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Defesa Civil do Estado de São Paulo

A importância da parceria com a medicina veterinária de desastres e a participação de médicos-veterinários

Matéria escrita por:

Clínica Veterinária

12 de jan de 2025


A tenente coronel Claudia Andreia Bemi  é diretora da Defesa Civil do Estado de São Paulo, e tem 31 anos de experiência em segurança e ordem pública, com especial atuação na Casa Militar do Gabinete do Governador do Estado de São Paulo, onde lidera o departamento de Proteção e Defesa Civil do Estado, com destaque na gestão de desastres naturais, coordenação de obras de recuperação e execução de ações de ajuda humanitária. Claudia compartilha na Clínica Veterinária sua  ampla expertise em planejamento estratégico, liderança de equipes em situações críticas e promoção da resiliência, bem como sua grande experiência com as equipes veterinárias de resgate técnico de animais.

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Tenente coronel Claudia Andreia Bemi, diretora da Defesa Civil do Estado de São Paulo. Divulgação Defesa Civil de São Paulo

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Revista Clínica Veterinária (CV) – O que é a Defesa Civil e quais suas atribuições em situações de desastres?

Claudia Bemi (CB) – A Defesa Civil é a organização de toda a sociedade para a autodefesa e fundamenta-se no princípio de que nenhum governo, sozinho, consegue suprir a todas as necessidades dos cidadãos. Uma comunidade bem preparada é aquela que tem mais chances de sobreviver. É uma atividade permanente que se desenvolve por meio de cinco fases de ações:

– Prevenção: medidas adotadas visando evitar a ocorrência de desastres;

– Preparação: capacitação e treinamento dos agentes públicos e da população para atuar frente a eventos inevitáveis;

– Mitigação: busca constante pela minimização de riscos e desastres em todas as demais fases;

– Resposta: dividida em socorro, quando todo o esforço é feito no sentido de se evitar perdas humanas ou patrimoniais na área atingida por desastres, e assistência, quando são criadas condições de abrigo, alimentação e atenção médica e psicológica às vítimas e desabrigados; e

– Recuperação: quando investimentos são feitos objetivando o retorno, no mais curto espaço de tempo possível, das condições de vida comunitária existentes antes do evento e, simultaneamente, prevenindo-se ou procurando minimizar as consequências de futuros desastres.

 

CV – Quais são as medidas mais atuais que a Defesa Civil do Estado de São Paulo está praticando para auxiliar a população? Pode descrever os tipos de alertas de celular, as sirenes e outras medidas? 

CB – No âmbito da prevenção contra desastres naturais, o Governo de SP, por meio da Defesa Civil, investiu cerca de R$ 290 milhões por meio do programa SP Sempre Alerta. Além disso, para ampliar o monitoramento de eventos climáticos extremos, o estado ganhou novos radares meteorológicos em Campinas e Ilhabela, sistemas de alerta, sirenes em áreas de risco e uma plataforma de gestão de desastres. Já no enfrentamento da maior onda de queimadas da história neste ano, foram aplicados mais de R$ 100 milhões, com a mobilização de mais de 15 mil pessoas, aeronaves e equipamentos especializados, além da criação de um gabinete de crise.

A Defesa Civil realiza treinamentos e capacitações com os agentes municipais e com a população. Nos últimos dois anos mais de 5 mil profissionais foram capacitados por meio da Escola de Defesa Civil e dezenas de exercícios simulados foram realizados com a população que reside em área de risco.

 

 

Socorristas do Corpo de Bombeiros durante simulado de emergência na cidade de Mairiporã, SP, realizado em 2023. Divulgação Defesa Civil de São Paulo

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CV – O desastre mais recente de São Sebastião marcou bastante a população paulista em função do tamanho da calamidade. O que os envolvidos aprenderam e quais as ações mais importantes realizadas?

