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Editorial

Se esquecermos seremos dolorosamente lembrados mais tarde

Editorial 171

Matéria escrita por:

Maria Angela Sanches Fessel

11 de jul de 2024

Créditos: Christyam de Lima Créditos: Christyam de Lima

As tragédias relacionadas à crise climática sucedem-se agora com frequência angustiante.

Mesmo assim, muitos ainda se protegem dessa angústia tentando ignorar os fatos. Logo após o primeiro choque causado por tais situações, vem o esquecimento. A dura realidade é jogada para fora da consciência imediata com o auxilio dos habituais mecanismos – mergulhar em nossas rotinas, abusar do consumo de álcool e outras substâncias ou da comida, desviar a atenção nas maratonas de séries televisivas, nas mídias sociais e em prazeres ou atividades notoriamente positivas como esportes ou o próprio trabalho. Fugimos do enfrentamento da realidade por inércia, preguiça, medo, exaustão ou simplesmente pela sensação avassaladora de não nos sentirmos capazes de encontrar soluções.

Os recentes desastres no Rio Grande do Sul estão aí para nos mostrar mais uma vez a fragilidade da sociedade humana, das nossas ignorância e incompetência para gerir os recursos que a natureza oferece, das nossas ganância e arrogância e de nosso despreparo para lidar com essas catástrofes. Milhares de vidas vêm sendo destroçadas, e mesmo as que sobrevivem terão que continuar no modo “sobrevivência” por muito tempo, se é que serão capazes algum dia de superar as sequelas das experiências vividas.

Felizmente, muitas pessoas abriram e abrem mão dos seus “confortos” e partiram e ainda partem para auxiliar, algumas delas até mesmo por influência da mídia ou de seus pares. No auge da desgraça (anunciada, diga-se de passagem), as pessoas se sensibilizam, mobilizam, doam-se e emergencialmente auxiliam. Mas à medida que o tempo passa, a tragédia vai caindo na mesma prateleira de tantas outras, e a mídia e as memórias vão se misturando.

Assim, trago aqui algumas reflexões. Quem de nós continua acompanhando as vidas e os destinos daqueles que sobreviveram, por exemplo, às tragédias em São Sebastião, SP, Petrópolis, RJ, Brumadinho e Mariana, MG, apenas para citar alguns exemplos? Quantos de nós continuamos de alguma maneira lembrando, auxiliando, em vez de transferir essa responsabilidade a alguma outra pessoa? Quantos animais resgatados nesses locais continuam sendo acompanhados ou tendo suas vidas (alimentação, cuidados gerais etc.) patrocinadas por nós ou por entidades ou empresas? E seus tutores, como estão? Como estão essas famílias que perderam tudo, inclusive familiares? Conseguem se manter com alguma dignidade? Tiveram que entregar seus animais e aceitar a perda dos laços afetivos que os uniam? Conseguiram mantê-los? Quantos moram ainda em abrigos?

A situação do Rio Grande do Sul teve apoio de todos os estados, mas muitas das equipes voltaram e nem todas foram substituídas. Muitos animais que foram levados aos abrigos tiveram destino adequado, mas muitos ainda precisam de auxílio. Recentemente publicamos uma chamada para colegas médicos-veterinários atuarem no Rio Grande do Sul, pois ainda há e haverá muito a fazer e por bastante tempo – https://www.revistaclinicaveterinaria.com.br/noticias/entidades/imvc/chamada-para-medicos-veterinarios-atuarem-no-rio-grande-do-sul/

Diversas entidades seguem trabalhando e por muito tempo ainda precisarão de ajuda. Integrantes do sistema CFMV/CRMVs, entidades de classe, ONGs, universidades, profissionais autônomos, entre muitos outros, se uniram e ainda dão continuidade aos trabalhos nas muitas regiões afetadas. 

É preciso manter vívida a noção de que ainda há muito a fazer e que todos podemos continuar auxiliando. Entre tantos exemplos, ressaltamos o empenho de professores e voluntários da UFPR na região de Canoas, RS, nos abrigos improvisados, que precisarão de ajuda por bastante tempo, para encontrar lares e cuidar dos animais que neles ainda estão. Diversos grupos de médicos-veterinários voluntários trabalham exaustivamente dentro e fora desses abrigos para reduzir a transmissão de doenças e oferecer condições de bem-estar aos animais ali abrigados.

Além da necessidade de adoção, os animais precisam de ração e sachês de alimentos úmidos. Um dos pontos de arrecadação, para quem puder levar ou enviar alimentos, fica em São Paulo no bairro do Butantã – Rua Prof. Astolfo Tavares Paes 86, apto 24A, 052352-070, mas há muitos outros locais. As pessoas devem apenas confirmar que são entidades e pessoas dignas que recebem e encaminham as doações.

O IMVC ou Instituto Técnico de Controle Animal também recebe doações em dinheiro, por meio do PIX 07.248.851/0001-05. As doações são destinadas ao abrigo da prefeitura de Canoas, RS, chamado imvcou Abrigo Bem-estar Animal.

Existem muitas outras formas de colaborar e se envolver, e todos podemos encontrar maneiras. A vida segue, ela é múltipla, não é feita apenas de tragédias, mas é muito importante manter o senso de proporção, e principalmente preservar a consciência de que essas necessidades continuam e continuarão presentes por bastante tempo.

Se você participa ou conhece alguma entidade que esteja envolvida com os trabalhos de recuperação do Rio Grande do Sul, entre em contato conosco ([email protected]), para ajudarmos a divulgá-las.