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Homeopatia

Estudo da Força Vital estimulada por medicação homeopática através do emprego da matéria médica

Matéria escrita por:

Nilson Roberti Benites

16 de nov de 2000


A homeopatia baseia-se na estimulação da força vital bem como na reação curativa vital. Foi objetivo deste estudo analisar dois casos clínicos que ilustram a presença e o estímulo da energia vital para utilização de medicação homeopática. No primeiro caso, um cão foi sedado com xilazina tendo apresentado delírio quando do retorno da consciência; utilizou-se uma dose de Opium 30 CH e essa sintomatologia desapareceu imediatamente após a medicação. No segundo caso, outro cão apresentava hérnia umbilical em processo de estrangulamento; foi tratado com Nux vomica 6 CH Plus tendo apresentado regressão do quadro em três dias. Considerando-se a ação química característica de cada um dos medicamentos utilizados, não seria possível a ocorrência de melhora dos casos clínicos, a qual poderia ser compreendida pelo estímulo do medicamento sobre a força vital.

 

Introdução

A homeopatia baseia-se inteiramente na estimulação da força vital e na reação curativa vital. Essa doutrina pretende que o doente cure a si próprio e apenas procura estimulá-lo para esse fim. Esse estímulo vital que sua condição exige deve ser-lhe dado por atuação delicada do medicamento homeopático em tecidos que se tornaram particularmente sensíveis pela doença, a fim de iniciar a desejada reação contra o mal. As drogas utilizadas na alopatia e na homeopatia muitas vezes são as mesmas, mas aplicadas com intenções completamente opostas11.

Segundo Hahnemann7: As observações mais recentes têm demonstrado que as substâncias medicinais, quando tomadas em estado bruto pelo experimentador, com o fito de experimentar seus efeitos peculiares, não apresentam a plenitude de seus poderes que jazem ocultos, o que não ocorre quando são tomadas, com o mesmo objetivo, grandemente diluídas; soluções essas que são potencializadas mediante trituração e agitação adequadas; por meio dessas simples manipulações, os poderes que, em seu estado bruto, jaziam ocultos e por assim dizer, adormecidos, desenvolvem-se e são trazidos à atividade em grau elevado até o inacreditável.

Hahnemann6, Hering8 e Allen1 realizaram experimentações dos medicamentos homeopáticos em indivíduos são e os resultados estão descritos em suas respectivas matérias médicas que se constituem a base de comparação com os quadros clínicos que se tem no cotidiano da clínica.

O objetivo deste estudo foi analisar dois casos clínicos que ilustram a presença e o estímulo da energia vital utilizando-se medicação homeopática escolhida pela semelhança com os sinais clínicos em questão.

 

Descrição do primeiro caso

Um animal da espécie canina, sem raça definida (SRD) apresentava um ferimento na boca, que não cicatrizava havia algum tempo. O animal foi sedado com xilazinaa durante o exame clínico para permitir uma melhor observação da lesão local. Durante o retorno da consciência, o animal apresentou uivos altos, delírio, midríase, inquietude e incoordenação motora. Procedeu-se, então, ao tratamento com uma única dose de Opium 30 CH e o animal acalmou-se imediatamente, permanecendo tranquilo até a finalização do retorno da sedação, o qual foi mais breve do que o frequentemente observado.

a) Rompun. Bayer.

 

Farmacologia do ópio

O ópio é utilizado desde os primórdios da civilização. Os pergaminhos sumérios descrevem seu uso ao redor de 4.000 a.C. No final do século XIX utilizavam-se somente alcalóides puros extraídos do ópio em vez do próprio ópio9.

Os opióides atuam na maioria das células nervosas, promovendo hiperpolarização, inibição da deflagração do potencial de ação e inibição pré-sináptica da liberação de neuro-transmissores. Os efeitos dos opióides variam de acordo com o alcalóide envolvido, pois ligam-se a receptores nervosos diferentes, porém como todos derivam do ópio, existem determinados efeitos comuns a todos os alcalóides: analgesia supra espinal, depressão respiratória, euforia, analgesia medular, miose, sedação, alucinações, estímulo do sistema nervoso e alterações de comportamento9.

