Silvio Arruda Vasconcellos
O novo editor científico da revista Clínica Veterinária
O professor Sílvio Arruda Vasconcellos, que tem longa e brilhante carreira universitária na FMVZ/USP – como professor em graduação e pós-graduação na área de saúde pública veterinária e saúde animal –, e com experiência na editoria de importantes veículos científicos e uma importante atuação no CRMV-SP, nos concede agora a honra de tê-lo como nosso novo editor científico. Nesta entrevista, ele fala de sua trajetória na medicina veterinária, como vê a profissão, a pesquisa científica, a divulgação de informações para os profissionais que atuam diretamente com tutores de animais de companhia, de seus planos e das ideias que vislumbra trazer para a revista e o Portal Clínica Veterinária.
Clínica Veterinária (CV) – Professor Silvio, primeiro gostaríamos de agradecer sua generosa parceria e desejar-lhe boas-vindas como novo editor científico da revista Clínica Veterinária. Sua contribuição e trabalho têm sido muito importantes para a medicina veterinária, então poder contar com seu apoio e orientação trazem grande alegria e estímulo para nós. O professor pode falar um pouco da sua trajetória professional como pesquisador, professor e editor científico?
Silvio Arruda Vasconcellos (SAV) – Iniciei minha carreira profissional em 1973 ocupando a função de gerente de Fazenda Experimental de um Laboratório produtor de vacina anti-aftosa. Em 1974 ingressei como auxiliar de ensino na FMVZ USP, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal (VPS) onde permaneci por 38 anos, cumprindo todas as etapas da carreira universitária. No curso de graduação ministrei aulas de epidemiologia geral e saneamento aplicado; zoonoses (saúde pública veterinária) e práticas de saúde animal. Na área de pós-graduação, fui o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia Experimental e Aplicada a Zoonoses, níveis mestrado e doutorado. Em 2013 assumi a função de editor chefe do Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, revista científica criada há 86 anos pela FMVZ/USP, atividade que ocupo até o presente. No ano de 2006 fiz parte da gestão que assumiu o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo permanecendo nas gestões sucessivas até o ano de 2024, nesta atividade, a partir de 2010 assumi a função de editor chefe da Revista de Educação Continuada do CRMV-SP, exercendo essa atividade até 2024. Na atualidade, participo do Conselho Editorial desta revista, na qualidade de editor científico. Faço parte do Conselho Editorial do Boletim da Academia Paulista de Medicina Veterinária.
CV – O que o move a continuar contribuindo com a sociedade brasileira em geral e com a medicina veterinária em especial, mesmo estando aposentado, sendo que poderia apenas “desfrutar” os resultados de sua dedicação à saúde pública durante tantos anos de trabalho?
SAV – A educação que eu recebi da minha família me ensinou que precisamos ser úteis, contribuindo de alguma forma para a sociedade em que estamos inseridos.
CV – Qual é a importância da educação continuada na vida de profissionais, tanto recém-formados quanto profissionais que já atuam há bastante tempo?
SAV – Com os recursos tecnológicos atualmente disponíveis a velocidade da evolução do conhecimento de todas as áreas é muito grande e portanto os profissionais necessitam estar engajados em um processo de atualização permanente em suas respectivas áreas de atuação. Quando compartilham as suas experiências profissionais, utilizando os princípios básicos da comunicação científica, conseguem amadurecer e consolidar os seus próprios conhecimentos.
CV – Por que a atualização em pesquisas científicas, seja por meio da leitura de trabalhos experimentais, de relatos de caso ou de revisões de literatura pode auxiliar na evolução profissional de médicos-veterinários?
SAV – Todos os três tipos de produção científica são válidos e de grande importância, tanto para quem os produz quanto para a comunidade profissional como um todo. Contudo é necessário que esses veículos de comunicação observem os princípios básicos da comunicação científica com análise por pares. O hábito de relatar a vivência profissional utilizando os princípios do método científico promove o crescimento técnico/intelectual dos profissionais e consequentemente dos serviços que eles prestam para a sociedade.
CV – Atualmente, o acesso a informações é muito mais fácil e tutores têm cada vez mais oportunidades de entender a respeito dos males que seus animais sofrem. Como o professor entende que a profissão tenda a evoluir, bem como o relacionamento entre médicos-veterinários e tutores nos próximos anos e décadas?
SAV – Essa situação está determinando a necessidade da especialização profissional. Os profissionais não podem estacionar após a conclusão dos cursos de graduação. É necessário o aprimoramento profissional permanente com a participação em programas de pós-graduação senso lato (residência e especialização) e pós-graduação senso estrito (mestrado e doutorado acadêmico e mestrado profissionalizante). Destaque-se que os produtos finais de tais cursos: trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado e teses de doutorado constituem um material de excelente qualidade que precisa ser divulgado pelos veículos de comunicação.
CV – Como os médicos-veterinários de animais de companhia podem contribuir com a divulgação de conceitos e conteúdos relacionados à saúde coletiva? Como o professor vê o papel desse profissional na formação de opinião da população em geral?
SAV – O papel dos medicos-veterinários de animais de companhia é fundamental para o desencadeamento de ações de saúde coletiva, pois são eles que realizam o diagnóstico, a descoberta das fontes de infecção que podem ser as responsáveis pelo desencadeamento de um surto de uma doença transmissível que venha a acometer populações, tanto de animais como de seres humanos. A situação atual da raiva urbana no Brasil é um exemplo concreto dessa premissa, pois com a realização sistemática de campanhas de vacinação de cães e gatos, foi alcançado o controle da variante do vírus da raiva mantida pelos cães (variante 2) e na atualidade os casos de raiva registrados em cães e gatos têm sido provocados pela variante mantida por quirópteros (variante 3) cujas manifestações clínicas são distintas da forma clássica, predominando o quadro neurológico de incoordenção motora e paralisias. Assim passou a ser de extrema importância que os clínicos fiquem atentos, interagindo com os serviços veterinários oficiais para que nos casos de óbito de animais com quadros neurológicos, seja excluida a hipótese de raiva com a realização dos procedimentos laboratoriais necessários. O papel de educação em saúde desempenhado pelos clínicos de pequenos animais de companhia é essencial para a orientação dos tutores sobre os cuidados necessários para a promoção da saúde e do bem-estar dos seus animais e também para impedir que eles venham a se tornar fontes de infecção de agentes etiológicos de zoonoses.
CV – Como a revista e o Portal Clínica Veterinária podem auxiliar profissionais e estudantes de medicina veterinária a prestar serviços e atendimentos de melhor qualidade e que estimulem tutores a ser cada vez melhores parceiros tanto no cuidado com o próprio animal quanto no cuidado com animais do entorno de sua residência e trabalho?
SAV – Filtrando, avaliando e divulgando informações técnicas/científicas consistentes que possam contribuir para o aprimoramento contínuo dos serviços médico-veterinários oferecidos para a sociedade.
CV – Quais são seus sonhos em relação à medicina veterinária?
SAV – Conseguir harmonizar, organizar e gerenciar as relações estabelecidas entre os seres humanos e os animais de companhia, silvestres, de produção e de trabalho, promovendo e respeitando o bem-estar de todas essas populações.