Saúde animal e a importância da pesquisa clínica no Brasil
Especialistas abordam o futuro do setor veterinário, com foco em avanços científicos, mercado aquecido e acesso a produtos de qualidade, com eficácia e segurança

I Encontro Nacional de Pesquisa Clínica Veterinária, promovido pela Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica (SBPPC), aconteceu em São Paulo, no dia 20 de março de 2025. O evento reuniu especialistas, pesquisadores e representantes do setor para discutirem o futuro da saúde dos animais, com impactos também na área da saúde humana.
De acordo com últimos dados da Organização Mundial da Saúde Animal, quase 75% das doenças infecciosas emergentes que afetam os seres humanos tiveram origem animal. Alguns exemplos são o ebola, a febre amarela, a dengue, a raiva e a gripe aviária. Além disso, 80% dos agentes que apresentam potencial para serem usados como armas de bioterrorismo são patógenos zoonóticos.
A dra. Greyce Lousana, presidente executiva da Sociedade Brasileira de Profissionais de Pesquisa Clínica, médica-veterinária e uma das maiores referências em pesquisa clínica no País, enfatizou que a próxima pandemia não será evitada apenas com vacinas, mas com vigilância constante dos habitats onde os vírus circulam. “Se não tivermos uma interação entre médicos-veterinários e demais profissionais de saúde, o futuro da humanidade será cada vez mais caótico. É fundamental termos uma visão ampla nesse ecossistema”, reforçou a especialista.
Um dos viéses abordados no I Encontro Nacional de Pesquisa Clínica Veterinária da SBPPC foi a importância da pesquisa e inovação para garantir a saúde dos animais, bem como o crescimento do mercado pet e a necessidade de facilitar o acesso a produtos de qualidade para todos os tutores, independentemente de sua renda.
O dr. Emilio Salani, vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), ressaltou que a pesquisa é essencial para o desenvolvimento de produtos, como medicamentos veterinários eficazes e seguros. “A pior vacina é aquela que não existe. O interesse é comum, não existe interesse díspar. Nós temos um usuário do produto e ele é um grande fiscal. Qualquer produto que tenha qualquer desvio, seja deficiência ou segurança, lá na ponta, será colocado em segundo plano,” afirmou. Ele destacou que a pesquisa clínica garante que os produtos atendam aos mais altos padrões, beneficiando tanto os animais quanto seus tutores.
O coordenador da Fiscalização de Produtos Veterinários da DSA/MAPA – Ministério da Agricultura e Pecuária, dr. Lucio Kikuchi, complementou essa visão, enfatizando que a pesquisa robusta é a base para a aprovação de medicamentos seguros e eficazes. “Ela garante que os produtos veterinários que chegam ao mercado são de alta qualidade e segurança,” afirmou Kikuchi, reiterando o compromisso do MAPA em assegurar a qualidade dos produtos disponíveis no mercado.
Oportunidades e desafios do Mercado Pet: Brasil terá 101 milhões de animais de estimação até 2030
Segundo dados de uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para a Comissão de Animais de Companhia (Comac), até 2030 o Brasil terá aproximadamente 101 milhões de cães e gatos, o que representa um aumento de quase 26% em relação a 2019. Com esse crescimento, o mercado de produtos e serviços pet se vê desafiado a acompanhar a demanda e oferecer cada vez mais opções.
Em 2024, o faturamento do mercado pet brasileiro foi de R$ 75,4 bilhões, de acordo com dados do Instituto Pet Brasil (IPB), o que representa um crescimento de 9,6% em relação a 2023. Cinthia Lenz Cesar, da gestão de projetos do IPB, comentou que “os números demonstram o avanço consistente do setor de produtos veterinários e a relevância da pesquisa no aprimoramento contínuo da indústria”.
A dra. Greyce, ressaltou que a pesquisa clínica impulsiona a inovação e o desenvolvimento de produtos e serviços que atendem às crescentes necessidades dos animais de estimação e seus tutores, abrindo novas oportunidades para o setor e garantindo a longevidade dos animais, tudo com eficácia e segurança. “A população precisa estar muito atenta aos produtos que adquire para seus pets, nem tudo é confiável”, enfatiza a especialista.
