O mundo todo está às voltas com a grande crise humanitária provocada pelo coronavírus (covid-19) e suas consequências. Vivemos uma das piores crises mundiais, e estamos – absolutamente todos – suscetíveis a uma contaminação que pode ser fatal, independentemente de raça, cor, riqueza ou poder.
Existe um ditado da sabedoria espiritual que diz: “Tudo são ondas na vida, e após a tempestade virá a bonança”. Portanto, uma primeira constatação é que esta crise, como todas as outras, é momentânea. Mas será que a bonança virá para todos? Certamente não. Portanto, esta aguda crise sem dúvida constitui um aviso importantíssimo de que os atuais paradigmas de vida, trabalho, empreendimentos, família, sociedade, economia, saúde e educação estão todos sendo reavaliados, especialmente por estarem em desacordo com a verdade, o amor e a beleza. A evidência mais gritante neste momento é que o essencial agora, o que está realmente em falta, não são apenas máscaras e providências sanitárias e econômicas, mas sim a grande riqueza de sentimentos positivos, que a maneira como temos vivido nos vinha impedindo de enxergar e de oferecer, e que se tornam agora fundamentais para a nossa sobrevivência.
O grande cataclismo que estamos presenciando e que nos obriga a uma inesperada reclusão social é também uma grande oportunidade para fazermos uma profunda reflexão sobre nossa vida e nosso trabalho, um ótimo momento para repensar valores, reconstruir, recomeçar a partir de uma situação totalmente nova.
A pandemia está exigindo uma profunda reformulação das nossas prioridades. Vivemos uma mudança tão radical e repentina, não só da nossa vida cotidiana como do cenário que se avizinha, que somos obrigados a repensar e reposicionar todos os nossos valores. Dinheiro, status social, poder e influência passaram a ter outro peso, outro sentido, não têm mais o mesmo valor que tinham há um mês, e não voltarão a ter. Continuar com a mesma pobreza de sentimentos, pensando apenas em alimentar o próprio ego e em obter resultados materiais, significa estar na contramão de uma ordem maior, que nos aponta para a necessidade mais premente de todas – a de preservar a vida, a natureza, a criação, coisas que já estavam em risco. No entanto, o momento presente nos alerta para o fato de que esse risco nunca foi tão grande, nunca se revelou tão evidente e assustador como agora.
Talvez o aspecto mais positivo da gravíssima situação que estamos vivendo seja que ela nos coloca uma série de questões fundamentais nas quais, talvez por falta de tempo, não vínhamos pensando. Está sendo dada a nós a oportunidade de encarar nosso talento e nosso trabalho como uma verdadeira dádiva dos céus, e de perceber que isso nos permite fazer parte de um plano maior e contribuir para que as pessoas, a sociedade, o ambiente e a humanidade melhorem. Temos agora também maior clareza sobre como é importante retribuir e conduzir nossa vida com mais amor e gratidão.
O momento é de reclusão forçada, mas também de aproveitar para olhar para dentro de nós mesmos e dar maior atenção aos nossos sentimentos, em vez de ficarmos o tempo todo à mercê dos pensamentos de sempre, das preocupações constantes, da escravização às rotinas do dia a dia. Temos agora a grande oportunidade de constatar que os sentimentos têm uma força criativa e de materialização muito mais poderosa que a do pensamento. Não seria o caso de tornar de uma vez por todas a estratégia de colocar os nossos bons sentimentos no comando a grande fonte de inspiração de nossa vida?
No meio da grande preocupação que passamos a ter com a própria saúde e a das pessoas mais próximas, vale muito a pena lembrar como os sentimentos negativos de ansiedade, preocupação, insatisfação, reclamação, críticas e julgamentos abrem brechas para baixar a imunidade a doenças, tornando-nos muito mais suscetíveis e expostos à contaminação pelo coronavírus. Sempre soubemos que a nossa saúde depende de bons sentimentos, mas agora eles se tornaram essenciais à nossa própria sobrevivência.
Todas essas ponderações nos levam a concluir que a nossa sobrevivência a esta grande crise e a nossa participação na bonança dependem menos dos outros do que de nossas próprias escolhas de vida e de trabalho. Afinal, será que temos mesmo consciência da razão da nossa existência aqui na Terra? A grande pandemia nos traz a grande oportunidade de refletir sobre tudo isso e perceber finalmente com maior clareza como é equivocado pensar e fazer as coisas apenas para si. O mundo nos mostra agora, com toda a evidência, que é crucial contribuir para o bem geral e fazer todo o esforço possível para deixar aos nossos descendentes o legado de um planeta saudável. Esta crise certamente nos levará a momentos muito difíceis, mas também pode proporcionar ao mundo um ganho de consciência que chega em muito boa hora.