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Tratamento de cães com leishmaniose visceral

Matéria escrita por:

Clínica Veterinária

3 de maio de 2018


O final do ano de 2016 ficou marcado pelo lançamento no Brasil do Milteforan®, medicamento lançado há anos na Europa para tratamento da leishmaniose visceral canina (LVC), que se encontrava aguardando liberação pelos órgãos federais do Brasil.

Depois de mais de um ano do seu lançamento, os desafios continuam, por conta do comércio paralelo da venda de produto contrabandeado, e também por desinformação de algumas localidades que insistem em eliminar animais soropositivos para LVC e proibir o tratamento já liberado.  Campo Grande, MS, é um exemplo real disso. Foi somente agora, em 16 de abril de 2018, que o prefeito Marquinhos Trad sancionou o projeto de Lei Complementar nº 317, que inclui no Código Sanitário Municipal os critérios para o tratamento de animais diagnosticados com leishmaniose no município de Campo Grande. De acordo com o novo texto, o artigo 76 da Lei Complementar nº 148, de 23 de dezembro de 2.009, passa a vigorar com a seguinte redação:
• 1º. Os proprietários de animais acometidos pela leishmaniose visceral canina que optarem pelo tratamento clínico de seus cães deverão comprová-lo mediante remessa de competente protocolo à Coordenadoria de Combate a Zoonoses;
• 2º. O tratamento de animais portadores da doença somente será aceito pelo órgão sanitário responsável se realizado sob a supervisão de médico veterinário e com o uso de medicamentos autorizados pelos ministérios da Saúde e/ou da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

 

O tratamento canino

O tratamento canino envolve tanto o animal que apresenta sinais clínicos quanto aqueles que estão aparentemente saudáveis. Para isso, todos os animais que serão tratados devem ter um diagnóstico correto, ser monitorados e usar repelentes de ação comprovada contra flebotomíneos.

Tanto o diagnóstico quanto o monitoramento do tratamento canino envolvem peculiaridades que muitas vezes exigem o auxílio de especialistas em enfermidades transmitidas por vetores.

Como antes a leishmaniose era considerada uma enfermidade negligenciada e de tratamento proibido, o diagnóstico, o tratamento e o monitoramento nunca foram ensinados nas faculdades de veterinária. Aliás, o ensinamento compartilhado por muitos anos era que não havia tratamento para ela e que o reservatório (o cão) devia ser eliminado. Apesar da existência há mais de um ano do medicamento no Brasil, é bem provável que alguns professores ainda sejam adeptos desse conceito antigo, pois até hoje ouvimos declarações de que o medicamento não promove a cura parasitológica e que a eliminação canina é necessária.

 

O Brasileish

Orientar os clínicos veterinários e discutir com as autoridades sanitárias sobre os melhores métodos diagnósticos, tratamentos e medidas de prevenção da leishmaniose nos animais é a proposta à qual o Brasileish, grupo de estudos sobre leishmaniose animal, vem se dedicando há anos.

Anualmente, o grupo realiza um simpósio internacional para discutir os temas mais relevantes que envolvem esse polêmico assunto: o tratamento canino.

Este ano o evento já está programado para ocorrer nos dias 10 e 11 de novembro, em Belo Horizonte, MG. Em função da problemática envolvendo questões legais do tratamento e da prevenção e também da sua condução clínica, esses assuntos serão amplamente discutidos na programação do simpósio. Confira a seguir alguns temas já confirmados:
• Saúde única e a leishmaniose visceral – posicionamento do CFMV;
• Aspectos epidemiológicos das leishmanioses tegumentar e visceral no Brasil – distribuição humana e o papel dos reservatórios;
• Panorama da leishmaniose no continente europeu – ações de controle e investigação de novos reservatórios;
• Medidas de controle da população canina – uma experiência de 10 anos na cidade de Salvador;
• Atualidades sobre o controle dos flebotomíneos e outros vetores;
• Vacinação contra leishmaniose visceral canina no Brasil (individual e coletiva);
• Medicina veterinária do coletivo perante a leishmaniose visceral canina – a popularização do tratamento e novas ferramentas públicas de controle;
• Leishmaniose visceral felina – semelhanças e diferenças;
• Discrasias sanguíneas na leishmaniose visceral;
• Manejo terapêutico das nefropatias na leishmaniose visceral canina;
• Congruências e incongruências no diagnóstico da leishmaniose visceral canina;
• Avaliação da infectividade canina;
• Estadiamento e tratamento da leishmaniose visceral canina no Brasil.