A doença renal crônica é uma doença degenerativa e progride para estágios avançados sem que os animais apresentem sinais claros ou visíveis inicialmente. A prevalência da doença renal crônica aumenta drasticamente com a idade, sendo a causa número um de morte em gatos com mais de cinco anos e afetando 30 a 40% dos gatos com idade superior a 10 anos. A prevalência é menor em cães, mas a progressão é geralmente mais rápida, e ainda, se estima que 1 em cada 10 cães terá DRC durante seu estágio de vida. É uma condição progressiva e altamente complexa que, historicamente, tem sido difícil de diagnosticar, uma vez que o início dos sintomas geralmente é tardio. A aversão alimentar é um problema comum em cães e gatos com doença renal crônica. A aversão alimentar em animais com doença renal crônica pode levar à desnutrição, perda de peso e comprometimento da qualidade de vida.
Sinais de aversão alimentar podem envolver a falta de interesse no alimento, mudança no comportamento alimentar, como cheirar o alimento, mas evitar ingerí-lo, mudanças no seu comportamento geral, como letargia ou apatia e perda de peso.
A aversão alimentar em animais com doença renal crônica pode ter várias causas, incluindo a presença de toxinas no sangue, alterações no paladar, náusea, vômito e dor. Além disso, os alimentos formulados para o suporte da doença renal crônica, com restrição de proteínas e fósforo, pode afetar a palatabilidade dos alimentos, tornando-os menos atraentes para os animais.
Para contornar a aversão alimentar em animais com doença renal crônica, existem várias estratégias que podem ser utilizadas. Uma delas é a oferta de alimentos variados, com diferentes perfis aromáticos, texturas e formatos de croquete. No entanto, é importante que essas variações sejam feitas sem que se abra mão de uma dieta que atenda as necessidades de pacientes com doença renal crônica. Atualmente, isso é possível com a variedade de dietas Renal disponíveis no mercado. Caso haja necessidade de introduzir um novo alimento na dieta do pet, é importante fazê-lo de forma gradual. Isso permitirá que o pet se acostume ao novo alimento e textura dos alimentos sem causar aversão e sem predispor a ocorrência de distúrbios gastrointestinais. Além disso, a utilização de medicamentos que ajudam a reduzir a náusea e o vômito pode ser benéfica para animais com aversão alimentar secundária aos sinais de doença renal crônica. Outras estratégias de manejo como manter uma rotina alimentar consistente pode ajudar a evitar a aversão alimentar.
O acompanhamento da ingestão de alimentos dos pacientes deve ser feito regularmente. Bons parâmetros para se medir o apetite dos pacientes envolvem acompanhar junto aos tutores quaisquer relatos de desinteresse pelo alimento, como diminuição gradual na ingestão, ou perda de peso significativa (> 5%).
Em resumo, a aversão alimentar em animais com DRC é um problema frequente e pode levar à desnutrição e comprometimento da qualidade de vida. Para contornar esse problema, é importante adotar estratégias como a oferta de alimentos variados, porém, sem abrir mão de uma nutrição especificamente formulada para pacientes com doença renal crônica.
Referências sugeridas
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Priscila Rizelo
Coordenadora de Comunicação Científica – Royal Canin do Brasil