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Ambiente hospitalar veterinário

Internação – layout moderno para práticas seguras

A decisão de deixar um animal sob os cuidados do estabelecimento veterinário é baseada em confiança por parte do tutor

Matéria escrita por:

Renato Couto Moraes

18 de nov de 2021

Créditos: Renato Couto Moraes Créditos: Renato Couto Moraes

Outro momento tenso para qualquer tutor é a necessidade de internar o seu animal. A decisão de deixar um animal sob os cuidados do estabelecimento veterinário é baseada em muita confiança por parte do tutor, e isso traz ainda mais responsabilidade para o estabelecimento. Ressalta-se novamente a oportunidade de mostrar a preocupação do local de saúde animal com todos os aspectos, incluindo os ambientes restritos ao público. O fato de o tutor entender que a estrutura física dedicada ao cuidado do seu animal se baseia nos quatros pilares de um ambiente pet friendly – a saber: higiene, conforto, bem-estar e segurança – traz mais confiança nos procedimentos adotados e nos valores cobrados. Assim, a velha gaiola de metal não parece fazer muito sentido quando se deseja diferenciação e maior valor agregado.

Vale salientar que o oferecimento dos serviços de internação deve ser coerente com o espaço, os equipamentos existentes e a espécie animal. Por exemplo, não se pode oferecer uma internação a um paciente grave sem ter todos os equipamentos que caracterizem um monitoramento intensivo. Outro exemplo: é inadequado aceitar um animal silvestre e colocá-lo numa baia destinada a cães e no mesmo ambiente ocupado por outros animais de outras espécies, como por exemplo, predadores. Em ambos os exemplos, a solução responsável e ética consiste em encaminhar o animal a outro estabelecimento veterinário. A sugestão é fazer analogia com a saúde humana: conforme o paciente (infantil, adulto, idoso, etc.), a especificidade do tratamento (nefrológico, cardiológico, etc.) e mesmo a gravidade (semi-intensivo, intensivo, etc.), o paciente humano pode ser destinado a outra unidade de saúde.

 

Corredor de circulação de um hospital veterinário. Notar a segregação física entre o setor de internação de cães (oval laranja) e de gatos (oval vermelho), conforme indicação das setas de comunicação visual nas paredes. Créditos: Renato Couto Moraes

 

De acordo com as melhores práticas de biossegurança, os ambientes ideais de um setor de internação de uma clínica ou de um hospital veterinário de cães e gatos seriam: a) sala de procedimentos ou posto de enfermagem; b) sala para cães com processos infecciosos; c) sala para cães com processos não infecciosos; d) sala para gatos; e e) sala para gatos com processos infecciosos. Este artigo apresenta um detalhamento da operação dos ambientes e algumas considerações do setor de internação, visando que as orientações sejam mais bem compreendidas.

A sala de procedimentos pode ser um ambiente destinado a realizar as tarefas de identificação do paciente, canulação, tricotomia, medicação e outras, antes de se encaminhar o animal à baia ou ao alojamento na sala específica, conforme a necessidade. Um outro uso racional do espaço físico consiste em ter um posto de enfermagem que dê suporte logístico a todas as salas da internação, em vez de uma sala de procedimentos em um ambiente separado. Tanto a sala de procedimentos como o posto de enfermagem facilitam o fluxo de pacientes e da equipe, além do compartilhamento de móveis, equipamentos e outros. Um ponto de destaque na concepção desses espaços é a luminosidade diferencial sobre a mesa de procedimentos com média intensidade (maior do que a de salas de internação) e temperatura de cor branco-neutro ou branco-frio.

 

Sala de internação de cães não infecciosos de um hospital veterinário. Notar posto de enfermagem central com mesa de inox (seta roxa), pia para lavagem de mãos (seta rosa), gabinete para guarda de estéreis (seta cinza), pontos de oxigênio (setas verdes), pontos de iluminação internos (setas marrons) e pontos de tomada (setas azuis) para bombas de infusão (seta vermelha) e/ou colchão térmico. Créditos: Renato Couto Moraes

 

Segregar os cães por tipo de enfermidade é essencial para evitar infecção hospitalar, termo bem conhecido pela maioria dos tutores na sua relação de saúde pessoal ou familiar. Imagine um cão desidratado apresentar, alguns dias depois de retonar à casa do tutor, um quadro de hepatite infeciosa canina sem ter tido contato com nenhum outro cão fora do ambiente hospitalar. Provalmente se cogitará o fato de o animal ter contraído a infecção no estabelecimento veterinário, caso os cuidados com essa questão nesse espaço tenham sido inadequados. Em gatos, a distinção clínica baseada apenas nos sintomas iniciais de enfermidades infecciosas e não infeciosas é mais difícil; assim, recomenda-se uma sala geral de internação para gatos e outra para gatos infecciosos, uma vez que a enfermidade seja confirmada por exames laboratoriais.

Caso haja alojamentos verticais, as suas instalações e layout devem ser planejados. Ao projetar um alojamento vertical de animais, é crucial ter todas as medidas corretas, em todas as direções, e em especial a da altura. Não se pode querer fazer o uso máximo de uma sala e colocar três ou quatros alojamentos empilhados, em que no último andar os animais estejam em uma altura não ergonômica para os profissionais, com risco de o animal cair ao ser manipulado e que não permita a inspeção visual durante a estadia.