 

Matéria média homeopática do Opium

Serão referidos somente alguns dos resultados das experimentações desse medicamento1,6,8.

• Delírio;
• insanidade e fúria;
• choro lastimoso e lamentos;
• movimentos espasmódicos acompanhados de choro;
• ansiedade e inquietude;
• instabilidade; ele não consegue caminhar sem cambalear;
• cambaleia para lá e para cá;
• insensibilidade, acompanhada por completa respiração apoplética;
• sem consciência, olhos vidrados, semi-fechados; coma profundo;
• pupilas dilatadas, insensíveis à luz;
• muita sede;
• dores abdominais com constipação;
• fezes endurecidas e castanho escuras;
• a bexiga torna-se distentida, mas não tem força para expelir o seu conteúdo;
• retenção de urina;
• respiração profunda;
• respiração estertorosa;
• tremor convulsivo dos membros;
• tremot espasmódico dos membros;
• pulso lento, com respiração estertorosa lenta; transpirações profusas com convulsões;
• paralisia, insensibilidade após apoplexia, fezes e urina retida. 

 

Descrição do segundo caso

Um outro animal da espécie canina, SRD, apresentava um quadro de hérnia umbilical desde que fora adotado pelo proprietário sem apresentar, entretanto, qualquer limitação devida à mesma.

Ao retornar de um passeio, o animal procurou manter-se afastado de todos os membros da família e mostrava-se muito agressivo, irritável, inquieto, sem apetite; pressionava o abdomen contra o cão; ao caminhar aparentava sentir dor pois procurava encurvar-se. No local da hérnia podia-se observar um aumento de volume com dor e aumento de temperatura. O animal foi tratado com Nux vomica 6 CH plus, de 10 em 10 minutos durante a primeira hora e depois de hora em hora, durante o primeiro dia de tratamento. As mesmas medicação e potência do medicamento foram mantidas por intervalos cada vez maiores (duas em duas, quatro em quatro horas…) à medida que o quadro melhorava. Durante três dias consecutivos de tratamento observou-se melhora significativa do quadro clínico até a regressão do mesmo ao estágio inicial.

 

Farmacologia da estricnina

A estricnina, um alcalóide obtido da planta Strychnos nux vomica, é um poderoso agente estimulante do Sistema Nervoso Central (SNC) predominantemente da medula espinal. A estimulação pode ocorrer por dois mecanismos gerais: 1) bloqueio da via inibitória, resultando em uma estimulação; 2) excitação neuronal direta, através da despolarização do neurônio, aumento na liberação de mediadores, labilização da membrana neuronal ou diminuição do tempo de recuperação da sinapse9.

O animal intoxicado por estricnina apresenta rigidez muscular, adquirindo a “postura do cavalo de pau”, desenvolve enrijecimento abdominal e cervical, podem ocorrer convulsões espontâneas ou induzidas por estímulos táteis, auditivos ou visuais5.

 

Matéria médica homeopática da Nux vomica 

Serão referidos somente alguns dos resultados das experimentações deste medicamento1,6,8.