O dr. Lucio Kikuchi destacou o papel fundamental da pesquisa na aprovação de medicamentos veterinários, ressaltando que a base científica coloca o Brasil como líder no fornecimento de produtos de qualidade e seguros para o mercado. “A pesquisa robusta garante que os produtos veterinários que chegam ao mercado são de alta qualidade e segurança”, afirmou.
Por isso, a ética na pesquisa é outro ponto fundamental. Para a dra. Mitika Kuribayashi Hagiwara, do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), é crucial seguir os mais altos padrões éticos nos estudos científicos, garantindo a integridade dos resultados e a confiança do público.
Já o dr. Murilo Vieira da Silva, membro do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) e presidente da Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório (SBCAL), falou sobre a importância da avaliação da CEUA (Comissão de Ética no Uso de Animais) para o cumprimento das normas éticas e legais para o bem-estar animal.
O papel do responsável técnico nas pesquisas também é de extrema relevância na visão da dra. Ana Helena Pagotto Stuginski, secretária-geral do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP). “A fiscalização eficaz depende da capacitação contínua de todos os envolvidos”, explicou.
Durante o debate, também se discutiu a farmacovigilância como uma ferramenta essencial para a segurança e a renovação de produtos veterinários. A dra. Mayara Pinto, chefe do Serviço de Farmacovigilância do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), falou sobre a importância de uma vigilância eficiente para identificar reações adversas e monitorar a eficácia dos medicamentos. “Nosso objetivo é identificar precocemente reações adversas desconhecidas, monitorar desvios de eficácia e avaliar continuamente a relação benefício-risco dos medicamentos veterinários”, enfatizou.
Esses debates foram essenciais para reforçar a ideia de que o avanço da pesquisa clínica veterinária no Brasil requer colaboração contínua entre indústria, academia e órgãos reguladores para garantir a integridade e o sucesso das inovações no setor. “Temos um grande desafio pela frente, que é garantir o acesso da população de baixa renda a produtos de qualidade, para que possam cuidar de seus pets da melhor forma possível”, afirmou dr. Paulo Frange, vereador da Câmara Municipal de São Paulo.
Semana Municipal de Informação e Divulgação da Pesquisa Clínica
Além do I Encontro Nacional de Pesquisa Clínica Veterinária, São Paulo sediou a Semana Municipal de Informação e Divulgação da Pesquisa Clínica, entre os dias 17 e 22 de março de 2025. O evento, consolidado pela Lei nº 14.485/2007, é um marco na conscientização da população sobre a importância da pesquisa clínica para a saúde.
A programação contou com a participação de grandes nomes do setor e incluiu o XXVI Encontro Nacional de Profissionais em Pesquisa Clínica, no dia 22 de março, para discutir o futuro da pesquisa clínica no Brasil.
Sobre a SBPPC
A Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica (SBPPC) é uma entidade civil de finalidade não lucrativa, idealizada e fundada em junho de 1999 por um grupo de profissionais atuantes na área de pesquisa clínica. A iniciativa surgiu a partir da ideia e determinação da profa. Greyce Lousana, bióloga e médica-veterinária, que respondeu pela presidência da instituição de 1999 a junho de 2007.
A SBPPC foi a primeira associação brasileira a se preocupar com todos os profissionais que participam direta ou indiretamente do processo de condução de pesquisa clínica com foco na saúde humana e na saúde animal. Entre seus objetivos, estão: a integração dos diferentes profissionais do setor e a divulgação do tema “pesquisa clínica” para a população leiga.
Em suas atividades diárias, a SBPPC procura manter uma constante troca de informações entre as iniciativas pública e privada, instituições de ensino e pesquisa, instâncias governamentais, pesquisadores e demais interessados no tema. Os membros da diretoria, conselho consultivo e comissões técnicas de assessoramento, trabalham para promover ações de interesse de seus associados e profissionais da área.
Site: www.sbpcc.org.br
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