Dia Mundial dos Oceanos – Proteção Animal Mundial divulga ranking europeu de golfinhos em cativeiro
A indústria do turismo ainda lucra com práticas ultrapassadas que envolvem sofrimento animal, e isso ocorre também no Brasil
Novo ranking da Proteção Animal Mundial, revela que a Espanha é o país da Europa com mais golfinhos em cativeiro (93), o que representa 30% do total no continente. O país também conta com mais atrações (10 no total) que utilizam os golfinhos para entretenimento a despeito do sofrimento animal infligido. Ao todo, são 308 golfinhos presos em 34 golfinários situados em 14 países europeus. Portugal, Ucrânia e Holanda também aparecem no topo da lista.
País | Nº de golfinhos | Nº de golfinários |
Espanha | 93 | 10 |
Portugal | 35 | 2 |
Ucrania | 33 | 7 |
Países baixos | 25 | 1 |
Italia | 23 | 3 |
França | 23 | 2 |
Lituânia | 16 | 1 |
Alemanha | 15 | 2 |
Suécia | 12 | 1 |
Grécia | 9 | 1 |
Bégica | 8 | 1 |
Romênia | 6 | 1 |
Malta | 5 | 1 |
Bulgaria | 5 | 1 |
Entre os centros espanhóis, o Oceanogràfic de Valência lidera o ranking (com 20 golfinhos em cativeiro). Por esta razão, a Proteção Animal Mundial lançou nesta semana uma petição (em Espanhol), já apoiada por mais de 26 mil assinaturas, para pedir ao Oceanogràfic que pare com a manutenção de golfinhos em cativeiro, encerrando imediatamente a criação de novos animais nessas condições e promovendo o fim gradual dos espetáculos com os golfinhos já sujeitos a esse abuso.
“É comum ouvir o discurso manipulador de que locais como o Oceanogràfic prezam pela conservação dos animais. Mas golfinhos em cativeiro não são “da sua espécie em liberdade’”. Eles são reféns! São aprisionados com o único objetivo proporcionar entretenimento para as pessoas”, denuncia Sandra Campinas, coordenadora de campanha da Proteção Animal Mundial na Espanha.
Nestes golfinários os golfinhos vivem por décadas em piscinas 200 mil vezes menores do que o espaço em que viveriam no oceano, e passam por treinamentos agressivos em troca de comida. Apesar dessa realidade inconveniente e pouco exposta, os atrativos obtêm receitas milionárias à custa dos animais. Estima-se que um único golfinho em cativeiro possa gerar entre US$ 400 mil e US$ 2 milhões em ingressos ao ano.
“Os golfinhos são animais muito sociáveis, curiosos e com uma inteligência muito superior a muitos outros animais. Eles são seres sencientes que precisam interagir com seus semelhantes e explorar seu habitat para ter uma vida plena. No Dia Mundial dos Oceanos defendemos o direito dos golfinhos a uma vida em liberdade. Os mares e oceanos são o único lugar onde eles podem ter suas necessidades completamente satisfeitas e serem felizes”, explica David Maziteli, gerente de Vida Silvestre da Proteção Animal Mundial no Brasil.
“A Proteção Animal Mundial pede que o Oceanogràfic e membros da cadeia produtiva do turismo em todo o mundo, inclusive no Brasil, se sensibilizem, passem a dar exemplo e liderem a mudança para que esta seja a última geração de animais explorada para entretenimento humano”, acrescenta. “Além disso, não podemos perder de vista que essa é uma responsabilidade compartilhada. Além da atuação das autoridades na educação e fiscalização, nós como consumidores devemos identificar produtos turísticos relacionados com a vida silvestre, questionar as empresas e deixar de comprá-los”.
“Por aqui felizmente não temos mais golfinhos em cativeiro para entretenimento há bastante tempo. A Proteção Animal Mundial participou da libertação do último espécime nessas condições em 1993”, recorda. “Mas, além de existirem empresas que seguem comercializando no Brasil atrativos do tipo no exterior, temos outros tipos de passeios abusivos para com a vida silvestre em território nacional, tais como nado com botos-cor-de rosa na Amazônia ou oportunidades de contato direto com animais, como selfies com macacos, aves ou preguiças”, explica.
