A homeopatia é a medicina dos “semelhantes”, como o nome indica (homoios = semelhante, pathos = sofrimento), e baseia-se na estimulação vital e na reação curativa vital.
O Vitalismo é a condição que rege e harmoniza o ser vivo, fenômeno imaterial que inexiste na substância morta e que caracteriza a vida.
A prática homeopática necessita da individualização de cada caso e da experimentação no indivíduo sadio.
A experimentação de uma droga constitui a viga mestra da ciência homeopática. Por meio dela pode-se determinar quais as respostas que diferentes organismos apresentam a um estímulo medicamentoso.
Quando um determinado princípio é testado em indivíduos de diferentes constituições, idades, origens e sexos pode-se estabelecer um conjunto sintomático. Esse grupo de sinais e sintomas específicos do princípio testado denomina-se patogenesia da droga. A reunião ou conjunto das patogenesias de diferentes drogas obtidas pela experimentção denomina-se Matéria Médica.
No preâmbulo da obra Matéria Médica Pura, Hahnemann comenta:
Muitas pessoas do meu conhecimento, mas convertidas pela metade à homeopatia, têm repetidas vezes me solicitado para publicar orientações ainda mais exatas de como esta doutrina pode ser realizada na prática, e como procedermos. Estou espantado que após as orientações muito particulares contidas no Organon de Medicina, mais instruções especiais possam ser desejadas.
Também sou questionado: Como devemos examinar a doença em cada caso particular? Como se orientações especiais o bastante não fossem encontradas no livro acima citado.
Como em homeopatia o tratamento não é direcionado para causas internas de doenças inventadas ou imaginárias, nem ainda para nomes de enfermidades inventadas pelo Homem de cujas naturezas nada sabem, e como todo caso de doença não miasmática (doença crônica que necessita de estímulo medicamentoso para cura) é uma individualidade distinta, independente, peculiar, um complexo sintomático sempre diferindo em natureza, nunca presumível hipoteticamente, então, nenhum rumo particular pode ser formulado para ele (nenhum esquema, tabela), exceto que o médico, a fim de realizar uma cura, deve opor à cada agregado de sintomas mórbidos em um caso, um grupo de sintomas medicinais semelhantes, tão completo quanto possa ser reunido em qualquer única droga conhecida; para este sistema de medicina, não pode ser admitido mais que uma única substância medicamentosa (cujos efeitos têm sido acuradamente testados) sendo administrada de uma única vez.
A homeopatia seria impraticável se não pudesse comparar os sintomas de qualquer doente com aqueles das experimentações, o que possibilita um diagnóstico correto do remédio a ser utilizado.
Hahnemann fez toda a sua Matéria Médica experimentando os medicamentos em seres humanos e aconselhava que deveriam ser testados sempre nessa espécie, que é capaz de relatar detalhadamente as modalidades e condições nas quais ocorrem os sintomas.
Assim sendo, não há Matéria Médica experimentada em animais, o que dificulta o trabalho do médico veterinário.
Hahnemann passou grande parte de sua vida a fazer experimentações de remédios e a registrar meticulosamente as suas investigações na linguagem simples dos provadores, ou seja, ele deixou escrito em sua obra o que cada indivíduo que experimentou o medicamento sentiu, sem fazer qualquer tipo de interpretação para cada sintoma relatado. Deixou ao leitor a obrigação de interpretar o que está descrito em sua obra. Hahnemann denominou a sua Matéria Médica de Matéria Médica Pura, por estar isenta de interpretações de sintomas.
A Matéria Médica de Hahnemann pode ser encontrada nos livros intitulados Matéria Médica Pura e Doenças Crônicas. Ambas as obras apresentam dois volumes e os medicamentos são relacionados em ordem alfabética; sendo que na obra Doenças Crônicas encontram-se as últimas descrições dos remédios recomendados para os tratamentos de doenças crônicas.
Tanto a Matéria Médica Pura quanto o Doenças Crônicas de Hahnemann podem ser encontrados nos idiomas inglês e português.
Allen e Hering foram dois médicos que continuaram o trabalho de experimentação de Hahnemman. Suas obras estão disponíveis somente em inglês, sendo a obra de Allen constituída de 12 volumes e a de Hering, de 10 volumes.
Muitos outros autores interpretaram os sintomas descritos nos trabalhos de Hahnemann, Allen e Hering, e essas Matérias Médicas interpretadas e condensadas receberam o nome de Matéria Médica Clínica.
As Matérias Médicas Clínicas são, de modo geral, mais fáceis de serem compreendidas, porém a sua qualidade está relacionada à compreensão do autor sobre cada remédio estudado. Dessa forma, o mesmo autor pode descrever muito bem alguns remédios e dificultar a compreensão de outros.
Quem deseja trabalhar com homeopatia necessita estudar principalmente as Matérias Médicas Puras, mas pode recorrer às Matérias Médicas Clínicas, porém tomando o cuidado de verificar se a interpretação do autor está de acordo com as obras básicas (Matérias Médicas Puras).
Tanto nas Matérias Médicas Puras quanto nas Matérias Médicas Clínicas podem ser encontrados sintomas ou sinais objetivos e subjetivos. Os sintomas objetivos descrevem lesões, situações e horários em que ocorrem. Os sintomas subjetivos descrevem o tipo de dor e as sensações. O médico veterinário pode trabalhar somente com os sinais objetivos e deve tomar cuidado para não criar sintomas subjetivos que não podem ser detectados em animais.
As Matérias Médicas trazem catalogados os sinais clínicos, em todos os sistemas orgânicos, manifestados pelos indivíduos intoxicados experimentalmente por remédios homeopáticos.
Hahnemann padronizou a intoxicação em seus experimentos utilizando a trigésima potência do medicamento (o que corresponde à trigésima diluição centesimal dinamizada) e, mesmo assim, observou que os indivíduos, devido às suas sensibilidades naturais em certos órgãos e sistemas orgânicos, apresentam quadros sintomáticos diferentes.
Quando se faz a comparação entre os remédios e o caso clínico em questão deve-se analisar a semelhança entre o quadro sintomatológico e as intoxicações provadas pelo medicamento considerando os sistemas orgânicos acometidos no doente (Figuras 1 e 2).
Deve-se ressaltar, entretanto, que nem sempre a totalidade dos sintomas descritos nas Matérias Médicas para determinado medicamento estará presente no quadro sintomatológico do doente – o importante é que ocorra a semelhança entre os sintomas do doente e os sintomas do medicamento. Além disso, o medicamento que contribui para a cura de uma doença fixada em determinado órgão pode ser também utilizado no tratamento de doenças fixadas em outros sistema, desde que a intoxicação que ele provoca seja semelhante aos sintomas observados na doença (Figuras 1 e 2).
Muito ainda se questiona sobre pesquisa em homeopatia voltada para animais. A melhor área de investigação da ciência homeopática nesse sentido é a experimentação de animais com remédios catalogados e a observação das diferenças entre espécies e raças, bem como, coletar dados de exames completares (hemograma, bioquímica sanguínea, radiografias etc). Dessa forma, poderia-se utilizar os resultados dos exames estudados como mais uma informação para a escolha do medicamento.
Segundo Hahnemann: É indispensável que tenhamos grande provisão de drogas conhecidas precisamente quanto aos seus efeitos sobre a saúde, para que possamos achar um remédio homeopático, isto é, um análogo apropriado em forma de provocador de doença artificial, e portanto, agente curativo, para cada doença do mundo.
Bibliografia recomendada
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