
A obesidade em gatos e cães é uma condição multifatorial que requer um manejo nutricional adequado e individualizado. O processo de perda de peso deve ser conduzido sob supervisão veterinária para a segurança e o bem-estar do paciente. O manejo nutricional pode ser dividido em passos essenciais para maior efetividade no tratamento:
Passo 1 – Identificação do histórico nutricional
Para um plano eficaz de perda de peso, é essencial conhecer o histórico alimentar do animal. Fatores como alimentos, quantidade fornecida por dia, responsável pela alimentação, método de alimentação, outras pessoas envolvidas na alimentação, tipo e quantidade de consumo de petiscos ou outros alimentos e acesso a alimentos de outros animais devem ser considerados.
Passo 2 – Determinação do peso meta
O peso meta (PM) é fundamental para calcular a ingestão energética necessária para a perda de peso. A definição do peso meta parte da avaliação do escore de condição corporal (ECC) na primeira consulta. Com base no ECC, é possível estimar o peso meta utilizando a seguinte equação, a partir do ECC e do peso corporal atual (PC) 1:
Por exemplo, um cão com 13 kg de peso corporal atual e ECC 8/9 tem 30% de excesso de peso. O peso meta será: 13 kg / 1,3 = 10 kg. A perda de peso pode ser conduzida em etapas intermediárias até o alcance do peso meta.
ECC | Variação do PM | Cálculo |
5 | 0% acima do PM | PM = PC |
6 | 10% acima do PM | PM = PC / 1,1 |
7 | 20% acima do PM | PM = PC / 1,2 |
8 | 30% acima do PM | PM = PC / 1,3 |
9 | 40% acima do PM | PM = PC / 1,4 |
Passo 3 – Determinação da ingestão calórica diária
A necessidade energética inicial (NE) para a perda de peso pode ser calculada usando as equações 2,3,4:
Cão: NE = 60-80 x (peso-alvo)0,75
Gato: NE = 85 x (peso atual)0,4 ou 53 x (peso-alvo)0,711
Esses cálculos fornecem estimativas iniciais (para as primeiras quatro semanas). Ajustes são necessários ao longo do plano, pois a taxa de perda de peso diminui com o tempo.
Passo 4 – Escolha do alimento e determinação da quantidade adequada
Alimentos comerciais formulados especificamente para perda de peso são a opção mais adequada para o tratamento da obesidade. Reduzir a quantidade de um alimento de manutenção pode aumentar o risco de deficiências nutricionais e perda de massa magra, além de poder gerar menor saciedade, devido à restrição de volume.
O alimento formulado para perda de peso possui:
• Maior concentração de nutrientes essenciais.
• Baixo teor energético, especialmente devido à redução de gordura e ao aumento de fibras.
• Combinação de fibras específicas e menor densidade dos alimentos secos para colaborar na saciedade.
• Maior teor de água e diluição calórica (no caso dos alimentos úmidos).
• Maior relação proteína/energia para manutenção da massa magra.
• Enriquecimento com L-carnitina para auxiliar na perda de peso.
A quantidade de alimento a ser oferecida é determinada pelo seguinte cálculo:
Quantidade de alimento (g/dia) = Necessidade energética inicial (kcal/dia) / Energia metabolizável do alimento (kcal/g)
Passo 5 – Ajustes na ingestão calórica
Durante os primeiros meses, a taxa de emagrecimento tende a ser maior. O metabolismo se adapta e a perda de peso diminui. Se necessário, pode-se reduzir a ingestão calórica em 10% para manter a taxa de emagrecimento adequada:
Cães: 1-2% do peso corporal por semana.
Gatos: 0,5-1% do peso corporal por semana.
Restrições excessivas podem resultar em deficiências nutricionais e devem ser evitadas.
Essa taxa de emagrecimento é uma estimativa, a qual pode variar dependendo do animal, do seu metabolismo e do manejo alimentar. Dessa forma, em muitos casos, essa taxa pode ser menor e o médico-veterinário pode conversar com o tutor, de forma a não gerar frustrações e evitar que este desista antes do atingimento do peso meta estabelecido.
Manutenção do peso após atingimento do peso meta
Para evitar o reganho de peso, recomenda-se:
• Utilizar o alimento de perda de peso também na fase de manutenção, sugerindo-se manter esse alimento pelo mesmo período que o animal levou para emagrecer.
• Aumentar gradualmente a ingestão calórica conforme necessário, ajustando a ingestão para manutenção.
• Monitorar o peso regularmente. O médico-veterinário deverá ajustar a quantidade conforme necessário.
O sucesso no tratamento da obesidade em gatos e cães depende de um acompanhamento nutricional adequado e do envolvimento do tutor no processo. O médico-veterinário é o profissional mais qualificado para orientar e personalizar o protocolo para cada paciente.
Referências
1-GERMAN, A. J. Obesity prevention and weight maintenance after loss. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 46, n. 5, p. 913-929, 2016. doi: 10.1016/j.cvsm.2016.04.011.
2-GERMAN, A. J. ; HOLDEN, S. L.; BISSOT, T. ; MORRIS, P. J. ; BIOURGE, V. A high-protein, high-fibre diet improves weight loss in obese dogs. The Veterinary Journal, v. 183, p. 294-297, 2010. doi: 10.1016/j.tvjl.2008.12.004.
3-GERMAN, A. J. ; HOLDEN, S. L. ; BISSOT, T. ; HACKETT, R. M. ; BIOURGE, V. Dietary energy restriction and successful weight loss in obese client-owned dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 21, p. 1174-1180, 2007. doi: 10.1111/j.1939-1676.2007.tb01934.x.
4-SERISIER, S. ; FEUGIER, A. ; VENET, C. ; BIOURGE, V. ; GERMAN, A. J. Faster growth rate in ad libitum-fed cats: a risk factor predicting the likelihood of becoming overweight during adulthood. Journal of Nutritional Science, v. 2, e11, 2013. doi: 10.1017/jns.2013.10.
5-BOSCH, G. ; VERBRUGGHE, A. ; HESTA, M. ; HOLST, J. J. ; VAN DER POEL, A. F. B. ; JANSSENS, G. P. J. ; HENDRIKS, W. H. The effects of dietary fibre type on satiety-related hormones and voluntary food intake in dogs. British Journal of Nutrition, v. 102, n. 2, p. 318-325, 2009. doi: 10.1017/S0007114508149194.
6-GROSS, K. J. Effect of dietary carnitine or chromium on weight loss and body composition in obese dogs. Journal of Animal Science, v. 81, Suppl 1, p. 175, 1998.
7-LAFLAMME, D. P. Obesity in dogs and cats: What is wrong with being fat? Journal of Animal Science, v. 90, n. 5, p.1653-1662, 2011. doi: 10.2527/jas/2011/4571.
Leticia Tortola
Coordenadora de Comunicação Científica
Royal Canin do Brasil