Há tempos existem informações que buscam “salvar o mundo”. Compreendemos como os canudos e as sacolas plásticas poluem os rios e o oceano (assim como os descartáveis plásticos de uso único); aprendemos o que devemos comer (e como comer) e a respeito dos princípios da agricultura regenerativa para evitar o uso de pesticidas 1; compreendemos que as redes fantasmas ficam no oceano, causando a pesca não intencional (e colaborando com a extinção de várias espécies); etc. Trata-se de uma grande diversidade de fontes poluidoras e, infelizmente, apenas com saídas paliativas não resolveremos esse problema de tão graves consequências, que são os resíduos!
Desde a grande Revolução Industrial e a globalização vivida por nós (ou pelo menos por alguns de nós) no último século, colaboramos com uma “economia linear” que se estende até os dias de hoje 2, muito bem retratada no documentário de Annie Leonard The Story of Stuff (A história das coisas), de 2007, segundo o qual utilizamos o modelo linear da retirada da matéria-prima do meio ambiente, que passa por processo de fabricação e consumo, gerando poluentes e resíduos que são descartados no ambiente, em função de um consumo global desenfreado.
Essa economia linear não só potencializa as ameaças ao meio ambiente como também aumenta a desigualdade social. Diversos pesquisadores e organizações têm buscado encontrar soluções para essa problemática. Uma mudança significativa aconteceu em 1987 quando o conceito de “desenvolvimento sustentável” foi criado na Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU) 3.
Seguindo essa linha, em 1989, surgiu o conceito de “economia circular”, citado em um artigo dos economistas e ambientalistas britânicos David W. Pearce e R. Kerry Turner. Na época, eles mostraram que a economia linear não levava em conta a reciclagem, transformando o mundo em um simples reservatório de resíduos, ou seja, num grande depósito de lixo 4.
A partir da declaração dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) pela ONU em 2015, líderes mundiais se comprometeram a buscar o desenvolvimento sustentável, enfrentando os desafios específicos de seus país. Quanto ao Objetivo 12 – assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis – foram estabelecidas metas para implementar Programas sobre Produção e Consumo Sustentáveis. Esses programas visam, entre outras coisas, reduzir a geração de resíduos por meio de medidas de prevenção, reciclagem e reuso, e de apoio aos países para o desenvolvimento e o fortalecimento de suas capacidades científicas e tecnológicas, que os possibilitem mudar para padrões mais sustentáveis de produção e consumo 5. Ficou clara a urgência de mudar a forma de uso e exploração dos recursos naturais, sem deixar ninguém para trás, além de transformar desafios socioambientais em oportunidades de negócio 1.
Portanto, a economia circular, em um conceito oposto ao da economia linear na qual vivemos, inspira-se na eficiência da natureza para fechar o ciclo, modificando produtos desde o design até o uso pelo consumidor final, com atenção a todas as etapas, desde a matéria-prima até a reutilização do resíduo. Desse modo, o resíduo deixa de ser descartado e passa a integrar uma nova cadeia de ações ao longo de todo o processo, permitindo que a poluição até então gerada seja reduzida ou eliminada.
Assim, a economia linear que emergiu das revoluções industriais anteriores, baseadas em extrair, produzir e descartar, está sendo substituída pela economia circular 2, que cresceu no mundo inteiro nos últimos anos, oferecendo um novo enfoque para a presença e produção humana no planeta 6.
Nesse sentido, todos nós tendemos a ganhar, e não apenas o meio ambiente. As empresas, por exemplo, podem reduzir falhas e perdas no ciclo produtivo; a sucata gerada no processo de fabricação é reciclada internamente; desenvolvem-se objetos biodegradáveis; reduz-se a demanda de água ou implementam-se ciclos fechados de água 7; há o sequestro ou a redução da emissão de carbono para atmosfera; oferecem-se alternativas circulares às embalagens plásticas de uso único; identificam-se oportunidades de recuperação de materiais a partir de produtos em fim de vida útil; implantam-se sistemas de logística reversa; etc. Além disso, nesse sistema, é feita uma verificação da matéria-prima para ver se atende aos princípios Cradle to Cradle®, ou seja, “do berço ao berço” – título de um livro-manifesto publicado em 2002 pelo arquiteto americano William McDonough e pelo engenheiro químico alemão Michael Braungart, e que se tornou uma das obras mais influentes do pensamento ecológico mundial 1,6,8.
A economia circular, além de gerar significativas reduções nos custos e de criar benefícios ambientais, como a diminuição das emissões dos gases do efeito estufa (dentre outras), permite também uma redução de custos para os consumidores, que deixam de pagar taxas de descarte em aterros sanitários e podem passar a usar peças recuperadas e menos custosas, em vez de peças novas.
Não podemos mais manter nosso crescimento econômico à custa da extração insustentável de recursos finitos, da contaminação generalizada por resíduos inutilizados e potencialmente tóxicos, tanto para os seres humanos quanto para os sistemas naturais. Temos que trabalhar por uma indústria saudável e regenerativa, na qual o valor seja mantido em circulação de forma intencional por vários ciclos e cadeias produtivas 6.
Porém, para permitir que ocorra um crescimento econômico sustentável que viabilize a restauração de ecossistemas é necessário que se proponham e se divulguem soluções viáveis para a economia, para que a sociedade possa conhecer as medidas relativas a essa restauração e pressionar pela criação de políticas públicas, bem como estimular as empresas a criarem um sistema de trabalho mais alinhado com os interesses da sociedade, fomentando a inovação na oferta de produtos aos consumidores 1.
