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Prefeitura de São Paulo barra ações da ONG MRSC

Entrevista com Eduardo Leporo

Matéria escrita por:

Clínica Veterinária

12 de mar de 2025

Eduardo Leporo em ação da ONG MRSC no centro de São Paulo. Créditos: Divulgação MRSC Eduardo Leporo em ação da ONG MRSC no centro de São Paulo. Créditos: Divulgação MRSC

A ONG Moradores de Rua e Seus Cães (MRSC) vem atuando em diversas cidades do país, no atendimento de pessoas e animais em situação de rua. Seu fundador, Eduardo Leporo, compartilha conosco a trajetória da ONG e as dificuldades que ela está enfrentando junto ao poder público do município de São Paulo, que tem barrado as ações tão importantes da MRSC.

 

Clínica Veterinária (CV) – Por favor, conte um pouco da história da ONG e como ela se tornou o que é hoje em dia.

Eduardo Leporo (EL) – A ONG MRSC (Moradores de Rua e Seus Cães) foi idealizada em 2015 por mim, na capital paulista, movido por uma experiência transformadora. Como fotógrafo, ao capturar imagens da vida nas ruas, percebi uma conexão poderosa e comovente entre as pessoas em situação de rua e seus leais companheiros. Essas interações resultaram no livro “Moradores de Rua e Seus Cães”, que documenta, por meio de fotografias e relatos, o vínculo entre as pessoas e seus animais.

O que começou como um projeto fotográfico se transformou rapidamente em um gesto de solidariedade e virou a MRSC, já que o amor e o companheirismo entre o homem e o cão, que eu via através das minhas lentes, me inspiraram a fundar a ONG com o objetivo de oferecer assistência e dignidade para essas pessoas em situação de rua e seus animais.

Para tornar isso possível, contamos principalmente com doações de pessoas físicas, além de parcerias com marcas que fornecem ração, medicamentos, vacinas e produtos de higiene, como Petz, Perigot, Boehringer Ingelheim, entre outras.

Nosso lema, “Nem só de ração vive o cão”, reflete a essência da MRSC. Não nos limitamos a fornecer alimentos e cuidados básicos. Nosso projeto promove o bem-estar e a saúde dos animais e de seus tutores, oferecendo serviços completos, como consultas veterinárias, vacinação, antipulgas, banho e tosa, além da distribuição de ração.

A ONG expandiu suas atividades para mais de 7 estados brasileiros, partindo da capital paulista, chegando a Campinas, Osasco, Baixada Santista, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Florianópolis e Porto Alegre e já beneficiou mais de 100 mil pessoas e seus animais.

Com mais de 110 edições das ações realizadas no centro de São Paulo, atendendo em média cerca de 600 pessoas e 300 animais por edição, o projeto oferece para os tutores café da manhã completo, banho de Amor, kits com itens de higiene pessoal como toalhas, chinelos e roupas. Já os cães ganham um banho quentinho no Pet Móvel, cuidados veterinários, como vacinas e vermifugação, além de roupinhas, caminhas, brinquedos, guias e coleiras, antipulgas, carrapaticidas e castrações.  Só de castrações, já foram promovidas mais de 4 mil, em suas ações solidárias e gratuitas. 

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Distribuição de alimentos para a população promovida pela ONG MRSC. Créditos: Divulgação MRSC

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CV – Por que os serviços prestados pela MRSC são importantes e porque eles devem continuar? 

EL – Com o lema “Nem só de ração vive o cão”, os serviços prestados pela MRSC são fundamentais porque atendem às necessidades básicas de pessoas em situação de rua, ocupações e comunidades carentes, que muitas vezes não têm condições financeiras para arcar com os cuidados essenciais de seus animais de estimação. A ONG oferece suporte como vacinação, vermifugação, castração, alimentação e atendimentos emergenciais, garantindo não apenas a saúde e o bem-estar dos animais, mas também o equilíbrio emocional de seus tutores, que neles encontram uma fonte de afeto e companhia. Além disso, a continuidade desses serviços evita a propagação de doenças, o aumento da população de animais abandonados e a piora das condições de vida dessas pessoas e seus companheiros de quatro patas. Sem esse suporte, muitos desses animais ficariam desprotegidos, agravando ainda mais a situação de vulnerabilidade. 

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Distribuição de ração promovida pela ONG MRSC. Créditos: Divulgação MRSC

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CV – Quais são os principais desafios que a ONG enfrenta no dia a dia para manter suas atividades?

EL – Os principais desafios que o MRSC enfrenta no dia a dia vão muito além da questão financeira. Embora o financiamento seja sempre uma preocupação, a maior dificuldade está na intransigência, na intolerância e na política higienista instalada na maior cidade da América Latina. A ONG lida constantemente com barreiras burocráticas, falta de apoio do poder público e até mesmo resistência social à causa das pessoas em situação de rua e seus animais. Além disso, há dificuldades para garantir espaços seguros para a realização dos atendimentos, obter autorizações para campanhas de vacinação e castração e enfrentar a desinformação sobre a importância desse trabalho. Apesar desses desafios, a MRSC segue firme em sua missão, contando com o apoio da sociedade para continuar prestando assistência a quem mais precisa.

