A crise provocada pelo Codiv-19 cria obstáculos de todo tipo no mundo inteiro. Na economia, ela é cada vez maior, e embora situações dramáticas já sejam evidentes, a gravidade do impacto da pandemia sobre todos os aspectos da vida ainda se manifestará com maior força e por bastante tempo.
No hemisfério sul, o coronavírus se alastra com maior intensidade, e o período de inverno potencializa essa difusão. Doenças, desemprego, fechamento de empresas, pobreza e conflitos tendem a se intensificar. Neste cenário de calamidade e indefinição, é necessário que as pessoas conscienciosas iniciem ou amplifiquem um estilo de vida espiritualista, capaz de corrigir os sentimentos negativos gerados por esta crise.
Neste momento, torna-se imprescindível e inevitável uma nova maneira de encarar a vida. O primeiro obstáculo é a dificuldade de aceitar que as coisas mudaram de fato. Mesmo com a expectativa de uma possível estabilização do número de casos e da disponibilidade de uma vacina de eficácia comprovada, temos primeiro que aceitar a nova realidade, bastante dura para todos nós, mas especialmente para os mais vulneráveis. Para enfrentar esses grandes desafios, deve-se buscar acima de tudo viver o dia a dia com maior riqueza de espírito e de coração. É essencial dar esse primeiro passo para contrapor uma visão positiva a uma realidade desafiadora, pois isso nos trará serenidade e nos possibilitará lidar melhor tanto com o próprio sofrimento como com o sofrimento alheio. Essa positividade facilita encarar com maior aceitação e gratidão o que quer que nos caiba viver neste momento em nível pessoal, e também distribuir a luz do amor e palavras positivas às pessoas que sofrem, cultivando assim um sentimento misericordioso.
Saber usar a inteligência é sempre um recurso valioso nessas horas. E podemos usá-la com sabedoria ao dirigi-la para o bem. A espiritualidade se traduz na prática de princípios universais focados em servir, apoiar, ajudar, e tais princípios mostram uma eficácia que não é possível obter ao reclamar, falar mal ou culpar os outros, ou ainda ao cultivar a insatisfação. Por mais difícil que pareça e por mais esforço que demande, o único caminho que pode levar alguém a se sentir verdadeiramente feliz consiste em procurar nutrir a alegria, cuidar de si e dos outros, respeitar a natureza e os animais e exercitar o bem.
As pessoas espiritualizadas incentivam as demais a serem úteis, a se dedicarem a servir, a cultivarem sentimentos positivos. Com isso, há também uma melhora na qualidade dos próprios sentimentos, do pensamento, das palavras, das ações e dos hábitos, o que aprimora o caráter e dá um rumo melhor à própria vida.
Como se dizia antigamente, vigie seu pensamento, pois ele gera suas palavras; vigie suas palavras, pois elas comandam suas ações; vigie suas ações, pois elas formam seus hábitos; vigie seus hábitos, pois eles compõem seu caráter; e, finalmente, vigie seu caráter, pois ele definirá seu destino.
A espiritualidade é como uma fragrância ou essência agradável. É o que você sente ao encontrar uma pessoa boa, que tem consciência de que sua natureza interior faz parte do todo, e que, com boas maneiras e atitudes, respeito e gentileza, cuida do próximo, da natureza e dos animais. Em tais pessoas, o caráter exala essa fragrância, e temos vontade de estar sempre perto delas.
Adotar uma postura mais espiritualizada leva a pessoa a evitar julgar, criticar, condenar e culpar, faz com que procure respeitar o pensamento, a ideologia, a crença do outro, e valorize seu discernimento pessoal sem precisar impô-lo aos outros. Quando alguém pede sua opinião, compartilha seu entendimento sem esperar ou exigir que seja adotado pelos demais.
A postura espiritualista busca também reconhecer os esforços e valores do próximo, e elogiá-los; leva a cuidar melhor da família, aprimorar-se nos estudos, no trabalho, em pesquisas e soluções alternativas – por exemplo, para o mundo superar uma pandemia e seus efeitos –, e a buscar o aprimoramento não só para si, mas para poder servir melhor à família, aos clientes, aos colegas de trabalho, e até mesmo aos companheiros de fé. É preciso ter amor no coração, mas sendo rigoroso consigo e amável com os outros. É natural termos momentos de fraqueza ou dificuldade, mas é importante que evitemos nos fazer de vítima, tenhamos humildade, reconheçamos e aceitemos ajuda com gratidão e mantenhamos na memória o valor de retribuir em dobro, pois isso leva a esse aprimoramento.
A compaixão e a solidariedade certamente estão neste momento mostrando seu grande valor, pois esses sentimentos, na pele dos que se sacrificam na luta contra essa pandemia, salvaram a vida de muitas pessoas. E são eles que podem nos fazer olhar para a frente com um sorriso no rosto e a esperança de um novo amanhecer na história da humanidade.