A doença renal crônica é uma doença degenerativa e progride para estágios avançados sem que os animais apresentem sinais claros ou visíveis inicialmente. A prevalência da doença renal crônica aumenta drasticamente com a idade, sendo a causa número um de morte em gatos com mais de cinco anos e afetando 30 a 40% dos gatos com idade superior a 10 anos. A prevalência é menor em cães, mas a progressão é geralmente mais rápida, e ainda, se estima que 1 em cada 10 cães terá DRC durante sua vida. É uma condição progressiva e altamente complexa que historicamente tem sido difícil de diagnosticar, uma vez que o início dos sintomas geralmente é tardio. Durante o mês de março ocorrem diversas ativações sobre o “Março amarelo”, uma campanha de conscientização sobre as doenças renais em gatos e cães, com foco na comunicação com tutores.
A doença renal crônica (DRC) refere-se a uma alteração renal persistente (= 3 meses). A perda da função renal geralmente é progressiva e irreversível, o que resulta na perda da capacidade de filtração dos rins, e das capacidades metabólicas e endócrinas.
O importante no manejo da DRC é rastrear os pacientes para diagnosticar a doença o mais rápido possível. Neste ponto, é fundamental destacarmos a importância da campanha de conscientização sobre as doenças renais em gatos e cães, o Março Amarelo. Esta campanha, que acontece anualmente durante o mês de março, tem um papel relevante e representa uma grande oportunidade em educar os tutores sobre as doenças renais, sobre seus sinais clínicos mais frequentes e sobre o disgnóstico precoce. O diagnóstico adequado da DRC geralmente envolve mais de uma etapa e deve ser feito em duas visitas consecutivas para identificar tendências (aumento da concentração de creatinina, dimetilarginina simétrica – SDMA ou ambos desses biomarcadores dentro da faixa de referência) indicando DRC precoce, ou confirmar se esses biomarcadores estão persistentemente acima da faixa de referência.
Uma vez identificada a DRC, o objetivo será manter o paciente estável o maior tempo possível. Nesse contexto, a nutrição tem um papel-chave no manejo da DRC, com dois objetivos: retardar a progressão da doença e, portanto, aumentar o tempo de sobrevida; e controlar os sinais clínicos e, portanto, melhorar a qualidade de vida do animal. Uma dieta com restrição de fósforo beneficia o paciente, e já está bem estabelecido que a restrição dietética de fósforo retarda a progressão da doença renal. Além disso, a ingestão proteica acima das exigências mínimas leva à geração de resíduos nitrogenados e exacerbam a azotemia. As dietas renais fornecem um teor moderado de proteína de alta qualidade, ou seja, com um bom perfil de aminoácidos essenciais para permitir que o animal tenha suas necessidades de aminoácidos atendidas. Uma alta digestibilidade também é fundamental, pois todas as proteínas não digeridas são fermentadas no cólon e geram toxinas nitrogenadas desnecessárias. Estimular a ingestão de alimentos é sempre um desafio para os pacientes com DRC, que podem ter seu apetite diminuído por diversos fatores. Por isso, é importante evitar a introdução de dietas renais em ambientes estressantes, pois isso aumenta o risco de aversão alimentar. Para estimular a ingestão das dietas renais, pode-se lançar mão de diferentes perfis aromáticos, diferentes texturas e tamanhos de croquete.
Sabendo-se que os sinais clínicos aparecem tardiamente na DRC, os médicos-veterinários desempenham um papel fundamental em diagnosticar e retardar a progressão da DRC. Além disso, a educação dos tutores sobre a saúde renal dos gatos e cães representa uma oportunidade para que a detecção dos sinais e, consequentemente o diagnóstico da DRC, seja cada vez mais precoce.
Referências sugeridas
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International Renal Interest Society. http://www.iris-kidney.com
Priscila Rizelo
Coordenadora de Comunicação Científica
Royal Canin Brasil
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