Pandemia aumenta negligência em relação à leishmaniose
Pandemia aumenta negligência em relação à leishmaniose
Doença que atinge humanos e animais precisa de cuidados e ações preventivas constantes
Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das mais perigosas doenças tropicais, a leishmaniose, assim como outras enfermidades, tem sido negligenciada por parte da população com a atual pandemia de coronavírus. No entanto, é preciso manter atenção com os perigos da zoonose que acomete tanto seres humanos quanto animais.
“Não podemos esquecer que, apesar de estarmos passando por uma pandemia de Covid, as outras doenças continuam acontecendo e merecem toda a atenção da população”, destaca a méd.-vet. Adriana Maria Lopes Vieira, presidente da Comissão Técnica de Saúde Pública do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CTSP/CRMV-SP).
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, ocorrem em média 3,5 mil casos por ano em humanos, com um índice de mortalidade que passou de 3%, em 2002, para 7,1%, em 2012. Como atinge órgãos com grande concentração de células de defesa do organismo, como medula óssea, fígado, baço e linfonodos, é fatal em até 90% dos casos.
O próprio Ministério da Saúde considerava uma doença negligenciada antes mesmo do Covid-19, já que os cuidados preventivos são básicos, o que não impede a grande incidência de casos. “Especialmente nas regiões endêmicas, com alto índice de transmissão, as pessoas têm que seguir com os cuidados e orientações das autoridades de saúde”, afirma Adriana.
Sintomas
Apesar de acometer animais e humanos, os sintomas podem ser distintos. Nas pessoas, o sistema imunológico é bastante afetado, causando insuficiência renal crônica, emagrecimento, atrofia muscular, diarreia, aumento de volume abdominal, febre intermitente, perda de apetite, fraqueza, anemia, palidez, alterações respiratórias, dentre outros.
Já os animais contaminados costumam apresentar queda de pelos, descamação cutânea e presença de feridas que não cicatrizam (úlceras) localizadas ou difusas, além de letargia e emagrecimento. “É importante observar qualquer mudança no comportamento do animal e se ele apresentar algum sintoma, levar para um profissional avaliar”, destaca Adriana Vieira.
Tratamento
Cães podem ser tratados com MilteforanTM. Porém, devem passar por reavaliação clínica, laboratorial e parasitológica periodicamente e, se necessário, um novo ciclo de tratamento deverá ser indicado, lembrando que também precisam ser mantidas, obrigatoriamente, as demais medidas preventivas.
“A bula do MilteforanTM informa que não há cura parasitológica para a Leishmaniose Visceral Canina, mas que o declínio da carga parasitária reduz a transmissibilidade da doença. Portanto, o risco de transmissão existe. É preciso extremo comprometimento do tutor com todas as medidas preventivas”, diz o méd.-vet. Leonardo Burlini, coordenador técnico do CRMV-SP.
Prevenção
A prevenção ainda é a melhor forma de combater a proliferação da leishmaniose, especialmente sobre a ótica da Saúde Única, que engloba a saúde animal, saúde humana e saúde ambiental. “O médico-veterinário pode participar diretamente na prevenção, vigilância e controle de doenças relacionadas à saúde pública”, enfatiza a méd.-vet. Luciana Hardt Gomes, que também integra a CTSP/CRMV-SP.
A transmissão da Leishmaniose Visceral não ocorre pelo contato direto entre os animais domésticos e o ser humano. Para que aconteça a contaminação, é necessário que o mosquito-palha (flebótomo Lutzomyia spp) pique um animal infectado e, em seguida, uma pessoa, transmitindo a ela o protozoário causador da doença.
A médica-veterinária destaca a importância dos cuidados com os animais, bem como da manutenção da limpeza dos ambientes. “A prevenção passa pela guarda responsável, com uma nutrição adequada, além de medidas específicas para evitar a proliferação do vetor, mantendo o ambiente limpo, sem acúmulo de lixo e matéria orgânica”, complementa.
Veja outros cuidados recomendados pelo CRMV-SP para a prevenção da leishmaniose:
- 1 – Coleiras repelentes são eficientes para não-contaminação pela zoonose. A deltametrina é o elemento químico recomendado pela Organização Mundial da Saúde para impedir o contato dos animais com o mosquito transmissor.
- 2 – Barreiras físicas, como o revestimento de janelas e portas de canis ou viveiros com redes e telas, também são efetivas na prevenção. Como o inseto se alimenta no período noturno, em regiões quentes e com incidência de leishmaniose é recomendável manter os animais abrigados após o fim de tarde.
- 3 – Limpeza e higiene são as melhores medidas de prevenção contra a leishmaniose. Como o mosquito-palha se reproduz em locais com matéria orgânica, é preciso manter quintais limpos e evitar o acúmulo de lixo e água parada.
- 4 – Inseticidas podem ser aplicados nas paredes de domicílios e abrigos de animais. No entanto, a indicação é apenas para as áreas com elevado número de casos ou em surto de leishmaniose visceral.
- 5 – Exames periódicos e consultas regulares ao médico-veterinário podem identificar a doença com maior agilidade.