CB – Os desastres geram marcas indeléveis em toda a sociedade e a ocorrida em São
Sebastião gerou mudanças profundas na gestão da Defesa Civil e nas políticas públicas voltadas ao desastre. De fevereiro de 2023 para cá nós revimos os protocolos de atuação em grandes ocorrências, realizamos inúmeras parcerias, tanto com as demais secretarias estaduais envolvidas na gestão de desastre, quanto com instituições privadas. Investimos na compra de radares meteorológicos, instalação de sirenes em áreas de risco, ampliação e reforma do Centro de Gerenciamento de Emergência, aumento do alcance dos alertas e da comunicação de risco à população, criação do sistema Defesa Civil Alerta, o qual utiliza tecnologia cellbroadcast, permitindo o envio de alertas para todas as pessoas que estiverem em uma área de risco, independentemente de cadastro prévio.  Adoção de novas matrizes de ensino em nossos treinamentos, como a participação de médicos-veterinários, com aulas sobre resgate animal e atuação em campo.

 

CV – Sabemos que a prioridade em desastres são as vítimas humanas, mas que os animais, por serem parte das famílias, também são incluídos nas ações de desastres; assim, como o médico-veterinário deve atuar, o que ele precisa saber para poder exercer suas atividades profissionais com competência, e quais riscos ele corre caso não conheça os procedimentos empregados em desastres?

CB – A preparação prévia para atuar em cenário de desastres é fundamental ao profissional que deseja atuar em resgate técnico animal. Além de todo o conhecimento específico em medicina veterinária, é imperioso ao profissional conhecer sobre gestão do ciclo de desastres e suas 5 fases: mitigação, prevenção, preparação, resposta e recuperação. Além disso, compreender que a resposta ao desastre compreende conceitos e doutrinas de gerenciamento de crise em desastres e, para tanto, sempre haverá um posto de comando estabelecido e uma cadeia de comando a ser seguida e respeitada. Portanto, as chegadas das equipes especializadas devem ser noticiadas ao gestor da crise, o qual tomará conhecimento de cada agente que estiver trabalhando na zona quente da tragédia, precedido de prévio cadastro de cada um. Por fim, é recomendado compreenderem as tipologias dos desastres e suas principais diferenças, como, por exemplo, os desastres naturais e os tecnológicos, podendo, assim, diferenciar os danos e efeitos que cada um deles gera.

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Socorristas do Corpo de Bombeiros durante simulado de emergência de deslizamento de terra na cidade de Mairiporã, SP, realizado em 2023. Divulgação Defesa Civil de São Paulo

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CV – Qual é a importância da inclusão do médico-veterinário junto à Defesa Civil (DC) nas situações de desastres, nas ações de Resgate Técnico dos animais?

CB – Durante um desastre, todas as vidas precisam ser salvas. Em diversas ocorrências já nos deparamos com situações em que a pessoa se recusa a ser retirada da área de risco sem o seu animal de estimação. É imperioso que cada vez mais haja profissionais preparados para lidar com o resgate técnico animal no cenário de desastre. A formalização dessa cooperação entre a Defesa Civil e o CRMV-SP fortalece as ações de resgate animal no estado de São Paulo, garantindo uma resposta mais eficiente e organizada em situações de desastres. A partir dessa parceria adotamos novas matrizes de ensino em nossos treinamentos, como a participação de médicos-veterinários, com aulas sobre resgate animal e atuação em campo.

 

CV – Como as entidades de classe da medicina veterinária podem orientar, regular e fiscalizar a ação de médicos-veterinários em eventos de desastres?

CB – Entendemos que as entidades de classe podem contribuir fomentando o envolvimento dos médicos-veterinários nas ações de resgate técnico animal. Na Defesa Civil nós temos trabalhado para a expansão dos Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil (Nupdec). Esses Núcleos são inseridos diretamente nas comunidades que possuem alto risco para desastres. Por meio desse programa levamos orientação, conscientização e preparação para as pessoas saberem como lidar antes, durante e depois de uma tragédia. 

Sabemos que muitos profissionais médicos atuam em áreas de risco, portanto, havendo cada vez mais o engajamento nessas ações, criaremos comunidades mais resilientes e preparadas.

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Técnicos do Grupo de Resgate Técnico Animal, da Universidade de Sorocaba, durante simulado de emergência na cidade de Mairiporã, SP, realizado em 2023. Divulgação Defesa Civil de São Paulo

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CV – Quando foi assinado o Termo de Cooperação entre o CRMV-SP e a Defesa Civil?

