2025 é um ano de comemorações! Vamos celebrar juntos os 30 anos da revista!

Menu

Clinica Veterinária

Início Notícias Mercado Royal Canin Supersaturação relativa da urina
Royal Canin

Supersaturação relativa da urina

Sua relação com os cálculos urinários

Matéria escrita por:

Clínica Veterinária

17 de jan de 2017


Dentre as causas mais comuns de afecções do trato urinário inferior está a urolitíase, que é definida como a formação de sedimento, consistindo de um ou mais cristalóides pouco solúveis no trato urinário 1. Estes sedimentos sólidos, chamados de urólitos ou cálculos, são formados a partir de falhas na excreção de metabólitos corporais pela urina, havendo acúmulo de precipitados, dentre eles, os cristais 2.

A supersaturação da urina é a força motriz para a formação de cristais no trato urinário inferior e pode ser estimada levando em consideração o volume urinário, concentração de alguns sais e pH urinário. A metodologia de pesquisa é denominada “Super Saturação Relativa” (RSS) e avalia os riscos de formação de cristais urinários com base no nível de saturação de sais pouco solúveis, tais como estruvita ou oxalato. Este método foi introduzido pela primeira vez na medicina humana em 1960 pelo dr. WG Robertson, sendo amplamente utilizado em seres humanos, e foi validado para a urina do cão e do gato 3,4.

A literatura considera que o cálculo de RSS, a partir da urina de cães alimentados com uma dieta específica, é o mais adequado determinante da cristalização e é o método de referência para estudar o efeito da dieta sobre o potencial de cristalização da urina 3,5-9.

Para estimar o RSS, são necessários cálculos numerosos e complexos. Para tanto, desenvolveu-se um software (Supersat®) que permite calcular o RSS para oxalato de cálcio e estruvita, utilizando dados do pH urinário, e a concentração urinária de 10 solutos (cálcio, magnésio, sódio, potássio, ácido de amônio, fosfato, citrato, sulfato, oxalato, ácido úrico) 3,6.

Na figura 1 é possível visualizar um resumo esquemático de como é feita a análise completa e o cálculo do Índice de RSS.

­

Figura 1 – Metodologia de estimativa da Supersaturação Relativa da urina (RSS)

­

O RSS é único para cada tipo de cristal e pode ser utilizado para definir três zonas diferentes de saturação de urina: Zona de SUPERSATURAÇÃO INSTÁVEL; Zona de SUPER SATURAÇÃO METAESTÁVEL; Zona de SUBSATURAÇÃO. Cada uma destas zonas tem diferentes implicações para o risco de formação de urólitos (Figuras 2 e 3).

­

Figura 2 – Avaliação do risco de formação de urólitos de estruvita e oxalato de cálcio

­

Se a dieta favorece um índice RRS para estruvita Se a dieta favorece um índice RSS para oxalato de cálcio A saturação da urina produzida pelo animal que ingeriu este alimento será O risco de formação de estruvita e oxalato de cálcio
Maior que 2,5 Maior que 12 supersaturada • Pode ocorrer formação de novos urólitos de estruvita e oxalato

• Urólitos de estruvita já existentes podem crescer

• Urólitos de oxalato já existentes podem crescer

Entre 1 e 2,5 Entre 1 e 12 metaestável

• Não há formação de novos urólitos de estruvita e oxalato

• Não há dissolução de urólitos de estruvita já existentes e os mesmos podem crescer .

• Urólitos de oxalato já existentes podem crescer

Menor que 1 Menor que 1 subsaturada

• Não há formação de novos urólitos de estruvita e oxalato

• Dissolução de urólitos de estruvita já existentes

• Urólitos de oxalato já existentes não podem crescer

Figura 3 – Avaliação do risco de formação de cálculos urinários. Adaptado 3

­

Um RSS abaixo do produto de solubilidade significa que a urina é subsaturada e que os cristais não se formarão (evitando, assim, a recorrência), e os cálculos de estruvita irão se dissolver, como mostrado, em estudos in vitro e in vivo com cães e gatos 5,10-12. A dissolução ocorre progressivamente de acordo com o “nível” de subsaturação (quanto menor o RSS, mais rápida será a dissolução) 10,11. Em meios complexos, tais como a urina, é possível ter um RSS acima do produto de solubilidade sem precipitação espontânea de cristais. Este nível de supersaturação é qualificado como supersaturação metaestável. Neste nível de saturação, os cristais não irão formar-se espontaneamente, mas podem ocorrer na presença de um núcleo. Na zona de supersaturação metaestável, cristais e, consequentemente urólitos, não se dissolvem.

