Relatório revela atrasos na responsabilidade para com animais silvestres entre grandes nomes do turismo no Brasil e no mundo
Diversas empresas ainda precisam levar mais a sério a exploração animal mascarada de atração inocente de férias
O relatório “De olho na indústria do turismo – responsabilidade com a vida silvestre: Brasil” (https://www.worldanimalprotection.org.br/sites/default/files/media/Relatorio-De-Olho-na-Industria-do-Turismo.pdf), anunciado pela Proteção Animal Mundial e realizado em parceria com a Universidade de Surrey, do Reino Unido, avaliou globalmente 22 grandes nomes do turismo.
O relatório Brasil contempla oito dessas empresas que comercializam por aqui produtos turísticos como pacotes, passeios e experiências. De particular interesse, a avaliação identificou quatro empresas de viagens que continuam falhando severamente com animais selvagens, vendendo e promovendo atividades e interações nocivas e exploradoras no estilo circense, incluindo passeios e banhos de elefantes, selfies com filhotes de tigre, macacos ou araras e atividades de nado com golfinhos ou alimentação de botos amazônicos, por exemplo.
Por outro lado, Airbnb e Booking.com reforçaram a proteção à vida selvagem ao removerem proativamente de suas plataformas o entretenimento de vida selvagem em cativeiro.
Ainda há uma empresa que se comprometeu em 2021 a encerrar a venda de atrações com golfinhos em cativeiro, mas foram encontradas ofertas para outras atrações com vida silvestre, o que contraria suas políticas. Outra empresa removeu a venda de ingressos para entretenimento de animais selvagens em cativeiro, mas continua a promover o turismo de exploração por meio de imagens e avaliações em seu site.
Todas essas empresas pediram à Proteção Animal Mundial, organização não governamental que trabalha em prol do bem-estar animal, orientações para melhorar seu comprometimento junto à vida silvestre.
Com a chegada da temporada de férias de inverno, a Proteção Animal Mundial pede aos turistas que fiquem atentos antes de fazerem suas reservas e que se certifiquem de que a agência ou plataforma de viagens escolhida não esteja promovendo ou comercializando atrações que envolvam a exploração dos animais, tanto no Brasil como no exterior. De acordo com o conceito de turismo responsável, assim como a cadeia produtiva do setor deve se preocupar com o impacto das atividades e produtos que comercializa, aprimorando a oferta, também os consumidores podem e devem assumir uma postura verdadeiramente consciente em relação a suas escolhas e comportamentos, freando a demanda que sustenta práticas inadequadas.
“Esse é um trabalho primordialmente propositivo. A intenção do olhar sobre o setor de turismo é entender até que ponto ainda persistem práticas ultrapassadas envolvendo animais silvestres. A partir daí, buscamos tanto reconhecer as empresas que já se moveram e estão evoluindo quanto identificar aquelas que ainda têm problemas nos catálogos. Em qualquer dos casos, compartilhamos previamente os resultados individuais de desempenho com elas, bem como recomendações detalhadas do que deve ser corrigido, eliminado ou criado. Queremos que elas melhorem, e isso é interessante para elas em termos de reputação. As pioneiras já se apresentam como tal e se tornam exemplos para concorrentes e atrativas para os consumidores”, detalha David Maziteli, gerente da Campanha de Vida Silvestre da Proteção Animal Mundial.
Sobre os desempenhos registrados, ele esclarece: “Transparência é a chave. Fazemos as pesquisas a partir de informações públicas, seguindo a mesma perspectiva que está disponível para todo e qualquer comprador potencial. Entre as empresas com resultados fracos, muitas vezes há problemas concretos. Mas, frequentemente, essas empresas também pecam porque falham em termos de transparência pública. Por exemplo, não publicam uma política específica de compromisso com a vida silvestre, ou a que há é muito fraca ou vaga. Em relação aos dois nomes brasileiros, ainda que vendessem produtos inadequados à vida silvestre, uma grande falha notada no desempenho realmente fraco foi a falta de sinais públicos de compromisso e de intenções de serem amigos dos animais”.
Sofrimento normalizado
Todos os anos, milhares de animais são capturados na natureza ou nascem em cativeiro. Em qualquer dos casos, eles são usualmente separados das mães em uma idade precoce e, em seguida, submetidos a regimes severos de treinamento que comprovadamente são responsáveis por causar danos físicos e psicológicos aos indivíduos.
São então forçados a permanecer em ambientes de espetáculo – concebidos por seres humanos, abarrotados de pessoas, cheios de sons, luzes e adereços – que não são naturais para eles. Esses locais são altamente estressantes, embora o público seja informado de que essas atrações proporcionam algum tipo de benefício em termos de educação ambiental ou para fins de conservação.
Isso não poderia estar mais longe da verdade. E é por tal razão que muitos dos turistas que pagam para ver esse entretenimento abusivo se sentem desconfortáveis durante os espetáculos ao perceberem que há algo errado com os animais nesses cenários antinaturais.
Promovendo a mudança
Viajar de forma responsável significa nunca incluir entretenimento de vida silvestre em cativeiro em seu itinerário. Pressupõe também recusar-se a reservar férias com empresas que, embora aleguem oferecer viagens responsáveis e sustentáveis, continuam a faturar com a exploração de animais e postergam (ou negligenciam) o sofrimento de suas cadeias de fornecimento.