CB – No dia 7 de junho de 2023, mas as tratativas começaram bem antes, com diversas reuniões entre as partes.

 

CV – Em quais desastres, a Defesa Civil e o CRMV-SP atuaram juntos? Poderia comentar as vantagens encontradas pelos profissionais da Defesa Civil a partir dessa colaboração? Como a população foi beneficiada pela parceria das duas entidades?

CB – O CRMV-SP e a Defesa Civil assinaram o protocolo de cooperação em junho do ano passado. De lá para cá o Conselho tem sido muito importante, pois durante os ciclos de treinamentos para a Operação SP Sem Fogo um profissional da medicina veterinária participou das 15 capacitações, as quais levaram conhecimento para mais de 2 mil agentes de Defesa Civil.

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Capitão Lidiara, da Defesa Civil do Estado de São Paulo e Técnicos do Grupo de Resgate Técnico Animal, da Universidade de Sorocaba, durante simulado de emergência na cidade de Mairiporã, SP, realizado em 2023. Divulgação Defesa Civil de São Paulo

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CV – Quais foram os benefícios alcançados durante o trabalho em conjunto a partir do Termo de Cooperação entre CRMV-SP e Defesa Civil do Estado de São Paulo?

CB – A assinatura do termo de cooperação com o CRMV-SP é mais uma importante conquista para a Defesa Civil. O órgão passou a integrar o Centro de Voluntariado e, imediatamente, começou a participar dos ciclos de treinamentos para a Operação SP Sem Fogo. Um profissional da medicina veterinária participou das 15 capacitações realizadas ao longo de 2024, as quais levaram conhecimento sobre o resgate técnico animal para mais de 2 mil agentes de Defesa Civil.

Além disso a cooperação conjunta fortaleceu a relação entre as instituições, permitindo contato direto para melhoria nos protocolos e diretrizes existentes e a adoção de um canal técnico para dúvidas e esclarecimentos.

 

CV – Sabe-se que o Termo de Cooperação entre CRMV-SP e Defesa Civil tornou-se referência nacional. A Defesa Civil de diversos estados (PR, RJ, MS, AC, dentre outros) vem desenvolvendo parcerias semelhantes a partir da experiência bem sucedida em São Paulo. O que gostaria de comentar a respeito?

CB – Ficamos felizes em ver que o Termo de Cooperação entre a Defesa Civil de SP e o CRMV-SP está servindo de referência para outros estados. Isso demonstra a importância de iniciativas que priorizam a proteção não só da população humana, mas também dos animais, que muitas vezes são vítimas invisíveis dos desastres.

Nosso objetivo, desde o início, foi criar uma ação integrada e eficiente, onde a expertise dos médicos-veterinários pudesse ser incorporada às operações de resposta a emergências. A presença de profissionais especializados em resgate e atendimento de animais traz benefícios diretos à saúde pública, ao bem-estar animal e à situação emocional das famílias afetadas, já que muitas pessoas se recusam a deixar suas casas se não puderem levar seus animais de estimação.

Ver outros estados como Paraná, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Acre replicando essa prática mostra que estamos no caminho certo. Cada nova adesão fortalece uma rede nacional de assistência humanitária mais inclusiva e eficiente. Isso nos motiva a continuar aprimorando as técnicas e as parcerias, pois acreditamos que salvar vidas humanas e animais deve ser uma missão conjunta.

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Participantes do simulado de emergência na cidade de Mairiporã, SP, realizado em 2023. Divulgação Defesa Civil de São Paulo

 

 

CV – Como vem evoluindo a relação e o Termo de Cooperação entre a Defesa Civil do Estado de São Paulo e o CRMV-SP?

CB – Ao longo de 2024 contamos, pela primeira vez, com a participação do médico-veterinário em nossos treinamentos. Essa matriz de ensino já está incorporada em nossa Escola de Defesa Civil, e para os próximos anos o objetivo é aprimorar ainda mais as aulas.

Queremos fortalecer a relação com o Conselho e expandir a participação de mais profissionais nas ações de medicina veterinária voltada aos desastres. Ao longo de 2025 desenvolveremos campanhas educativas à população e de conscientização aos profissionais, para gerarmos um estado cada vez mais resiliente aos desastres.