• Ansiedade extraordinária;
• inclinado a briga por irritação;
• irritável e deseja ficar só;
• inquietude com pupilas muito dilatadas;
• caminha numa atitude dobrada, é puxado encurvando-se;
• o abdomen é doloroso ao toque;
• dor abdominal nos anéis abdominais como se uma hérnia estivesse encarcerada;
• hérnia encarcerada, precedida por inflamação;
• hérnia umbilical estrangulada;
• sensação de fraqueza nos anéis abdominais como se uma hérnia fosse ocorrer;
• supersensível a estímulos sensoriais; não pode suportar odores fortes e luzes brilhantes;
• não pode tolerar barulho ou alguém falando; música e canto o afetam;
• icterícia provocada por cólera violenta;
• vertigens como se estivesse alcoolizado;
• fotofobia, na manhã; com obscurecimento da visão;
• acumula saliva na garganta;
• aversão a comida e bebida;
• náusea após comer;
• vômito de muco com odor azedo;
• sem apetite com completa perda de energia;
• tensão ao redor do estômago;
• distenção flatulenta do abdomen após comer. Melhora com repouso e dormindo;
• região do estômago sensível, nada pode apertar;
• dor na região do fígado;
• fasciculação e tremor nos músculos abdominais sob a pele;
• alterna constipação e diarréia;
• catarro gastrointestinal;
• eliminação de sangue vivo com fezes, com a sensação de constrição e contração no reto durante a evacuação;
• sente como se a evacuação fosse incompleta, mesmo com fezes moles;
• diarréria de cor escura, principalmente de manhã e imediatamente após comer;
• prolapso de reto devido à constipação;
• desejo de urinar frequente;
• urina é eliminada com dificuldade;
• tosse violenta de manhã com expectoração de sangue;
• tosse seca da meia noite até a manhã;
• um toque leve da mão imediatamente desenvolve um espasmo.

 

Discussão

Primeiro caso

A fase de delírio que ocorre após a perda da consciência em um animal sedado com xilazina apresenta como características: respiração irregular e espástica findando com a volta da respiração regular e automática; pode ocorrer aumento da atividade motora e do tônus muscular, fazendo com que o animal fique se debatendo de forma intensa; os reflexos palpebrais estão presentes; observam-se movimentos oculares erráticos, pupilas dilatadas, porém reagindo à luz; podem ocorrer movimentos de deglutição, náusea e vômitos. Frequentemente esta fase de delírio apresenta riscos para os animais, tanto na indução anestésica como no retorno da anestesia9.

Após a administração parenteral, a xilazina é rapidamente distribuída pelos vários tecidos, em particular o SNC, sendo então biotransformada. A estimulação dos receptores alfa 2 adrenérgicos no SNC promove efeito hipotensor e tranquilizante, observando-se, portanto, sedação, hipnose, relaxamento muscular, ataxia, analgesia, depressão do centro vasomotor e aumento tanto do tono vagal como da atividade dos barorreceptores9.

Segundo a lei de Avogrado, só é possível haver moléculas oriundas de um medicamento até a 12ª diluição centesimal. Dessa forma, pode-se inferir que nenhuma molécula oriunda do medicamento Opium foi administrada quando do tratamento do animal. Se isto não fosse verdade, a administração de Opium poderia ter provocado uma complicação do quadro, tendo em vista que sua ação química resulta principalmente em analgesia e depressão respiratória, não sendo indicado, portanto, no processo em questão.

Deve-se ressaltar ainda que a escolha do Opium foi realizada devido à semelhança das informações contidas na Matéria Médica Homeopática desse medicamento com os sinais clínicos apresentados pelo paciente.

Por outro lado, não há relatos de literatura que descrevam um efeito tão rápido de redução do tempo e intensidade de uma fase de delírio, se somente o solvente (no caso a água) tivesse sido administrado.

Assim sendo, pode-se concluir que a medicação homeopática utilizada deve ter apresentado uma ação efetiva de natureza outra que não química, tendo em vista que a ausência dessa ação não permitiria uma explicação para o desaparecimento dos sinais clínicos.

 

Segundo caso

O tipo de hérnia mais frequentemente observado em cães é a hérnia umbilical3,4. Sua etiologia pode estar associada a uma onfalotomia mal feita ou a uma predisposição genética3.

A importância da ocorrência de hérnias reside, principalmente, no fato de que segmentos de vísceras podem acabar penetrando e ficar encarcerados nas mesmas. A pressão exercida pelo colo da bolsa pode afetar a drenagem venosa da víscera encarcerada. A estase venosa e o edema fazem aumentar o volume do saco herniário, de modo que as vísceras acabam ficando aprisionadas ou encarceradas permanentemente. Com o passar do tempo, o maior volume pode comprometer a drenagem venosa e a irrigação arterial da víscera (estrangulação) e resultar na ocorrência de um infarto ou gangrena do material encarcerado2.

