Profissionais, professores e acadêmicos se reuniram presencialmente em Brasília e de forma on-line (Zoom/Youtube) para debater o cenário e o futuro do ensino da medicina veterinária no Brasil. O assunto foi pauta do Primeiro Fórum das Comissões Nacional e Regionais de Educação da Medicina e do 25º Seminário Nacional de Educação da Medicina Veterinária, nos dias 9 e 10 de agosto.
Na abertura do fórum, o presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Francisco Cavalcanti de Almeida, explicou o panorama político e legal da medicina veterinária no país. “O CFMV vem agindo há um bom tempo em busca da qualidade na formação, porém não tem ingerência sobre a abertura de novos cursos. A avaliação dos projetos pedagógicos é feita pelo Ministério da Educação (MEC), que permite a abertura e fiscaliza os cursos de graduação, mesmo assim não deixamos de trabalhar e lutar pela qualidade do ensino no Brasil em todas as esferas de governo”, elucidou o presidente, demonstrando sua inquietação com a situação.
Cavalcanti aproveitou a oportunidade para dar, em primeira mão, a notícia de que ele, a Diretoria Executiva do CFMV e a presidente da Comissão de Educação da Medicina Veterinária do Conselho (CNEMV), Maria José de Sena, levaram as preocupações e demandas da classe ao ministro da Educação, Camilo Santana. A audiência foi no dia 8 de agosto, em Brasília. “Fomos muito bem recepcionados e ouvidos. Estamos na expectativa de que futuras ações do Governo Federal possam garantir a qualidade do ensino da profissão”.
A vice-presidente do CFMV, Ana Elisa Almeida, enfatizou a importância de proporcionar debates como esses em eventos do federal. “As duas últimas gestões do CFMV têm trabalhado para garantir a qualidade do ensino. Vamos continuar juntos nessa luta. Saímos da audiência com o ministro esperançosos em relação à atuação do MEC em benefício da medicina veterinária”, revelou a vice-presidente aos participantes.
Na opinião do tesoureiro e coordenador das comissões do CFMV, José Maria dos Santos Filho, os fóruns e seminários são essenciais para uma boa reflexão e o auxílio da contextualização das demandas da classe. “Tive a percepção de que nossos anseios e pedidos serão atendidos”, declarou, sobre a reunião com o ministro.
Para a presidente da CNEMV, Maria José de Sena, as discussões da semana ocorreram em um momento oportuno, quando há urgência em ações para garantir a qualidade do ensino no país. “Os resultados desses dois dias de debates serão subsídios para a construção de um documento que vai auxiliar a Diretoria da autarquia em articulações institucionais e políticas”, afirmou Maria José, que também é professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco.
25º Seminário Nacional de Educação da Medicina Veterinária
A presidente da CNEMV iniciou o 25º Seminário Nacional de Educação da Medicina Veterinária esclarecendo sobre o cenário brasileiro do ensino em medicina veterinária, a situação dos projetos dos cursos da área e a autorização deles no MEC.
“O projeto pedagógico indica que tipo de profissional a instituição está formando; muitos deles estão em descompasso com as diretrizes curriculares nacionais (DCNs). São 556 cursos de medicina veterinária registrados no MEC, e 25 deles são a distância (EAD). A primeira turma 100% EAD acabou de se formar. É uma grande preocupação”, avaliou a presidente.
Curricularização da extensão: desafios e perspectivas
Os desafios para a implementação das novas DCNs foram abordados na apresentação de Miliane Moreira Soares de Souza, integrante da CNEMV.
“É importante que as universidades enxerguem a extensão como uma oportunidade, e não apenas como uma burocracia a ser cumprida. Precisamos de ensino que busque soluções para os problemas sociais. O estudante deve ser qualificado para entender a sociedade e devolver respostas à população em questões primárias que envolvam a profissão”, defendeu Miliane, professora titular da área de bacteriologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Demografia da Medicina Veterinária no Brasil
A publicação “Demografia da Medicina Veterinária no Brasil” foi apresentada por seu autor principal, Antônio Felipe Wouk, professor titular aposentado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Paraná.
A obra teve como base uma pesquisa digital aplicada em 2022 a profissionais formados e atuantes em medicina veterinária, que levantou o perfil sociodemográfico, a formação e atuação, além de interesses deles. A educação, a empregabilidade, a satisfação profissional e as expectativas do médico-veterinário foram analisadas.
“O objetivo é que o material sirva para o planejamento de ações com vistas à valorização da classe. Acredito que a medicina veterinária será fortalecida com um melhor planejamento público e privado de sua gestão corporativa, bem como por meio da gestão competente por parte de cada médico-veterinário de sua própria trajetória profissional”, refletiu Wouk.
A pesquisa foi realizada pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Paraná (CRMV-PR). A discussão dos dados, redação do trabalho e apresentação foram elaboradas pelos médicos-veterinários Antonio Felipe Wouk, Camila Marinelli Martins, Rafael Gianella Mondadori e Marcelo Hauaji de Sá Pacheco.
Ensino para o desenvolvimento das competências
O palestrante Paulo Jardel Leite Araújo estimulou os participantes a uma reflexão sobre a construção curricular de competências, seu desenvolvimento e o processo de avaliação. “Esses três pontos precisam estar interligados para que haja efetividade no processo educacional. Não é só um currículo que tem que ser desenhado sob competências. É a prática de sala de aula que tem que se conectar ao currículo e a um sistema de avaliação. Tudo isso para que o processo educacional seja efetivo”, disse Araújo, que é pós- doutor em educação para competências.
Integração entre o ensino de graduação e pós-graduação na medicina veterinária
Carlos Eduardo Ambrósio, pós–doutor e vice coordenador da área de Medicina Veterinária da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), apontou detalhes do processo de regulamentação da Capes e como agregar a pós-graduação em medicina veterinária ao contexto. “As instituições de ensino superior podem buscar acrescentar mais ao ensino de graduação e pós-graduação e procurar a Capes”, assinalou.
A iniciação científica/tecnológica no contexto do ensino para o desenvolvimento de competências
Maria Clorinda Soares Fioravanti, integrante da CNEMV, mostrou como a inserção inicial do estudante no universo da pesquisa pode ajudá-lo a se tornar um profissional melhor. “O estudante dentro de um programa de iniciação tecnológica desenvolve as habilidades e competências necessárias nas novas DCNs. Há uma transversalidade entre pesquisa e ensino, desenvolvendo características que, com certeza, vão tornar o estudante um médico-veterinário melhor”, explicou ela, que é professora titular da Universidade Federal de Goiás.
Organização
Os eventos foram organizados pela Comissão Nacional de Educação da Medicina Veterinária (CNEMV), sob a coordenação do tesoureiro e coordenador das comissões assessoras do CFMV, José Maria dos Santos Filho.
Quer assistir às palestras? Acesse o YouTube do CFMV
Fonte: Assessoria de Comunicação do CFMV