“Estamos alertando os viajantes responsáveis para que se juntem a nós, chamem a atenção principalmente dessas empresas de viagens atrasadas e as pressionem para que promovam mudanças reais em favor dos animais. Além de suporte para fotos idílicas, os sites, os canais de atendimento e as redes sociais devem servir também para prestar satisfações às pessoas. Em breve pretendemos também lançar uma petição para reunir essas vozes e espantar a indiferença”, diz Maziteli.
Mais sobre a avaliação
Encomendado pela Proteção Animal Mundial e realizado pela Universidade de Surrey, “De olho na indústria do turismo – Responsabilidade com a vida silvestre: Brasil” selecionou e examinou as empresas de viagens pelo seu alcance internacional e por país/operações regionais, analisando de forma independente os compromissos que as empresas de viagens assumiram ou não publicamente.
As empresas foram pontuadas em quatro áreas principais:
1. Comprometimento: disponibilidade e qualidade das políticas de bem-estar animal publicadas e sua aplicabilidade a todas as suas marcas.
2. Metas e desempenho: disponibilidade e escopo das metas publicadas com limite de tempo e relatórios sobre os progressos realizados no cumprimento dos compromissos para com o bem-estar animal.
3. Mobilização da cadeia de fornecimento: disponibilidade e qualidade do envolvimento com fornecedores e a indústria em geral para implementar mudanças amigáveis à vida silvestre.
4. Mobilização da demanda de consumo: disponibilidade e qualidade do conteúdo educacional sobre bem-estar animal e ferramentas para capacitar os consumidores a escolherem viagens favoráveis à vida silvestre.
A Proteção Animal Mundial então verificou se eles ofereciam cinco grupos de “atrações com animais” exploratórias comuns:
• atrações com elefantes, como passeios, shows ou experiências de banho ou lavagem dos animais;
• atrações com primatas, como experiências de acariciá-los ou oportunidades de alimentá-los com as próprias mãos;
• atrações com grandes felinos, como selfies, passeios, shows ou experiências de acariciá-los;
• atrações com golfinhos, como exibições ou experiências de nado em conjunto;
• atrações da vida silvestre em geral, como shows, passeios ou quaisquer experiências interativas diretas com outras espécies de animais selvagens.
Esforço continuado
A Proteção Animal Mundial tem mobilizado a indústria de viagens para que encerre as vendas de entretenimento de vida silvestre há mais de uma década. O foco inicial consistiu em interromper as ofertas para passeios e shows com elefantes, e resultou na bem-sucedida mudança de prática. Em 2019, esse foco foi ampliado para incluir o tema dos golfinhos em cativeiro, e, desde então, sensibilizamos as empresas para que abandonem as vendas de golfinhos e/ou elefantes em cativeiro e se tornem “amigas da vida silvestre”.
A britânica Thomas Cook, umas das mais tradicionais marcas do turismo internacional, repaginada como agência de viagens online (OTA), anunciou que cessará a comercialização de ingressos para interações com golfinhos e baleias em cativeiro (https://www.ttgmedia.com/news/thomas-cook-ends-sale-of-all-attractions-with-captive-cetaceans-41154), dando continuidade ao que já adotava em relação às atrações com orcas. A empresa optou por relançar suas ofertas focando em experiências de observação de baleias e golfinhos, permitindo que as pessoas admirem esses animais em seu próprio habitat.
A Proteção Animal Mundial encoraja as organizações de turismo a terem informações completas sobre suas cadeias de suprimentos, incluindo experiências com animais, para que possam se tornar verdadeiras defensoras dos animais. Nossa intenção é ajudar as empresas a elevarem suas credenciais de sustentabilidade ética, identificando e implementando soluções que garantam o bem-estar e a proteção dos animais envolvidos.
Para mais informações sobre as melhores práticas do setor e como viajantes podem fazer a diferença, a Proteção Animal Mundial (World Animal Protection) oferece o “Guia do turista amigo dos animais” (https://www.worldanimalprotection.org.br/sites/default/files/media/br_files/guia_turistas_amigos_animais_pt.pdf), além de diversas informações sobre o respeito à vida silvestre, disponíveis no site da organização.
Proteção Animal Mundial (World Animal Protection)
A Proteção Animal Mundial (https://www.worldanimalprotection.org.br/) é a voz global do bem-estar animal, com mais de 70 anos de experiência em campanhas por um mundo no qual os animais vivam livres de crueldade e sofrimento. Tem escritórios em 12 países e desenvolve trabalhos em 47 países ao todo.
A organizacão colabora com comunidades locais, com o setor privado, com a sociedade civil e com governos para mudar a vida dos animais para melhor.
O objetivo é mudar a maneira como o mundo trabalha para acabar com a crueldade e o sofrimento dos animais selvagens e de produção. Por meio de estratégia global de sistema alimentar, busca acabar com a pecuária industrial intensiva e criar um sistema alimentar humano e sustentável, que coloque os animais em primeiro lugar.
Ao transformar os sistemas falhos que impulsionam a exploração e a mercantilização, é possível dar aos animais silvestres o direito a uma vida silvestre. O trabalho da organização para proteger os animais desempenha um papel vital na solução da emergência climática, da crise de saúde pública e da devastação de habitats naturais.
https://www.worldanimalprotection.org.br/)