 

Sala de internação de cães não infecciosos de um hospital veterinário. Notar posto de enfermagem central com mesa de inox (seta roxa), pia para lavagem de mãos (seta verde), baias para cães de grande porte (setas amarelas) e visor grande da sala de plantonistas (seta vermelha), que permite que a equipe observe o setor de internação. Créditos: Renato Couto Moraes

 

As demais dimensões também merecem atenção. Muitos veterinários pensam que é possível atender cães pequenos e gatos em um espaço apertado, mas isso constitui um engano. O espaço do alojamento deve permitir ao animal ficar em estação e que possa virar-se dentro dele. Assim, o estabelecimento deve ter alojamentos diferentes para portes diferentes. Além disso, é preciso cuidado na escolha dos materiais de construção dos alojamentos. Pode-se utilizar drywall, bastando prover impermeabilização adequada em todos os encontros, sendo essa medida um acabamento obrigatório também no piso de cerâmica ou porcelanato e nas paredes com pintura epóxi ou revestimento. 

Ao escolher portinhas transparentes, deve-se usar obrigatoriamente vidro temperado, pois as de acrílico não toleram álcool como saneante e acabam por quebrar em um intervalo relativamente curto de tempo.

Ao planejar a montagem de uma internação intensiva, pode-se usar ou não carrinhos de transporte de animais de inox disponíveis no mercado.

 

Sala de internação geral de gatos de um hospital veterinário. Notar baias grandes (setas amarelas) e pequenas (setas rosadas), pontos de oxigênio (setas verdes), pontos de iluminação internos (setas marrons) e pontos de tomada (setas azuis) para bombas de infusão (seta vermelha) e/ou colchão térmico. Créditos: Renato Couto Moraes

 

Por fim, ao pesquisar produtos e equipamentos para montar um espaço de internação, é recomendável não se deixar impressionar com fotos atraentes de aplicativos que muitas vezes oferecem utensílios inadequados nos aspectos sanitário e ergonômico.

Apesar de não ser obrigatória, a sala de visita da internação pode constituir um grande diferencial. Esse ambiente segregado permite ao tutor visitar seu animal com maior comodidade e ao mesmo tempo auxilia na manutenção dos aspectos de segurança do paciente. O tutor fica em um ambiente separado, com a devida privacidade para manifestar suas emoções e crenças sem os distúrbios provocados pela presença de outros animais ou pelo trabalho da equipe. Além disso, a equipe veterinária mantém sua rotina de trabalho com os demais animais sem ser perturbada por visitantes, o que traz maior segurança ao paciente, uma vez que os erros de medicação são mais frequentes quando o processo é interrompido.

Os requisitos mínimos para o setor de internação incluem: a) mesa impermeável; b) pia de higienização; c) ambiente para higienização do paciente com disponibilização de água corrente; d) baias, boxes ou outras acomodações individuais de fácil higienização e compatíveis com os pacientes a elas destinadas; e) armário para guarda de medicamentos e materiais descartáveis; f) sistema de aquecimento para o paciente (colchão térmico, aquecedor de ambiente); e f) isolamento para pacientes com doenças infectocontagiosas. Quanto à última exigência, cumpre afirmar que o isolamento para animais com doenças infecciosas é obrigatório não apenas para as clínicas veterinárias que optarem por esse tipo de internação, mas para quaisquer hospitais veterinários.

 

Setor de internação de cães de um hospital veterinário. Notar baia grande (seta amarela), setor infeccioso (seta vermelha), setor não infeccioso (seta laranja), ponto de enfermagem (seta verde) e carrinho para transporte (seta roxa). Créditos: Renato Couto Moraes

 

Alguns cuidados adicionais incluem: a) proteção acústica dos demais ambientes, para permitir tranquilidade; b) uso de ar-condicionado para manutenção de temperatura confortável no ambiente; c) uso de exaustor para renovação do ar dentro do setor, promovendo ambiente com pressão negativa no setor infeccioso e mantendo pressão positiva no setor não infeccioso; d) luminosidade de baixa intensidade e branco-quente para alojamentos e corredores; e) luminosidade de média intensidade e branco-neutro ou frio para setor de procedimentos ou sob a mesa de procedimentos; f) tela milimétrica nas janelas; g) alguns pontos de oxigênio medicinal; h) aparelho de monitoramento; e i) bomba de infusão.

Apesar de a Resolução CFMV nº 1.275/19 permitir a recuperação anestésica dentro do setor de internação ou da sala de cirurgia, conforme citado no artigo publicado na edição 154, a existência de uma sala de indução e recuperação anestésicas própria para essa finalidade melhora a estrutura física. Dessa forma, o setor de internação fica restrito ao uso de animais que necessitem de cuidado intensivo ou semi-intensivo.

 

Salas de visita da internação de um hospital veterinário. Notar a presença de três espaços restritos com portas de vidro. Créditos: Renato Couto Moraes

 

O setor de internação é classificado como área semicrítica; assim, a restrição de decoração é superior à de ambientes não críticos já abordados em artigos anteriores. Alguns aspectos gerais são semelhantes aos do bloco cirúrgico: paredes e pisos de fácil higienização com agentes químicos mais severos e com maior frequência, e objetos de iluminação embutidos (sempre que possível) ou sobrepostos com menor altura. Pode-se trazer as cores da logomarca, mantendo a identidade visual do estabelecimento dentro do setor de internação com a aplicação de faixas de cerâmica, azulejos ou pastilhas de vidro sem sobressalto. A aplicação de papel de parede e a presença de nichos com enfeites e outras opções decorativas da recepção, por exemplo, são proibidas.

A comunicação visual de cada ambiente do setor de internação é importante para direcionar corretamente o fluxo dos profissionais, além de ser útil aos médicos-veterinários do tipo volante.

Em resumo, o setor de internação tecnicamente projetado traz diferenciais marcantes para a excelência do atendimento médico-veterinário, possibilitando conforto e bem-estar aos animais, biossegurança (desinfecção de alto nível) e segurança operacional aos médicos-veterinários.

 

 

 



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