A gestação da cadela tem duração de aproximadamente 63 dias, podendo ser dividida em duas fases: os primeiros 42 dias, em que ocorre o desenvolvimento dos órgãos dos embriões e não há ganho de peso da cadela e dos fetos. E a segunda fase, que se inicia a partir do terço final de gestação, ocorrendo um rápido crescimento dos fetos e, consequentemente, um aumento no peso corporal da mãe. Durante estas fases essenciais da vida, a nutrição da mãe será responsável pela formação e crescimento embrionário/fetal.
Durante a primeira fase, o principal objetivo nutricional é o de manter o peso corporal ideal. No entanto, este é o período de embriogênese e morfogênese, quando os órgãos são formados. A desnutrição da fêmea pode ter sérias consequências tanto para sua saúde quanto para o desenvolvimento dos fetos.
Por outro lado, o excesso de peso precoce durante essa primeira fase pode ser um problema. A presença de gordura excessiva armazenada no miométrio pode levar a contrações uterinas menos eficientes, dando origem ao aumento do risco de atonia uterina e de distocia, consequentemente levando ao aumento da necessidade de realização de cesáreas, podendo aumentar também a taxa de mortalidade neonatal ligados ao parto prolongado e ao sofrimento fetal.
Após os 42º dias de gestação, as necessidades energéticas da fêmea aumentam para 1,25 a 1,5 vezes as de manutenção. Nessa fase, os fetos ganham em torno de 70% do seu peso ao nascer. Mas o simples aumento das quantidades fornecidas do alimento de manutenção é muitas vezes problemático, pois o útero está comprimindo o estômago e, portanto, limitando a ingestão de alimentos. Portanto, a recomendação é trocar para um alimento específico para essa fase ou para cães filhotes, que fornecerá além da energia, os nutrientes essenciais em quantidades adequadas para um crescimento saudável dos fetos durante essa segunda fase.
O aumento das necessidades nutricionais durante esse período entrará em conflito com a perda de apetite comumente observada nas fêmeas. A solução é alimentar a cadela com um alimento de alta palatabilidade, de alta densidade energética e boa digestibilidade. E recomenda-se dividir em várias refeições diárias por causa da distensão abdominal causada pelo útero gravídico.
Durante os primeiros 42 dias de gestação, a cadela deve manter seu peso corporal. E no momento do parto, ela deve pesar de 115 a 120% de peso corporal inicial o que significa um ganho semanal de 5 a 8%. Mas vale ressaltar que a fêmea não deve ganhar mais do que 30% em relação a seu peso original durante a gestação. O excesso de peso pode ser um problema, levando à distocia. Isso pode ser resultado de uma diminuição na força de suas contrações uterinas após a infiltração do tecido adiposo miometrial.
Deve-se sempre pesar a cadela a fim de monitorar seu ganho de peso, pois o peso corporal é um indicador extremamente importante e de fácil controle. Em casos de a cadela estar com peso acima do esperado para o período gestacional, deve-se tentar corrigir com revisão da quantidade de alimento fornecido. De fato, não se deve alimentar a cadela no esquema ad libitum durante a gestação e sim com quantidade controlada de acordo com as recomendações do fabricante do alimento.
Referências
FEDIAF-The European Pet Food Industry Federation. (2021). Nutritional guidelines for complete and complementary pet food for cats and dogs. The European Pet Food Industry Federation.
Fontaine, E. (2012). Food intake and nutrition during pregnancy, lactation and weaning in the dam and offspring. Reproduction in Domestic Animals, 47, 326-330.
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Jobling, M. (2012). National Research Council (NRC): Nutrient requirements of fish and shrimp: The National Academies Press, Washington, DC, 2011, 376+ XVI pp,£ 128 (Hardback), ISBN: 978-0-309-16338-5.
Leticia Tortola
Coordenadora de Comunicação Científica – Royal Canin Brasil