Propiciar a interação de médicos-veterinários que exercem atividades na clínica de pequenos animais com os profissionais expertos nos diferentes aspectos da medicina veterinária foi o objetivo maior que nos levou a aceitar a missão de organizar a programação científica do congresso Animal Health Expo Forum. 

A abrangência da programação apresentada refletiu a visão da comissão científica de que a medicina veterinária envolvendo a clínica de pequenos animais deve sobretudo ter como foco o animal como um ser senciente, não fragmentado em sistemas orgânicos e partes, e que a promoção e a manutenção da saúde dos animais de companhia requerem dos profissionais envolvidos o conhecimento amplo e geral da espécie, incluindo a fisiologia e a fisiopatologia, os meios de diagnóstico e o tratamento das morbidades e comorbidades que podem acometê-la, bem como o reconhecimento, o controle e a prevenção das doenças infecciosas.

Publicidade

Os temas apresentados e debatidos sob a forma de palestras, mesas-redondas e discussão de casos clínicos, procedimentos diagnósticos e protocolos terapêuticos foram distribuídos em oito salas, sob a responsabilidade da comissão científica. Não foram olvidados os aspectos éticos da profissão, bem como a importância e o protagonismo do clínico veterinário na saúde única. 

Tive a oportunidade de incluir assuntos como o uso de Cannabis sp., células-tronco mesenquimais e ozonioterapia em diversas condições mórbidas. Trata-se de abordagens terapêuticas que fazem parte da medicina veterinária integrativa, cada vez mais aceita e praticada como coadjuvante da medicina veterinária clássica, alopática e intervencionista, pois não são excludentes e se complementam perfeitamente na promoção da saúde e do bem-estar dos animais.

A resistência antimicrobiana com o surgimento de bactérias multirresistentes, isoladas de animais e de seres humanos, que dificultam sobremaneira o tratamento das infecções de origem bacteriana em todas as espécies animais, foi tema exaustivamente discutido, pela sua importância na saúde única.

A medicina veterinária diagnóstica, incluindo a patologia clínica veterinária e a imagenologia – ultrassonografia, radiologia, tomografia computadorizada e ressonância magnética –, como área específica de medicina veterinária, foi contemplada  com  inúmeras palestras, incluindo as ministradas por Rose Raskin, professora emérita da Purdue University, nos Estados Unidos, que abordou a citologia de líquidos cavitários e da urina, e pela professora titular do Departamento de Clínica Médica da FMVZ-Unesp-Botucatu, Regina Takahira, que discorreu sobre  o que é o tromboelastograma, quando indicar e como interpretar.

Entre o temário de doenças infecciosas, contamos com a colaboração do keynote speaker Archivaldo Reche Junior, professor associado do Departamento de Clínica Médica da FMVZ-USP, que revisou os desafios no diagnóstico e as formas de prevenção da FeLV – leucemia viral felina.

Ainda por deferência especial da organização do evento na pessoa do senhor Adriano Souza, foram convidados, como participantes especiais e key note speakers, Mary Marcondes, professora titular aposentada da FMVA/Unesp-Araçatuba, membro e presidente do VGG/WSAVA, que discorreu sobre a imunoprofilaxia da cinomose e de outras viroses de importância capital para os cães e sobre as doenças transmitidas por ectoparasitas aos cães e gatos sob a visão de saúde única, destacando o papel fundamental desempenhado pelo clínico veterinário na detecção precoce de doenças nos cães, possibilitando destarte aos órgãos públicos a adoção de medidas preventivas precoces para minimizar a infecção e a disseminação aos seres humanos.

Como palestrante convidado de honra, Carlos Eduardo Larsson, professor titular aposentado do Departamento de Clínica Médica da FMVZ-USP, discorreu sobre os mitos e as verdades da especialização e das especialidades em medicina veterinária, mostrando o árduo caminho a ser seguido por aqueles que pretendem abraçar uma das especialidades profissionais e obter o almejado título de especialista. Atenção especial nos foi dada pelo professor Paulo Eduardo Velho, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (FMC/Unicamp), que trouxe toda a sua vasta experiência em medicina preventiva e interação com a medicina veterinária, com foco nas doenças transmitidas dos animais ao homem por vetores. Sua palestra versou sobre a doença da arranhadura do gato e outras infecções humanas negligenciadas de interesse em saúde única.

Todos os outros temas abordados por professores, pesquisadores e profissionais altamente gabaritados também seriam dignos de destaque e merecedores de toda a consideração. 

Outro fato dos mais relevantes foi o de que o congresso possibilitou a interação entre os palestrantes, que se beneficiaram da oportunidade de conhecer seus pares, trocar informações e programar futuras ações e pesquisas em conjunto. O evento cumpriu seu papel de congresso científico de medicina veterinária de pequenos animais de cunho geral e de ampla abrangência, ultrapassando o conceito de congresso de especialidades, tão em voga, direcionado apenas para os interessados em uma dada especialidade. 

Agradeço a todos os que se propuseram a encetar esta jornada ímpar, juntamente com e em apoio a esta octogenária e renitente médica-veterinária: MV Daionety Pereira, diretora científica; Aline Santana da Hora, Ricardo Duarte Lopes, Samantha Ive Miyashiro, Silvia Ricci Lucas, Silvia Ulata e Viviane Machado Pinto, coordenadores. Agradecimentos especiais aos patrocinadores que prontamente atenderam ao chamado de última hora da Comissão Científica para prestigiarem o congresso, em especial a MSD, Zoetis, Boehringer e Polipet/Hovet de Mogi das Cruzes, que patrocinaram salas e palestras sob a responsabilidade deste grupo. 

Agradeço à São Paulo Feiras e à Infowiser a oportunidade de poder vivenciar algo até então inédito na minha vida profissional, a organização de um evento de medicina veterinária de cunho privado de alto nível, possibilitando o encontro e o intercâmbio de conhecimentos e experiências entre os médicos-veterinários que militam na prática clínica e aqueles que, no recôndito de seus laboratórios, salas de aula ou de atendimento ambulatorial ou hospitalar, produzem, transferem, aplicam, adquirem experiências, se especializam, se renovam, se repaginam, se humanizam e estão prontos a compartilhar seu vasto cabedal  acumulado. 

Publicidade

Mitika K. Hagiwara

Professora emérita da FMVZ-USP