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Projeto Primatas PERDidos

Pesquisa e conservação de primatas do maior remanescente contínuo de Mata Atlântica de Minas Gerais

Matéria escrita por:

Theury Reis Olegário

19 de set de 2024

Fêmea e filhote de muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) no Parque Estadual do Rio Doce. Créditos: Júnior Cabral Fêmea e filhote de muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) no Parque Estadual do Rio Doce. Créditos: Júnior Cabral

O projeto Primatas PERDidos, criado em 2018, no Parque Estadual do Rio Doce (PERD), leste de Minas Gerais, tem por objetivo atuar na conservação dos primatas nativos da primeira Unidade de Conservação do estado. O nome do projeto faz um trocadilho com a abreviação do nome do parque (PERD) e as espécies de primatas que ocorrem no local, que há tempos estavam “esquecidas e perdidas”, já que não eram foco de pesquisas. O parque abriga 5 espécies de primatas: bugio-ruivo (Alouatta guariba), muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), macaco-prego (Sapajus nigritus), sauá (Callicebus nigrifrons) e o sagui-caveirinha (Callithrix aurita). Outras duas espécies foram introduzidas no local, o sagui-da-cara-branca (C. geoffroyi) e o mico-estrela (C. penicillata).

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Parque Estadual do Rio Doce, local onde os trabalhos são realizados. Créditos: Vanessa Guimarães

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A história se inicia com a criação do Projeto Aurita em 2021, que previa a conservação do sagui-caveirinha (Callithrix aurita), espécie criticamente ameaçada de extinção e que não era vista há muitos anos no parque. A espécie já foi incluída na lista dos 25 primatas mais ameaçados de extinção do mundo, em consequência da fragmentação e perda de habitat, e devido à introdução de outras espécies de saguis em sua área de ocorrência. Além da competição por recursos, a invasão desses saguis em áreas fora da sua área de distribuição original pode acarretar a perda genética da população nativa, já que as espécies desse gênero (Callithrix) são próximas filogeneticamente e ao se reproduzir geram descendentes híbridos e férteis.

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Um dos poucos indivíduos avistados de sagui-caveirinha (Callithrix aurita) no Parque Estadual do Rio Doce. Créditos: Vanessa Guimarães

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Os pesquisadores do projeto trabalharam arduamente e registraram a presença de apenas 4 indivíduos do sagui-caveirinha em dois locais do parque. Por outro lado, houve predominância de indivíduos híbridos das duas espécies invasoras de saguis, o sagui-de-cara-branca (C. geoffroyi) e o mico-estrela (C. penicillata).

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Captura de macacos-prego (S. nigritus) no Parque Estadual do Rio Doce para realizar análises clínicas e pesquisa de patógenos pelas biólogas do projeto Natasha Grosch e Vanessa Guimarães (coordenadora do projeto). Créditos: Acervo Primatas PERDidos

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Também no ano de 2021, a equipe atuou para a conservação de mais duas espécies de primatas presentes no PERD, o sauá (C. nigrifrons) e o macaco-prego (S. nigritus). Além de avaliar o número de indivíduos de cada população, o projeto teve por objetivo avaliar as principais ameaças aos macacos-prego, já que há uma forte interação de turistas com esse primata a partir da oferta indevida de alimentos. Foram realizadas capturas de indivíduos de macaco-prego com o objetivo de examiná-los clinicamente e avaliar a presença de patógenos e possíveis zoonoses, como a Covid-19. Os resultados evidenciaram o acometimento de dois indivíduos pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR), um dos principais agentes de infecção aguda nas vias respiratórias humana, cuja transmissão se dá através do contato de um ser humano infectado com o animal. Além da transmissão de doenças, a proximidade e a oferta de alimentos aos animais silvestres oferecem risco à preservação desses animais, tornando-os habituados com a presença humana e sob risco de desenvolver doenças como obesidade e diabetes, além de lesões pelo corpo, presença de cáries e fraturas dentárias.

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Macaco-prego (S. nigritus) com dentição acometida por cálculo dental durante exame clínico de médicos-veterinários da equipe. Créditos: Acervo Primatas PERDidos

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Atualmente, o projeto em andamento visa o levantamento populacional e a conservação do muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), o maior primata das Américas. Uma espécie exclusiva da Mata Atlântica, que possui uma população total inferior a 1.000 indivíduos, o que o tornou, em 2016, um dos 25 primatas mais ameaçados de extinção do mundo. A espécie é classificada atualmente como Criticamente Em Perigo pela lista vermelha do ICMBio e pela lista internacional da IUCN.

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Procedimento de colheita de amostras biológicas para análises virais de um indivíduo de macaco-prego (S. nigritus). Créditos: Acervo Primatas PERDidos

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Considerando a crítica ameaça de extinção à espécie e fatores como a baixa densidade populacional, o ritmo lento de reprodução somado à migração das fêmeas, sobretudo em áreas florestais isoladas que dificultam a continuidade de populações viáveis, a pesquisa reforça argumentos frente à necessidade da conservação da espécie. Além disso, os muriquis desempenham um importante serviço ecossistêmico, já que são excelentes dispersores de sementes, e podem garantir a integridade e a conectividade das áreas de mata em que residem.

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Indivíduo de muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus). Créditos: Vanessa Guimarães

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O projeto avalia a ocorrência, o tamanho populacional e a genética dos grupos remanescentes de muriquis no PERD, com objetivo de proteção da espécie e produção de conhecimento científico. São realizadas atividades de campo em trilhas para a busca ativa dos indivíduos e os registros são obtidos com o uso de drone multiespectral em áreas de difícil acesso. Ao todo já foram identificados cerca de 190 indivíduos. 

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Sobrevoos com drone, para registrar a presença dos muriquis-do-norte por meio de câmera termal e colorida. Créditos: Acervo Primatas PERDidos­

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Imagens capturadas em sobrevoo com drone. Créditos: Vanessa Guimarães

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Ações de educação ambiental também são realizadas em escolas e eventos para divulgação de informações, de forma a conscientizar a população acerca das espécies que ocorrem na região, sobretudo do muriqui-do-norte, e como a comunidade pode contribuir para a conservação em parceria com os pesquisadores. O objetivo é usar a ciência-cidadã no exercício da proteção das espécies a longo prazo. 

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Educação ambiental no Parque sobre o sagui-caveirinha, no qual as crianças montam e pintam seu sagui. Créditos: Acervo Primatas PERDidos

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Estágios e voluntariados 

O projeto possui programa de voluntariado para atuar nas redes sociais com produção de conteúdo científico, e futuramente oferecerá um programa de voluntariado de férias para o acompanhamento da equipe de campo. Os interessados devem entrar em contato por meio dos canais de comunicação e ficar atentos aos próximos editais a serem lançados.

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Trabalho em campo, no qual Vanessa Guimarães (acima) e Natasha Grosch (abaixo) observam os primatas com binóculos. Créditos: Acervo Primatas PERDidos

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Sistema para capturar saguis híbridos. A plataforma, confeccionada pela equipe ficava suspensa na árvore com as armadilhas de captura dos animais com o objetivo de coletar amostras biológicas para análise genética. Após a coleta, os animais seriam soltos na natureza, na mesma área da captura. Créditos: Acervo Primatas PERDidos

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Instagram: https://www.instagram.com/primatasperdidos/

E-mail: [email protected]