Tradicionalmente não são utilizados medicamentos a base de estricnina em animais supersensíveis e com dores abdominais intensas, pois em vez de causar relaxamento da musculatura, esse medicamento promove contração da mesma. No caso clínico em questão essa ação poderia ocasionar complicações no quadro apresentado pelo animal.

De forma similar à observada no primeiro caso clínico, a escolha da Nux vomica foi realizada devido à semelhança das informações contidas na Matéria Médica Homeopática deste medicamento com os sinais clínicos apresentados pelo paciente. Além disso, também não se pode esperar que substâncias inertes promoveriam a eliminação da dor e a redução de uma hérnia umbilical.

Pode-se inferir, portanto, que a medicação homeopática apresentou uma ação efetiva frente o quadro, pois sem a presença desta não seria possível explicar a evolução do mesmo. Embora tenha sido utilizada uma dinamização inferior à 12ª diluição centesimal (utilizou-se a 6ª diluição centesimal), e portanto havia moléculas do medicamento, seria esperado que a ação química do mesmo promoveria complicações no quadro, o que não ocorreu. Dessa forma, outra ação que não química, deve ter interferido no processo.

 

Força vital

Com relação à força vital Hahnemann comenta: O organismo material, destituído da força vital, não é capaz de nenhuma sensação; quando o ser imaterial é animado pelo organismo material no estado são e no estado mórbido (o princípio vital, a força vital), este lhe dá toda a sensação e estimula suas funções vitais7.

Caso a observação acima não fosse verdadeira, poder-se-ia tratar um organismo destituído de vida (morto) com a obtenção de um mesmo resultado caso ele estivesse vivo, o que não ocorre.

Ainda segundo Hahnemann: No estado de saúde, a força vital de natureza espiritual (autocracia), que dinamicamente anima o corpo material (organismo), reina com poder ilimitado e mantém todas as suas partes em admirável atividade harmônica, nas suas sensações e funções, de maneira que o espírito dotado de razão, que reside em nós, pode livremente dispor desse instrumento vivo e são, para atender aos mais altos fins de nossa existência.

Quando o homem adoece, essa força vital, de natureza espiritual, de atividade própria, presente em toda parte no seu organismo (princípio vital), é a única que inicialmente sofre a influência dinâmica hostil à vida, de um agente morbígeno, é somente o princípio vital, perturbado para uma tal anormalidade, que pode fornecer ao organismo as sensações desagradáveis e impeli-lo, dessarte, a atividades irregulares a que chamamos doença; pois essa força invisível por si mesma e apenas reconhecível por seus efeitos no organismo, torna conhecida sua perturbação mórbida apenas pela manifestação de doença nas sensações e funções (a parte do organismo acessível aos sentimentos do observador e médico), isto é, por sintomas mórbidos, e não pode torná-lo conhecido de outra maneira7.

Dessa forma, quando a força vital que anima um organismo está equilibrada, o mesmo apresenta as suas funções fisiológicas também equilibradas, porém quando algum estímulo desequilibra a força vital, será o organismo material quem apresentará as disfunções e consequentemente os sinais clínicos decorrentes desse desequilíbrio.

É somente a força vital morbidamente afetada que produz moléstia, de modo que as manifestações da doença que são perceptíveis aos nossos sentidos expressam, ao mesmo tempo, toda a mudança interna, isto é, toda a perturbação mórbida do dinamismo interno. Por conseguinte, são reveladores de toda a doença; além disso, a desaparição, pelo tratamento, de todos os fenômenos mórbidos e de todas as alterações mórbidas que diferem das funções vitais no estado de saúde, afeta certamente, e necessariamente acarreta o reestabelecimento da integridade do princípio vital e, portanto, a recuperação da saúde de todo o organismo.

