Segundo a Federação Mundial de Sociedades de Acupuntura e Moxabustão (WFAS), mais especificamente em seu manual de Manipulações padronizadas de moxabustão: “Moxabustão é uma terapia que trata e previne doenças utilizando principalmente lã de moxa. A combustão da lã de moxa permite a transmissão de calor para os pontos de acupuntura e outras partes do corpo com várias mudanças patológicas. É uma terapia externa para o tratamento e/ou a prevenção de doenças e para promover a saúde do corpo”.
A moxabustão baseia-se nos mesmos princípios e conhecimentos dos meridianos de energia utilizados na acupuntura. Trata-se de técnica milenar que faz parte da medicina chinesa. No Brasil, é comum que a prática da moxabustão seja vista de forma preconceituosa em função do odor característico proveniente da sua queima, que tem como base a Artemisia vulgaris.
Sistema Jing Luo
Para entender como funciona a moxabustão, é importante conhecer o sistema Jing Luo. Por meio dele a medicina chinesa identifica alterações no organismo e também promove tratamentos. A expressão Jing Luo define toda a rede de circuitos dos meridianos e seus vasos secundários.
A função desses meridianos e colaterais é efetuar conexões entre os órgãos (Zang) e as vísceras (Fu), comunicando-os com as extremidades, os tecidos e os órgãos sensoriais, e regular a função de cada parte do corpo.
O sistema Jing Luo é divido em Jing Mai e Luo Mai. Fazem parte do Jing Mai os 12 meridianos regulares e mais 8 meridianos extraordinários. No Luo Mai estão os meridianos colaterais e as ramificações.
Para o entendimento dos princípios da moxabustão, estão detalhados no Quadro 1 os meridianos regulares – os mais comumente usados pelas técnicas chinesas que atuam neles: a acupuntura e a moxabustão. Eles se interligam energeticamente, formam pares e se acoplam num relacionamento Yin/Yang, garantindo a comunicação entre um órgão (Zang-Yin) e uma víscera (Fu-Yang).
História da medicina chinesa
O conhecimento e o estudo desses meridianos faz parte da história da medicina chinesa. Inclusive, antigos registros também mostram a aplicação da acupuntura e da moxabustão em animais – principalmente em cavalos, que eram essenciais nas guerras e na agricultura. Os primeiros registros de acupuntura e moxabustão datam do período da dinastia Xi Zhou (1111-771 a.C).
As dinastias Qin e Han (221 a.C a 220 d.C) foram marcadas por grande desenvolvimento da medicina chinesa. Destaca-se na dinastia Qin o general Sun Yang, que exercia a medicina veterinária e escreveu o primeiro livro de acupuntura veterinária.
No século XVII, por meio dos jesuítas, propagou-se o termo acupuntura, derivado dos radicais latinos acus e pungere, que significam “agulha” e “puncionar”. Originalmente, o vocábulo chinês que a define – Zhenjiu – tem sentido mais abrangente: literalmente, significa “agulha-moxabustão”.
Desde 1974, a Associação Internacional de Acupuntura Veterinária (International Veterinary Acupuncture Society – IVAS), vem trabalhando para o desenvolvimento de um padrão internacional, que inclui a padronização dos mapas dos pontos de acupuntura veterinária, bem como a descrição anatômica de todos os pontos presentes em cada meridiano.
No Brasil, esse trabalho vem sendo multiplicado pela Associação Brasileira de Acupuntura Veterinária – (Abravet), que desde 2014 é responsável pela avaliação de candidatos ao título de especialista em acupuntura veterinária.
Moxa direta e indireta
Há diversas variações nas formas de moxabustão, mas, basicamente, é importante ter em mente dois tipos básicos: a direta e a indireta. A direta é feita queimando-se um cone de moxa diretamente sobre a pele. Na medicina veterinária, ela é pouco praticada, pois envolve a tricotomia do animal. A indireta é feita inserindo-se uma fatia de alho ou gengibre entre a pele e o cone de moxa ou por meio da queima suspensa de bastões de moxa, que pode ser feita manualmente, segurando-se o bastão ou por meio de diversos aparatos elaborados com a finalidade de transmitir o calor da queima da moxa sem que ela esteja em contato direto com a pele. Além disso, há diversos utensílios criados para a aplicação da moxa indireta: caixa para moxabustão, thermies e cachimbo de moxa, entre outros.
Pesquisa
Uma análise dos trabalhos publicados na China sobre moxabustão durante o período de 1954 a 2007 mostrou que a técnica pode tratar até 364 tipos de doenças.
O mecanismo de ação da acupuntura sob o enfoque da neurociência tem revelado uma clara relação entre o sistema nervoso e os conceitos dos antigos chineses. Um dos pioneiros no estudo do mecanismo neuro-humoral da acupuntura é Ji-Sheng Han, que em 1986 publicou um resumo das vias neurais implicadas na ação da acupuntura. Pesquisas posteriores vieram corroborar a asserção sobre o envolvimento de neurotransmissores no seu mecanismo de ação.
Os trabalhos modernos de pesquisa envolvendo os mecanismos de ação da moxabustão levam em conta a comparação dos efeitos térmicos produzidos pela moxabustão direta e indireta, os efeitos de radiação infravermelha e os farmacológicos, gerados por meio da combustão da moxa e seus produtos.