2025 será um ano de comemorações, mas os preparativos começam agora!

Menu

Clinica Veterinária

Início Notícias Pesquisa Combate à leishmaniose com nanotecnologia
Pesquisa

Combate à leishmaniose com nanotecnologia

Matéria escrita por:

Clínica Veterinária

3 de jul de 2018

Arquivo IPT Arquivo IPT

De 700 mil a 1,2 milhão: gira em torno desses números os novos casos de leishmaniose tegumentar registrados anualmente no mundo, segundo a Drugs for Neglacted Diseases initiative (DNDi) – http://www.dndi.org/, concentrados sobretudo em uma lista de nove países da África e América do Sul – incluindo o Brasil. Um estudo realizado no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) busca o de sen volvimento de um novo medicamento para combate à doença, que se utiliza da tecnologia de nanocarreadores para elaborar um tratamento tópico, menos invasivo e mais eficiente aos pacientes, além de menos dispendioso aos serviços públicos de saúde.

Fruto dos resultados do mestrado profissional desenvolvido pela técnica Thais Aragão Horoiwa, do Laboratório de Processos Químicos e Tecnologia de Partículas do IPT – http://goo.gl/j9Mvqm, as pesquisas já renderam uma patente para o Instituto e, atualmente, a formulação inicial do medicamento passa por testes pré-clínicos no Instituto de Ciências Bio médicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).

 

Tecnologia

A pesquisa desenvolvida por Thais visa a criação de um medicamento para uso tópico (pomada ou creme) que possa ser aplicado pelo próprio paciente. A tecnologia é baseada no uso de nanocarreadores poliméricos coloidais, sistemas capazes de levar medicamentos diretamente até o local do organismo onde devem agir, construídos em uma escala de tamanho de 1 nanômetro – ou 1 bilionésimo de metro.

“Essas nanoestruturas são formadas por polímeros biodegradáveis que carregam, como uma cápsula, o medicamento até o foco da doença, ou seja, o protozoário hospedado na pele”, explica Thais. “O grande diferencial do projeto é o uso de um açúcar, a maltodextrina, para o carreamento do antimoniato de meglumina”.

Thais conta que a tecnologia funciona como uma espécie de “cavalo de Tróia”. Isso porque o protozoário, alojado na epiderme, apresenta receptores em sua parede celular que reconhecem moléculas de glicoconjugados produzidas a partir de açúcares recebidos pelas células. “O uso da maltodextrina faz com que o medicamento atinja preferencialmente as células infectadas, porque o colocamos dentro de uma molécula que o parasita necessita em seu metabolismo. Em tese, o açúcar iria preferencialmente para as células que o estão demandando mais”, explica a técnica.

Outra inovação do projeto está no fato de ela basear-se em uma dispersão inversa em que nanoestruturas hidrofílicas estão envoltas em um silicone biodegradável, já utiliza do pela indústria farmacêutica em outros medicamentos. O silicone é biocompatível e um facilitador da interação do medicamento com a pele porque reduz a tensão superficial, melhorando a espalhabilidade e a permeabilidade dos componentes da formulação através das células epiteliais e também promovendo a entrega do fármaco em camadas mais profundas da pele.

A formulação inicial passou por dois testes principais no IPT: o de liberação e o de permeação cutânea. O primeiro comparou o perfil de liberação do fármaco encapsulado na pele com o fármaco livre, utilizado nas doses injetáveis do tratamento atual. Resultado: ao passo que o fármaco livre é liberado de uma só vez, tendo uma atuação por tempo limitado no organismo, o nanocarreador promove uma liberação sustentada, que cresce ao longo do tempo. “Isso pode indicar que, no caso do uso de uma pomada, por exemplo, o paciente poderia fazer um curativo e deixar o medicamento agir na ferida por um tempo mais prolongado, sem a necessidade de reaplicação recorrente da dose”, afirma a técnica.

O desafio no segundo teste era entender se o fármaco encapsulado e de forma tópica conseguiria passar pelo estrato córneo da pele, camada que recobre a epiderme (onde está o protozoário). Para tal, a formulação foi aplicada em uma membrana animal semelhante à pele humana.

“O fármaco encapsulado não apenas penetra nas camadas mais profundas da pele, como se mantém mais concentrado do que o medicamento livre. Apesar de uma parte considerável ficar retida no estrato córneo, também consideramos o fato de que, quando a doença está instalada, observam-se feridas onde essa camada superior não está mais presente. Como o medicamento seria aplicado diretamente na epiderme, espera-se que a eficiência seja ainda maior”, avalia ela. 

Segundo Thais, os ensaios de permeação cutânea também mostraram que o fármaco não chegaria à corrente sanguínea mesmo estando encapsulado em uma estrutura nanométrica, ficando retido preferencialmente nas camadas da pele. Em termos práticos, isso significa que a chance de haver efeitos colaterais é muito menor.

 

Desenvolvimento

A formulação criada no IPT passa, agora, por testes preliminares no ICB-USP, cujo principal objetivo é avaliar a eficiência dos nanocarreadores contra o protozoário em animais. Embora o antimoniato de meglumina tenha ação efetiva comprovada no tratamento, é preciso entender como o sistema de nanocarreamento elaborado no IPT traz ganho em comparação com a terapêutica atual.

“Nessa fase, procuramos observar o efeito tóxico do com posto diretamente contra o parasita in vitro”, explica Mauro Javier Cortez Veliz, pesquisador do Departamento de Parasitologia do ICB. “Inicialmente estamos trabalhando com a Leishmania amazonensis, causadora de dois tipos de leishmaniose cutânea, mas a ideia é realizar testes em diferentes espécies e entender a eficácia da droga em combatê-las”.

Testes de citotoxicidade, ou seja, que garantam que o medicamento não afetará de forma agressiva também as células saudáveis, são o último passo para comprovar a eficácia do fármaco. “Em caso de sucesso nos testes, a metodologia principal será a realização de testes em modelo animal, em que será possível comprovar efetivamente a eficácia do tratamento tópico através dos nanocarreadores coloidais. Analisaremos o curso de infecção e verificaremos a quantidade de parasita (carga parasitária) na lesão do animal após o tratamento”, explica Veliz.

A partir daí, a evolução dependeria, sobretudo, de uma parceria com alguma indústria farmacêutica – etapa em que seria possível melhorar a formulação inicial do medicamento, estudar a viabilidade financeira de sua produção e realizar testes finais em animais e humanos para a disponibilização do fármaco no mercado.

Embora a tecnologia seja promissora e cerca de 1 milhão de novos casos de leishmaniose cutânea sejam computados por ano no mundo, ainda assim o medicamento deve encontrar entraves para se tornar realidade no Brasil. Isso porque a enfermidade faz parte do rol das chamadas doenças negligenciadas: tropicais, endêmicas, e concentradas em populações de baixa renda de países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento da Ásia, África e América Latina.

 

Fonte: IPT

http://www.ipt.br/noticia/1353-combate_a_leishmaniose.htm