Nesse sentido, criou-se a campanha: Economia Circular, Você Já Ouviu Falar?. Ela atingirá o público do Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Colômbia, República Dominicana, Guatemala e México, por meio de ações em redes sociais (Facebook e Instagram) durante a Semana Mundial do Meio Ambiente (de 5 a 9 de junho) por uma rede de organizações e instituições voltadas para ações de conservação – Instituto Mar, Aquário de São Paulo, revista Clínica Veterinária, Drogavet , Mar de Idéias, Aiuká, Associação R3 Animal, Unidad Conservación – Parque Safari Chile, Projeto Amar, Aguará Popé Educación y Gestión Ambiental, Ocean Eyes, Octomares, Cram-Furg, Escola Canto Vivo, Altamar, Projeto Menos Plástico é Mais – Cefet/RJ, Projeto Baleia Jubarte, Geaqua-USP, Geaqua-Unip, Tinctus, Cedmar-USP, Cedepem, InPact, Instituto Tamanduá, Projeto Tudo Junto e Misturado – Cefet/RJ, Zoológico de Guadalajara, Projeto Bichos do Pantanal, Projeto Cavalos Marinhos RJ, Projeto Meros do Brasil, Zoológico Nacional Zoodom, Africam Safari, Fundación Zoobotánica y Zoológica de Barranquilla, Reprocon, A Liga Animal, Bioparque Santos Javier, Arca do Noah, Projeto Bióicos, Fauna em Foco, Projeto Mantas do Brasil, Fundación Jaime Duque, Cenoteando, Getoca-USP, Liga das Mulheres pelo Oceanos, Zoojóias, Gebim – UFSC, La Aurora Zoo, Laelia – UFSC, Fundação Parque Zoológico de São Paulo, Instituto Biopesca, Projeto Albatroz, Fundación Mundo Marino, Ideia circular, Apaza, Unemat, Instituto Sustentar, Centro de Conservación Marina – AGHN, Buin Marino, Save Brasil, InPact, Laboratório de Mamíferos Aquáticos da UFSC e Escola Mario Quintana.
Para documentar as ações da semana serão utilizadas as hashtags: #ResíduosSãoRecursos, #ResíduosSonRecursos, #EconomiaCircularEmRede, #EconomíaCircularEnRed, #EconomiaCircular, #OceanDecade, #DécadaOceánica, #OceanLiteracy, #EconomíaCircular, #LiteraturaOceánica.
O destino da crescente quantidade de lixo urbano é um problema a ser pensado pela administração pública e pela sociedade como um todo. Quando se trata de resíduos de serviços de saúde, o tema se torna ainda mais complexo pelo seu maior grau de periculosidade, seja para o ser humano, para os animais ou para o meio ambiente 9. O Brasil vive um momento de sérios problemas de saúde pública, além dos relevantes problemas relativos à questão ambiental. Então convidamos as clínicas e os hospitais veterinários, bem como toda a cadeia da indústria de produtos para animais de companhia, a participar ativamente da economia circular, apoiando, propondo e implementando iniciativas para a reciclagem dos resíduos e dando preferência a parceiros envolvidos em uma logística reversa dos seus produtos.
Referências
1-CE100 BRASIL. Uma economia circular no Brasil: apêndice de estudos de caso. São Paulo: 2º Workshop de Aceleração da rede CE100 Brasil, 2017, 15p.
2-WEETMAN, C. Economia circular: conceitos e estratégias para fazer negócios de forma mais inteligente, sustentável e lucrativa. Tradução de Afonso Celso da Cunha Serra. 1 ed. São Paulo: Autêntica Business, 2019.
3-UN GENERAL ASSEMBLY. Report of the world commission on environment and development: our common future. Oslo, Norway: United Nations General Assembly, Development and International Co-operation: Environment, 1987.
4-PEARCE, D. W. ; TURNER, R. K. Economics of natural resources and the environment. New York, NY Harvester Wheatsheaf 1998.
5-UN GENERAL ASSEMBLY. Transforming our world: the 2030 Agenda for Sustainable Development. 70th session. United Nations General Assembly A/RES/70/1, 2015, 35p.
6-IDEIA CIRCULAR. 28 estudos de caso: design e inovação para a economia circular no Brasil e no mundo. São Paulo: 2021. Disponível em: <https://www.ideiacircular.com/estudos-de-caso-economia-circular/>. Acesso em: 22 de abril de 2021.
7-NET-WORKS. Why be inclusive?. Disponível em: <https://net-works.com/about-net-works/inclusive-business>. Acesso em: 22 de abril de 2021.
8-IDEIA CIRCULAR. O que é upcycle ou superciclagem e por que seu uso é defendido pela economia circular?. 2018. Disponível em: <https://www.ideiacircular.com/o-que-e-upcycle-ou-superciclagem-e-por-que-seu-uso-e-defendido-pela-economia-circular/>. Acesso em: 20 de abril de 2021.
9-SOUSA, I. R. O. Análise da aplicação da logística reversa de resíduos no Serviço de Saúde: um estudo de caso em um hospital público de grande porte do Distrito Federal. Monografia (Graduação – Administração), Universidade de Brasília, 2018.