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Esquema demonstrando o processo de cura da medicação homeopática desde o desenvolvimento da doença

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Para Maffei10, patologista que estudou os conceitos de energia vital, moléstia é o complexo de alterações funcionais e morfológicas de caráter evolutivo, que se manifestam no organismo submetido a ação de causas estranhas contra as quais ele reage.

Pode-se concluir que a moléstia é uma tentativa de localização pelo organismo de sua alteração vital, numa busca de um novo estado de equilíbrio, mesmo que mais instável ou menos desejável, mas a única possível naquele determinado momento.

O ser vivo não tem capacidade de utilizar a energia resultante de qualquer reação que progrida de modo rápido. Por isso, aos organismos interessa somente uma forma de energia intermediária que é a energia vital, que fica entre a energia potencial do alimento ou substrato e o calor final, que é eliminado10.

As células do Sistema Retículo Endotelial (S.R.E.) intercaladas nos parênquimas estabelecem, então uma cadeia intermediária de potenciais de oxiredução, de modo a reduzir a grande diferença de potencial que inibiria a reação de oxi-redução, permitindo assim o prosseguimento do metabolismo intermediário e a produção regular de energia, que é progressivamente reutilizada pelo organismo10.

Portanto, podemos entender que energia vital nada mais é do que a energia produzida no metabolismo intermediário pelo S.R.E.

Desde 1924, acredita-se na existência de um grupo de células descrito por Arschoff, que seriam células mesenquimais distribuídas pelo corpo, com diferentes características morfológicas. Esse sistema de células foi inicialmente denominado de Sistema Retículo Endotelial (S.R.E.) e posteriormente de Sistema Mononuclear Fagocitário (S.M.F.), sendo constituído por macrófagos do tecido conjuntivo, monócitos, células fagocitárias dos capilares sinusóides do fígado, adrenal, baço, hipófise anterior e medula óssea, célular reticulares, células que revestem certos canais pelos quais circula a linfa (seios linfáticos), células adventiciais dos capilares e células da microglia (encontradas no tecido nervoso). Alguns desses tipos de células localizam-se em associação com fibras reticulares ou com o endotélio dos sinusóides, o que explica a denominação de Sistema Retículo Endotelial10.

As células do S.R.E. apresentam fundamentalmente duas propriedades: a fagocitose de partículas orgânicas e inorgânicas e a coloidopexia, que consiste na fixação de colóides. Essas propriedades permitem ao S.R.E. as condições para a realização do metabolismo intermediário, ou seja, o metabolismo que se processa na intimidade dos tecidos e tem como objetivo o fornecimento de energia necessária ao funcionamento adequado do organismo10.

O trabalho do S.R.E. é executado de célula para célula através da trama reticular e em íntima relação com o líquido intersticial. Devido à ação enzimática de cada célula, são retirados ou acrescidos determinados radicais às substâncias fagocitadas as quais são transferidas a seguir para outra célula que procede do mesmo modo, e assim por diante, até que alcancem as células dos parênquimas10.

Os fenômenos de oxi-redução biológica ocorrem no S.R.E. e fornecem às células do parênquima os radicais necessários às suas funções que, por sua vez, se realizam também através dos fenômenos de oxi-redução10.

O S.R.E. é considerado um gigantesco ânodo intercalado nos parênquimas e dotado de capacidade de reter os colóides com determinada carga elétrica10.

Os processos inflamatórios e as respostas imunológicas ocorrem no tecido conjuntivo, e a parte ativa do tecido conjuntivo é o S.R.E.

A característica, descrita por Maffei, que o S.R.E. possui de reter partículas com cargas elétricas é que provavelmente permite que a força vital possa interagir no mesmo e alterar a energia vital. Consequentemente haverá reações teciduais na tentativa de se buscar um novo equilíbrio, o que caracteriza uma moléstia.

Por isso, a doença (que não constituía objeto de cirurgia), sendo considerada pelos alopatas como algo separado do todo vivo, do organismo e sua força vital animadora, e oculta em seu interior, como se fosse algo de natureza tão sutil, é um absurdo somente imaginado por mentes materialistas, que durante milênios têm dado ao sistema de medicina predominante todos aqueles impulsos perniciosos que a tornam um arte (não curativa) verdadeiramente nociva7.