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O cuidado com os animais vai além da alimentação e do acolhimento, passando por banho, desverminação, vacinação, entre outros. Créditos: Divulgação MRSC

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CV – Qual foi a justificativa da prefeitura de São Paulo para barrar as ações da ONG MRSC?

EL – justificativa apresentada pela Prefeitura de São Paulo para barrar as ações da ONG MRSC foi de que as atividades da organização não atendiam ao interesse público. Uma resposta muito vaga, sem qualquer respaldo em leis ou justificativa plausível.  Além disso, essa justificativa causou indignação entre apoiadores da ONG e defensores da causa animal e social, que argumentam que ações como as nossas de distribuição de alimentos, suporte veterinário e campanhas de conscientização são sim de interesse público, uma vez que beneficiam diretamente a população em situação de rua e seus animais. 

 

CV – Quais impactos que essa restrição pode ter na população em situação de rua e em seus animais?

EL – A MRSC realiza um trabalho único, que poucas ou quase nenhuma outra ONG executa, o que torna os impactos dessa restrição extremamente graves. Ela compromete diretamente a saúde e o bem-estar dos animais em situação de vulnerabilidade em São Paulo, já que nosso foco está na aplicação de vacinas e vermífugos durante as ações. Essa restrição aumenta a vulnerabilidade dos animais, elevando o risco de doenças graves, algumas das quais podem ser transmitidas para os seres humanos. Além disso, a falta de serviços essenciais como banhos, vermífugos e alimentação adequada agrava as condições de higiene e nutrição dos animais, tornando-os mais propensos a infecções, parasitas e desnutrição. Outro ponto crítico é a dificuldade de agendamento de castração, o que pode levar ao aumento descontrolado da população de animais em situação de rua. 

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Pessoas em situação de rua apresentam carências inestimáveis e parte delas é amenizada pelos relacionamentos com seus animais de estimação. Créditos: Divulgação MRSC

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CV – A prefeitura oferece algum programa alternativo para atender às necessidades que a MRSC vem suprindo?

EL – Um trabalho completo, como a MRSC faz, não. Nenhum! 

 

CV – A MRSC pretende tomar alguma medida legal ou buscar apoio de outras entidades para reverter essa decisão?

EL – Sim, a MRSC pretende tomar medidas para tornar essa situação pública, mobilizando a sociedade e buscando apoio de outras entidades para pressionar por uma solução. Além disso, pretendemos entrar em contato com a prefeitura em busca de esclarecimentos e alternativas para minimizar os impactos dessa restrição. Caso necessário, a MRSC avaliará também a possibilidade de medidas legais para garantir que a população em situação de rua e seus animais continuem tendo acesso aos cuidados essenciais. Independentemente dos desafios, reforçamos nosso compromisso em não desistir da causa e continuar atuando para proteger e amparar aqueles que mais precisam.

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Atividades recreativas e educacionais, envolvendo crianças em situação de rua, promovidas pela ONG MRSC. Créditos: Divulgação MRSC

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CV – Como a sociedade pode apoiar a ONG e as pessoas impactadas por essa restrição?

EL – As pessoas podem apoiar a ONG e pessoas impactadas por essa restrição de diversas maneiras. Uma das formas mais eficazes é compartilhar informações sobre o tema, ajudando a dar visibilidade ao problema e mobilizar mais pessoas em defesa da causa. Além disso, é fundamental que os cidadãos cobrem seus representantes na Câmara Municipal, exigindo soluções e políticas públicas que garantam o bem-estar da população em situação de rua e de seus animais. Doações de alimentos, medicamentos, produtos de higiene e apoio financeiro para a ONG também são formas diretas de contribuição para que esses serviços continuem sendo oferecidos, mesmo diante das dificuldades. A união da sociedade é essencial para impulsionar mudanças e garantir que essa parcela vulnerável da população não fique totalmente desamparada.

 

CV – Quais são os planos futuros da MRSC para continuar seu trabalho, apesar das dificuldades enfrentadas?

EL – Os planos futuros da MRSC são baseados em sua principal conclusão: nunca desistir! A ONG pretende seguir firme em sua missão, buscando um diálogo justo com a Prefeitura, a Secretaria de Direitos Humanos e demais órgãos responsáveis, a fim de garantir a continuidade dos serviços prestados. Também está nos planos a realização de campanhas de conscientização para sensibilizar a sociedade sobre a importância desse trabalho e a mobilização de apoio popular para implementação de políticas públicas mais inclusivas. Mesmo diante das dificuldades, a ONG seguirá lutando para garantir que a população em situação de rua e seus animais recebam esses cuidados.

 

MRSC Instagram

https://www.instagram.com/moradoresderuaeseuscaes?igsh=cnViNzhmOTh0djI5

 

Link da vaquinha para quem quiser ajudar: 

https://www.vakinha.com.br/vaquinha/nem-so-de-racao-vive-o-cao-nem-o-gato-ne