fácil higienização com agentes químicos mais severos e com maior frequência; e objetos de iluminação embutidos (sempre que possível) ou sobrepostos com menor altura. Pode-se trazer as cores da logomarca, mantendo a identidade visual do estabelecimento dentro do setor de operação com a aplicação de faixas de cerâmica, azulejos ou pastilhas de vidro sem sobressalto e móveis com parte das cores da logomarca, mas nunca utilizar papel de parede, nichos com enfeites e outras opções decorativas empregadas na recepção, por exemplo.

Em resumo, as unidades ou centros de exames laboratoriais, quando tecnicamente projetados, trazem diferenciais marcantes para a excelência nos resultados dos exames, possibilitando confiabilidade nos resultados, biossegurança e praticidade operacional aos médicos-veterinários e técnicos.

 

 

 



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