O quadro geral
Felizmente, esse tipo de espetáculo de cetáceos (ordem de mamíferos aquáticos que inclui animais como golfinhos, botos e baleias) já não existe em cerca de trinta países do continente europeu. França, Croácia, Chipre, Hungria, Suíça, Luxemburgo, Eslovênia, Noruega e Reino Unido têm leis que proíbem ou restringem significativamente a exibição de mamíferos marinhos em cativeiro.
Especificamente, a França adotou uma lei em 2021 que garante que esta será a última geração de cetáceos vivendo em cativeiro. Por outro lado, no Reino Unido, as condições estabelecidas na legislação para poder manter cetáceos em cativeiro são tão exigentes que é praticamente impossível fazê-lo na prática. Como resultado, não há golfinhos em cativeiro há 30 anos, desde 1993.
Em março de 2023, a Espanha aprovou a nova lei de bem-estar animal que proíbe o uso de animais selvagens em circos, mas essa lei deixou de fora os golfinhos. A Espanha continua a ser líder em número de golfinhos em cativeiro e também líder em número de golfinários, o que faz com que turistas de outros países encontrem esta opção na Espanha.
Mobilizando gigantes
Pelo caráter global da atividade turística e dos negócios do turismo, a Proteção Animal Mundial trabalha para que as agências e plataformas de viagens deixem de oferecer essas atividades antiéticas. Como resultado desses esforços, empresas como Expedia e Tripadvisor foram convencidas a parar de promover shows e experiências de interação com animais silvestres. Atualmente a Proteção Animal Mundial está trabalhando para que outras empresas do setor se juntem a esta tendência.
Soluções coletivas
“Acabar com a exploração dos animais marinhos e da vida silvestre em geral, transformando-a em verdadeira proteção, não será possível sem o firme compromisso da indústria do entretenimento em ofertar ao mercado somente alternativas éticas e responsáveis de lazer”, aponta David Maziteli.
“Para oferecer um caminho para empresários e trabalhadores do turismo, temos fomentado iniciativas como o programa de Sítios Patrimônio de Baleias, desenvolvido pela World Cetacean Alliance e apoiado pela Proteção Animal Mundial. Já são sete localidades certificadas em todo o mundo, por enquanto na Austrália, África do Sul, Estados Unidos, Espanha e Portugal. No Brasil temos candidaturas de localidades em Santa Catarina e na Bahia em avaliação, e esperamos que em breve estejam também plenamente credenciadas. Isso deverá gerar visibilidade e representar um impulso à atratividade de visitantes domésticos e estrangeiros, e esperamos que isso inspire novas adesões”, avalia.
Até o final do ano deve ser lançada uma nova etapa desse programa para reconhecer localidades no ambiente terrestre. O espírito é que as localidades sejam referências no contato responsável com os animais, que haja verdadeira celebração coletiva do patrimônio natural, com envolvimento autêntico da sociedade civil, trade turístico e poder público.
A Proteção Animal Mundial é a voz global do bem-estar animal, com mais de 70 anos de experiência em campanhas por um mundo no qual os animais vivam livres de crueldade e sofrimento. Tem escritórios em 12 países e desenvolve trabalhos em 47 países ao todo. Colaboram com comunidades locais, com o setor privado, com a sociedade civil e governos para mudar a vida dos animais para melhor. Seu objetivo é mudar a maneira como o mundo trabalha para acabar com a crueldade e o sofrimento dos animais selvagens e de produção. Por meio de estratégia global de sistema alimentar, busca acabar com a pecuária industrial intensiva e criar um sistema alimentar humano e sustentável, que coloque os animais em primeiro lugar. Ao transformar os sistemas falhos que impulsionam a exploração e a mercantilização, será possível dar aos animais silvestres o direito a uma vida silvestre. O trabalho da organização para proteger os animais desempenhará um papel vital na solução da emergência climática, da crise de saúde pública e da devastação de habitats naturais.
Fonte: Proteção Animal Mundial
https://www.worldanimalprotection.org.br/