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O controle do fósforo na alimentação do paciente com doença renal crônica

O manejo nutricional possui um papel fundamental no tratamento da doença renal crônica. A nutrição adequada pode proporcionar um aumento na sobrevida de gatos e de cães com DRC, além da melhora na qualidade de vida.

Matéria escrita por:

Clínica Veterinária

15 de fev de 2022


O principal objetivo da nutrição neste caso é colaborar para o controle da progressão da doença e minimizar os efeitos negativos consequentes da evolução dessa patologia 2. O fósforo se apresenta como um dos principais vilões na DRC e requer controle monitorado durante toda a vida do paciente 3

Apesar do fósforo ser um nutriente essencial para diversas funções fisiológicas, a alta ingestão deste mineral por um paciente com doença renal pode resultar em efeitos negativos para a saúde 4. A hiperfosfatemia pode ser tóxica e levar a maior produção de paratormônio (PTH), calcificação renal, injúria tubular e piora na progressão da doença, sendo o menor tempo de sobrevida uma consequência significativa 5,6

Nos pacientes com doença renal crônica encontramos a capacidade de excreção de fósforo comprometida, levando a aumento da concentração de fósforo sérico 7. Sendo assim, a quantidade de fósforo na dieta do paciente nefropata deve ser restrita para retardar a evolução da patologia e evitar ocorrência de novas leões renais 8. A biodisponibilidade de fósforo pode variar conforme sua fonte de ingestão: vegetais geralmente apresentam menor biodisponibilidade deste nutriente (em torno de 40%), enquanto o fósforo inorgânico possui biodisponibilidade próxima de 100% 9,10. Encontramos fósforo naturalmente em fontes proteicas, principalmente aquelas de origem animal, por isso, estas geralmente também se apresentam em menor quantidade no alimento específico. 

A utilização do fósforo na formulação de alimento pet food se dá conforme recomendações de diretrizes internacionais para atender as necessidades diárias deste nutriente para gatos e cães. Alimentos específicos para animais idosos normalmente possuem teor de fósforo reduzido, e alimentos para pacientes renais apresentam restrição do mineral, quando comparados aos alimentos para animais adultos saudáveis e em manutenção. Para animais adultos saudáveis, a maior atenção está na ingestão hídrica e maior consumo de alimentos úmidos específicos, para auxiliar na hidratação e atuar na prevenção da DRC. Recomenda-se que o alimento úmido faça parte da alimentação do gato e do cão desde a fase filhote, para que ele se acostume com diferentes texturas e tenha melhor aceitação do alimento quando adulto e idoso, afinal, o alimento úmido será um fator chave na alimentação do paciente com DRC. Por isso, estimular esta textura de alimentação ainda quando filhote pode ser muito benéfico. 

A utilização de valores moderados de proteína, no alimento coadjuvante ao tratamento do paciente renal, também possibilita melhor controle da concentração de fósforo sérico 11,12. Quelantes de fósforo são outra forma de auxiliar no controle da ingestão pelo alimento. Estas substâncias minimizam a retenção de fósforo presente na dieta, sendo os mais utilizados, geralmente, o carbonato de cálcio e hidróxido de alumínio 7,13

A nutrição adequada é um dos pilares auxiliares no tratamento do gato e do cão com doença renal crônica 2. Dieta apropriada e o controle de fósforo se fazem necessários logo nos primeiros estágios da doença para que o resultado no tratamento seja o mais eficaz possível. 

 

Referências

1-JACOB, F. et al. Clinical evaluation of dietary modification for treatment of spontaneous chronic renal failure in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 220, n. 8, p. 1163-70, 15 abr. 2002. 

2-QUÉAU, Y. Manejo Nutricional da Doença Renal Crônica Felina. Doenças Renais. Revista Veterinary Focus. A revista Internacional para o Médico Veterinário de animais de companhia, v. 23, n. 3, p. 40-46, 2013.

3-ROSS, S. J. et al. Clinical evaluation of dietary modification for treatment of spontaneous chronic kidney disease in cats. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 229, n. 6, p. 949-957, set. 2006.

4-CHANG, A. R.; ANDERSON, C. Dietary Phosphorus Intake and the Kidney. Annual Review of Nutrition, v. 37, n. Cvd, p. 321-346, 2017.

5-BARBER, P. J. et al. Effect of dietary phosphate restriction on renal secondary hyperparathyroidism in the cat. Journal of Small Animal Practice, v. 40, n. 2, p. 62-70, 1999.

6-RUTHERFORD, W. E. et al. Phosphate control and 25 hydroxycholecalciferol administration in preventing experimental renal osteodystrophy in the dog. Journal of Clinical Investigation, v. 60, n. 2, p. 332-341, 1977.

7-ELLIOTT, D. A. Nutritional Considerations for the Dialytic Patient. Veterinary Clinics of North America – Small Animal Practice, v. 41, n. 1, p. 239-250, 2011.

8-ROSS, L. A.; FINCO, D. R.; CROWELL, W. A. Effect of dietary phosphorus restriction on the kidneys of cats with reduced renal mass. American Journal of Veterinary Research, v. 43, n. 6, p. 1023-6, jun. 1982.

9-KARP, H. et al. Differences among total and in vitro digestible phosphorus content of meat and milk products. Journal of renal nutrition : the official journal of the Council on Renal Nutrition of the National Kidney Foundation, v. 22, n. 3, p. 344-9, maio 2012a. 

10-KARP, H. et al. Differences among total and in vitro digestible phosphorus content of plant foods and beverages. Journal of Renal Nutrition: the Official Journal of the Council on Renal Nutrition of the National Kidney Foundation, v. 22, n. 4, p. 416–22, jul. 2012b.

11-FINCO, D. R. et al. Effects of dietary phosphorus and protein in dogs with chronic renal failure. American Journal of Veterinary Research, v. 53, n. 12, p. 2264-71, dez. 1992. 

12-FINCO, D. R. et al. Protein and calorie effects on progression of induced chronic renal failure in cats. American Journal of Veterinary Research, v. 59, n. 5, p. 575-82, maio 1998. 

13-ELLIOTT, J. et al. Survival of cats with naturally occurring chronic renal failure: effect of dietary management. The Journal of Small Animal Practice, v. 41, n. 6, p. 235-242, 2000.