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A demografia médico-veterinária necessita ser controlada

Estudo demográfico embasará mudanças necessárias para uma formação médico-veterinária de qualidade

Matéria escrita por:

Clínica Veterinária

1 de set de 2021


Felipe Wouk, membro ‘ad hoc’ da Comissão Estadual de Educação da Medicina Veterinária (CEEMV) do CRMV-PR, analisa a necessidade de realização de um censo sobre a medicina veterinária no Brasil. Wouk acredita que um estudo demográfico embasará mudanças necessárias para uma formação médico-veterinária de qualidade

Pesquisas censitárias são instrumentos preciosos para se conhecer uma realidade e planejar o futuro, inclusive das profissões. Todas as áreas profissionais vivem um momento disruptivo, notadamente digital. A educação, a empregabilidade, a satisfação profissional e as expectativas do Médico Veterinário, são temas emergentes.

O estudo demográfico mais recente da medicina veterinária, aconteceu em 2018, na Europa, capitaneado pela Federação de Veterinários Europeus (FVE): o “Survey of the veterinary profession” (um estudo detalhado da profissão veterinária). Inaugura-se nesta publicação uma forma de análise situacional mais relevante do que simplesmente o número de estabelecimentos destinados ao ensino médico veterinário. Trata-se da relação do número de médicos-veterinários por mil habitantes.

Nos 39 países europeus membros da FVE, para uma população de 810.103.433 cidadãos, trabalham 309.144 médicos-veterinários, o que confere uma relação média de Médicos Veterinários/1.000 habitantes de 0,38. Mais da metade dos médicos-veterinários europeus vivem nos seguintes países com as respectivas relações de Médicos Veterinários por 1.000 habitantes: Ucrânia (0,91), Espanha (0,58), Itália (0,50), Alemanha (0,50) e Reino Unido (0,41). Distribuídos pelos 39 países membros da FVE, existem 52 cursos de medicina veterinária que formam cerca de 8.000 novos profissionais a cada ano, o que é considerado pelos europeus, alarmante!

Alguns outros dados deste censo merecem destaque: 69% dos médicos-veterinários europeus acham que os cursos não estão formando com as habilidades necessárias; 64% acham que muitos colegas exercem a profissão sem estar qualificados; 62% afirmam que estão se graduando profissionais em excesso. O estudo também sinaliza que na Europa já ocorre uma “superprodução” de médicos-veterinários, uma vez que 23% dos profissionais estão subempregados e 11% estão há mais de 2 anos sem emprego. Para encontrar um emprego que garanta independência econômica, leva-se em média dois anos!

Alguns exemplos nos dão o panorama do continente americano. O Canadá, com 38 milhões de habitantes, conta com 13.000 médicos-veterinários egressos de cinco cursos, com uma relação de médicos-veterinários/1000 habitantes de 0,33. Nos Estados Unidos da América, com 328 milhões de habitantes e 119.000 médicos-veterinários que se graduam em 33 cursos, a relação é de 0,36. No México, com 131 milhões de habitantes e 58.000 médicos-veterinários, a relação é de 0,44.

No Brasil, o mais alarmante além da relação médicos-veterinários/1000 habitantes, extremamente alta, é o número de Instituições de Ensino Superior com Cursos de Medicina Veterinária. Com uma de população de 215 milhões, trabalham no Brasil 154.312 médicos-veterinários, formados em 493 cursos, dados de agosto de 2021!!! A relação média no país é de 0,7, quase o dobro da Europa, Canadá e EUA. O mais preocupante é revelado por um censo do Conselho Federal de Medicina Veterinária: em 2017 eram 117.000 médicos-veterinários e em 2021, 154.000, um crescimento de 23% em três anos, com uma média de 12.300 novos profissionais por ano.