Em níveis mais elevados de minerais na urina, cristais vão se formar espontaneamente dentro de minutos a horas. Esta é a zona de supersaturação lábil ou instável. O limite entre a supersaturação metaestável e instável é chamado de “formação do produto”. Estudos de precipitação cinética 8 na urina têm mostrado que o RSS para o produto de formação para estruvita é de 2,5 e para o oxalato de cálcio é de 12.

Um alimento especificamente formulado para cães de pequeno porte, os quais apresentam alta predisposição para formação de cálculos urinários, deve conter matérias-primas com baixos teores de minerais e de compostos precursores de cristais, além de controlar o pH urinário e aumentar o volume urinário produzido, atuando assim na dissolução e/ou na diminuição da recidiva da urolitíase de forma mais completa. Considerando também a influência da nutrição como coadjuvante no auxílio do manejo de outras particularidades deste porte (como os cálculos dentais e o apetite caprichoso), abordá-las de forma intencional na formulação do alimento trará benefícios adicionais aos cães pequenos acometidos por urolitíases.

 

Referências sugeridas

01-STEVENSON, A. ; RUTGERS, C. Nutritional management of canine urolithiasis. In: PIBOT, P. ; BIOURGE, V. ; ELLIOT, D. A. Encyclopedia of canine clinical nutrition. Aimargues: Royal Canin, 2006. p. 284-315.

02-MONFERDINI, R. P. ; OLIVEIRA, J. Manejo nutricional para cães e gatos com urolitíase – revisão bibliográfica. Acta Veterinaria Brasilica, v. 3, n. 1, p. 1-4, 2009. Disponível em: <https://periodicos.ufersa.edu.br/acta/article/view/1104/700>.

03-ROBERTSON, W. G. ; JONES, J. S. ; HEATON, M. A. ; STEVENSON, A. E. ; MARKWELL, P. J. Predicting the crystallization potential of urine from cats and dogs with respect to calcium oxalate and magnesium ammonium phosphate (struvite). The Journal of Nutrition, v. 132, n. 6, p. 1637S-1641S, 2002.

04-MARKWELL, P. J. ; STEVENSON, A. E. Tratamiento dietético de la urolitiasis canina. Waltham Focus, v. 10, n. 1, p. 10-13, 2000.

05-STEVENSON, A. E. ; WRIGGLESWORTH, D. J. ; MARKWELL, P. J. Urine pH and urinary relative supersaturation in healthy adults cats. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON UROLITHIASIS, 9., 2000, Cape Town. Proceedings… Cape Town: University of Cape Town, 2000.

06-VAN HOEK, I. ; MALANDAIN, E. ; TOURNIER, C. RSS is a better predictor for struvite dissolution than urine pH. Veterinary Focus, v. 19, n. 2, p. 47-48, 2009.

07-STEVENSON, A. E. ; SMITH, B. H. E. Nutritional aspects of canine struvite urolithiasis. Focus on the Urinary Tract, p. 59-62, 1998.

08-BIOURGE, V. C. Urine saturation: a key factor in the management of FLUTD. In: AMERICAN COLLEGE OF VETERINARY INTERNAL MEDICINE FORUM, 2006, Louisville. Proceedings… Louisville: ACVIMF, 2006. p. 17-19.

09-STEVENSON, A. E. ; ROBERTSON, W. G. ; MARKWELL, P. Risk factor analysis and relative supersaturation as tools for identifying calcium oxalate stone-forming dogs. The Journal of Small Animal Practice, v. 44, n. 11, p. 491-496, 2003. doi: 10.1111/j.1748-5827.2003.tb00109.x.

10-HOUSTON, D. M. ; WEESE, H. E. ; EVASON, M. D. ; BIOURGE, V. ; VAN HOEK, I. A diet with a struvite relative supersaturation less than 1 is effective in dissolving struvite stones in vivo. The British Journal of Nutrition, v. 106, n. 1, p. S90-92, 2011. doi: 10.1017/S0007114511000894.

111-TOURNIER, C. ; MALANDAIN, E. ; ABOUHAFS, S. ; ALADENISE, S. ; VENET, C. ; ECOCHARD, C. ; SERGHERAERT, R. ; BIOURGE, V. The dissolution kinetic of feline struvite stones in urine in vitro depends on the urine struvite relative supersaturation. In: RESEARCH ABSTRACT PROGRAM, 26., 2008, San Antonio. Proceedings… San Antonio: ACVIM Forum, 2008. Forum. Journal of Veterinary Internal Medicine.

12-SMITH, B. H. E. ; STEVENSON, A. E. ; MARKWELL, P. J. Urinary relative supersaturations of calcium oxalate and struvite in cats are influenced by diet. The Journal of Nutrition, v. 128, n. 12, p. 2763S-2764S, 1998.

 

Carolina Padovani

Médica-veterinária e gerente de comunicação científica

Royal Canin Brasil