Como cada moléstia (que não seja unicamente cirúrgica) consiste apenas numa alteração dinâmica especial e mórbida de nossa força vital (do princípio vital) manifestada em sensações e atividades, do mesmo modo, em cada cura homeopática, esse princípio vital dinamicamente alterado pela doença natural é atingido pela administração de uma potência medicinal escolhida exatamente de acordo com a sua semelhança com os sintomas, por uma afecção da doença artificial, semelhante, em tanto mais forte; assim, cessa e desaparece a sensação da afecção mórbida natural dinâmica (mais fraca). Essa afecção da doença não mais existe para o princípio vital, agora ocupado e governado somente pela afecção mórbida artificial mais forte. Essa força da afecção da doença logo perde a sua força, deixando o doente livre de doença, curado. O dinamismo, assim liberado, pode agora fazer continuar a vida em condições de saúde7.

Hahnemann afirma no parágrafo anterior que quando se estimula a força vital através de um medicamento homeopaticamente dinamizado, este produzirá uma alteração no organismo, também produzindo sintomas de uma doença (desequilíbrio). Se o medicamento homeopático utilizado apresentar grande semelhança com a sintomatologia da doença que afeta o organismo, é possível que a intoxicação provocada pelo remédio homeopático faça desaparecer o desequilíbrio da força vital, provocado pelo agente inicial, e dessa forma, uma vez cessado o estímulo medicamentoso, também cessará o desequilíbrio da força vital e, portanto, desaparecerão os sintomas no organismo.

A força maior das moléstias artificiais produzíveis pelos medicamentos não é, contudo, a condição única de seu poder de curar moléstias naturais. Para que possam curar, é primeiramente necessário que sejam capazes de produzir no corpo uma moléstia artificial tão semelhante quanto possível ao mal a ser curado, que, com uma força um tanto maior, transforma em estado mórbido muito semelhante o princípio vital instintivo que é em si incapaz de qualquer reflexão ou ato de memória. Não somente obscurece, como também extingue e aniquila a perturbação causada pela moléstia natural. Tanto isso é verdade que nenhuma doença mais antiga pode ser curada, mesmo pela própria Natureza, pela influência de nova doença dessemelhante, por mais forte que seja, e nem tampouco pode ser curada por tratamento médico com drogas incapazes de produzir um estado mórbido semelhantes no organismo são, como as alopáticas7.

Dessa forma, não basta promover um estímulo na força vital, mas esse estímulo deve apresentar sinais clínicos semelhantes ao quadro clínico observado, para que apresente a capacidade de estimular essa força vital a qual poderá, então, agir no metabolismo intermediário e no S.R.E., provocando reações capazes de reequilibrar todo o organismo.

Os casos clínicos citados demonstram que os animais também são regidos pelos mesmos princípios observados por Hahnemann7 e Maffei10, e consequentemente podem ser observados resultados semelhantes aos verificados para o ser humano.

 

Conclusões

O estudo dos casos clínicos demonstram que não seria possível obter melhora dos quadros se fosse considerada somente a ação química dos medicamentos utilizados. Pode-se compreender a evolução dos quadros clínicos quando se considera o estímulo medicamentoso do remédio homeopático utilizado sobre a força vital que os animais possuem, a qual, uma vez estimulada, pode atuar no S.R.E. e no metabolismo intermediário, e finalmente, nos tecidos afetados, provocando o reequilíbrio dos mesmos e consequentemente o desaparecimento dos sintomas.

 

Referências

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02-COTRAN, R. S. ; KUMAR, V. ROBBINS, S. L. Robbins patologia estrutural e funcional. 4. ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1991.

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10-MAFFEI, W. E. Os fundamentos da medicina. São Paulo, Artes Médicas, 1978.

11-TYLER, M. L. Curso de homeopatia. São Paulo. Editorial Homeopática Brasileira. 1965.